O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, tem feito violenta pressão sobre o governo Lula para reverter a decisão – legal, legítima e soberana – de conceder asilo político ao escritor Cesare Battisti. O jogo é sujo, bem ao estilo do neofascista que hoje comanda a Itália. Neste esforço, ele tem o apoio de parte da mídia brasileira, sempre tão servil às potências capitalistas. A pressão é pura bravata. O midiático Berlusconi tenta reviver os piores instintos do período da “guerra fria” para alimentar falsos sentimentos nacionalistas e ofuscar os efeitos da crise econômica no país.
Um amigo ítalo-brasileiro, sempre bem informado, mas que prefere o anonimato, realizou rápida pesquisa que comprova a “dupla moral” de Berlusconi. O primeiro-ministro seria “extremamente seletivo em exercitar pressão política para obter a extradição de réus ou condenados pela justiça italiana que se encontram em outros países”. Há cerca de 50 foragidos italianos com pedidos de extradição em várias partes do mundo, mas o escarcéu nem se compara ao promovido contra o governo Lula. Entre os casos pesquisados, um é bastante revelador do cinismo de Berlusconi:
Advogado dos terroristas de direita
O caso emblemático envolve Delfo Zorzi, 62 anos, ex-líder da seita neofascista “Ordine Nuovo”, que promoveu, nos anos 60 e 70, inúmeros atentados à bomba, “beneficiando-se da proteção do serviço secreto italiano que, por sua vez, tinha ligações com as ‘operações encobertas’ da CIA no país”. A agência dos EUA implantou na Itália, na década de 50, uma rede clandestina chamada “Gládio” para realizar atentados e organizar milícias armadas. Zorzi foi condenado em primeiro grau, e depois absolvido, pelo atentado da Piazza Fontana, em Milão, em 1969, que resultou em 17 mortos e 84 feridos. Atualmente, está sendo processado pelo atentado em Brescia, em 1974, contra uma manifestação sindical antifascista, que causou oito mortes e mais de 90 feridos.
Zorzi vive há anos no Japão, onde se naturalizou e tornou-se um rico empresário do setor têxtil. “O pedido de extradição feito ao Japão jamais foi atendido, nem o governo italiano fez muito para isso. Detalhe: o defensor de Zorzi é o advogado (e deputado do ‘Forza Itália’, partido do governo) Gaetano Pecorrella, que vem a ser também um dos advogados pessoais do próprio Berlusconi. Outro detalhe: vários ex-integrantes do ‘Ordine Nuovo’ são hoje militantes da AN (o partido herdeiro dos neofascistas do Movimento Sociale Italiano – MSI) e da ‘Lega Nord’, um partido xenófobo. NA e Lega são aliados de Berlusconi e integram seu governo”.
Protetor dos agentes da CIA
Num caso mais recente, que também evidência a “dupla moral” do primeiro-ministro, juízes de Milão solicitaram, em 2006, a extradição de 26 agentes da CIA que seqüestraram o egípcio Abu Omar, acusado de ligações com Al Qaeda. Ele foi uma das vítimas da “extraordinary renditions”, as prisões ilegais efetuadas pela CIA durante a “guerra global contra o terror” patrocinada pelo ex-presidente Bush. Omar foi detido ilegalmente na Itália e torturado durante meses em prisões clandestinas. Pela lei italiana, o seqüestro é considerado uma grave violação do código penal do país e da convenção européia dos direitos humanos, que proíbe prisões ilegais e torturas. “Até agora, o governo italiano não moveu uma palha para obter a extradição dos agentes da CIA”.
Berlusconi é realmente seletivo. Não faz qualquer alarde contra os asilados políticos da extrema-direita nem contra os agentes da CIA que invadiram ilegalmente o país. Também evita confusão com os governos europeus, que nem levam a sério este fanfarrão neofascista. O barão da mídia italiana, hoje primeiro-ministro, faz escarcéu contra o Brasil, procurando desqualificar o governo e a justiça brasileira. Ele sabe que conta com o apoio da direita nativa e da mídia, que tudo fazem para atacar o presidente Lula. É puro jogo de cena, que visa reforçar as tendências fascistizantes em curso na Itália. Não é de estranhar a ironia que os romances de Battisti sejam publicados no país pela Editora Einaudi, de propriedade de Berlusconi. Ele é, de fato, um cínico midiático.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Salário mínimo continua mísero
Entrou em vigor no início de fevereiro o novo valor do salário mínimo nacional – que subiu de R$ 415 para R$ 465. O reajuste de 12% beneficiará 42,8 milhões de brasileiros que sobrevivem com esta miséria, entre os trabalhadores formais e informais (mais de 25 milhões), aposentados e pensionistas (17,8 milhões). Ele também incidirá sobre o seguro-desemprego, já que o benefício é vinculado desde 1992. Segundo o Ministério do Planejamento, o novo mínimo vai injetar R$ 23,1 bilhões na economia neste ano, sendo um forte fator de estímulo ao mercado interno.
De positivo, é preciso enfatizar que o presidente Lula manteve seu compromisso de campanha de valorização do salário mínimo e tem promovido os maiores reajustes das últimas quatro décadas. Nos seus seis anos de mandato, o aumento real foi de 46,05% - somando a reposição da inflação, ele cresceu 132% no período (era de R$ 200 no final do reinado de FHC). Além disso, o governo tem sustentado, apesar da gritaria do patronato, o reajuste acima da inflação, tendo como base o crescimento do PIB, e antecipa o reajuste mês a mês – cumprido acordo firmado com as centrais.
A gritaria egoísta do capital
De negativo, não dá para esconder que o salário continua mínimo, irrisório. Quando foi criado por Getúlio Vargas, em 1º de maio de 1938, ele tinha como objetivo cobrir todas as necessidades básicas dos trabalhadores. O valor atual está distante deste objetivo. Como afirma o professor da Unicamp Cláudio Dedecca, uma dos maiores especialistas no tema, o atual reajuste de 50 reais é insatisfatório. “O salário mínimo deveria ser, no mínimo, três vezes maior”. Segundo projeções do Dieese, para garantir a cesta básica a um casal com dois filhos, deveria ser de R$ 1.634,73.
Apesar das críticas, Dedecca avalia que o reajuste é uma medida eficaz de combate aos efeitos da crise capitalista. “Não tenho dúvida de que ele contribui para a sustentação do nível de atividade economia em 2009. O salário mínimo é uma medida relevante de combate à crise”. O professor da Unicamp rejeita a gritaria egoísta de parte do patronato, com dos representantes da Fiesp, que criticaram o reajuste. Para ele, o aumento real movimentará a economia e estimulará o comércio interno. “Se um setor tem um gasto maior com o reajuste do mínimo, por outro lado, uma massa maior trabalhadores passa a consumir, como no setor de alimentação, o que estimula o mercado”.
De positivo, é preciso enfatizar que o presidente Lula manteve seu compromisso de campanha de valorização do salário mínimo e tem promovido os maiores reajustes das últimas quatro décadas. Nos seus seis anos de mandato, o aumento real foi de 46,05% - somando a reposição da inflação, ele cresceu 132% no período (era de R$ 200 no final do reinado de FHC). Além disso, o governo tem sustentado, apesar da gritaria do patronato, o reajuste acima da inflação, tendo como base o crescimento do PIB, e antecipa o reajuste mês a mês – cumprido acordo firmado com as centrais.
A gritaria egoísta do capital
De negativo, não dá para esconder que o salário continua mínimo, irrisório. Quando foi criado por Getúlio Vargas, em 1º de maio de 1938, ele tinha como objetivo cobrir todas as necessidades básicas dos trabalhadores. O valor atual está distante deste objetivo. Como afirma o professor da Unicamp Cláudio Dedecca, uma dos maiores especialistas no tema, o atual reajuste de 50 reais é insatisfatório. “O salário mínimo deveria ser, no mínimo, três vezes maior”. Segundo projeções do Dieese, para garantir a cesta básica a um casal com dois filhos, deveria ser de R$ 1.634,73.
Apesar das críticas, Dedecca avalia que o reajuste é uma medida eficaz de combate aos efeitos da crise capitalista. “Não tenho dúvida de que ele contribui para a sustentação do nível de atividade economia em 2009. O salário mínimo é uma medida relevante de combate à crise”. O professor da Unicamp rejeita a gritaria egoísta de parte do patronato, com dos representantes da Fiesp, que criticaram o reajuste. Para ele, o aumento real movimentará a economia e estimulará o comércio interno. “Se um setor tem um gasto maior com o reajuste do mínimo, por outro lado, uma massa maior trabalhadores passa a consumir, como no setor de alimentação, o que estimula o mercado”.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
O castelo do demo e a merenda de Kassab
O DEM, o ex-PFL da ditadura militar, representa o que há de mais direitista e mais fisiológico na política brasileira. É o partido da oligarquia conservadora e patrimonialista, que abraçou as teses neoliberais ao aliar-se com os “modernos” rentistas do PSDB. É o partido do castelo suntuoso do deputado mineiro Edmar Moreira, que atormentou presos políticos no passado e que hoje furta as contribuições previdenciárias de funcionários de suas firmas e sonega impostos para erguer a sua fortuna. É o partido do prefeito Gilberto Kassab, marionete do presidenciável tucano José Serra, que realiza licitações irregulares e serve merendas estragadas às crianças nas escolas municipais.
Na fase recente, esta marca indelével dos demos ficou ofuscada. A mídia venal, principalmente a partir da chamada “crise do mensalão”, detonada em 2005, procurou vender a idéia de que toda a política é suja, espalhando o ceticismo e livrando a cara dos corruptos endêmicos. Ninguém ficou imune. Partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais foram lançados no monturo. Erros foram cometidos, é verdade. Mas nada se compara à ação antiética dos demos. A corrupção está no seu DNA. Agora, porém, a sujeira volta à tona, como a lama das enchentes em São Paulo, que a mídia hegemônica também tenta esconder para blindar a imagem do presidenciável tucano.
A trajetória sinistra dos demos
O caso Edmar Moreira é exemplar da trajetória sinistra dos demos. Como capitão da PM mineira na época da ditadura, ele ficou conhecido pelos óculos ray-ban com que ingressava nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”, segundo recordação do engenheiro ambiental Rogério Teixeira. Na seqüência, mudou-se para São Paulo e fundou sua empresa de segurança – hoje, possui três firmas. Na época, um dossiê entregue à Polícia Federal denunciou o empresário por não pagar o FGTS dos funcionários e por sonegação do Imposto de Renda e do INSS. Edmar ingressou na política pelas mãos dos coronéis do ex-PFL; elegeu-se deputado federal pelo PRN de Collor de Mello; migrou para o PPB de Maluf; e retornou ao PFL, hoje DEM.
Em 1999, a revista Veja denunciou o bizarro enriquecimento do político mineiro – depois, na sua obsessão em atacar o presidente Lula, ela esqueceu o passado dos demos, agora seus aliados na oposição raivosa ao governo. Segundo a reportagem, o deputado “é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, piscina com cascata, fontes e espelhos d’água... Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França”.
Expulsão e desculpa esfarrapada
Em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (9), o presidente dos demos, Rodrigo Maia, jurou que desconhecia o passado sujo do parlamentar e anunciou sua expulsão do partido. Como leitor assíduo da Veja, a desculpa é esfarrapada. Há muito se sabia da existência do Castelo Mona Lisa, da sonegação dos impostos, da apropriação das contribuições previdenciárias dos funcionários de suas firmas de segurança e de outras maracutaias de Edmar Moreira. O risco desta mentira é que venham a público as fotos dos freqüentadores deste palácio medieval na Zona da Mata de Minas.
Um ex-servente do castelo revelou ao jornal mineiro O Tempo que “o local era freqüentado por muitos políticos e empresários”. Também disse que o castelo servia para jogos ilegais, com caça-níquel, roleta e bilhar. “Tinha um imenso cassino construído perto da torre principal do castelo”. Lembra ainda que, no final dos anos 90, “o que impressionava era a quantidade de dinheiro que os convidados perdiam. Eram notas de R$ 50 e R$ 100. O que também atraia os convidados era a adega. Tinha umas 8 mil garrafas. Uma adega enorme, climatizada. [Edmar Moreira] dizia que o vinho sempre tinha que ficar em temperaturas européias”. Ai se uma foto dessas aparece!
Restos estragados para os trabalhadores
Na mesma semana em que desmoronou o castelo do demo, outra notícia desnudou o verdadeiro caráter desde partido elitista e direitista. O Ministério Público denunciou empresas fornecedoras de merenda escolar à prefeitura da capital paulista por formação de cartel para vencer licitações e pagamento de propinas aos gestores de Gilberto Kassab. A Comercial Milano, uma das empresas envolvidas, possui antigos e estranhos vínculos com o DEM. Em 2006, ela foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro por praticar os mesmos crimes na gestão César Maia – pai do atual presidente dos demos. Desgastada na capital carioca, mudou-se para São Paulo.
Reportagem do Jornal da Record revelou que as refeições servidas às crianças paulistas são de péssima qualidade, feitas com alimentos podres e armazenados em áreas sem qualquer higiene. Uma cozinheira entrevistada disse que tudo é feito para reduzir o custo das merendas escolares; ela trabalha com uma máquina de calcular, selecionando os mantimentos de pior qualidade. Este é o mundo perfeito dos demos, por muito tempo ofuscado pela mídia hegemônica: restos para os filhos de trabalhadores na periferia, já que os neoliberais detestam qualquer a “gastança social”, e suntuosos castelos para os políticos corrompidos e os empresários corruptores.
Na fase recente, esta marca indelével dos demos ficou ofuscada. A mídia venal, principalmente a partir da chamada “crise do mensalão”, detonada em 2005, procurou vender a idéia de que toda a política é suja, espalhando o ceticismo e livrando a cara dos corruptos endêmicos. Ninguém ficou imune. Partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais foram lançados no monturo. Erros foram cometidos, é verdade. Mas nada se compara à ação antiética dos demos. A corrupção está no seu DNA. Agora, porém, a sujeira volta à tona, como a lama das enchentes em São Paulo, que a mídia hegemônica também tenta esconder para blindar a imagem do presidenciável tucano.
A trajetória sinistra dos demos
O caso Edmar Moreira é exemplar da trajetória sinistra dos demos. Como capitão da PM mineira na época da ditadura, ele ficou conhecido pelos óculos ray-ban com que ingressava nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”, segundo recordação do engenheiro ambiental Rogério Teixeira. Na seqüência, mudou-se para São Paulo e fundou sua empresa de segurança – hoje, possui três firmas. Na época, um dossiê entregue à Polícia Federal denunciou o empresário por não pagar o FGTS dos funcionários e por sonegação do Imposto de Renda e do INSS. Edmar ingressou na política pelas mãos dos coronéis do ex-PFL; elegeu-se deputado federal pelo PRN de Collor de Mello; migrou para o PPB de Maluf; e retornou ao PFL, hoje DEM.
Em 1999, a revista Veja denunciou o bizarro enriquecimento do político mineiro – depois, na sua obsessão em atacar o presidente Lula, ela esqueceu o passado dos demos, agora seus aliados na oposição raivosa ao governo. Segundo a reportagem, o deputado “é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, piscina com cascata, fontes e espelhos d’água... Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França”.
Expulsão e desculpa esfarrapada
Em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (9), o presidente dos demos, Rodrigo Maia, jurou que desconhecia o passado sujo do parlamentar e anunciou sua expulsão do partido. Como leitor assíduo da Veja, a desculpa é esfarrapada. Há muito se sabia da existência do Castelo Mona Lisa, da sonegação dos impostos, da apropriação das contribuições previdenciárias dos funcionários de suas firmas de segurança e de outras maracutaias de Edmar Moreira. O risco desta mentira é que venham a público as fotos dos freqüentadores deste palácio medieval na Zona da Mata de Minas.
Um ex-servente do castelo revelou ao jornal mineiro O Tempo que “o local era freqüentado por muitos políticos e empresários”. Também disse que o castelo servia para jogos ilegais, com caça-níquel, roleta e bilhar. “Tinha um imenso cassino construído perto da torre principal do castelo”. Lembra ainda que, no final dos anos 90, “o que impressionava era a quantidade de dinheiro que os convidados perdiam. Eram notas de R$ 50 e R$ 100. O que também atraia os convidados era a adega. Tinha umas 8 mil garrafas. Uma adega enorme, climatizada. [Edmar Moreira] dizia que o vinho sempre tinha que ficar em temperaturas européias”. Ai se uma foto dessas aparece!
