Ataque ucraniano em Kursk, 06/8/24. Foto: AP |
Todas as forças que invadiram a Rússia pagaram um preço muito caro.
Foi assim com os principados bálticos. Foi assim com Napoleão. Foi assim com as forças nazistas.
Agora, a Ucrânia resolveu fazer uma incursão militar na região de Kursk (distrito de Zudzha), no sudoeste da Rússia.
Não é um alvo militar de substância. São apenas pacatos povoados fronteiriços, sem nenhum significado estratégico.
Os mortos e feridos são civis. O governo da Rússia já teve de evacuar 76 mil civis que estavam na região.
Evidentemente, não se trata de uma iniciativa ucraniana ou apenas ucraniana. Com toda certeza, a Otan e Washington estão por trás dessa incursão.
Uma operação desse tipo, teve de contar, pelo menos, com o aval e a supervisão do Departamento de Estado.
Do ponto de vista militar, a incursão ucraniana em Kursk, embora tenha apanhado as forças russas despreparadas, deverá ser esmagada, em breve.
A Rússia tem reservas suficientes para lidar com essa invasão, sem precisar retirar um soldado das frentes na Ucrânia. A Ucrânia é que não tem.
As forças da Ucrânia não estão suportando bem a guerra de desgaste imposta pela Rússia. A questão central, a esse respeito, não tange tanto a armamentos e munições, pois isso já foi resolvido, ao menos momentaneamente, com as últimas e volumosas ajudas enviadas pelos EUA.
A questão crucial tange às perdas humanas das forças da Ucrânia, que já ascenderiam a cerca de 500 mil militares.
A Ucrânia está enfrentando muitas dificuldades para repor essas perdas. Estão até recolhendo homens de certa idade nas ruas à força.
Segundo fontes confiáveis, como o analista estadunidense Mearsheimer, a média de idade entre as forças militares ucranianas já estaria em torno dos 40 anos.
Essa situação cria muitas dúvidas e ceticismo sobre a capacidade de a Ucrânia sustentar por muito mais tempo essa terrível guerra.
O ceticismo e os grandes custos econômicos da guerra geram pressões, em alguns países da Otan e entre setores do Partido Republicano dos EUA para que a Ucrânia negocie um cessar-fogo e faça concessões territoriais à Rússia.
Obviamente, Zelensky e os “falcões” do Departamento de Estado e da Otan não querem esse desfecho. Querem manter a guerra a quaisquer custos.
Essa incursão em território russo visa propagandear a ideia de que a Ucrânia não apenas pode sustentar o conflito, como também iniciar ofensivas estratégicas e ameaçar a Rússia em seu próprio território.
Trata-se, assim, de uma tentativa de convencer os parceiros do Ocidente de que a Ucrânia não deve ser pressionada a negociar nada e de que, ao contrário, mais ajuda deve ser enviada.
Além disso, trata-se também de levantar quaisquer restrições para usar os armamentos enviados de forma ofensiva, no próprio território russo, inclusive mísseis.
Em última instância, o governo da Ucrânia quer convencer seus aliados de que pode vencer militarmente.
Numa entrevista, o chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia (e cérebro por trás de Zelensky) Andrey Yermak, afirmou que:
“Estamos trabalhando hoje tanto com pessoas da equipe do candidato Donald Trump, quanto — mesmo antes da nomeação — com a vice-presidente Kamala Harris, que já é candidata do Partido Democrata. É muito importante para nós que ambas as sedes, ambos os candidatos e aqueles ao redor deles entendam claramente o que está acontecendo na Ucrânia, que eles entendam claramente o estágio atual da guerra e nossa estratégia. Acredito que seja muito importante que ambos os candidatos tenham um plano para a vitória da Ucrânia”
É uma estratégia delirante, que, ante as circunstâncias já descritas, tem probabilidade zero de funcionar.
Porém, trata-se de um delírio perigoso, que poderá expandir e aprofundar um conflito que já é bastante danoso a todo o mundo. Ademais, essa incursão deverá unir ainda mais a Rússia em torno de Putin.
