Charge: Thiago |
Aécio Lúcio Costa Pereira é, no contexto da invasão de Brasília no 8 de janeiro, o que já chamaram de vândalo, terrorista, mané, patriota, extremista. Ao final do julgamento que iniciou nessa quarta-feira no Supremo, ele será tratado como criminoso formalmente condenado.
Não há milagre que o livre da condenação e talvez nada o impeça de virar presidiário em regime fechado, depois dos votos dos 11 ministros.
Mas o invasor será um Pereira qualquer, apenas um figurante, como todos os outros 1.344 réus que o ministro Alexandre de Moraes definiu no seu voto como integrantes de uma turba golpista.
Moraes, o primeiro a votar, como relator dos processos, condenou Pereira a 17 anos de cadeia, sendo 15 anos e seis meses em regime fechado. Sem surpresa nenhuma.
A maioria dos ministros irá condená-lo por tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada.
Pereira será, como presidiário, tão conhecido quanto Thiago de Assis Mathar, Moacir José dos Santos e Mateus Lima de Carvalho Lázaro, os outros réus do primeiro grupo a ser julgado pelo STF esta semana e que deverão ter o mesmo destino.
Ninguém falará deles além de parentes, amigos e colegas. Ninguém saberá, daqui a alguns dias, que alguns poderão estar presos como participantes da destruição do 8 de janeiro. Mas todos precisam ser julgados pelo que fizeram.
Não devem ser poupados porque são manés ou foram induzidos à invasão de Brasília por impulso, ignorância e desinformação.
O julgamento que os submete ao confronto com a verdade e à busca da reparação é histórico, por enquadrá-los, como fez Moraes, em crimes resultantes de ações coletivas.
Mas não é tudo. Moraes disse em seu voto que o ambiente em que os crimes aconteceram foi criado por algo maior do que um gesto da turba de desatinados. Foi uma ação política articulada.
Desastradamente articulada, mas com planejamento e organização. Moraes não disse, mas todos sabemos que teve líderes civis e fardados, incitadores, operadores, financiadores e teve os manés. Uns mais envolvidos na violência do 8 de janeiro, outros mais distanciados, mas nem todos no cenário dos crimes.
Por isso todos os que vão agora a julgamento, com raríssimas exceções, são manés. Mesmo entre os financiadores presos depois, por terem subsidiado a permanência dos acampados em Brasília, poucos são mais do que manés.
Os que estão muito acima dos manés ainda precisam ser alcançados. Não só os chefões, mas os chefetes intermediários e principalmente os integrantes orgânicos da estrutura do bolsonarismo no poder.
Moraes disse que os invasores de Brasília tramaram contra o estado de direito, contra um governo democraticamente eleito e contra o Supremo.
Mas há muita gente acima deles e abaixo ou ao lado de Bolsonaro, dos militares e dos operadores prestativos do golpe.
Ninguém cobra pressa do sistema de Justiça. São esperados sinais de que Ministério Público e Judiciário alcançarão os que até agora parecem que são ou se consideram inalcançáveis.
O advogado de Pereira, Sebastião Coelho da Silva, é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça por suspeita de militância golpista quando era magistrado. Membros das CPIs do Golpe e do MST estão sob investigação como ativistas do golpe.
Não são manés. Como também não são apenas patriotas anônimos os grandes financiadores do golpe desde muito antes da articulação que levou ao 8 de janeiro. E que não estarão nos julgamentos dos grupos de manés dos quais Aécio Pereira faz parte.
Muitos dos que serão agora condenados foram apenas laranjas de gente que também atacou o estado de direito, o governo eleito e o STF. Gente com dinheiro, que vivia sob a proteção do fascismo no poder e, em troca, financiava as milícias do gabinete do ódio.
Cada mané anônimo condenado a 17 anos de cadeia foi parte de uma estrutura organizada por manezões com poder econômico protegidos pelo núcleo bolsonarista.
Manezões que não foram vistos porque não apareceram em Brasília nem no dia 8 de janeiro nem nos acampamentos nos quartéis.
Alexandre de Moraes sabe muito bem quem eles são e o que fizeram nos invernos do fascismo, como líderes da turba empresarial que ajudou a financiar os crimes de Bolsonaro.
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