Restos estragados para os trabalhadores
Na mesma semana em que desmoronou o castelo do demo, outra notícia desnudou o verdadeiro caráter desde partido elitista e direitista. O Ministério Público denunciou empresas fornecedoras de merenda escolar à prefeitura da capital paulista por formação de cartel para vencer licitações e pagamento de propinas aos gestores de Gilberto Kassab. A Comercial Milano, uma das empresas envolvidas, possui antigos e estranhos vínculos com o DEM. Em 2006, ela foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro por praticar os mesmos crimes na gestão César Maia – pai do atual presidente dos demos. Desgastada na capital carioca, mudou-se para São Paulo.
Reportagem do Jornal da Record revelou que as refeições servidas às crianças paulistas são de péssima qualidade, feitas com alimentos podres e armazenados em áreas sem qualquer higiene. Uma cozinheira entrevistada disse que tudo é feito para reduzir o custo das merendas escolares; ela trabalha com uma máquina de calcular, selecionando os mantimentos de pior qualidade. Este é o mundo perfeito dos demos, por muito tempo ofuscado pela mídia hegemônica: restos para os filhos de trabalhadores na periferia, já que os neoliberais detestam qualquer a “gastança social”, e suntuosos castelos para os políticos corrompidos e os empresários corruptores.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
A crise mundial e o fantasma das rebeliões
“Neste momento, apesar de que se fale muito de economia, existe outro fantasma que ronda o mundo e assusta mais os seus dirigentes: o fantasma das rebeliões”. José Luís Fiori.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
O adeus ao deputado dos sem-terra
“Um homem não vale pela quantidade de discursos que fez ou pelos anos que viveu. Vale pela sua luta. E é isso que o Adão representa. Ele é um símbolo da dignidade humana”. Presidente Lula no enterro do deputado federal Adão Preto, um dos fundadores do MST.
Conheci Adão Preto nas marchas dos sem-terra e nas atividades de formação do MST. Deputado em seis legislaturas pelo PT gaúcho, ele mantinha sua simplicidade e seu jeitão de camponês. Os mandatos não lhe subiram à cabeça. Era um homem totalmente comprometido com as lutas pela reforma agrária. Vítima de pancreatite, sua morte representa sensível perda para os trabalhadores brasileiros. O discurso do presidente Lula, com lagrimas nos olhos, durante seu sepultamento em Porto Alegre, na sexta-feira, expressa bem os valores de Adão Preto, o deputado dos sem-terra.
Ele iniciou sua militância no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí, influenciado pelas idéias da “teologia da libertação” da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No final dos anos 80, ele ajudou a construir o Movimento dos Sem Terra (MST), atuando na ocupação da Fazenda Anoni, em Sarandi (RS). João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, lembra que seu primeiro contato com Adão Preto se deu há mais de 30 anos, quando ele era líder da comunidade e ministro da eucaristia na Diocese de Frederico. Vale registrar as sentidas lembranças de Stedile:
Garra e coerência na militância
“Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo boas referências, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. Naqueles tempos de ditadura militar era difícil encontrar pessoas corajosas que se dispusessem a defender o interesse da comunidade. Desde o início o admirei por sua sensibilidade social, sua coerência e franqueza. Nos encontros, ele costumava colocar em versos singelos as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política... O tempo foi passando e, em 1986, organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do Sul, na Fazenda Anoni, com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava Adão Preto”.
“Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado camponês a tomar posse na Assembléia Legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio Grande do Sul. No início, colunistas da imprensa burguesa riram de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio na ação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e dos sem-terra que impactou a sociedade e que lhe deu o Prêmio Springer de melhor deputado. Depois se elegeu deputado federal, defendendo com a mesma coerência e garra os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era um parlamentar padrão. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais e as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denúncias. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou”.
“Hábitos simples e idéias refinadas”
A morte de Adão Preto entristece todos os lutadores sociais. Deixa uma grande lacuna. De todas as partes, líderes políticos e populares manifestaram pesar. Em discurso no plenário da Câmara Federal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lamentou a morte de seu colega de parlamento. “A Câmara perdeu um combatente e o Brasil, um patriota. Homem de hábitos simples, mas de idéias refinadas, ele pautou sua ação pela defesa intransigente da ampliação da democracia em todos os níveis”, afirmou. Para o comunista, Adão Preto se notabilizou pela luta contra “uma das chagas mais renitentes da formação social brasileira, a concentração da posse da terra”.
Conheci Adão Preto nas marchas dos sem-terra e nas atividades de formação do MST. Deputado em seis legislaturas pelo PT gaúcho, ele mantinha sua simplicidade e seu jeitão de camponês. Os mandatos não lhe subiram à cabeça. Era um homem totalmente comprometido com as lutas pela reforma agrária. Vítima de pancreatite, sua morte representa sensível perda para os trabalhadores brasileiros. O discurso do presidente Lula, com lagrimas nos olhos, durante seu sepultamento em Porto Alegre, na sexta-feira, expressa bem os valores de Adão Preto, o deputado dos sem-terra.
Ele iniciou sua militância no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí, influenciado pelas idéias da “teologia da libertação” da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No final dos anos 80, ele ajudou a construir o Movimento dos Sem Terra (MST), atuando na ocupação da Fazenda Anoni, em Sarandi (RS). João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, lembra que seu primeiro contato com Adão Preto se deu há mais de 30 anos, quando ele era líder da comunidade e ministro da eucaristia na Diocese de Frederico. Vale registrar as sentidas lembranças de Stedile:
Garra e coerência na militância
“Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo boas referências, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. Naqueles tempos de ditadura militar era difícil encontrar pessoas corajosas que se dispusessem a defender o interesse da comunidade. Desde o início o admirei por sua sensibilidade social, sua coerência e franqueza. Nos encontros, ele costumava colocar em versos singelos as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política... O tempo foi passando e, em 1986, organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do Sul, na Fazenda Anoni, com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava Adão Preto”.
“Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado camponês a tomar posse na Assembléia Legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio Grande do Sul. No início, colunistas da imprensa burguesa riram de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio na ação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e dos sem-terra que impactou a sociedade e que lhe deu o Prêmio Springer de melhor deputado. Depois se elegeu deputado federal, defendendo com a mesma coerência e garra os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era um parlamentar padrão. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais e as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denúncias. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou”.
“Hábitos simples e idéias refinadas”
A morte de Adão Preto entristece todos os lutadores sociais. Deixa uma grande lacuna. De todas as partes, líderes políticos e populares manifestaram pesar. Em discurso no plenário da Câmara Federal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lamentou a morte de seu colega de parlamento. “A Câmara perdeu um combatente e o Brasil, um patriota. Homem de hábitos simples, mas de idéias refinadas, ele pautou sua ação pela defesa intransigente da ampliação da democracia em todos os níveis”, afirmou. Para o comunista, Adão Preto se notabilizou pela luta contra “uma das chagas mais renitentes da formação social brasileira, a concentração da posse da terra”.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Cesare Battisti e a conspiração da CIA
A oposição de direita e sua mídia têm aproveitado o caso Cesare Battisti para atacar o presidente Lula, que num gesto soberano e legítimo deu asilo político ao escritor italiano. Todas as noites, o casal global do Jornal Nacional apimenta as críticas, bem diferente da postura adotada quando do exílio do ditador paraguaio Alfredo Strossner. Já os jornais Folha e Estadão publicaram editoriais insinuando que o ministro da Justiça, Tarso Genro, teria simpatias por “terroristas de esquerda”. Até a revista Carta Capital, um veículo progressista, reforçou estranhamente o coro crítico.
Parlamentares tucanos e demos, estes egressos do partido da ditadura militar brasileira, fizeram questão de se solidarizar com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, o barão da mídia, que numa reação midiática retirou seu embaixador de Brasília. Caraduras, afirmam que a Itália é um exemplo de democracia para justificar o envio do escritor à prisão perpétua neste país. Nada falam sobre a trajetória ultradireitista de Berlusconi, das suas alianças com partidos neofascistas ou da recente medida do seu governo que impede que ele seja julgado por crimes de corrupção.
“Um bode expiatório conveniente”
O caso Cesare Battisti é complexo, mas não justifica a gritaria da direita servil e da mídia venal. França e Japão já deram asilo político aos condenados pela justiça italiana e não houve o mesmo alarde. O bufão Berlusconi e o processo jurídico neste país não são levados muito a sério. Como apontou Maria Inês Nassif, num excelente artigo no jornal Valor, Battisti foi condenado à prisão perpétua sem qualquer direito de defesa. As testemunhas que o acusaram de quatro assassinatos gozam da delação premiada e há indícios de que uma foi torturada. Dois dos citados homicídios foram cometidos no mesmo dia 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distancia um do outro.
“[Battisti] nunca esteve num tribunal para defender-se das acusações e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz”, afirma a colunista no artigo “Um bode expiatório conveniente à Itália”. Para ela, “diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos poucos afeitos à ordem democrática”.
EUA subornam políticos e jornalistas
O livro recém-lançado “Legado de cinzas, uma história da CIA”, do jornalista estadunidense Tim Weiner, vencedor do prêmio Pulitzer, confirma a tese de Maria Inês Nassif de que o período em que Battisti participou da luta armada, nos anos 70, foi um dos mais tumultuados e sombrios da história recente da Itália. O clima era de guerra. Com base em inúmeros documentos oficiais, o autor demonstra que o serviço de espionagem e terrorismo dos EUA teve participação ativa no processo político italiano, financiando partidos da direita e realizando ações de sabotagem.
“A CIA gastou vinte anos e pelos menos US$ 65 milhões comprando influência em Roma, Milão e Nápoles”. McGeorge Bundy, diretor da agência, chamou o programa de ações secretas na Itália de ‘a vergonha anual’. Thomas Fina, cônsul-geral dos EUA em Milão durante o governo Nixon, confessou que a CIA subsidiou o partido democrata-cristão e deu milhões de dólares para bancar “a publicação de livros, o conteúdo de programas de rádio, subsidiando jornais e jornalistas”. Ele se jacta que “tinha recursos financeiros, recursos políticos, amigos e habilidade para chantagear”.
Nutro trecho, Tim Weiner revela que a ingerência ianque se intensificou a partir de 1970. “Com aprovação formal da Casa Branca, houve a distribuição de US$ 25 milhões a democratas cristãos e neofascistas italianos. O dinheiro foi dividido na ‘sala dos fundos’ – o posto da CIA no interior da suntuosa embaixada americana”. Giulio Andreotti “venceu a eleição com injeção de dinheiro da CIA. O financiamento secreto da extrema direita fomentou o fracassado golpe neofascista em 1970. O dinheiro ajudou a financiar as operações secretas da direita – incluindo bombardeios terroristas, que a inteligência italiana atribuiu à extrema esquerda”. Como se nota, não houve inocentes neste período sombrio, nem a mídia corrompida pela CIA.
Parlamentares tucanos e demos, estes egressos do partido da ditadura militar brasileira, fizeram questão de se solidarizar com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, o barão da mídia, que numa reação midiática retirou seu embaixador de Brasília. Caraduras, afirmam que a Itália é um exemplo de democracia para justificar o envio do escritor à prisão perpétua neste país. Nada falam sobre a trajetória ultradireitista de Berlusconi, das suas alianças com partidos neofascistas ou da recente medida do seu governo que impede que ele seja julgado por crimes de corrupção.
“Um bode expiatório conveniente”
O caso Cesare Battisti é complexo, mas não justifica a gritaria da direita servil e da mídia venal. França e Japão já deram asilo político aos condenados pela justiça italiana e não houve o mesmo alarde. O bufão Berlusconi e o processo jurídico neste país não são levados muito a sério. Como apontou Maria Inês Nassif, num excelente artigo no jornal Valor, Battisti foi condenado à prisão perpétua sem qualquer direito de defesa. As testemunhas que o acusaram de quatro assassinatos gozam da delação premiada e há indícios de que uma foi torturada. Dois dos citados homicídios foram cometidos no mesmo dia 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distancia um do outro.
“[Battisti] nunca esteve num tribunal para defender-se das acusações e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz”, afirma a colunista no artigo “Um bode expiatório conveniente à Itália”. Para ela, “diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos poucos afeitos à ordem democrática”.
EUA subornam políticos e jornalistas
O livro recém-lançado “Legado de cinzas, uma história da CIA”, do jornalista estadunidense Tim Weiner, vencedor do prêmio Pulitzer, confirma a tese de Maria Inês Nassif de que o período em que Battisti participou da luta armada, nos anos 70, foi um dos mais tumultuados e sombrios da história recente da Itália. O clima era de guerra. Com base em inúmeros documentos oficiais, o autor demonstra que o serviço de espionagem e terrorismo dos EUA teve participação ativa no processo político italiano, financiando partidos da direita e realizando ações de sabotagem.
“A CIA gastou vinte anos e pelos menos US$ 65 milhões comprando influência em Roma, Milão e Nápoles”. McGeorge Bundy, diretor da agência, chamou o programa de ações secretas na Itália de ‘a vergonha anual’. Thomas Fina, cônsul-geral dos EUA em Milão durante o governo Nixon, confessou que a CIA subsidiou o partido democrata-cristão e deu milhões de dólares para bancar “a publicação de livros, o conteúdo de programas de rádio, subsidiando jornais e jornalistas”. Ele se jacta que “tinha recursos financeiros, recursos políticos, amigos e habilidade para chantagear”.
Nutro trecho, Tim Weiner revela que a ingerência ianque se intensificou a partir de 1970. “Com aprovação formal da Casa Branca, houve a distribuição de US$ 25 milhões a democratas cristãos e neofascistas italianos. O dinheiro foi dividido na ‘sala dos fundos’ – o posto da CIA no interior da suntuosa embaixada americana”. Giulio Andreotti “venceu a eleição com injeção de dinheiro da CIA. O financiamento secreto da extrema direita fomentou o fracassado golpe neofascista em 1970. O dinheiro ajudou a financiar as operações secretas da direita – incluindo bombardeios terroristas, que a inteligência italiana atribuiu à extrema esquerda”. Como se nota, não houve inocentes neste período sombrio, nem a mídia corrompida pela CIA.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Roberto Freire vira aspone de Kassab
Até Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo, registrou a fato curioso no seu blog, replicando um artigo de José Dirceu intitulado “Roberto Freire recebe jetons da prefeitura”. Ele informa que o “presidente nacional do PPS, que posa e gosta de se apresentar como paladino da moralidade no país, recebe jetons no valor de R$ 12 mil mensais da prefeitura de São Paulo pela participação em dois conselhos municipais – Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) e SP-Turismo... O conselheiro assina atas de reuniões a que não comparece, com o agravante de que é integrante da turma do falso moralismo, da turma dos gigolôs da ética alheia”.
A denúncia apareceu primeiro no Jornal da Tarde, no final de janeiro, num texto de Fábio Leite. Ele revelou que Roberto Freire é uma das 58 pessoas beneficiadas pela política de contratação de “conselheiros”, implantada em 2005 na gestão do José Serra, atual governador e o presidenciável preferido das elites. Reeleito, o demo Gilberto Kassab, pau-mandado do tucano, manteve o jetom do chefão do PPS. O texto do JT afirma que esta “bondade administrativa” visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais. Apesar da gravidade da denúncia, que lembra o tal “mensalão”, as emissoras de televisão e os jornalões não fizeram qualquer alarde, outra prova de que a mídia está totalmente engajada no retorno do bloco liberal-conservador ao poder.
A formalidade da fusão PPS-PSDB
O ex-deputado federal e atual presidente do PPS tem sido muito paparicado por tucanos e demos. Desde o final dos anos 80, quando da desintegração do bloco soviético, ele acelerou sua guinada à direita, convertendo-se num apologista do capitalismo. Após implodir o antigo “partidão”, ele virou líder do governo neoliberal de FHC e um expoente do projeto de privatização e desmonte do Estado. No governo Lula, tornou-se um raivoso opositor, posando de vestal da ética. Chegou a defender o impeachment do presidente, acusando-o de estar metido no escândalo do mensalão – logo ele que, ironicamente, recebe jetons da prefeitura paulistana e reside em Pernambuco.
