Por Moisés Mendes, em seu blog:
Um ano e meio depois do golpe dos manés abandonados por Bolsonaro e pelos generais, há cenários e personagens com papéis definidos. O cenário principal é este: Bolsonaro está morto e cercado de carpideiras.
Quem está ao redor pode chorar, pode fingir que chora ou pode, por um empurrão de quem está atrás, cair dentro do caixão em cima do morto. É preciso abrir espaço para o que vem a seguir.
E Folha, Globo, Estadão, Faria Lima, grileiros, garimpeiros, militares e milicianos sabem o que vem aí. É o fascismo moderado. Vem o herdeiro do morto, que fica em volta da cova, não tão longe para que pareça desprezo, nem tão perto que corra o risco de cair no buraco.
A extrema direita moderada, mais uma invenção brasileira, que toma a liderança da facção dominante, é o que sobra para as elites e as corporações de mídia, desde 2018 sem pai, sem mãe e sem esperança de encontrar algo melhor para enfrentar Lula e o PT.
Jornalões, mercado e toda a delinquência órfã dos tucanos, e agora sem o chefão que ajudaram a criar, correm na direção do que é mais seguro, na base do pé na jaca, do tô nem aí, ao lado do pessoal de Malafaia.
Tarcísio de Freitas pode começar a calibrar discurso, escolher emissários e partir para a interação mais intensa com essa gente.
O governador enfrenta o maior desafio entre todos os prováveis herdeiros do bolsonarismo. Tem que ser bolsonarista sem dar a entender que se joga por inteiro. Mas não pode parecer um bolsonarista pela metade.
Para a direita sem centro, exausta de procurar uma terceira via, Tarcísio é o cara, porque não há como levar a sério Zema, Caiado e Ratinho, e Michelle está próxima demais de Bolsonaro para não ser avariada. Michelle não terá como seguir em frente tendo o marido como defunto político.
Tarcísio, que usou uma camiseta amarela desbotada no 25 de fevereiro na Paulista, passa a ser o sujeito do sorriso meio amarelo, com atitudes e ações bem calculadas, diante de situações complicadas.
Vejam o que aconteceu em Balneário Camboriú, onde ele foi o único nome de expressão ao lado de Bolsonaro no encontro dos impunes. Tarcísio foi filmado rindo pela metade quando Eduardo entregou a Javier Milei a medalha dos três “i”.
O governador riu um riso protocolar, enquanto o filho do inelegível explicava que aquela é a medalha do imbrochável, imorrível e incomível. Mas riu. Porque não podia ficar sério diante da brincadeira grotesca da parceria. Tem que mostrar que é da turma, mesmo que para muitos seja inconfiável.
Se pudesse, não teria rido, não teria participado daquela roda e talvez nem tivesse ido a Camboriú, como muitos extremistas não foram. Mas ele é o potencial herdeiro da medalha imunda.
As coisas irão se acomodar entre eles, na disputa pelo espólio, porque assim funciona a política a cada morte anunciada. Mas o fim de Bolsonaro recria para Folha, Globo e Estadão, que continuam protagonistas, o drama que enfrentaram em 2016 e 2018, quando ajudaram no golpe contra Dilma e na prisão de Lula e elegeram Bolsonaro.
As corporações enfrentam o dilema que não preocupa o mercado, porque o mercado acredita que haverá um novo Paulo Guedes ao lado de Tarcísio, que pode ser um Campos Neto qualquer, e tudo estará resolvido.
As corporações de mídia sabem que sabotar Lula é fortalecer de novo o bolsonarismo sem Bolsonaro, sem qualquer sinal de que o centro possa ser ressuscitado.
Tarcísio é o extremista moderado que passa a ser beneficiado pelo novo cerco das organizações a Lula. Sem que essas corporações saibam direito qual será o nível de moderação do sujeito que até agora não moderou nada em relação à essência do bolsonarismo.
O certo é que Bolsonaro está morto, que não há nenhum sinal de alternativa na velha direita e que o preço a ser pago, para acabar com Lula, é investir em Tarcísio.
A cova está aberta, com muita gente ao redor, incluindo as carpideiras de Folha, Globo e Estadão, que podem chegar perto demais de Tarcísio e, num empurrão de Malafaia, tombar sobre Bolsonaro.
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