quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Bolsonaristas da Paulista traem Bolsonaro?

Por Altamiro Borges


A pesquisa Atlas/Intel divulgada nesta quarta-feira (11) confirma algo que já havia aparecido com força no ato do 7 de setembro na Avenida Paulista: os bolsonaristas ameaçam trair seu “mito” Jair Bolsonaro. De acordo com a sondagem, o herdeiro bastardo Pablo Marçal (PRTB) surge agora em segundo lugar na disputa, superando o filho predileto Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição na capital paulista. A eleição segue em aberto, prometendo fortes emoções até o final.

O ex-coach subiu oito pontos na comparação com a pesquisa anterior do instituto, realizada em 21 de agosto, e está com 24,4% dos votos. Já o atual prefeito perdeu dois pontos e caiu para o terceiro lugar, com 20,1%. O candidato das forças de esquerda, Guilherme Boulos (Psol), consolidou-se na dianteira e tem 28% das intenções de voto. Outros candidatos também registraram quedas. Tabata Amaral (PSB), com 10,7%, oscilou em 1,3 pontos, e José Luiz Datena (PSDB) perdeu 2,8 pontos, despencando para quinto lugar com 7,2%.

O herdeiro bastardo Pablo Marçal

Conforme apontam as últimas sondagens, o crescimento de Pablo Marçal se dá principalmente entre os ex-fiéis seguidores de Jair Bolsonaro. Apesar do confronto entre ambos, inclusive com o bate-boca no ato da Avenida Paulista, o “lacrador” e “aproveitador” – segundo a ira nada santa do “pastor” Silas Malafaia – segue sugando votos de Ricardo Nunes. No segundo turno, porém, Pablo Marçal perde para todos os outros postulantes à prefeitura – inclusive para Guilherme Boulos.

Uma pesquisa feita entre os manifestantes da Avenida Paulista no sábado (7) ajuda a explicar esse aparente processo de traição. Realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, ela mostra que 75% dos presentes acreditam que o ex-coach Pablo Marçal se identifica mais com Jair Bolsonaro, enquanto apenas 8% acham que Ricardo Nunes é bolsonarista. Outros 13% dos participantes do ato golpista avaliam que nenhum dos dois é um bolsonarista raiz.

Os números reveladores do ato dos patriotários

“A quantidade de manifestantes que considera Marçal mais bolsonarista do que Nunes mostra o avanço e a ameaça que Marçal representa ao campo, já que tanto Tarcísio de Freitas quanto Jair Bolsonaro reforçaram que Nunes é o candidato ‘oficial’”, observa o professor Pablo Ortellado, um dos coordenadores da pesquisa, em entrevista a Leonardo Sakamoto, do site UOL. A sondagem do Monitor da USP trouxe outros dados curiosos sobre os “patriotários” presentes na Paulista.

- 83% acreditam cegamente que Jair Bolsonaro venceu a eleição de outubro de 2022;

- 94% afirmam que o Brasil vive em plena ditadura;

- 96% são favoráveis ao impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF;

- 46% creem que os atos golpistas do 8 de janeiro de 2023 em Brasília foram um “protesto pacífico contra fraude nas eleições” e apenas 37% criticam “alguns excessos” na ação dos vândalos;

- 75% se declararam muito conservadores e 22% afirmaram que são “um pouco conservadores”;

Presença menor, ódio e racha maiores

A pesquisa do Monitor da USP também mostrou que, do total de participantes do ato, 60% eram homens e 40%, mulheres. Quanto à idade, 65% tinham 45 anos ou mais; 29%, entre 25 e 44; e 6%, entre 16 e 24 anos. Brancos representavam 68% e negros, 29%. Quanto à renda, 8% afirmaram viver em famílias que recebem até dois salários mínimos mensais; 40% ganham entre dois e cinco salários mínimos; 25%, entre 10 e 20; e 9% recebem acima de 20 salários mínimos. Sobre a religião, 46% se disseram católicos, 30% evangélicos, 10% espíritas e kardecistas.

Outro dado importante da pesquisa foi sobre o número de presentes no ato na Avenida Paulista. Ele teria reunido 45,4 mil pessoas às 16h05 horas, seu horário de pico. A manifestação anterior, em 25 de fevereiro passado, também organizada pelo lobista da fé Silas Malafaia, juntou 185 mil pessoas. O público agora foi bem menor, mas o ódio, as baixarias e a brigas entre os próprios bolsonaristas foram bem maiores – o que talvez já se reflita nas pesquisas de intenção de voto.

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