Essa conversão direitista desidratou o PPS, partido que Roberto Freire comanda como um velho coronel. Nas eleições de 2006, este agrupamento híbrido sofreu as maiores baixas, perdendo 188 prefeituras e milhares de vereadores. Diante do baque, ele passou a defender a extinção do PPS e o seu ingresso no PSDB, vestindo de vez a roupagem tucana. Em novembro passado, José Serra fez o convite formal para a adesão, num jantar em Brasília oferecido à cúpula “socialista”. Ficou acertado que os dois partidos deverão se fundir até o final do primeiro semestre deste ano. “O PPS conversa há muito tempo com o PSDB. Precisamos montar um agrupamento político forte para a era pós-Lula”, relatou, na ocasião, o deputado Nelson Proença, seguidor de Freire.
Escândalo e indignação nas bases
Segundo Pedro Venceslau, num artigo para revista Fórum intitulado “tucanos de bico vermelho”, a fusão não terá maior impacto no mundo político. “Na prática, não passa de mera formalidade. Desde a eleição de Lula, os dois partidos mantêm relação para lá de carnal. Indignam-se juntos e assinam notas, manifestos e repúdios, em geral ao lado do DEM, sempre que surge um gancho contra o governo federal”. Mas, com base nas sondagens do jornalista, a fusão deverá produzir abalos no interior do PPS. Setores que ainda se identificam com a esquerda estão muito inquietos com a perda total de autonomia da legenda que ainda conserva o “socialismo” no nome.
A ex-candidata à prefeita do partido, Sonia Francine, já havia sido cooptada por Gilberto Kassab para a subprefeitura da Cidade Tiradentes. Agora, é o próprio Roberto Freire que vira aspone do prefeito demo. Se a mídia fosse isenta, o escândalo seria devastador. Afinal, os 58 “conselheiros” causam um rombo de R$ 4,17 milhões aos cofres públicos. Os jetons elevam, de forma ilegal, os salários de 15 secretários municipais e bancam aliados políticos que nem sequer moram em São Paulo. Diante destas maracutaias, será difícil manter o falso discurso da ética. Os militantes mais sadios do PPS devem, realmente, ficar indignados. Do contrário, jogarão o seu passado no lixo.
A denúncia apareceu primeiro no Jornal da Tarde, no final de janeiro, num texto de Fábio Leite. Ele revelou que Roberto Freire é uma das 58 pessoas beneficiadas pela política de contratação de “conselheiros”, implantada em 2005 na gestão do José Serra, atual governador e o presidenciável preferido das elites. Reeleito, o demo Gilberto Kassab, pau-mandado do tucano, manteve o jetom do chefão do PPS. O texto do JT afirma que esta “bondade administrativa” visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais. Apesar da gravidade da denúncia, que lembra o tal “mensalão”, as emissoras de televisão e os jornalões não fizeram qualquer alarde, outra prova de que a mídia está totalmente engajada no retorno do bloco liberal-conservador ao poder.
A formalidade da fusão PPS-PSDB
O ex-deputado federal e atual presidente do PPS tem sido muito paparicado por tucanos e demos. Desde o final dos anos 80, quando da desintegração do bloco soviético, ele acelerou sua guinada à direita, convertendo-se num apologista do capitalismo. Após implodir o antigo “partidão”, ele virou líder do governo neoliberal de FHC e um expoente do projeto de privatização e desmonte do Estado. No governo Lula, tornou-se um raivoso opositor, posando de vestal da ética. Chegou a defender o impeachment do presidente, acusando-o de estar metido no escândalo do mensalão – logo ele que, ironicamente, recebe jetons da prefeitura paulistana e reside em Pernambuco.
Essa conversão direitista desidratou o PPS, partido que Roberto Freire comanda como um velho coronel. Nas eleições de 2006, este agrupamento híbrido sofreu as maiores baixas, perdendo 188 prefeituras e milhares de vereadores. Diante do baque, ele passou a defender a extinção do PPS e o seu ingresso no PSDB, vestindo de vez a roupagem tucana. Em novembro passado, José Serra fez o convite formal para a adesão, num jantar em Brasília oferecido à cúpula “socialista”. Ficou acertado que os dois partidos deverão se fundir até o final do primeiro semestre deste ano. “O PPS conversa há muito tempo com o PSDB. Precisamos montar um agrupamento político forte para a era pós-Lula”, relatou, na ocasião, o deputado Nelson Proença, seguidor de Freire.
Escândalo e indignação nas bases
Segundo Pedro Venceslau, num artigo para revista Fórum intitulado “tucanos de bico vermelho”, a fusão não terá maior impacto no mundo político. “Na prática, não passa de mera formalidade. Desde a eleição de Lula, os dois partidos mantêm relação para lá de carnal. Indignam-se juntos e assinam notas, manifestos e repúdios, em geral ao lado do DEM, sempre que surge um gancho contra o governo federal”. Mas, com base nas sondagens do jornalista, a fusão deverá produzir abalos no interior do PPS. Setores que ainda se identificam com a esquerda estão muito inquietos com a perda total de autonomia da legenda que ainda conserva o “socialismo” no nome.
A ex-candidata à prefeita do partido, Sonia Francine, já havia sido cooptada por Gilberto Kassab para a subprefeitura da Cidade Tiradentes. Agora, é o próprio Roberto Freire que vira aspone do prefeito demo. Se a mídia fosse isenta, o escândalo seria devastador. Afinal, os 58 “conselheiros” causam um rombo de R$ 4,17 milhões aos cofres públicos. Os jetons elevam, de forma ilegal, os salários de 15 secretários municipais e bancam aliados políticos que nem sequer moram em São Paulo. Diante destas maracutaias, será difícil manter o falso discurso da ética. Os militantes mais sadios do PPS devem, realmente, ficar indignados. Do contrário, jogarão o seu passado no lixo.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Uma década da revolução bolivariana
Empossado em 2 de fevereiro de 1999, o presidente Hugo Chávez completa 10 anos a frente da “revolução bolivariana” na Venezuela. Sua inesperada eleição, em dezembro de 1998, com 56% dos votos, foi uma resposta à devastação neoliberal e representou duro golpe ao bipartidarismo oligárquico imperante neste país desde 1958 – através do pacto de “Punto Fijo”. Ela deu início a uma experiência inédita na América Latina, com a vitória de inúmeros governantes progressistas, antineoliberais, e recolocou na agenda política o debate sobre o “socialismo do século 21”.
Nesta uma década, Hugo Chávez, que chegou ao governo sem contar com partidos estruturados e movimentos sociais consistentes, enfrentou enormes obstáculos. Além dos problemas estruturais de um país miserável, ele foi alvo da fúria das elites racistas, das conspirações do imperialismo e do cerco da mídia. Com base no apoio popular e num núcleo nacionalista das forças armadas, ele derrotou o golpe de estado de abril de 2002, o locaute petroleiro de dezembro/janeiro de 2003 e incontáveis iniciativas de desestabilização do seu governo. Segundo pesquisa recente, atuam no país 271 organizações não-governamentais financiadas pelos EUA e com propósitos golpistas.
“A palha e o furacão revolucionário”
Num processo radicalizado, ele insistiu na via democrática, ao contrário do que alardeia a mídia. Hugo Chávez enfrentou e venceu três eleições presidenciais (1998, 2000 e 2006), três referendos constitucionais (dois em 1999 e outro em 2004), quatro pleitos executivos (2000, 2004, 2005 e 2008) e dois legislativos (1999 e 2005). Na mais recente disputa, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) conquistou 17 dos 23 governos estaduais e 233 prefeituras (80% das existentes). Nesta trajetória, ele sofreu apenas uma derrota, no referendo de dezembro de 2007.
A cada nova vitória, Chávez foi firmando sua convicção no projeto bolivariano. “Eu sou apenas uma débil palha arrastada pelo furacão revolucionário”, explica. Após derrotar o golpe de 2002, ele exonerou os generais golpistas e acelerou os programas sociais. Com a derrota do locaute, ele demitiu a casta de diretores e gerentes endinheirados e assumiu, de fato, o comando da poderosa empresa de petróleo da Venezuela – a PDVSA. Ele também enfrentou a ditadura midiática, não renovando a concessão pública da RCTV e incentivando rádios e TVs comunitárias. A partir da eleição presidencial de 2006, Chávez anunciou sua idéia híbrida do “socialismo do século 21”.
Mudanças políticas radicais
Vários fatores explicam os avanços da revolução bolivariana, com seus ziguezagues e lacunas. A primeira é a radical mudança política no país, com o governo apostando na participação ativa das camadas populares – na chamada democracia protagônica. Através dos comitês bolivarianos, das missiones (programas sociais sob controle da sociedade) e dos conselhos, há um enorme esforço pedagógico para envolver os “excluídos”. Na retaguarda deste processo movimentista aparecem as forças armadas. “Nossa revolução é pacífica, mas não é desarmada”, enfatiza sempre Chávez.
O debate político na Venezuela é dos mais intensos e democráticos. As sucessivas eleições e as várias instâncias de participação popular procuram superar a fragilidade dos movimentos sociais e a debilidade de um processo centrado num único líder. Nesta empreitada se dá a guerra contra a ditadura midiática. Balanço recente indica que, além dos quatro veículos estatais, hoje já existem 250 rádios comunitárias, 24 emissoras de TV sob controle popular, 300 periódicos alternativos e uma potente rede de internet – de 640 mil usuários em 2002 pulou para 4,142 milhões em 2008.
Avanços no campo econômico
Outro fator determinante para os avanços da revolução bolivariana são as mudanças no terreno econômico. Inicialmente, o processo foi até conservador, cauteloso. Com o tempo, as mudanças ganharam ritmo – com a estatização, de fato, da PDVSA, introdução de tributos sobre ganhos das multinacionais e medidas de controle do fluxo de capitais, entre outras de cunho antineoliberal. Procura-se diversificar a base produtiva do país, que continua muito dependente do petróleo, no que se batizou de economia endógena. Há também o estímulo às cooperativas e às propriedades sociais. Com base nestas medidas, a economia cresceu em média 11,2% nos últimos cinco anos.
Na fase recente, a revolução bolivariana acelerou o processo de estatização de áreas estratégicas, comprando empresas privadas na telefonia (Cantv), energia (AES), siderurgia (Sidor) e bancos (Santander). A proposta do “socialismo do século 21” ainda é uma peça de propaganda. Diante da grave crise mundial do capitalismo, que afeta duramente o preço e o volume das exportações de petróleo, o governo tenta atrair o chamado setor produtivo. Em julho passado, promoveu um encontro com 300 empresários e lançou um forte programa de subsídios às empresas. Há muita polêmica sobre o lançamento de uma nova NEP, a exemplo do ocorrido na revolução soviética.
A força dos programas sociais
O que dá forte impulso à revolução bolivariana, porém, são os programas sociais implantados nestes 10 anos. Três reportagens recentes – “Uma década de Chávez”, da revista Carta Capital; “Chávez, as dez vitórias e a mídia”, do jornal mexicano La Jornada; e “A nova Venezuela do presidente Chávez”, do periódico francês Le Monde Diplomatique – evidenciam o esforço do governo para melhorar a vida da sua população. A oligarquia racista, o imperialismo e a mídia venal até hoje não entenderam estas mudança. Vale à pena listar alguns dados do período 1998-2007:
- Miséria extrema: baixou de 20,3% para 9,4%;
- Pobreza: de 50,4% para 33,07%;
- Diferença entre riqueza/pobreza: de 28,1% para 18%;
- Mortalidade infantil: de 21,4 para 13,9 para cada mil nascidos vivos;
- Desemprego: de 16,06% para 6,3%;
- Salário mínimo: de 154 dólares para 286 dólares, o mais alto da América Latina;
- Aumento do poder aquisitivo: 400%;
- Investimento na educação: de 3,38% para 5,43% do PIB;
- Educação básica: de 89,7% para 99,5% das crianças;
- Educação superior: de 21,8% para 30,2% dos estudantes;
- Investimento em saúde: de 1,36% para 2,25% do PIB.
Nesta uma década, Hugo Chávez, que chegou ao governo sem contar com partidos estruturados e movimentos sociais consistentes, enfrentou enormes obstáculos. Além dos problemas estruturais de um país miserável, ele foi alvo da fúria das elites racistas, das conspirações do imperialismo e do cerco da mídia. Com base no apoio popular e num núcleo nacionalista das forças armadas, ele derrotou o golpe de estado de abril de 2002, o locaute petroleiro de dezembro/janeiro de 2003 e incontáveis iniciativas de desestabilização do seu governo. Segundo pesquisa recente, atuam no país 271 organizações não-governamentais financiadas pelos EUA e com propósitos golpistas.
“A palha e o furacão revolucionário”
Num processo radicalizado, ele insistiu na via democrática, ao contrário do que alardeia a mídia. Hugo Chávez enfrentou e venceu três eleições presidenciais (1998, 2000 e 2006), três referendos constitucionais (dois em 1999 e outro em 2004), quatro pleitos executivos (2000, 2004, 2005 e 2008) e dois legislativos (1999 e 2005). Na mais recente disputa, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) conquistou 17 dos 23 governos estaduais e 233 prefeituras (80% das existentes). Nesta trajetória, ele sofreu apenas uma derrota, no referendo de dezembro de 2007.
A cada nova vitória, Chávez foi firmando sua convicção no projeto bolivariano. “Eu sou apenas uma débil palha arrastada pelo furacão revolucionário”, explica. Após derrotar o golpe de 2002, ele exonerou os generais golpistas e acelerou os programas sociais. Com a derrota do locaute, ele demitiu a casta de diretores e gerentes endinheirados e assumiu, de fato, o comando da poderosa empresa de petróleo da Venezuela – a PDVSA. Ele também enfrentou a ditadura midiática, não renovando a concessão pública da RCTV e incentivando rádios e TVs comunitárias. A partir da eleição presidencial de 2006, Chávez anunciou sua idéia híbrida do “socialismo do século 21”.
Mudanças políticas radicais
Vários fatores explicam os avanços da revolução bolivariana, com seus ziguezagues e lacunas. A primeira é a radical mudança política no país, com o governo apostando na participação ativa das camadas populares – na chamada democracia protagônica. Através dos comitês bolivarianos, das missiones (programas sociais sob controle da sociedade) e dos conselhos, há um enorme esforço pedagógico para envolver os “excluídos”. Na retaguarda deste processo movimentista aparecem as forças armadas. “Nossa revolução é pacífica, mas não é desarmada”, enfatiza sempre Chávez.
O debate político na Venezuela é dos mais intensos e democráticos. As sucessivas eleições e as várias instâncias de participação popular procuram superar a fragilidade dos movimentos sociais e a debilidade de um processo centrado num único líder. Nesta empreitada se dá a guerra contra a ditadura midiática. Balanço recente indica que, além dos quatro veículos estatais, hoje já existem 250 rádios comunitárias, 24 emissoras de TV sob controle popular, 300 periódicos alternativos e uma potente rede de internet – de 640 mil usuários em 2002 pulou para 4,142 milhões em 2008.
Avanços no campo econômico
Outro fator determinante para os avanços da revolução bolivariana são as mudanças no terreno econômico. Inicialmente, o processo foi até conservador, cauteloso. Com o tempo, as mudanças ganharam ritmo – com a estatização, de fato, da PDVSA, introdução de tributos sobre ganhos das multinacionais e medidas de controle do fluxo de capitais, entre outras de cunho antineoliberal. Procura-se diversificar a base produtiva do país, que continua muito dependente do petróleo, no que se batizou de economia endógena. Há também o estímulo às cooperativas e às propriedades sociais. Com base nestas medidas, a economia cresceu em média 11,2% nos últimos cinco anos.
Na fase recente, a revolução bolivariana acelerou o processo de estatização de áreas estratégicas, comprando empresas privadas na telefonia (Cantv), energia (AES), siderurgia (Sidor) e bancos (Santander). A proposta do “socialismo do século 21” ainda é uma peça de propaganda. Diante da grave crise mundial do capitalismo, que afeta duramente o preço e o volume das exportações de petróleo, o governo tenta atrair o chamado setor produtivo. Em julho passado, promoveu um encontro com 300 empresários e lançou um forte programa de subsídios às empresas. Há muita polêmica sobre o lançamento de uma nova NEP, a exemplo do ocorrido na revolução soviética.
