segunda-feira, 14 de agosto de 2023

PACto para um grande Brasil

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Por Marcelo Zero, no site Viomundo:

Em seu discurso no lançamento do Novo PAC, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, citou Charles de Gaulle, o qual dizia que a política mais ruinosa, mais prejudicial, era a política de “ser pequeno”.

Ou seja, de não ter ambições, de não ter um horizonte de grandes realizações futuras. De se deixar levar passivamente pelas circunstâncias.

Ainda, se quiserem, em uma outra leitura, de se conduzir pelo curto prazo do “mercado”.

Pois bem, parafraseando Charles de Gaulle, Mercadante afirmou que o Brasil não pode ser Brasil sem grandeza.

Tem toda razão. O Brasil não pode ser pequeno.

Tudo nele, tamanho geográfico, volume populacional, tamanho da economia, abundância de recursos estratégicos, maior biodiversidade do planeta, detentor da maior parte do bioma crucial para o equilíbrio climático (a Amazônia), cultura riquíssima e singular etc., o torna uma nação destinada à grandeza.

Mas isso, como reconhece Mercadante, requer pensar e planejar um futuro. Pois a verdadeira grandeza nunca é dada. Ela tem de ser construída.

E a grandeza não pode ser construída sem visão de longo prazo, sem estratégia, sem planejamento. E, óbvio, sem Estado.

Nenhum grande país se construiu de forma automática, pela simples inércia das forças da “mão invisível’.

Nenhum.

Mesmo os EUA se desenvolveram graças a um Estado que investiu na integração do país, na infraestrutura, na industrialização etc.

Por exemplo, a ferrovia que conectou a região atlântica dos EUA à região do Pacífico, permitindo a primeira grande conexão da gigantesca nação, foi encomendada por Abraham Lincoln, que sabia da importância do planejamento e da ação estatal para induzir e dinamizar as forças de mercado.

Lincoln e outros estadistas, como F. D. Roosevelt, sabiam que a história apresentava janelas de oportunidades que tinham de ser reconhecidas e abertas pelo Estado, para que as forças vivas do país pudessem passar.

Pois bem, como bem assinalou Mercadante em seu discurso, há hoje uma grande janela de oportunidade que se abre para o Brasil.

Tal janela é dada essencialmente pelo desafio do enfrentamento às mudanças climáticas e pela necessidade de se promover uma nova industrialização verde e descarbonizada.

O Brasil, como salienta Mercadante, tem tudo para liderar esse processo.

Além de ter se comprometido com o desmatamento zero na Amazônia e com a total proteção dos direitos dos povos originários do Brasil, o novo governo Lula tenciona iniciar um ciclo econômico baseado na “descarbonização” dos processos produtivos e na implantação de uma economia verde no Brasil.

Nosso país tem tudo para ser uma grande “potência verde”, muito provavelmente a maior do mundo.

Esse potencial poderá sustentar a nossa entrada na 4ª Revolução Industrial, a qual vem criando a economia e a indústria do futuro.

Temos matriz energética limpa, muito mais limpa que a da maioria dos países da OCDE e do mundo.

A matriz elétrica brasileira é composta aproximadamente por 78% de fontes renováveis, contra uma média mundial que beira os 29%, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

Quanto à matriz energética, o Brasil tem 48% dela de fontes renováveis, ao passo que a média do planeta é de apenas 15%.

Possuímos também a segunda maior área de florestas naturais do mundo, ficando atrás somente da Rússia, cuja taiga é bem menos biodiversa que a Amazônia e, por ter crescimento lento, captura quantidade significativamente inferior de dióxido de carbono que nossa floresta tropical.

Ademais, o Brasil, tem 20% da biodiversidade internacional e 13% da água doce do planeta.

Poderemos assim, ampliar facilmente nossas vantagens comparativas na economia internacional, se nos próximos anos continuarmos a incorporar a sustentabilidade ambiental como parte fundamental da estratégia de consolidação do nosso desenvolvimento.