Assim como aconteceu com todas as forças invasoras anteriores, a Ucrânia e a Otan deverão pagar um preço caro por essa incursão em território russo.
Em Kursk, deu-se, na Segunda Guerra Mundial, a maior batalha militar de todos os tempos. Os soviéticos impuseram uma derrota definitiva aos nazistas, da qual não puderam mais se recuperar. Em vez de Moscou cair, foi Berlin que desmoronou.
Agora, a história ameaça repetir-se como farsa.
Uma coisa é certa. Vidas ucranianas continuarão a ser sacrificadas em vão, no altar da geopolítica do Ocidente.
* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
As forças da Ucrânia não estão suportando bem a guerra de desgaste imposta pela Rússia. A questão central, a esse respeito, não tange tanto a armamentos e munições, pois isso já foi resolvido, ao menos momentaneamente, com as últimas e volumosas ajudas enviadas pelos EUA.
A questão crucial tange às perdas humanas das forças da Ucrânia, que já ascenderiam a cerca de 500 mil militares.
A Ucrânia está enfrentando muitas dificuldades para repor essas perdas. Estão até recolhendo homens de certa idade nas ruas à força.
Segundo fontes confiáveis, como o analista estadunidense Mearsheimer, a média de idade entre as forças militares ucranianas já estaria em torno dos 40 anos.
Essa situação cria muitas dúvidas e ceticismo sobre a capacidade de a Ucrânia sustentar por muito mais tempo essa terrível guerra.
O ceticismo e os grandes custos econômicos da guerra geram pressões, em alguns países da Otan e entre setores do Partido Republicano dos EUA para que a Ucrânia negocie um cessar-fogo e faça concessões territoriais à Rússia.
Obviamente, Zelensky e os “falcões” do Departamento de Estado e da Otan não querem esse desfecho. Querem manter a guerra a quaisquer custos.
Essa incursão em território russo visa propagandear a ideia de que a Ucrânia não apenas pode sustentar o conflito, como também iniciar ofensivas estratégicas e ameaçar a Rússia em seu próprio território.
Trata-se, assim, de uma tentativa de convencer os parceiros do Ocidente de que a Ucrânia não deve ser pressionada a negociar nada e de que, ao contrário, mais ajuda deve ser enviada.
Além disso, trata-se também de levantar quaisquer restrições para usar os armamentos enviados de forma ofensiva, no próprio território russo, inclusive mísseis.
Em última instância, o governo da Ucrânia quer convencer seus aliados de que pode vencer militarmente.
Numa entrevista, o chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia (e cérebro por trás de Zelensky) Andrey Yermak, afirmou que:
“Estamos trabalhando hoje tanto com pessoas da equipe do candidato Donald Trump, quanto — mesmo antes da nomeação — com a vice-presidente Kamala Harris, que já é candidata do Partido Democrata. É muito importante para nós que ambas as sedes, ambos os candidatos e aqueles ao redor deles entendam claramente o que está acontecendo na Ucrânia, que eles entendam claramente o estágio atual da guerra e nossa estratégia. Acredito que seja muito importante que ambos os candidatos tenham um plano para a vitória da Ucrânia”
É uma estratégia delirante, que, ante as circunstâncias já descritas, tem probabilidade zero de funcionar.
Porém, trata-se de um delírio perigoso, que poderá expandir e aprofundar um conflito que já é bastante danoso a todo o mundo. Ademais, essa incursão deverá unir ainda mais a Rússia em torno de Putin.
Assim como aconteceu com todas as forças invasoras anteriores, a Ucrânia e a Otan deverão pagar um preço caro por essa incursão em território russo.
Em Kursk, deu-se, na Segunda Guerra Mundial, a maior batalha militar de todos os tempos. Os soviéticos impuseram uma derrota definitiva aos nazistas, da qual não puderam mais se recuperar. Em vez de Moscou cair, foi Berlin que desmoronou.
Agora, a história ameaça repetir-se como farsa.
Uma coisa é certa. Vidas ucranianas continuarão a ser sacrificadas em vão, no altar da geopolítica do Ocidente.
* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
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