A força dos programas sociais
O que dá forte impulso à revolução bolivariana, porém, são os programas sociais implantados nestes 10 anos. Três reportagens recentes – “Uma década de Chávez”, da revista Carta Capital; “Chávez, as dez vitórias e a mídia”, do jornal mexicano La Jornada; e “A nova Venezuela do presidente Chávez”, do periódico francês Le Monde Diplomatique – evidenciam o esforço do governo para melhorar a vida da sua população. A oligarquia racista, o imperialismo e a mídia venal até hoje não entenderam estas mudança. Vale à pena listar alguns dados do período 1998-2007:
- Miséria extrema: baixou de 20,3% para 9,4%;
- Pobreza: de 50,4% para 33,07%;
- Diferença entre riqueza/pobreza: de 28,1% para 18%;
- Mortalidade infantil: de 21,4 para 13,9 para cada mil nascidos vivos;
- Desemprego: de 16,06% para 6,3%;
- Salário mínimo: de 154 dólares para 286 dólares, o mais alto da América Latina;
- Aumento do poder aquisitivo: 400%;
- Investimento na educação: de 3,38% para 5,43% do PIB;
- Educação básica: de 89,7% para 99,5% das crianças;
- Educação superior: de 21,8% para 30,2% dos estudantes;
- Investimento em saúde: de 1,36% para 2,25% do PIB.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Mídia, demos e a tragédia da Renascer
O sempre atento Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB e ex-deputado estadual, postou no seu blog uma notinha reveladora do caráter da mídia. “O Bispo Gê Tenuta, o responsável pela Igreja Renascer, já foi deputado estadual e hoje é suplente de deputado federal pelo DEM/SP. Parece, inclusive, que vai assumir o mandato. Não vi uma única linha que tocasse nesta condição política do religioso. A mídia não quer associar a tragédia, que resultou na morte de nove pessoas, com a prefeitura. Kassab e Bispo Gê são do mesmo partido. Tanto a prefeitura como os responsáveis da igreja descuidaram de itens essenciais à segurança dos fiéis”, registra o texto “empresário da fé”.
A manipulação da mídia, como alerta Nivaldo, é realmente impressionante. Se o tal bispo tivesse apoiado Marta Suplicy na eleição paulistana, com certeza o vínculo seria manchete dos jornalões e das revistas. O “colunista” Arnaldo Jabor, cuja esposa, Suzana Villas Boas, presta assessoria ao governador José Serra, teria feito suas gracinhas na TV Globo. Mas como o líder evangélico é do demo (ex-PFL), nem a sigla partidária aparece quando citam seu nome. As imagens de Kassab e Bispo Gê juntos em campanha sumiram do ar. Talvez nem as centenas de pessoas soterradas nos escombros do prédio inseguro da Igreja Renascer façam a devida ligação bispo-prefeito-demos.
TV Globo esconde a sujeira
A Renascer fez ativa campanha para Gilberto Kassab, apadrinhado do presidenciável José Serra. Engajado na campanha, o diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, deu até uma trégua na guerra liderada pela emissora contra as igrejas evangélicas. Para livrar a cara do demo, ela deixou de alardear a prisão, nos EUA, dos fundadores da igreja, Sônia e Estevam Hernandes, acusados de desvio ilegal de dinheiro. Também abafou as investigações que apontaram Fernanda Hernandes, filha dos fundadores da Renascer, como “funcionária fantasma do deputado estadual Geraldo Tenuta, conhecido como Bispo Gê”, segundo relato do casal global no Jornal Nacional.
Para interferir na batalha eleitoral, a mídia deixou de lado a “imparcialidade” nas apurações das irregularidades da Igreja Renascer – inclusive as que denunciaram o uso indevido de entidades assistenciais para enriquecer a instituição “religiosa”. Faz o mesmo agora, diante dos escombros do prédio e dos nove mortos, omitindo as relações do Bispo Gê com o DEM e o prefeito reeleito da capital paulista. A cada dia que passa, a mídia hegemônica se transforma no principal partido da direita no Brasil. O que ela chama de cobertura jornalística é, de fato, manipulação política.
Aero-Yeda e o silencia midiático
Outro caso emblemático desta distorção é o tratamento dado pela mídia à compra de um jato para governadora do Rio Grande Sul, Yeda Crusius. A tucana, que chafurdou o governo em inúmeros casos de corrupção, anunciou a aquisição do avião executivo orçado em US$ 26 milhões. Diante das críticas, ela rebateu: “Podem chamá-lo de Aero-Yeda, de Queen Air, do que quiserem”, em mais uma prova de inabilidade e arrogância políticas. A mídia, porém, parece que inocentou a governadora. Na Folha de S.Paulo foram publicadas apenas três notinhas, não houve destaque no Jornal Nacional. Bem diferente do escarcéu promovido contra o chamado “Aero-Lula”.
Até o blogueiro Ricardo Noblat estranhou as reações diante desta nova aquisição. “Quatro anos depois de criticar duramente o governo do presidente Lula pela compra do Airbus presidencial, integrantes do comando do PSDB se esquivaram de comentar a decisão da governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, de também adquirir um jato para vôos internacionais”. O blogueiro, que também é colunista do jornal O Globo, só não criticou o vergonhoso silêncio da mídia hegemônica – por motivos óbvios.
A manipulação da mídia, como alerta Nivaldo, é realmente impressionante. Se o tal bispo tivesse apoiado Marta Suplicy na eleição paulistana, com certeza o vínculo seria manchete dos jornalões e das revistas. O “colunista” Arnaldo Jabor, cuja esposa, Suzana Villas Boas, presta assessoria ao governador José Serra, teria feito suas gracinhas na TV Globo. Mas como o líder evangélico é do demo (ex-PFL), nem a sigla partidária aparece quando citam seu nome. As imagens de Kassab e Bispo Gê juntos em campanha sumiram do ar. Talvez nem as centenas de pessoas soterradas nos escombros do prédio inseguro da Igreja Renascer façam a devida ligação bispo-prefeito-demos.
TV Globo esconde a sujeira
A Renascer fez ativa campanha para Gilberto Kassab, apadrinhado do presidenciável José Serra. Engajado na campanha, o diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, deu até uma trégua na guerra liderada pela emissora contra as igrejas evangélicas. Para livrar a cara do demo, ela deixou de alardear a prisão, nos EUA, dos fundadores da igreja, Sônia e Estevam Hernandes, acusados de desvio ilegal de dinheiro. Também abafou as investigações que apontaram Fernanda Hernandes, filha dos fundadores da Renascer, como “funcionária fantasma do deputado estadual Geraldo Tenuta, conhecido como Bispo Gê”, segundo relato do casal global no Jornal Nacional.
Para interferir na batalha eleitoral, a mídia deixou de lado a “imparcialidade” nas apurações das irregularidades da Igreja Renascer – inclusive as que denunciaram o uso indevido de entidades assistenciais para enriquecer a instituição “religiosa”. Faz o mesmo agora, diante dos escombros do prédio e dos nove mortos, omitindo as relações do Bispo Gê com o DEM e o prefeito reeleito da capital paulista. A cada dia que passa, a mídia hegemônica se transforma no principal partido da direita no Brasil. O que ela chama de cobertura jornalística é, de fato, manipulação política.
Aero-Yeda e o silencia midiático
Outro caso emblemático desta distorção é o tratamento dado pela mídia à compra de um jato para governadora do Rio Grande Sul, Yeda Crusius. A tucana, que chafurdou o governo em inúmeros casos de corrupção, anunciou a aquisição do avião executivo orçado em US$ 26 milhões. Diante das críticas, ela rebateu: “Podem chamá-lo de Aero-Yeda, de Queen Air, do que quiserem”, em mais uma prova de inabilidade e arrogância políticas. A mídia, porém, parece que inocentou a governadora. Na Folha de S.Paulo foram publicadas apenas três notinhas, não houve destaque no Jornal Nacional. Bem diferente do escarcéu promovido contra o chamado “Aero-Lula”.
Até o blogueiro Ricardo Noblat estranhou as reações diante desta nova aquisição. “Quatro anos depois de criticar duramente o governo do presidente Lula pela compra do Airbus presidencial, integrantes do comando do PSDB se esquivaram de comentar a decisão da governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, de também adquirir um jato para vôos internacionais”. O blogueiro, que também é colunista do jornal O Globo, só não criticou o vergonhoso silêncio da mídia hegemônica – por motivos óbvios.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
MST e a reforma agrária de Veríssimo
Na semana em que o MST comemora 25 anos de “teimosia” na luta pela reforma agrária, uma crônica do escritor Luis Fernando Veríssimo ajuda a entender o drama de milhões de expulsos da terra e a rechaçar o discurso preconceituoso de parte da sociedade, sempre ampliado pela mídia. O texto acaba de ressurgir no livro “Mais comédias para ler na escola”, recordista de vendas no final do ano. A obra irreverente e deliciosa de ler reúne assuntos sérios, mas sempre com humor inteligente, e outros nem tanto, mas risíveis. Reproduzo a crônica, intitulada “provocações”:
“A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de medicamento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram provocando por toda a vida.
Não pôde ir à escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, ele gostava de roça. Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme, firme. Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Os que morriam eram substituídos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal de reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Pra valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou. Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu, espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele: Violência não!”.
“Sou um gigolô das palavras”
De forma leve e cativante, o novo livro de Veríssimo fala de algumas coisas sérias, incomodas, no meio de várias histórias amalucadas do cotidiano. Numa penada, já que não dá para parar de ler, o leitor é provocado na sua consciência. O livro faz rir e pensar. Como afirma a professora Marisa Lajolo, no prefácio, ele reúne crônicas que “falam tanto de filosofia quanto de galinhas, de romances e de lingüiças... Se livro fosse remédio – que tem bula e rótulo –, aqui se leria que estas Mais Comédias para Ler na Escola não têm contra-indicação... [É] garantia de boas risadas e de boa leitura. Que não fica menos divertida ao se acompanhar de alguma reflexão”.
Luis Fernando Veríssimo brinca com as palavras. Como ele mesmo confessa numa das crônicas, “sou um gigolô das palavras. Vivo as suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de cáften profissional”. Para ele, “o importante é comunicar. E, quando possível, surpreender, iluminar, divertir, mover”. Sem dúvida, Veríssimo consegue. Mesmo quando se discorda de algumas das suas maluquices, não há dúvida sobre o talento deste que é um dos maiores escritores brasileiros.
“A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão. A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de medicamento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz. Foram provocando por toda a vida.
Não pôde ir à escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, ele gostava de roça. Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para onde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme, firme. Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Os que morriam eram substituídos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.
Estavam provocando. Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal de reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa. Terra era o que não faltava. Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Pra valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação. Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou. Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu, espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele: Violência não!”.
“Sou um gigolô das palavras”
De forma leve e cativante, o novo livro de Veríssimo fala de algumas coisas sérias, incomodas, no meio de várias histórias amalucadas do cotidiano. Numa penada, já que não dá para parar de ler, o leitor é provocado na sua consciência. O livro faz rir e pensar. Como afirma a professora Marisa Lajolo, no prefácio, ele reúne crônicas que “falam tanto de filosofia quanto de galinhas, de romances e de lingüiças... Se livro fosse remédio – que tem bula e rótulo –, aqui se leria que estas Mais Comédias para Ler na Escola não têm contra-indicação... [É] garantia de boas risadas e de boa leitura. Que não fica menos divertida ao se acompanhar de alguma reflexão”.
Luis Fernando Veríssimo brinca com as palavras. Como ele mesmo confessa numa das crônicas, “sou um gigolô das palavras. Vivo as suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de cáften profissional”. Para ele, “o importante é comunicar. E, quando possível, surpreender, iluminar, divertir, mover”. Sem dúvida, Veríssimo consegue. Mesmo quando se discorda de algumas das suas maluquices, não há dúvida sobre o talento deste que é um dos maiores escritores brasileiros.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Os 25 anos do MST e o ódio da Folha
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) comemora nesta semana os seus 25 anos de existência. Lideranças políticas, artistas e intelectuais de renome já saudaram a data como um feito histórico, destacando a militância aguerrida do movimento, sua organicidade, seu papel pedagógico e civilizador e sua importante contribuição à luta por mudanças no país e na América Latina. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, por exemplo, enviou uma nota singela e carinhosa: “Eu suplico aos deuses e aos demônios que protejam o MST e a toda sua linda gente que comete a loucura de querer trabalhar, neste mundo onde o trabalho merece castigo”.
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, destacou o papel do MST na luta pela reforma agrária, num país que “apresenta forte predomínio do monopólio da terra, de grandes áreas improdutivas e de gigantescas empresas monopolistas nacionais e estrangeiras”. Já Ricardo Berzoini, dirigente do PT, frisou a contribuição do MST na “reconstrução da democracia brasileira, tarefa ainda em curso que exige sempre a unidade na diversidade daqueles que lutam por um país democrático e justo”. E Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, opinou que “o MST é o mais profundo e, por isso, o mais importante movimento social brasileiro”. PSOL, PSTU e PCB também deram apoio.
A teimosia e as conquistas
Artistas conscientes, como o dramaturgo Augusto Boal, a sambista Leci Brandão, a atriz Lucélia Santos e os atores Osmar Prado e Paulo Betti, enviaram suas mensagens de “parabéns”. Outras palavras de reconhecimento e de apoio devem chegar nestes próximos dias, inclusive do exterior – já que o MST possui núcleos de apoiadores em vários continentes e goza de prestígio junto aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai) e Raul Castro (Cuba). As comemorações que se realizam em Sarandi, interior gaúcho, local da primeira ocupação de terras do MST, deverão ter intensa carga emocional, “mística”.
Esse reconhecimento, como aponta João Pedro Stedile, integrante da sua coordenação nacional, deve-se “aos 25 anos de teimosia do MST”. Ele lembra que movimento surgiu no embalo da luta contra a ditadura e teve forte inspiração da Teologia da Libertação. Os lutadores pela terra de 16 estados, reunidos em janeiro de 1984 em Cascavel, “estimulados pelo trabalho pastoral da CPT”, davam início a um movimento que ocupou terras ociosas, que garantiu assentamentos produtivos – evitando que centenas de milhares de lavradores vegetassem no desemprego e marginalidade nos centros urbanos –, que construiu centenas de escolas no campo, formando camponeses.
A violência das oligarquias rurais
Neste percurso, o MST “pagou caro pela teimosia” e enfrentou a violência das oligarquias rurais, formadas com a mentalidade dos senhores de escravos. Segundo balanço da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 1985/2007 foram assassinados 1.508 trabalhadores em conflitos agrários. Destes, 31 eram dirigentes do MST, que também sofreu mais de 600 processos judiciais contra 1.500 militantes. No ano passado, o Ministério Público gaúcho determinou, de forma arbitrária, a “dissolução” do movimento e sentenciou: “Cabe agora quebrar a espinha dorsal do MST”.
Além da violência do latifúndio e dos barões do agronegócio, com suas milícias de jagunços, o MST também enfrentou governos na luta pela reforma agrária e por justiça. “No governo Collor, fomos duramente reprimidos, com a instalação, inclusive, de um departamento especializado na Polícia Federal de combate aos sem-terra. Depois, a vitória do neoliberalismo do governo FHC foi o sinal verde aos latifundiários e as suas policiais estaduais. Tivemos em pouco tempo dois massacres: Corumbiara e Carajás... Mas seguimos na luta. Brecamos o neoliberalismo elegendo Lula”. Mas, lamentavelmente, “não houve a reforma agrária no governo Lula”, relata Stedile.
Parcialidade e rancor da mídia
Esta rica trajetória, que recolocou a reforma agrária na agenda política, conquistou terras em centenas de assentamentos e foi manchada de sangue de seus mártires, deveria ter, no mínimo, o respeito da imprensa nativa. Mas, a exemplo dos latifundiários, os barões da mídia nunca deram trégua ao MST. É só lembrar as capas e reportagens abjetas da revista Veja, a maneira pejorativa que a TV Globo trata os “invasores”, a cara de asco do fascistóide Boris Casoy ou os editorais rancorosos do jornal O Estado de S.Paulo, fundado pela família escravocrata dos Mesquitas.
A Folha de S.Paulo, que ainda engana os ingênuos com o seu falso ecletismo – mas que clamou pelo golpe militar contra o “perigo comunista” e a reforma agrária –, não esconde seu ódio nem na semana do aniversário. Publicou editorial raivoso e várias reportagens marotas. Na primeira delas, ate faz um rico levantamento sobre os fundadores do MST, mas a edição refinada procura mostrar sua “decadência”, priorizando os que se “afastaram”. Outro texto, que poderia estar nas páginas policiais, é intitulado “MST foi processado mais de 600 vezes”; outro estimula a cizânia entre os sem-terra e o governo Lula; outro realça que o “MST perde adeptos e recursos”.