Além desse enorme capital ambiental, o maior do mundo, temos também um capital político internacional personificado na incontestável liderança de Lula.

No campo regional, Lula já destacou a necessidade de articular os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Suriname e Guiana) para promover uma gestão responsável da floresta e de sua riquíssima biodiversidade.

Essa iniciativa, combinada com a chamada “OPEP das Florestas”, que agregará Brasil, Congo e Indonésia, e com a meta de desmatamento zero na Amazônia, poderá ser um passo fundamental e decisivo para salvar o planeta e a humanidade.

Outra janela de oportunidade é dada, como observou Mercadante, pela geopolítica.

Pode-se dizer o que quiser da política externa de Lula, mas há de se reconhecer que ela é audaz, além de “ativa e altiva”.

Lula pensa grande, como aconselhava de Gaulle, e não enquadra o Brasil na mediocridade de papeis pré-definidos por grandes potências.

Isso é fundamental.

Infelizmente, há, na ordem mundial atual, uma nova Guerra Fria em andamento, que antepõe, artificialmente, do nosso ponto de vista, EUA, Europa e outros países de um lado, e China, Rússia e alguns aliados, de outro.

Trata-se de uma visão simplória, maniqueísta, não-cooperativa e equivocada da nova ordem mundial, a qual parece perpassar boa parte do espectro político ocidental.

Pois bem, entre EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, de outro, destaca Mercadante que o Brasil escolheu o Brasil, país com interesses próprios e independentes, que deseja ter boas relações com todas as nações e que procura contribuir para a conformação de uma ordem mundial multipolar, multilateral e simétrica, capaz de dar soluções para os graves problemas do planeta, como o aquecimento global, a fome, a pobreza, as desigualdades e as guerras.

Afirma Mercadante, com toda razão, que, entre a Guerra e a Paz, o Brasil escolheu a Paz.

Essa posição de neutralidade, de racionalidade e de bom senso, verdadeiramente multipolar e multilateralista, e que lidera o chamado “Sul Global”, coloca o Brasil na invejável posição de poder obter cooperação e investimentos de todos os espectros geopolíticos.

Na realidade, uma bem realizada “arbitragem das influências” pode maximizar nossa inserção exitosa numa ordem mundial, que tende inexoravelmente à diversificação geográfica das oportunidades.

O Novo PAC representa, assim, uma mudança paradigmática.

Após um governo omisso, incompetente e sem nenhuma estratégia de desenvolvimento, industrialização e inserção internacional soberana, que se preocupava mais com joias da Chopard do que com o país, temos, agora, um governo que tem visão de futuro, de mundo, de Brasil.

O governo Lula sabe que a verdadeira riqueza do país, a grande joia da nação, é o seu povo.

Temos um governo que volta a apostar no Brasil e no seu povo. Somente o BNDES de Mercadante disponibilizará R$ 440 bilhões para construir o futuro do país.

Claro que haverá resistências ao planejamento, ao investimento estatal, ao pensar estratégico do Brasil verdadeiramente grande. Sempre houve.

Bom, trata-se gente que vive no passado. Num passado muito pequeno e atrasado. Gente que aposta no Fazendão desigual do passado.

Sequer prestam atenção ao que acontece no mundo, que está passando por um célere rearranjo geoeconômico e por mudanças de paradigmas.

EUA e a União Europeia, por exemplo, estão comprometidos com grandes investimentos estatais para superar a crise econômica e o desafio das mudanças climática.

São como o “Velho do Restelo” de quem falava Camões, nos “Os Lusíadas”. Aquele personagem anacrônico e um tanto patético que condenava os navegantes que fariam a grandeza de Portugal.

São aqueles que, como diriam Charles de Gaulle e Mercadante, praticam a ruinosa política de “ser pequeno”.

Porém, com Lula, Mercadante e todos aqueles que se uniram para salvar o Brasil e sua democracia, escolhemos ser grandes.

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