Charge: Marcio Baraldi/Sindicato dos Bancários |
A realidade concreta vai, dia após dia, mostrando que quem errou na mão na queda de braço sobre os juros altos não foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo, nem os mais diversos setores econômicos e sociais que também têm criticado o índice atual, mas o Banco Central e, em especial, seu presidente, Roberto Campos Neto.
Embora travestidos de técnicos, os argumentos usados até agora pelo Copom (Comitê de Política Monetária) parecem indicar mais uma opção ideológica do que uma necessidade real. E vão na contramão dos interesses nacionais e, também, do desempenho que a economia vem mostrando, com sucessivos dados positivos.
Somente na ata mais recente, de 27 de junho, o Copom finalmente sinalizou com alguma possibilidade de redução, porém, isso só poderá vir em agosto, quando acontece a próxima reunião.
Nesse cabo-de-guerra, puxado pelo BC, quem acaba sendo prejudicado, claro, é o país como um todo, mas os mais pobres em particular. Afinal, nos últimos meses, o Brasil perdeu a oportunidade de ver reduzida a taxa Selic, hoje em 13,75%.
Esse índice, aplicado desde agosto do ano passado, é o mais alto desde 2017, o que faz com que o país tenha a maior taxa de juros reais do mundo, estimada em 7,54% para os próximos 12 meses. A manutenção da taxa impede que o país avance em seu crescimento, dificultando investimentos e a criação de empregos e piorando a situação de quem tem dívidas a pagar ou precisa comprar parcelado.
“O Brasil está em trajetória fiscal sustentável e, portanto, a harmonização da política fiscal com a política monetária, que é algo que defendo desde dezembro, eu acredito que possa acontecer brevemente [um possível corte de juros]”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após divulgação da ata.
Cenário positivo
Dados que vêm sendo divulgados há meses reforçam a avaliação do cenário atual. Para ficar em apenas alguns dos indicadores mais recentes, o mercado financeiro aumentou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano pela oitava vez, conforme projeção do Boletim Focus, do BC, desta segunda-feira (3). Da semana passada para cá, o índice passou de 2,18% para 2,19%. Um dos principais motivos para essa trajetória ascendente foi o crescimento do PIB em 1,9% no primeiro trimestre do ano.
Também nesta segunda-feira, foi divulgado que o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV), fechou o mês de junho com queda de 0,10%. Na semana passada, a FGV mostrou que também em junho o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) teve queda de 1,93%. Em maio, havia sido registrada deflação de 1,84%.
Esse contexto vem se refletindo na forma como o consumidor brasileiro sente a economia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 4,1 pontos em junho, chegando a 92,3 pontos. No caso das médias móveis trimestrais, o índice apresenta alta pelo terceiro mês consecutivo, em 1,8 ponto, para 89,1 pontos.
“Avalio o cenário econômico positivamente. Primeiro porque a economia brasileira chegou, nos últimos anos, bem perto do fundo do poço. Acredito que a participação da indústria na composição do PIB nunca esteve tão baixa. Agora, há uma estabilidade política um pouco maior e o atual governo apresenta e encaminha diversos projetos que estimulam, ou podem estimular, a indústria. É o que eu chamo de reindustrialização e o governo chama de neoindustrialização. E os juros inevitavelmente terão que baixar”, avalia o professor Marcos Costa, mestre em Economia da Educação da Universidade Federal Fluminense.
A aprovação do novo regime fiscal e a tramitação e debate em torno da reforma tributária, diz, também contribuem para a mudança de ares na economia brasileira. “Atribuo boa parte da melhoria à eficácia do Ministério da Fazenda, ao novo regime fiscal e ao desenho ou modelo da reforma tributária. Acredito que destravem o investimento produtivo. Nesses casos, a própria expectativa de crescimento já ajuda no processo de crescimento econômico”.
Considerando estes aspectos e os indicadores registrados nos últimos meses, Costa explica que “a posição ortodoxa e ultraliberal do BC é pura e exclusivamente ideológica e vassala de interesses ‘alienígenas’ e da banca, que ganha com a agiotagem dos juros altos. Não tem absolutamente nenhuma base teórica”.
Ele acrescenta que “juros na estratosfera resultam em crescimento travado e permanência de fortes índices de desempregados e desalentados. Este é o resultado do BC no seu combate à inflação. Não existe nenhuma justificativa ou mesmo necessidade de se manter esta taxa de juros”.
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