O “jornalismo canalha” dos Frias
Todos os textos seguem a linha traçada no título do editorial: “Decadente aos 25”. Nele, a senil família Frias afirma que “o MST completa 25 anos de existência, mas não amadurece. Ameaça, agora, ‘invadir’ cidades, ou seja, intensificar a sua atuação nos centros urbanos”. A manipulação é gritante: participar das mobilizações urbanas não significa “invadir”. O ataque é brutal, quase reforçando o coro da “dissolução” dos juízes gaúchos. “Encurralado pela própria decadência, o MST reage a seu modo... Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença da maioria da população”. Haja arrogância desde jornal elitista ao falar em nome da sociedade.
O ódio da Folha ao MST é antigo. No livro “O jornalismo canalha”, o professor José Arbex Jr. cita um caso emblemático, ocorrido em maio/2000, quando o servil Josias de Souza “denunciou a cobrança de ‘pedágios’ pelo MST, prática posteriormente qualificada de ‘mafiosa’ em editorial do próprio jornal, em resposta a uma denúncia comprovada e admitida de que Josias, para fazer a sua ‘reportagem’, utilizou recursos e orientação da Incra”, como pau-mandado do governo FHC. Arbex relembra outros editoriais na mesma linha, taxando as “invasões” do MST como prática “criminosa, estúpida e afrontadora” (20 de março de 2002). Como se observa, a Folha realmente deve estar triste com a “teimosia” e as comemorações dos 25 anos do MST.
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, destacou o papel do MST na luta pela reforma agrária, num país que “apresenta forte predomínio do monopólio da terra, de grandes áreas improdutivas e de gigantescas empresas monopolistas nacionais e estrangeiras”. Já Ricardo Berzoini, dirigente do PT, frisou a contribuição do MST na “reconstrução da democracia brasileira, tarefa ainda em curso que exige sempre a unidade na diversidade daqueles que lutam por um país democrático e justo”. E Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, opinou que “o MST é o mais profundo e, por isso, o mais importante movimento social brasileiro”. PSOL, PSTU e PCB também deram apoio.
A teimosia e as conquistas
Artistas conscientes, como o dramaturgo Augusto Boal, a sambista Leci Brandão, a atriz Lucélia Santos e os atores Osmar Prado e Paulo Betti, enviaram suas mensagens de “parabéns”. Outras palavras de reconhecimento e de apoio devem chegar nestes próximos dias, inclusive do exterior – já que o MST possui núcleos de apoiadores em vários continentes e goza de prestígio junto aos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai) e Raul Castro (Cuba). As comemorações que se realizam em Sarandi, interior gaúcho, local da primeira ocupação de terras do MST, deverão ter intensa carga emocional, “mística”.
Esse reconhecimento, como aponta João Pedro Stedile, integrante da sua coordenação nacional, deve-se “aos 25 anos de teimosia do MST”. Ele lembra que movimento surgiu no embalo da luta contra a ditadura e teve forte inspiração da Teologia da Libertação. Os lutadores pela terra de 16 estados, reunidos em janeiro de 1984 em Cascavel, “estimulados pelo trabalho pastoral da CPT”, davam início a um movimento que ocupou terras ociosas, que garantiu assentamentos produtivos – evitando que centenas de milhares de lavradores vegetassem no desemprego e marginalidade nos centros urbanos –, que construiu centenas de escolas no campo, formando camponeses.
A violência das oligarquias rurais
Neste percurso, o MST “pagou caro pela teimosia” e enfrentou a violência das oligarquias rurais, formadas com a mentalidade dos senhores de escravos. Segundo balanço da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 1985/2007 foram assassinados 1.508 trabalhadores em conflitos agrários. Destes, 31 eram dirigentes do MST, que também sofreu mais de 600 processos judiciais contra 1.500 militantes. No ano passado, o Ministério Público gaúcho determinou, de forma arbitrária, a “dissolução” do movimento e sentenciou: “Cabe agora quebrar a espinha dorsal do MST”.
Além da violência do latifúndio e dos barões do agronegócio, com suas milícias de jagunços, o MST também enfrentou governos na luta pela reforma agrária e por justiça. “No governo Collor, fomos duramente reprimidos, com a instalação, inclusive, de um departamento especializado na Polícia Federal de combate aos sem-terra. Depois, a vitória do neoliberalismo do governo FHC foi o sinal verde aos latifundiários e as suas policiais estaduais. Tivemos em pouco tempo dois massacres: Corumbiara e Carajás... Mas seguimos na luta. Brecamos o neoliberalismo elegendo Lula”. Mas, lamentavelmente, “não houve a reforma agrária no governo Lula”, relata Stedile.
Parcialidade e rancor da mídia
Esta rica trajetória, que recolocou a reforma agrária na agenda política, conquistou terras em centenas de assentamentos e foi manchada de sangue de seus mártires, deveria ter, no mínimo, o respeito da imprensa nativa. Mas, a exemplo dos latifundiários, os barões da mídia nunca deram trégua ao MST. É só lembrar as capas e reportagens abjetas da revista Veja, a maneira pejorativa que a TV Globo trata os “invasores”, a cara de asco do fascistóide Boris Casoy ou os editorais rancorosos do jornal O Estado de S.Paulo, fundado pela família escravocrata dos Mesquitas.
A Folha de S.Paulo, que ainda engana os ingênuos com o seu falso ecletismo – mas que clamou pelo golpe militar contra o “perigo comunista” e a reforma agrária –, não esconde seu ódio nem na semana do aniversário. Publicou editorial raivoso e várias reportagens marotas. Na primeira delas, ate faz um rico levantamento sobre os fundadores do MST, mas a edição refinada procura mostrar sua “decadência”, priorizando os que se “afastaram”. Outro texto, que poderia estar nas páginas policiais, é intitulado “MST foi processado mais de 600 vezes”; outro estimula a cizânia entre os sem-terra e o governo Lula; outro realça que o “MST perde adeptos e recursos”.
O “jornalismo canalha” dos Frias
Todos os textos seguem a linha traçada no título do editorial: “Decadente aos 25”. Nele, a senil família Frias afirma que “o MST completa 25 anos de existência, mas não amadurece. Ameaça, agora, ‘invadir’ cidades, ou seja, intensificar a sua atuação nos centros urbanos”. A manipulação é gritante: participar das mobilizações urbanas não significa “invadir”. O ataque é brutal, quase reforçando o coro da “dissolução” dos juízes gaúchos. “Encurralado pela própria decadência, o MST reage a seu modo... Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença da maioria da população”. Haja arrogância desde jornal elitista ao falar em nome da sociedade.
O ódio da Folha ao MST é antigo. No livro “O jornalismo canalha”, o professor José Arbex Jr. cita um caso emblemático, ocorrido em maio/2000, quando o servil Josias de Souza “denunciou a cobrança de ‘pedágios’ pelo MST, prática posteriormente qualificada de ‘mafiosa’ em editorial do próprio jornal, em resposta a uma denúncia comprovada e admitida de que Josias, para fazer a sua ‘reportagem’, utilizou recursos e orientação da Incra”, como pau-mandado do governo FHC. Arbex relembra outros editoriais na mesma linha, taxando as “invasões” do MST como prática “criminosa, estúpida e afrontadora” (20 de março de 2002). Como se observa, a Folha realmente deve estar triste com a “teimosia” e as comemorações dos 25 anos do MST.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Os temas do Fórum Social Mundial
Inaugurado no sul do Brasil, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial retorna às terras nativas na sua nona edição, desta vez no norte do país, em plena região Amazônica, em Belém do Pará. De 27 de janeiro a 1 de fevereiro, cerca de 120 mil lutadores sociais do mundo inteiro participarão de centenas de debates, assembléias, marchas e protestos, num fervilhante caldeirão de luta de idéias e de manifestações dos que acreditam que “um outro mundo é possível”.
Desde a sua primeira edição, em 2001, o mundo passou por intensas mudanças. O capitalismo, vendido como “fim da história”, afunda numa grave crise. O socialismo, que os apologistas do capital consideravam “morto”, ressurge como perspectiva. O imperialismo estadunidense, que se considerava imbatível, entrou em forte declínio. A resistência dos povos ganhou força, seja na insurgência no Iraque ou nas vitórias progressistas na América Latina. O mundo hoje, com seus ziguezagues e armadilhas, não vive mais a “paz de cemitério” do pensamento único neoliberal.
Contribuições e avanços sensíveis
Com suas limitações e dilemas, o Fórum Social Mundial deu sua contribuição nesta alteração da correlação de forças. Ele ajudou a amplificar as críticas ao neoliberalismo, a denunciar a política imperialista dos EUA, com suas guerras e seus tratados neocoloniais, a desmascarar a ditadura midiática. Além de reforçar a resistência dos povos, ele contribuiu na busca de alternativas. A cada edição, o Fórum Social Mundial também enfrentou seus próprios equívocos, como o que tentava separar a luta social da luta política, excluindo partidos e governantes progressistas.
Como observa Ricardo Abreu, o Alemão, dirigente nacional do PCdoB, ocorreram importantes avanços desde a nascimento do fórum. “O evento está mais aberto à participação das fundações vinculadas aos partidos políticos. Diminuiu o preconceito que havia em relação às organizações partidárias e aos movimentos sociais ‘tradicionais’. Além disso, nas primeiras edições era vetada a presença de chefes de Estado, numa negação à luta pelo poder político. Isto agora não acontece mais”. Ele lembra que Lula, Chávez, Morales e Lugo serão destaques nesta nona edição.
Os novos desafios do fórum
Na sua nona edição, novos desafios se impõem ao FSM. Além de abordar as várias iniciativas atomizadas, todas com sua importância, ele necessita concentrar as energias nos temas centrais, totalizantes, que ajudem na unificação da resistência mundial e na busca de alternativa à barbárie capitalista. O enfrentamento à grave crise do capitalismo, evitando que seu ônus seja jogado nas costas dos trabalhadores; a luta contra a guerra imperialista, seja a patrocinada pelos sionistas em Gaza ou pelos ianques no Iraque e Afeganistão; a jornada contra a devastação e pela soberania da Amazônia, entre outros temas, poderão alavancar e dar novo realce ao Fórum Social Mundial.
Para o sociólogo Emir Sader, a nona edição do fórum, “significativamente realizada na América Latina, elo mais fraco da cadeia neoliberal, tem a possibilidade de superar os descompassos e de redefinir sua esfera de atuação – tanto em relação a restabelecer as relações entre a esfera social e a política, única forma de disputar uma nova hegemonia e de lutar realmente pela construção de ‘outro mundo possível’, como na luta contra as guerras imperiais... É o momento da construção de alternativas concretas ao neoliberalismo a nível mundial, regional e local. É a oportunidade do fórum se reciclar e se colocar à altura do maior desafio colocado à esquerda neste novo século”.
Desde a sua primeira edição, em 2001, o mundo passou por intensas mudanças. O capitalismo, vendido como “fim da história”, afunda numa grave crise. O socialismo, que os apologistas do capital consideravam “morto”, ressurge como perspectiva. O imperialismo estadunidense, que se considerava imbatível, entrou em forte declínio. A resistência dos povos ganhou força, seja na insurgência no Iraque ou nas vitórias progressistas na América Latina. O mundo hoje, com seus ziguezagues e armadilhas, não vive mais a “paz de cemitério” do pensamento único neoliberal.
Contribuições e avanços sensíveis
Com suas limitações e dilemas, o Fórum Social Mundial deu sua contribuição nesta alteração da correlação de forças. Ele ajudou a amplificar as críticas ao neoliberalismo, a denunciar a política imperialista dos EUA, com suas guerras e seus tratados neocoloniais, a desmascarar a ditadura midiática. Além de reforçar a resistência dos povos, ele contribuiu na busca de alternativas. A cada edição, o Fórum Social Mundial também enfrentou seus próprios equívocos, como o que tentava separar a luta social da luta política, excluindo partidos e governantes progressistas.
Como observa Ricardo Abreu, o Alemão, dirigente nacional do PCdoB, ocorreram importantes avanços desde a nascimento do fórum. “O evento está mais aberto à participação das fundações vinculadas aos partidos políticos. Diminuiu o preconceito que havia em relação às organizações partidárias e aos movimentos sociais ‘tradicionais’. Além disso, nas primeiras edições era vetada a presença de chefes de Estado, numa negação à luta pelo poder político. Isto agora não acontece mais”. Ele lembra que Lula, Chávez, Morales e Lugo serão destaques nesta nona edição.
Os novos desafios do fórum
Na sua nona edição, novos desafios se impõem ao FSM. Além de abordar as várias iniciativas atomizadas, todas com sua importância, ele necessita concentrar as energias nos temas centrais, totalizantes, que ajudem na unificação da resistência mundial e na busca de alternativa à barbárie capitalista. O enfrentamento à grave crise do capitalismo, evitando que seu ônus seja jogado nas costas dos trabalhadores; a luta contra a guerra imperialista, seja a patrocinada pelos sionistas em Gaza ou pelos ianques no Iraque e Afeganistão; a jornada contra a devastação e pela soberania da Amazônia, entre outros temas, poderão alavancar e dar novo realce ao Fórum Social Mundial.
Para o sociólogo Emir Sader, a nona edição do fórum, “significativamente realizada na América Latina, elo mais fraco da cadeia neoliberal, tem a possibilidade de superar os descompassos e de redefinir sua esfera de atuação – tanto em relação a restabelecer as relações entre a esfera social e a política, única forma de disputar uma nova hegemonia e de lutar realmente pela construção de ‘outro mundo possível’, como na luta contra as guerras imperiais... É o momento da construção de alternativas concretas ao neoliberalismo a nível mundial, regional e local. É a oportunidade do fórum se reciclar e se colocar à altura do maior desafio colocado à esquerda neste novo século”.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Operação-Serra e a demissão de Nassif
É bom ficar esperto. Está em curso uma ardilosa orquestração na mídia de blindagem do tucano José Serra, governador de São Paulo e candidato do bloco neoliberal-conservador à sucessão do presidente Lula em 2010. A mais nova vítima da “operação-Serra” é o jornalista Luis Nassif, que teve seu contrato de trabalho suspenso na semana passada pela TV Cultura, emissora controlada pelo governo de São Paulo. Numa entrevista exclusiva à jornalista Priscila Lobregatte, do Portal Vermelho, Nassif não vacilou em fazer o alerta: “2010 já começou, este é o ponto”.
O abrupto rompimento do seu contrato não teve qualquer explicação. E nem podia. Afinal, por suas posições críticas e independentes, ele é um dos mais respeitados colunista da mídia, já tendo recebido vários prêmios. No último prêmio Comunique-se, ele foi um dos três jornalistas da TV Cultura indicados para a categoria televisão. O motivo, então, não foi profissional. Nassif insinua que sua demissão se deve à proximidade da sucessão presidencial. “A maluquice das eleições de 2006 voltou antecipadamente”, afirma, referindo-se à brutal manipulação no pleito passado.
Silenciando as opiniões críticas
Ele lembra que recentemente criticou a publicidade da Sabesp, empresa paulista de água. “Como pode uma empresa com atuação estadual patrocinar eventos de televisão no Brasil inteiro?”. Este e outros comentários críticos, atestando que a campanha presidencial de Serra é ostensiva e usa recursos públicos, devem ter irritado o truculento governador. Para Nassif, há indícios de que a ordem para sua demissão veio de cima. “O Paulo Markun [presidente da Fundação Anchieta, a mantenedora da TV Cultura] não tomaria sozinho essa decisão... Se em dezembro ele acertava ampliar minha participação, é evidente que a mudança de orientação se deve a outros fatos”.
A suspensão do contrato de Nassif é um fato grave. Mostra a total falta de independência de uma emissora que deveria ser pública e que hoje serve abertamente ao projeto presidencial de Serra. Mas não é um fato isolado. Além de manietar a TV Cultura, o governador tucano conta hoje com o apoio ostensivo da maioria das emissoras privadas e dos jornalões e revistas do país, fechando o cerco midiático para sua campanha. Está em curso uma operação de limpeza nas redações para aplainar a sua decolagem eleitoral, evitando críticas a sua administração e bajulando o tucano.
Demissão na CBN e clima de medo
Em outubro passado, a Rede Globo demitiu o jornalista Sidney Rezende da rádio CBN. Segundo Rodrigo Viana, que deixou a emissora por discordar das suas manipulações na sucessão de 2006, “Sidney era tido por colegas e ouvintes como jornalista que exercia a sua independência... Na sua demissão se percebem os preparativos para a cobertura das eleições de 2010. O ‘moto-serra’ dos tucanos vai passar sobre várias cabeças do jornalismo global. Na CBN, conheço um outro âncora (não darei nome porque ele me pediu sigilo) que teve a sua cabeça pedida pelo governador”.
