Charge: Laerte |
A mídia patronal se acha onipotente, por isso faz o que bem entende. Sobre a disseminação de uma cultura do ódio e da violência, tem sido cúmplice, com o intento de combater governos de tendência popular. Seja no Brasil ou no exterior.
A violência no Brasil chegou a uma situação insustentável, inclusive com ataques a escolas e creches. E a cobertura midiática de eventos desse porte, invariavelmente é sensacionalista. Isso sem falar nos programas policialescos, ditos como jornalísticos, que tripudiam sobre a desgraça alheia. De uma forma geral, a mídia, em busca irresponsável de audiência, fatura com a desgraça dos outros, quase todas, todos e todes pobres.
Esses policialescos de uma vulgaridade sem tamanho em horário em que qualquer criança pode assistir, se escondem no escudo da “liberdade de expressão”. Termo muito utilizado quando se fala em regulação da mídia para impedir a monopolização da comunicação.
E tudo isso não vem de hoje, mas cresce a olhos vistos. Parece natural o desvio para si próprio de pedras preciosas dadas pelo governo de um país ao presidente de plantão, que age como se ele fosse o Estado. Que inclusive se elegeu com ajuda dessa mídia, sendo que, parte dela, ajudou a eleger Lula, mas quer mantê-lo sob as rédeas do deus-mercado.
A mídia apoiou sem questionar a operação Lava Jato e as diatribes do ex-juiz, agora senador Sergio Moro, até sobre a prisão de Lula, com base na convicção da acusação, sem provas. Jornais e revistas publicavam e as emissoras de televisão e rádio repercutiam, nunca questionando a falta de provas. No processo de impeachment de Dilma, agiram da mesma forma.
Sobre as manifestações de 2013 ficou notório o papel da mídia quando o então colunista da TV Globo, Arnaldo Jabor (1940-2022) passou vexame porque chamou os manifestantes de vândalos e teve que desmentir devido ao apoio da emissora a eles.
Agora, parte dessa mídia insiste em ressuscitar o prestígio do ex-juiz, que agora tem a prisão pedida pela Procuradoria Geral da República. Nem mesmo lembram que o ex-juiz foi considerado totalmente parcial pelo Supremo Tribunal Federal na Lava Jato, que lesou o país em bilhões de reais e milhares de empregos.
Mas tudo parece natural. Até mesmo quando um jornalista esportivo de uma emissora paulista, vai ao programa que apresentava e ataca um ciclista com quem se envolveu em uma discussão de trânsito, por transitar com seu carro numa ciclovia. Esse jornalista diz que se o ciclista estiver na frente do seu carro ele passa por cima. O que aconteceu com esse jornalista: nada.
Isso aconteceu quando Fernando Haddad ere prefeito de São Paulo e investiu em ciclovias com uma das formas de aliviar o trânsito da megalópole e a mídia passou a atacar as ciclovias, que antes eram reivindicação.
Mesmo nos casos da TV e do rádio, que são concessões públicas, a mídia foge de sua responsabilidade social e pouco faz, de fato, para o necessário debate sobre a violência, o preconceito, a desigualdade social abismal do país.
Pouco fala em direitos humanos e quando o faz, em geral, é para defender a violência do braço armado do Estado contra a população mais vulnerável. A tática de criar o pânico, sempre prevalece em governos voltados para os interesses do país e de quem vive do trabalho.
Óbvio que criar o caos favorece teses reacionárias para pôr fim à insegurança, com a ausência do Estado nas periferias. Principalmente porque querem o Estado mínimo para os mais pobres e máximo para eles.
Se aferram à propriedade privada a qualquer custo, com isso minimizam a invasão de terras quilombolas e indígenas. Defendem juros altos para dar lucro ao sistema financeiro, apregoam o fim dos direitos trabalhistas e previdenciários.
Importam-se muito pouco com o abuso sexual de crianças e adolescentes, mas enfatizam a violência quando um adolescente comete um crime qualquer. Atenuam quando torturam um menino escrevendo em sua testa “sou ladrão”, como se tortura pudesse ser considerada justiça.
Basta ver a condescendência dessa mídia em relação à atitude pedófila do líder religioso tibetano, Dalai Lama, porque ele é aliado dos Estados Unidos. Assim como a cobertura jornalística da guerra entre Rússia e Ucrânia se baseia somente em informações dos Estados Unidos.
Não rechaçam um ex-deputado e ex-presidente que evocou o nome de um torturador quando ao votar o impeachment da única presidenta que o país já teve. Aliás, predomina a misoginia contra ela em todo o processo de impeachment, mesmo sem crime comprovado.
Agora, o jornal O Globo resolve ameaçar o presidente Lula com um possível golpe de Estado caso insista em dizer o que pensa sobre a guerra que se trava na Ucrânia, mesmo que a posição brasileira seja como disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. pela paz.
Tocam o terror nos noticiários para enfraquecer as ideias sobre os direitos humanos, sociais e individuais de quem vive do trabalho e, com isso, querem enfraquecer o governo. Sob o lobby da indústria de armas, a mídia se calou sobre a possibilidade de regular o comércio de armas, além de não debater com sinceridade a necessidade de criação de uma política nacional de segurança pública que não se baseie em punição e vingança.
Criar uma segurança que respeite todas as pessoas com polícias controladas socialmente. E também a criação de políticas de reindustrialização do país com a criação de empregos qualificados e trabalho decente.
Porque a mídia fala em fake news, mas ignora fatos importantes, quando esses fatos não favorecem seus interesses. Tanto que Olavo Bilac escreveu uma crônica dizendo que o dia 1º de abril seria institucionalizado como o dia da verdade para a imprensa brasileira.
O capitalismo é violento e a mídia patronal defende com unhas e dentes os privilégios da elite, por mais óbvio que isso seja, é importante lembrar-lhes a hipocrisia. Sempre age contra os interesses da maioria da população.
Regular a mídia, portanto, e não somente a internet é essencial para o país voltar a respirar democracia de fato e no debate de ideias resolver suas mazelas com respeito à dignidade humana.
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