Nove dias após os ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, o ministro da Justiça, Flávio Dino, diz que o governo federal e o conjunto das instituições brasileiras estão mais preparados para enfrentar ameaças de golpe de Estado. Para Dino, já não há mais margem para atentados similares aos de 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).
Nesta terça-feira (17), o ministro participou de uma entrevista coletiva por videoconferência com jornalistas da mídia alternativa e convidados. A conversa – que durou pouco mais de uma hora – foi promovida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Em pronunciamento que precedeu às perguntas dos jornalistas, Dino afirmou que a ação golpista em Brasília “não foi algo que surgiu por geração espontânea, não foi fruto apenas do desatino de centenas ou poucos milhares de pessoas”. A seu ver, está comprovada a influência de Bolsonaro sobre os extremistas que atentaram contra a democracia no oitavo dia do governo Lula (PT).
“Há um encadeamento entre os quatro anos do bolsonarismo e o que nós vimos em 8 de janeiro”, frisou Dino. Segundo ele, a extrema-direita foi “incitada” cada vez mais a aderir a manifestações violentas, “até chegar a essa explosão mais evidente do dia 8”. A escalada se iniciou após a vitória de Lula sobre Bolsonaro – “por escassa maioria de votos, mas, ainda assim, maioria” – nas eleições presidenciais de outubro.
O ministro listou atos golpistas que, por pouco mais de dois meses, culminaram no 8 de janeiro. Nesse período, bolsonaristas fecharam estradas, queimaram carros e ônibus, além de colocarem uma bomba no Aeroporto de Brasília. Aliados do ex-presidente chegaram a lhe preparar uma minuta de decreto para o governo intervir no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e mudar o resultado da eleição. “Essa escalada de violência política se articula muito fortemente com o que se passa no mundo da comunicação, sobretudo nas redes”, analisou Dino.
O golpe foi detido a tempo, apesar da vandalismo sem precedentes em prédios federais oficiais. O governo federal decretou uma intervenção na segurança pública do Distrito Federal, nomeando o jornalista Ricardo Cappelli para o posto. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, 1.398 golpistas foram presos no Complexo da Papuda e na Penitenciária Feminina (Colmeia). Acampamentos bolsonaristas instalados ilegalmente à frente de quartéis do Exército foram esvaziados.
Na quarta-feira (11), Cappelli chegou a declarar que “não há hipótese de se repetirem na capital federal os fatos inaceitáveis que aconteceram no último dia 8”. A Flávio Dino, o Portal Vermelho questionou se, de fato, o Brasil estava livre do risco de novos golpes. “Aquele roteiro propriamente, aquela forma (de golpe baseado na invasão dos Três Poderes), não vai ocorrer mais. Significa dizer que ações golpistas deixarão de ocorrer? Não, infelizmente”, sintetizou o ministro.
De acordo com Dino, o fascismo não depende de “uma situação de estabilidade” para se manifestar. Tal como “pescadores de águas turvas”, os fascistas brasileiros “vão, o tempo todo, tentar essas ações ilegais e terroristas, com maior ou menor violência, nas redes e nas ruas”.
Para enfrentar os bolsonaristas mais extremados, o ministro da Justiça diz que serão usados “mecanismos institucionais de vigilância, de atenção, de fiscalização, de repressão – e, ao mesmo tempo, a luta política”. Para Dino, a frente ampla e democrática – que “tornou possível a vitória do presidente Lula” em 2022 – foi igualmente decisiva neste início de governo.
“Há certos elementos que são centrais na política, entre os quais a maior proteção possível à frente ampla. Esta é uma chave antigolpista fundamental neste momento em que ainda estamos estabelecendo as bases de uma nova governança no Brasil”, defendeu.
Na visão de Dino, a conjuntura turbulenta exige a participação dos militares nessa frente ampla. Ciente de que se trata de uma opinião polêmica, o ministro tem uma resposta na ponta da língua: “Como instituição, antes e depois da posse (de Lula), as Forças Armadas foram profundamente instadas a fazer um golpe de Estado e não deram! Objetivamente, até aqui, as Forças Armadas foram majoritariamente legalistas”.
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