Após estranhar outro facão recente, de Luiz Carlos Braga da sucursal de Brasília, Rodrigo afirma que o clima na Rede Globo “lembra muito a operação-2006. Há dois anos, às vésperas da eleição presidencial, ela se livrou do comentarista Franklin Martins porque este não fechava com a linha oficial de ‘sentar a pancada’ em Lula e dar uma ‘mãozinha’ aos tucanos. Depois, foram limados outros jornalistas que se indispuseram com a emissora na cobertura das eleições (entre eles, eu, Luiz Carlos Azenha, Carlos Dornelles e o editor de política Marco Aurélio Mello)”.
A generosidade da mídia privada
Rodrigo Viana, que há muito tempo trabalha em veículos privados, garante que presidenciável tucano conta com o total apoio dos barões da mídia. Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo – também apelidado por quem o conhece bem de Ratzinger ou “senhor das trevas” –, não permite que saia uma linha sobre o atual governador paulista sem o seu aval prévio. A mesma rigorosa orientação é imposta pela famíglia Frias, que mantém sólidas e sinistras relações com o tucano-mor desde os tempos em que este foi editorialista da Folha de S.Paulo.
Este conluio explica a generosidade da mídia hegemônica até nos casos mais chocantes – como na “guerra das polícias” no ano passado, quando ela simplesmente isentou o governador paulista de qualquer culpa, ou na desastrosa operação policial do seqüestro e morte de Eloá Pimentel, em Santo André. Ainda segundo Rodrigo Viana, que conhece os bastidores da mídia, “a ordem era proteger o governador. Conversei com três colegas que trabalham na TV Globo de São Paulo e que pedem anonimato. A orientação aos editores era botar no ar trechos imensos da entrevista chapa-branca com o Serra”, na qual ele culpou as centrais sindicais pela greve na Polícia Civil.
Coberturas parciais e manipuladas
A “operação-Serra” também fica patente na forma como a mídia trata as obras do governo Lula, sempre tão vigilante, e na total omissão diante dos descalabros da administração paulista. Na semana passada, Folha e Estadão fizeram rasgados elogios às obras do Rodoanel, sem publicar uma crítica ao seu monumental atraso e altos custos. Já as TVs nada falaram sobre a interrupção da concessão das rodovias Ayrton Senna e Marechal Rondon devido às falcatruas nas licitações, ou da suspensão, pelo TCE, das obras na Marginal do Tietê porque o edital estava irregular.
Também é impressionante a bondade da mídia venal diante das graves denúncias do Ministério Público, que investiga quatro contratos no valor de R$ 1 bilhão da Siemens com o governo paulista para construção de três linhas do Metrô. Há suspeitas de superfaturamento e de que a multinacional alemã teria subornado políticos do PSDB. As apurações começaram no rastro de outro inquérito, o que investiga a multinacional francesa Alstom, que teria dado propina para obter contratos com estatais paulistas nos últimos 14 anos de reinado tucano em São Paulo.
Censura chega ao ciberespaço
Sem trabalho na TV Cultura, Luiz Nassif afirma que agora se dedicará ao seu blog, apostando na internet como arma de democratização da informação. Mas também neste campo a fúria de Serra já se faz sentir. Recentemente, a Justiça mandou tirar do ar o blog “Flit paralisante”, postado pelo delegado da polícia civil Roberto Conde Guerra. O delegado é famoso por suas críticas à política de segurança do tucanato, sendo fonte alternativa de jornalistas. Durante a greve da categoria, ele usou seu blog para convocar protestos e teve 130 mil acessos. Agora, foi censurado pelo “moto-serra”. A mídia, que sempre ataca o “autoritarismo” do governo Lula, não alardeou esta censura.
A demissão de Nassif até agora não indignou os jornalistas – alguns que tiveram papel de relevo na luta contra a ditadura e que hoje parecem dóceis serviçais das empresas, preocupados apenas com suas carreiras. Também não houve reação das entidades da categoria – o que é lamentável. Paulo Henrique Amorin, outra vítima de perseguição dos “amigos de Serra” quando foi retirado do ar, sem aviso prévio, do Portal IG, protestou solitariamente. “A TV Cultura de Serrágio (vem do pedágio mais alto do Brasil) não agüentava a independência de Nassif”, escreveu no seu blog.
O abrupto rompimento do seu contrato não teve qualquer explicação. E nem podia. Afinal, por suas posições críticas e independentes, ele é um dos mais respeitados colunista da mídia, já tendo recebido vários prêmios. No último prêmio Comunique-se, ele foi um dos três jornalistas da TV Cultura indicados para a categoria televisão. O motivo, então, não foi profissional. Nassif insinua que sua demissão se deve à proximidade da sucessão presidencial. “A maluquice das eleições de 2006 voltou antecipadamente”, afirma, referindo-se à brutal manipulação no pleito passado.
Silenciando as opiniões críticas
Ele lembra que recentemente criticou a publicidade da Sabesp, empresa paulista de água. “Como pode uma empresa com atuação estadual patrocinar eventos de televisão no Brasil inteiro?”. Este e outros comentários críticos, atestando que a campanha presidencial de Serra é ostensiva e usa recursos públicos, devem ter irritado o truculento governador. Para Nassif, há indícios de que a ordem para sua demissão veio de cima. “O Paulo Markun [presidente da Fundação Anchieta, a mantenedora da TV Cultura] não tomaria sozinho essa decisão... Se em dezembro ele acertava ampliar minha participação, é evidente que a mudança de orientação se deve a outros fatos”.
A suspensão do contrato de Nassif é um fato grave. Mostra a total falta de independência de uma emissora que deveria ser pública e que hoje serve abertamente ao projeto presidencial de Serra. Mas não é um fato isolado. Além de manietar a TV Cultura, o governador tucano conta hoje com o apoio ostensivo da maioria das emissoras privadas e dos jornalões e revistas do país, fechando o cerco midiático para sua campanha. Está em curso uma operação de limpeza nas redações para aplainar a sua decolagem eleitoral, evitando críticas a sua administração e bajulando o tucano.
Demissão na CBN e clima de medo
Em outubro passado, a Rede Globo demitiu o jornalista Sidney Rezende da rádio CBN. Segundo Rodrigo Viana, que deixou a emissora por discordar das suas manipulações na sucessão de 2006, “Sidney era tido por colegas e ouvintes como jornalista que exercia a sua independência... Na sua demissão se percebem os preparativos para a cobertura das eleições de 2010. O ‘moto-serra’ dos tucanos vai passar sobre várias cabeças do jornalismo global. Na CBN, conheço um outro âncora (não darei nome porque ele me pediu sigilo) que teve a sua cabeça pedida pelo governador”.
Após estranhar outro facão recente, de Luiz Carlos Braga da sucursal de Brasília, Rodrigo afirma que o clima na Rede Globo “lembra muito a operação-2006. Há dois anos, às vésperas da eleição presidencial, ela se livrou do comentarista Franklin Martins porque este não fechava com a linha oficial de ‘sentar a pancada’ em Lula e dar uma ‘mãozinha’ aos tucanos. Depois, foram limados outros jornalistas que se indispuseram com a emissora na cobertura das eleições (entre eles, eu, Luiz Carlos Azenha, Carlos Dornelles e o editor de política Marco Aurélio Mello)”.
A generosidade da mídia privada
Rodrigo Viana, que há muito tempo trabalha em veículos privados, garante que presidenciável tucano conta com o total apoio dos barões da mídia. Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo – também apelidado por quem o conhece bem de Ratzinger ou “senhor das trevas” –, não permite que saia uma linha sobre o atual governador paulista sem o seu aval prévio. A mesma rigorosa orientação é imposta pela famíglia Frias, que mantém sólidas e sinistras relações com o tucano-mor desde os tempos em que este foi editorialista da Folha de S.Paulo.
Este conluio explica a generosidade da mídia hegemônica até nos casos mais chocantes – como na “guerra das polícias” no ano passado, quando ela simplesmente isentou o governador paulista de qualquer culpa, ou na desastrosa operação policial do seqüestro e morte de Eloá Pimentel, em Santo André. Ainda segundo Rodrigo Viana, que conhece os bastidores da mídia, “a ordem era proteger o governador. Conversei com três colegas que trabalham na TV Globo de São Paulo e que pedem anonimato. A orientação aos editores era botar no ar trechos imensos da entrevista chapa-branca com o Serra”, na qual ele culpou as centrais sindicais pela greve na Polícia Civil.
Coberturas parciais e manipuladas
A “operação-Serra” também fica patente na forma como a mídia trata as obras do governo Lula, sempre tão vigilante, e na total omissão diante dos descalabros da administração paulista. Na semana passada, Folha e Estadão fizeram rasgados elogios às obras do Rodoanel, sem publicar uma crítica ao seu monumental atraso e altos custos. Já as TVs nada falaram sobre a interrupção da concessão das rodovias Ayrton Senna e Marechal Rondon devido às falcatruas nas licitações, ou da suspensão, pelo TCE, das obras na Marginal do Tietê porque o edital estava irregular.
Também é impressionante a bondade da mídia venal diante das graves denúncias do Ministério Público, que investiga quatro contratos no valor de R$ 1 bilhão da Siemens com o governo paulista para construção de três linhas do Metrô. Há suspeitas de superfaturamento e de que a multinacional alemã teria subornado políticos do PSDB. As apurações começaram no rastro de outro inquérito, o que investiga a multinacional francesa Alstom, que teria dado propina para obter contratos com estatais paulistas nos últimos 14 anos de reinado tucano em São Paulo.
Censura chega ao ciberespaço
Sem trabalho na TV Cultura, Luiz Nassif afirma que agora se dedicará ao seu blog, apostando na internet como arma de democratização da informação. Mas também neste campo a fúria de Serra já se faz sentir. Recentemente, a Justiça mandou tirar do ar o blog “Flit paralisante”, postado pelo delegado da polícia civil Roberto Conde Guerra. O delegado é famoso por suas críticas à política de segurança do tucanato, sendo fonte alternativa de jornalistas. Durante a greve da categoria, ele usou seu blog para convocar protestos e teve 130 mil acessos. Agora, foi censurado pelo “moto-serra”. A mídia, que sempre ataca o “autoritarismo” do governo Lula, não alardeou esta censura.
A demissão de Nassif até agora não indignou os jornalistas – alguns que tiveram papel de relevo na luta contra a ditadura e que hoje parecem dóceis serviçais das empresas, preocupados apenas com suas carreiras. Também não houve reação das entidades da categoria – o que é lamentável. Paulo Henrique Amorin, outra vítima de perseguição dos “amigos de Serra” quando foi retirado do ar, sem aviso prévio, do Portal IG, protestou solitariamente. “A TV Cultura de Serrágio (vem do pedágio mais alto do Brasil) não agüentava a independência de Nassif”, escreveu no seu blog.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Demissões na GM e subsídios estatais
Na semana passada, a General Motors comunicou à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) a demissão de 744 operários contratados por tempo determinado. Poucos dias antes, ela já havia dispensado 58 temporários. O facão na GM criou forte temor nas bases sindicais e no governo Lula. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acusou a multinacional estadunidense de se aproveitar da crise mundial para demitir brasileiros e anunciou que qualquer novo subsídio à empresa será condicionado a cláusulas rigorosas de manutenção dos empregos.
A bronca do ministro é plenamente justificada – por isso gerou raivosa gritaria dos empresários e de sua mídia. Afinal, as montadoras de automóveis auferiram lucros recordes nos últimos anos e ainda mamaram nas tetas do governo, com empréstimos e redução de tributos. Agora, diante da grave crise capitalista mundial, elas jogam o seu ônus nas costas do trabalhador e chantageiam o governo para obter mais vantagens. Apesar do discurso falacioso da “responsabilidade social”, as multinacionais não têm qualquer compromisso com a sociedade nem com o Brasil.
Lucro recorde e socorro à matriz
Em novembro último, o jornal empresarial DCI publicou uma nota que revela toda a ganância e a desfaçatez desta multinacional. “O alto desempenho do setor automobilístico até setembro deve garantir a General Motors do Brasil o melhor ano de sua história, mesmo com a revisão negativa do faturamento, que deve ficar em US$ 9,5 bilhões ante a previsão de US$ 11 bilhões, com 575 mil unidades vendidas, um crescimento de 15% sobre 2007. Com isso, ela aumentará seus lucros e, conseqüentemente, o socorro à matriz que passa por dificuldades nos EUA”, relatou o artigo, que já dava uma pista sobre a atual sacanagem da empresa estadunidense – a remessa de lucros.
“Se o nosso lucro aumenta, o valor repassado à matriz naturalmente aumenta”, justificou Jaime Ardilla, presidente da GM brasileira. Animado, ele ainda se jactou dos novos investimentos da empresa no país, apesar da crise já ter estourado nos EUA. Seria mantida “a construção de uma nova fábrica de motores em Joinville (SC), a ampliação da capacidade de produção [maior intensidade do trabalho] nas unidades de São Caetano e São José dos Campos e a conclusão de um centro de engenharia e design, que juntos somam US$ 1,5 bilhão de investimentos”. Ardilla também elogiou os governos federal e paulista, que liberaram R$ 8 bilhões em linhas de crédito.
A estratégia perversa das montadoras
A notinha do DCI ajuda a desmascarar a estratégia da poderosa multinacional: elevar a remessa de lucros para matriz falida nos EUA, transferir parte da produção para regiões onde o valor da força de trabalho é menor, intensificar a produção nas unidades já existentes e, ainda, chantagear governos para assaltar os cofres públicos. Na fase da bonança, as multinacionais pressionam pela desregulamentação, numa orgia de lucros e transferência de riquezas. Na fase da crise, elas usam a ameaça de falências e demissões para exigir mais subsídios e isenções. Elas nunca perdem.
Após transferir os lucros obtidos na produção para a especulação financeira, atolando-se na crise, as dez maiores montadoras de automóveis do mundo já demitiram 35 mil operários. Para se safar do colapso, elas agora chantageiam os governos. Nos EUA, o governo já desembolsou US$ 17,4 bilhões para salvar a GM e a Chrysler. O Canadá seguiu o exemplo e doou mais US$ 3,3 bilhões. Já na Europa, a alemã Opel, braço da GM, foi a primeira montadora a pedir socorro, seguida pela Volkswagen. O “estado mínimo”, tão decantado pelos neoliberais, agora é a salvação do capital.
Redução de impostos e créditos
No caso brasileiro, a mamata se repete. Após superarem todas as estimativas de lucro até outubro passado, as montadoras começaram a dar sinais de retração nas vendas. De imediato, avançaram sobre as tetas do Estado. Como chantagem, elas anunciaram férias coletivas e programas de demissões voluntárias. Depois, começaram a aplicar o facão, sem dó nem piedade. O terrorismo, como sempre, teve sucesso. Além de liberarem R$ 8 bilhões ao setor, os governos Lula e Serra estudam ampliar os incentivos fiscais já existentes, reduzindo o ICMS estadual e o IPI federal.
Já em agosto passado, temendo os efeitos da crise mundial, o presidente Lula baixou o decreto nº 6.556 ampliando o uso do crédito do Imposto sobre a Produção Industrial (IPI) para compensar outros tributos num período posterior. Por sua vez, o governador José Serra elevou os benefícios fiscais às montadoras, concedendo R$ 6,8 bilhões em subsídios – mais da metade dos R$ 11,8 bilhões de investimentos programados pelas multinacionais no Estado. Através do chamado Pró-Veículo, elas poderão usar os créditos fiscais para pagar fornecedoras e reduzir impostos.
Unidade e luta contra as demissões
Está certo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao afirmar que porá fim a esta mamata e exigirá compensação das montadoras para qualquer outro tipo de socorro. Estão certos os metalúrgicos de São José dos Campos, que realizaram uma paralisação de protesto na GM, exigem a redução da jornada de trabalho sem perda salarial e pressionam o governo por medidas mais duras contra as multinacionais. “Não dá para aceitar que o governo Lula dê bilhões de reais às montadoras e deixe os trabalhadores pagarem pela crise com demissões. Mais do que palavras, precisamos de ações do governo federal”, explicou Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral do sindicato.
Na luta contra as demissões, será necessária muita unidade e luta. Qualquer sectarismo cobrará o preço do isolamento; qualquer omissão terá efeito reverso – hoje a GM de São José dos Campos, amanhã a Volkswagen de São Bernardo do Campo ou a GM de São Caetano do Sul. No combate à ganância e à chantagem das multinacionais, a disputa entre as centrais deve ficar à margem. Respeitando as leituras distintas sobre o caráter do atual governo, é preciso pressioná-lo para que ele endureça com as montadoras, no rumo proposto pelo ministro Lupi – não por acaso alvo de raivosa campanha do capital e da mídia para derrubá-lo. Nada de socorro aos abutres capitalistas.
A bronca do ministro é plenamente justificada – por isso gerou raivosa gritaria dos empresários e de sua mídia. Afinal, as montadoras de automóveis auferiram lucros recordes nos últimos anos e ainda mamaram nas tetas do governo, com empréstimos e redução de tributos. Agora, diante da grave crise capitalista mundial, elas jogam o seu ônus nas costas do trabalhador e chantageiam o governo para obter mais vantagens. Apesar do discurso falacioso da “responsabilidade social”, as multinacionais não têm qualquer compromisso com a sociedade nem com o Brasil.
Lucro recorde e socorro à matriz
Em novembro último, o jornal empresarial DCI publicou uma nota que revela toda a ganância e a desfaçatez desta multinacional. “O alto desempenho do setor automobilístico até setembro deve garantir a General Motors do Brasil o melhor ano de sua história, mesmo com a revisão negativa do faturamento, que deve ficar em US$ 9,5 bilhões ante a previsão de US$ 11 bilhões, com 575 mil unidades vendidas, um crescimento de 15% sobre 2007. Com isso, ela aumentará seus lucros e, conseqüentemente, o socorro à matriz que passa por dificuldades nos EUA”, relatou o artigo, que já dava uma pista sobre a atual sacanagem da empresa estadunidense – a remessa de lucros.
“Se o nosso lucro aumenta, o valor repassado à matriz naturalmente aumenta”, justificou Jaime Ardilla, presidente da GM brasileira. Animado, ele ainda se jactou dos novos investimentos da empresa no país, apesar da crise já ter estourado nos EUA. Seria mantida “a construção de uma nova fábrica de motores em Joinville (SC), a ampliação da capacidade de produção [maior intensidade do trabalho] nas unidades de São Caetano e São José dos Campos e a conclusão de um centro de engenharia e design, que juntos somam US$ 1,5 bilhão de investimentos”. Ardilla também elogiou os governos federal e paulista, que liberaram R$ 8 bilhões em linhas de crédito.
A estratégia perversa das montadoras
A notinha do DCI ajuda a desmascarar a estratégia da poderosa multinacional: elevar a remessa de lucros para matriz falida nos EUA, transferir parte da produção para regiões onde o valor da força de trabalho é menor, intensificar a produção nas unidades já existentes e, ainda, chantagear governos para assaltar os cofres públicos. Na fase da bonança, as multinacionais pressionam pela desregulamentação, numa orgia de lucros e transferência de riquezas. Na fase da crise, elas usam a ameaça de falências e demissões para exigir mais subsídios e isenções. Elas nunca perdem.
Após transferir os lucros obtidos na produção para a especulação financeira, atolando-se na crise, as dez maiores montadoras de automóveis do mundo já demitiram 35 mil operários. Para se safar do colapso, elas agora chantageiam os governos. Nos EUA, o governo já desembolsou US$ 17,4 bilhões para salvar a GM e a Chrysler. O Canadá seguiu o exemplo e doou mais US$ 3,3 bilhões. Já na Europa, a alemã Opel, braço da GM, foi a primeira montadora a pedir socorro, seguida pela Volkswagen. O “estado mínimo”, tão decantado pelos neoliberais, agora é a salvação do capital.
Redução de impostos e créditos
No caso brasileiro, a mamata se repete. Após superarem todas as estimativas de lucro até outubro passado, as montadoras começaram a dar sinais de retração nas vendas. De imediato, avançaram sobre as tetas do Estado. Como chantagem, elas anunciaram férias coletivas e programas de demissões voluntárias. Depois, começaram a aplicar o facão, sem dó nem piedade. O terrorismo, como sempre, teve sucesso. Além de liberarem R$ 8 bilhões ao setor, os governos Lula e Serra estudam ampliar os incentivos fiscais já existentes, reduzindo o ICMS estadual e o IPI federal.
Já em agosto passado, temendo os efeitos da crise mundial, o presidente Lula baixou o decreto nº 6.556 ampliando o uso do crédito do Imposto sobre a Produção Industrial (IPI) para compensar outros tributos num período posterior. Por sua vez, o governador José Serra elevou os benefícios fiscais às montadoras, concedendo R$ 6,8 bilhões em subsídios – mais da metade dos R$ 11,8 bilhões de investimentos programados pelas multinacionais no Estado. Através do chamado Pró-Veículo, elas poderão usar os créditos fiscais para pagar fornecedoras e reduzir impostos.
Unidade e luta contra as demissões
Está certo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ao afirmar que porá fim a esta mamata e exigirá compensação das montadoras para qualquer outro tipo de socorro. Estão certos os metalúrgicos de São José dos Campos, que realizaram uma paralisação de protesto na GM, exigem a redução da jornada de trabalho sem perda salarial e pressionam o governo por medidas mais duras contra as multinacionais. “Não dá para aceitar que o governo Lula dê bilhões de reais às montadoras e deixe os trabalhadores pagarem pela crise com demissões. Mais do que palavras, precisamos de ações do governo federal”, explicou Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral do sindicato.
Na luta contra as demissões, será necessária muita unidade e luta. Qualquer sectarismo cobrará o preço do isolamento; qualquer omissão terá efeito reverso – hoje a GM de São José dos Campos, amanhã a Volkswagen de São Bernardo do Campo ou a GM de São Caetano do Sul. No combate à ganância e à chantagem das multinacionais, a disputa entre as centrais deve ficar à margem. Respeitando as leituras distintas sobre o caráter do atual governo, é preciso pressioná-lo para que ele endureça com as montadoras, no rumo proposto pelo ministro Lupi – não por acaso alvo de raivosa campanha do capital e da mídia para derrubá-lo. Nada de socorro aos abutres capitalistas.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Empresários e mídia detonam Lupi
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, é o novo alvo dos poderosos empresários e de sua mídia. Quase todo dia, âncoras da televisão, como Carlos Nascimento, o tucano enrustido da SBT, Boris Casoy, o ex-militante do Comando de Caça aos Comunistas hoje hospedado na TV Bandeirantes, para não falar do casal global do Jornal Nacional, procuram desqualificá-lo. Diante de suas justas críticas às empresas, que se aproveitam da crise mundial para demitir trabalhadores, a campanha contra o ministro se intensificou. A intenção evidente é derrubá-lo ou, no mínimo, domesticá-lo.
Segundo fontes seguras, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), liderada por Paulo Skaf – bastante ativo no uso dos recursos do Sesi/Senai para a sua futura campanha eleitoral – já teria pedido a cabeça do trabalhista ao presidente Lula. A campanha de desgaste parece orquestrada. Nesta semana, Luis Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos e ex-ministro de FHC, escreveu artigo na Folha de S.Paulo, intitulado “O governo precisa ter juízo”, acusando Lupi de atiçar “o confronto com empresas”, o que pode causar “resultados desastrosos” na economia. Na sua lógica, o capital seria racional e bonzinho; já o ministro seria um tresloucado.
Tucano se diverte com a crise
Numa linguagem rancorosa, típica dos tucanos enxotados do poder, o atual rentista disse que foi “muito divertido” ver os ministros do governo Lula anunciando o corte de 600 mil empregos no ano passado. “Gaguejando, [Lupi] disse que os empresários são os verdadeiros responsáveis pelas demissões e reviveu a marolinha de Lula na imagem da ‘espuma’. Seguia o padrão petista de sempre arranjar, fora do governo, um responsável pelos problemas”, atacou o tucano.
Mendonção, como era chamado no reinado de FHC, até se soma aos que lutam pela redução da taxa de juros, mas acha que o governo Lula deve promover outros ajustes na economia. Adepto do neoliberalismo, o ex-ministro talvez pretenda jogar o ônus da crise do capitalismo nas costas dos trabalhadores, com novas ondas de demissões e novas medidas de precarizaçao do trabalho. Como cupincha de FHC, ainda carrega a culpa pelo desmonte e privatização do Estado brasileiro e pelos recordes seguidos de desemprego no país. Ele deveria ser mais comedido em sua língua.
Noblat, adorador do deus-mercado
No mesmo diapasão, o jornalista Ricardo Noblat, no seu blog no site da Globo, também atacou o ministro, esquecendo-se de sua condição de classe, de instável empregado da famíglia Marinho. Adorador do deus-mercado, afirmou que “o ministro Lupi quer acabar com o capitalismo... No capitalismo, as empresas demitem e contratam a seu gosto. Não devem satisfação aos governos... Lupi está empenhado numa guerrilha verbal contra as empresas atingidas pela ‘marolinha’ que começaram a demitir. Defende que o governo puna de alguma forma... Lupi é um dos políticos mais deslumbrados com o fato de ser ministro. Imagina que é levado a sério”.
Bem que o veterano jornalista Argemiro Ferreira já havia alertado para as mudanças de posições do badalado colunista global. Ele lembra que “o blog de Ricardo Noblat teve sucesso ao nascer independente, depois dele deixar o Correio Braziliense e ser cooptado pelo portal do Estadão e, depois, por O Globo. Hoje o vínculo explícito (coluna no jornal e tudo) nega a independência, como escancararam sua adesão à campanha anti-Lula em 2006 e no caso Gilmar Mendes/Daniel Dantas”. Ao atacar com tanta veemência o ministro Carlos Lupi, Noblat dá inestimável ajuda à ofensiva do capital para lançar nas costas dos trabalhadores todo o ônus da atual crise capitalista.
Segundo fontes seguras, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), liderada por Paulo Skaf – bastante ativo no uso dos recursos do Sesi/Senai para a sua futura campanha eleitoral – já teria pedido a cabeça do trabalhista ao presidente Lula. A campanha de desgaste parece orquestrada. Nesta semana, Luis Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos e ex-ministro de FHC, escreveu artigo na Folha de S.Paulo, intitulado “O governo precisa ter juízo”, acusando Lupi de atiçar “o confronto com empresas”, o que pode causar “resultados desastrosos” na economia. Na sua lógica, o capital seria racional e bonzinho; já o ministro seria um tresloucado.
Tucano se diverte com a crise
Numa linguagem rancorosa, típica dos tucanos enxotados do poder, o atual rentista disse que foi “muito divertido” ver os ministros do governo Lula anunciando o corte de 600 mil empregos no ano passado. “Gaguejando, [Lupi] disse que os empresários são os verdadeiros responsáveis pelas demissões e reviveu a marolinha de Lula na imagem da ‘espuma’. Seguia o padrão petista de sempre arranjar, fora do governo, um responsável pelos problemas”, atacou o tucano.
Mendonção, como era chamado no reinado de FHC, até se soma aos que lutam pela redução da taxa de juros, mas acha que o governo Lula deve promover outros ajustes na economia. Adepto do neoliberalismo, o ex-ministro talvez pretenda jogar o ônus da crise do capitalismo nas costas dos trabalhadores, com novas ondas de demissões e novas medidas de precarizaçao do trabalho. Como cupincha de FHC, ainda carrega a culpa pelo desmonte e privatização do Estado brasileiro e pelos recordes seguidos de desemprego no país. Ele deveria ser mais comedido em sua língua.
Noblat, adorador do deus-mercado
No mesmo diapasão, o jornalista Ricardo Noblat, no seu blog no site da Globo, também atacou o ministro, esquecendo-se de sua condição de classe, de instável empregado da famíglia Marinho. Adorador do deus-mercado, afirmou que “o ministro Lupi quer acabar com o capitalismo... No capitalismo, as empresas demitem e contratam a seu gosto. Não devem satisfação aos governos... Lupi está empenhado numa guerrilha verbal contra as empresas atingidas pela ‘marolinha’ que começaram a demitir. Defende que o governo puna de alguma forma... Lupi é um dos políticos mais deslumbrados com o fato de ser ministro. Imagina que é levado a sério”.
Bem que o veterano jornalista Argemiro Ferreira já havia alertado para as mudanças de posições do badalado colunista global. Ele lembra que “o blog de Ricardo Noblat teve sucesso ao nascer independente, depois dele deixar o Correio Braziliense e ser cooptado pelo portal do Estadão e, depois, por O Globo. Hoje o vínculo explícito (coluna no jornal e tudo) nega a independência, como escancararam sua adesão à campanha anti-Lula em 2006 e no caso Gilmar Mendes/Daniel Dantas”. Ao atacar com tanta veemência o ministro Carlos Lupi, Noblat dá inestimável ajuda à ofensiva do capital para lançar nas costas dos trabalhadores todo o ônus da atual crise capitalista.
sábado, 17 de janeiro de 2009
Dedicado a Robert Kurz
Disidentes
Los abruptos
pueden ser violentos
tozudos
y hasta sectarios
pero los
exabruptos
son siempre
resentidos.
Mario Benedetti
Los abruptos
pueden ser violentos
tozudos
y hasta sectarios
pero los
exabruptos
son siempre
resentidos.
Mario Benedetti
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
EUA bancam o terrorismo de Israel
O jornal Folha de S.Paulo reproduziu nesta semana, sem chamada de capa ou qualquer destaque, um elucidativo artigo da agência Reuters. Ele informava que “os EUA estão contratando um navio mercantil para levar centenas de toneladas de armas da Grécia a Israel ainda neste mês” de janeiro. Entre outros “materiais perigosos”, estariam novos tipos de explosivos e detonadores. Ainda segundo a agência de notícias, “o pedido de envio foi feito em 31 de dezembro” (o genocídio na Faixa de Gaza começou no dia 27), e o serviço sujo, quase clandestino, seria feito por uma transportadora privada alemã.
O Pentágono negou o envio, mas “um comando da Marinha americana confirmou que o carregamento de 325 contêineres de seis metros cada deve ser levado em duas viagens do porto grego de Ashdod, que fica a 38 quilômetros da Faixa de Gaza”. O armamento saiu do porto de Sunny Point, na Carolina do Norte e “os documentos estipulam que a embarcação deve ser capaz de ‘carregar 5,8 milhões de libras (2,6 milhões de quilos) de peso de explosivo líquido’”. A notícia, sem alarde na mídia, veio à tona no mesmo dia em que a inoperante ONU criticou Israel por “crimes de guerra” na agressão em Gaza.
US$ 84,9 bilhões em financiamento
Além de vetar qualquer resolução da ONU contrária ao terrorismo de Estado de Israel, os EUA ainda bancam seu belicismo genocida. Isto não é de hoje. Há décadas que Israel é a cabeça de ponte do imperialismo para suas ambições geopolíticas e econômicas no Oriente Médio – uma região rica em petróleo e nevrálgica na “contenção das potências rivais”, como a China e Rússia. No passado, quando alguns países da região tentaram romper a dependência colonial, os sionistas serviram de aríete aos EUA. Quem paga exige retorno. O imperialismo financia os sionistas e garante seus interesses na região.
O jornalista Argemiro Ferreira, autor do livro “O império contra-ataca”, prova em seu blog que os EUA financiam o terrorismo sionista. “Nos últimos 60 anos, transferiu-se à responsabilidade do contribuinte americano o ônus de sustentar o estado de Israel e sua devastadora máquina de guerra. Dados conservadores do Washington Report sobre o período de 1947-1997 são assustadores. Benefícios recebidos por Israel: em concessões e empréstimos, US$ 74,1 bilhões; outras, US$ 9,05 bilhões; juros de pagamentos adiantados, US$ 1,65 bilhão. Total: US$ 84,9 bilhões (14,6 mil dólares por israelense)”.
O poderoso lobby sionista
Para ele e outros jornalistas de renome, esta relação promíscua e assassina entre EUA e Israel também decorre da influência do lobby sionista nos bastidores da política ianque. “A opção do apoio a Israel, adotada pelos governantes dos EUA desde Harry Truman, resulta menos da tendência geral da população do que do trabalho liderado pelo milionário lobby israelense – o American Israel Public Affairs Commitee (Aipac) De quatro em quatro anos, todo candidato presidencial submete-se no Aipac ao ritual de purificação e declara seu apoio formal a Israel”, afirma Argemiro Ferreira, que posta em seu blog uma foto do presidente eleito Barack Obama em recente visita ao Aipac.
O renomado intelectual James Petras também compartilha desta visão. Ele lembra que a Aipac tem 100 mil filiados e 150 lobistas, que atuam em tempo integral nos corredores da Casa Branca e do Congresso. “Mais de 20 deputados e uma dúzia de senadores são sionistas, que apóiam automaticamente as políticas de Israel e pressionam por mais financiamento e armamento dos EUA para sua máquina militar... A Aipac tem pessoas em posições chaves no Tesouro, no Comércio e no Conselho de Segurança Nacional, funcionários no Pentágono e conselheiros no topo sobre assuntos do Oriente Médio”.
A “cobertura ideológica” da mídia
Petras observa, ainda, que a influência israelense se estende além dos poderes públicos. “A maioria da indústria do cinema, dos jornais e da mídia eletrônica é de propriedade ou é influenciada por magnatas judeu-sionistas”. Na fase que precedeu a invasão de Gaza, a mídia venal reforçou a campanha de que Israel é vítima e de que o Hamas é terrorista. Segundo Petras, o lobby sionista “criou a cobertura ideológica para a ‘guerra total’ de Israel” – curiosamente, esta foi a manchete da principal revista ianque no Brasil, a Veja.
Após afirmar que o New York Times e o Washington Post são controlados por notórios sionistas, Petras também revela um fato familiar aos brasileiros. Lembra que “escritores, jornalistas e editores estadunidenses louvam e defendem a ‘guerra total’ de Israel sem identificar sua antiga filiação e identificação com organizações sionistas”. Ali Kamel diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, deve ter copiado esta fórmula ao enviar como correspondente à Faixa de Gaza a jornalista Renata Malkes, uma antiga sionista.
O Pentágono negou o envio, mas “um comando da Marinha americana confirmou que o carregamento de 325 contêineres de seis metros cada deve ser levado em duas viagens do porto grego de Ashdod, que fica a 38 quilômetros da Faixa de Gaza”. O armamento saiu do porto de Sunny Point, na Carolina do Norte e “os documentos estipulam que a embarcação deve ser capaz de ‘carregar 5,8 milhões de libras (2,6 milhões de quilos) de peso de explosivo líquido’”. A notícia, sem alarde na mídia, veio à tona no mesmo dia em que a inoperante ONU criticou Israel por “crimes de guerra” na agressão em Gaza.
US$ 84,9 bilhões em financiamento
Além de vetar qualquer resolução da ONU contrária ao terrorismo de Estado de Israel, os EUA ainda bancam seu belicismo genocida. Isto não é de hoje. Há décadas que Israel é a cabeça de ponte do imperialismo para suas ambições geopolíticas e econômicas no Oriente Médio – uma região rica em petróleo e nevrálgica na “contenção das potências rivais”, como a China e Rússia. No passado, quando alguns países da região tentaram romper a dependência colonial, os sionistas serviram de aríete aos EUA. Quem paga exige retorno. O imperialismo financia os sionistas e garante seus interesses na região.
O jornalista Argemiro Ferreira, autor do livro “O império contra-ataca”, prova em seu blog que os EUA financiam o terrorismo sionista. “Nos últimos 60 anos, transferiu-se à responsabilidade do contribuinte americano o ônus de sustentar o estado de Israel e sua devastadora máquina de guerra. Dados conservadores do Washington Report sobre o período de 1947-1997 são assustadores. Benefícios recebidos por Israel: em concessões e empréstimos, US$ 74,1 bilhões; outras, US$ 9,05 bilhões; juros de pagamentos adiantados, US$ 1,65 bilhão. Total: US$ 84,9 bilhões (14,6 mil dólares por israelense)”.
O poderoso lobby sionista
Para ele e outros jornalistas de renome, esta relação promíscua e assassina entre EUA e Israel também decorre da influência do lobby sionista nos bastidores da política ianque. “A opção do apoio a Israel, adotada pelos governantes dos EUA desde Harry Truman, resulta menos da tendência geral da população do que do trabalho liderado pelo milionário lobby israelense – o American Israel Public Affairs Commitee (Aipac) De quatro em quatro anos, todo candidato presidencial submete-se no Aipac ao ritual de purificação e declara seu apoio formal a Israel”, afirma Argemiro Ferreira, que posta em seu blog uma foto do presidente eleito Barack Obama em recente visita ao Aipac.
O renomado intelectual James Petras também compartilha desta visão. Ele lembra que a Aipac tem 100 mil filiados e 150 lobistas, que atuam em tempo integral nos corredores da Casa Branca e do Congresso. “Mais de 20 deputados e uma dúzia de senadores são sionistas, que apóiam automaticamente as políticas de Israel e pressionam por mais financiamento e armamento dos EUA para sua máquina militar... A Aipac tem pessoas em posições chaves no Tesouro, no Comércio e no Conselho de Segurança Nacional, funcionários no Pentágono e conselheiros no topo sobre assuntos do Oriente Médio”.
A “cobertura ideológica” da mídia
Petras observa, ainda, que a influência israelense se estende além dos poderes públicos. “A maioria da indústria do cinema, dos jornais e da mídia eletrônica é de propriedade ou é influenciada por magnatas judeu-sionistas”. Na fase que precedeu a invasão de Gaza, a mídia venal reforçou a campanha de que Israel é vítima e de que o Hamas é terrorista. Segundo Petras, o lobby sionista “criou a cobertura ideológica para a ‘guerra total’ de Israel” – curiosamente, esta foi a manchete da principal revista ianque no Brasil, a Veja.
Após afirmar que o New York Times e o Washington Post são controlados por notórios sionistas, Petras também revela um fato familiar aos brasileiros. Lembra que “escritores, jornalistas e editores estadunidenses louvam e defendem a ‘guerra total’ de Israel sem identificar sua antiga filiação e identificação com organizações sionistas”. Ali Kamel diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, deve ter copiado esta fórmula ao enviar como correspondente à Faixa de Gaza a jornalista Renata Malkes, uma antiga sionista.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Repórter da Globo é do exército de Israel?
Uma informação bombástica circula na globosfera: a jornalista Renata Malkes, correspondente da Globo News e do jornal O Globo em Gaza, seria uma sionista militante. A denúncia foi feita pelo blog Cloaca, que monitora as práticas do “jornalismo esgoto”. Ele vasculhou e descobriu alguns textos da repórter da Globo, postados no seu blog pessoal Balagan – que, curiosamente, já foi deletado. No topo da página, a imagem de um palestino, associado à figura de um terrorista, e a chamada: “Não lhes dê um estado”. Os textos revelam o mais abjeto preconceito racista.
Entre outras sandices, Malkes escreveu: “Parece piada! Eles querem criar um Estado Palestino independente e ainda entupir Israel com seus milhares de refugiados mortos de fome. Faça-me o favor”. Noutra postagem, considera “patética” até uma declaração de FHC favorável à criação do Estado Palestino. “Tupiniquim tem mais é que cuidar de dengue”. Ele também ataca o MST, que enviara uma delegação de solidariedade à região, e ridiculariza a Venezuela por ser “amiga dos brimos”. Vários artigos tratam os árabes e os palestinos como “burros” e “mentirosos”.
O “sonho” de ingressar no exército
O Balagan cumpriu um papel tão pernicioso que recebeu do jornal israelense Yediot Aharonot o epíteto de “warblog” por sua “excelência na propaganda sionista”. Cloaca também traz a tona outras duas histórias sinistras da atual jornalista da TV Globo. Numa de suas postagens, ela se mostra exultante com a possibilidade de realizar o seu “sonho” de ingressar no Exército de Israel – mas não há registros oficiais sobre o seu recrutamento. Cloaca revela ainda que a repórter foi presa por autoridades libanesas, em julho de 2007, por “falsidade ideológica e espionagem”.
Com dupla cidadania, israelense e brasileira, ela teria ingressado no Líbano de maneira ilegal, sendo alvo de “perseguição” do Hezbollah. No seu próprio blog, ela se vangloria da peripécia e por ter sido citada em inúmeros veículos, como o jornal Daily Star, a TV Al Jazeera e em várias emissoras israelenses. “Foi uma jornada longa e posso dizer que a mais difícil dos meus nove anos como jornalista. Mentir sobre a origem, evitar detalhes de vida em conversas informais e enganar pessoas que me ajudaram tanto foram tarefas terríveis”, confessa a repórter.
“Vergonha de determinadas posições”
Alvejada em cheio pelas denúncias, a jornalista logo postou um esclarecimento público no seu blog, “O outro lado da Terra Santa”, também hospedado nas páginas da Rede Globo. Segundo garantiu, ela nunca pertenceu ao Exército de Israel. “Ao chegar a Israel, tive sim vontade de ingressar nas Forças Armadas para compreender melhor o funcionamento desta complexa máquina de guerra”, mas desistiu. Com relação ao Balagan, explicou que o deletou, em meados de 2007, “por motivos de segurança”. Quando ao seu conteúdo, afirma que eram “textos escritos num espaço pessoal, entre os anos 2001 e 2006... antes de atuar como repórter de O Globo”.
Ela deixa implícito que teria se arrependido das coisas que escreveu no seu antigo blog. “Quem pensa muda... Sempre admiti ter vergonha de determinadas posições que tive no passado. A vivência diária do conflito me fez abrir os olhos e ampliar minha percepção acerca dos fatos e do significado do sentimento de humanismo... Eu fazia parte desse mesmo grupo de pessoas que vêem a realidade com olhos maniqueístas e reagem com intensidade brutal... Por sorte, aprendi em seis anos de vivência aqui que a realidade do conflito israelo-palestino não é preta e branca”.
O maquiavélico Ali Kamel
Diante do exposto, a magoada Malkes diz que tem “sido vítima constante deste tipo de ataques. Quando trabalhei como produtora de uma tevê israelense, acusaram-se de ‘trabalhar no governo israelense’”. Na sequência, em 2007, um após o ataque israelense ao Hezbollah, “mais uma vez fui difamada, já que os mesmos grupos acusaram-me de ter sido presa no Líbano por falsidade ideológica. Nunca trabalhei no governo de Israel, tampouco servi no exército israelense ou mesmo fui presa no Líbano”, jura a repórter.
Dadas as explicações, o mais crédulo dos humanos ainda achará muito estranho que a direção da TV Globo tenha enviado como correspondente da carnificina em Gaza uma jornalista com esta sinistra trajetória. É evidente que o maquiavélico diretor-executivo de jornalismo da emissora, Ali Kamel, batizado de Ratzinger pelos jornalistas que o conhecem, sabia deste passado militante e que ele interferiria na cobertura do atual genocídio. Uma repórter com este histórico sionista estaria talhada para manipular a cobertura da maior emissora privada de televisão do Brasil.
Entre outras sandices, Malkes escreveu: “Parece piada! Eles querem criar um Estado Palestino independente e ainda entupir Israel com seus milhares de refugiados mortos de fome. Faça-me o favor”. Noutra postagem, considera “patética” até uma declaração de FHC favorável à criação do Estado Palestino. “Tupiniquim tem mais é que cuidar de dengue”. Ele também ataca o MST, que enviara uma delegação de solidariedade à região, e ridiculariza a Venezuela por ser “amiga dos brimos”. Vários artigos tratam os árabes e os palestinos como “burros” e “mentirosos”.
O “sonho” de ingressar no exército
O Balagan cumpriu um papel tão pernicioso que recebeu do jornal israelense Yediot Aharonot o epíteto de “warblog” por sua “excelência na propaganda sionista”. Cloaca também traz a tona outras duas histórias sinistras da atual jornalista da TV Globo. Numa de suas postagens, ela se mostra exultante com a possibilidade de realizar o seu “sonho” de ingressar no Exército de Israel – mas não há registros oficiais sobre o seu recrutamento. Cloaca revela ainda que a repórter foi presa por autoridades libanesas, em julho de 2007, por “falsidade ideológica e espionagem”.
Com dupla cidadania, israelense e brasileira, ela teria ingressado no Líbano de maneira ilegal, sendo alvo de “perseguição” do Hezbollah. No seu próprio blog, ela se vangloria da peripécia e por ter sido citada em inúmeros veículos, como o jornal Daily Star, a TV Al Jazeera e em várias emissoras israelenses. “Foi uma jornada longa e posso dizer que a mais difícil dos meus nove anos como jornalista. Mentir sobre a origem, evitar detalhes de vida em conversas informais e enganar pessoas que me ajudaram tanto foram tarefas terríveis”, confessa a repórter.
“Vergonha de determinadas posições”
Alvejada em cheio pelas denúncias, a jornalista logo postou um esclarecimento público no seu blog, “O outro lado da Terra Santa”, também hospedado nas páginas da Rede Globo. Segundo garantiu, ela nunca pertenceu ao Exército de Israel. “Ao chegar a Israel, tive sim vontade de ingressar nas Forças Armadas para compreender melhor o funcionamento desta complexa máquina de guerra”, mas desistiu. Com relação ao Balagan, explicou que o deletou, em meados de 2007, “por motivos de segurança”. Quando ao seu conteúdo, afirma que eram “textos escritos num espaço pessoal, entre os anos 2001 e 2006... antes de atuar como repórter de O Globo”.
Ela deixa implícito que teria se arrependido das coisas que escreveu no seu antigo blog. “Quem pensa muda... Sempre admiti ter vergonha de determinadas posições que tive no passado. A vivência diária do conflito me fez abrir os olhos e ampliar minha percepção acerca dos fatos e do significado do sentimento de humanismo... Eu fazia parte desse mesmo grupo de pessoas que vêem a realidade com olhos maniqueístas e reagem com intensidade brutal... Por sorte, aprendi em seis anos de vivência aqui que a realidade do conflito israelo-palestino não é preta e branca”.
O maquiavélico Ali Kamel
Diante do exposto, a magoada Malkes diz que tem “sido vítima constante deste tipo de ataques. Quando trabalhei como produtora de uma tevê israelense, acusaram-se de ‘trabalhar no governo israelense’”. Na sequência, em 2007, um após o ataque israelense ao Hezbollah, “mais uma vez fui difamada, já que os mesmos grupos acusaram-me de ter sido presa no Líbano por falsidade ideológica. Nunca trabalhei no governo de Israel, tampouco servi no exército israelense ou mesmo fui presa no Líbano”, jura a repórter.
Dadas as explicações, o mais crédulo dos humanos ainda achará muito estranho que a direção da TV Globo tenha enviado como correspondente da carnificina em Gaza uma jornalista com esta sinistra trajetória. É evidente que o maquiavélico diretor-executivo de jornalismo da emissora, Ali Kamel, batizado de Ratzinger pelos jornalistas que o conhecem, sabia deste passado militante e que ele interferiria na cobertura do atual genocídio. Uma repórter com este histórico sionista estaria talhada para manipular a cobertura da maior emissora privada de televisão do Brasil.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Lampreia, o “ridículo” ex-chanceler de FHC
O diplomata de carreira Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores do governo FHC de 1995 a 2001, deixou de lado qualquer diplomacia – se é que algum dia teve – para atacar duramente o atual ministro Celso Amorim. O motivo da bronca, que deve ter agradado o regime sionista de Israel, foi a viagem do representante do presidente Lula ao Oriente Médio na tentativa de contribuir para um cessar-fogo na Faixa de Gaza. No seu blog, não por acaso postado no site do jornal O Globo, o ativo tucano destilou veneno. Com diz o ditado, a inveja é uma... desgraça!
“No seu afã de protagonismo, o ministro Amorim iniciou um périplo no Oriente Médio que beira o ridículo”, esbravejou Lampreia. Como sua mentalidade servil às potenciais imperialistas, ele avalia que o Brasil não tem nenhum papel a jogar no tabuleiro internacional. Para ele, Amorim “deve estar incomodando os líderes políticos da região com seus pedidos de audiência quando eles têm outras prioridades. Ele nada pode acrescentar aos esforços de paz que a França e o Egito desenvolvem. Deve ser vista com suspeita pelos líderes israelenses pelas posições que assumir. Seguramente não é considerado pelos americanos como um fator relevante na questão. Enfim, as peripécias do ministro são uma inutilidade que só pode trazer desgaste à diplomacia brasileira”.
Um notório entreguista
De Jerusalém, onde se encontrou com representantes do governo israelense, após se reunir com o presidente sírio Bashar Assad, Amorim deu o troco de forma diplomática. Sem citar nomes, ele classificou as críticas como sintoma da baixa autoestima de alguns brasileiros. “No futebol, nós superamos essa síndrome. Na política e no comércio internacional, ainda não”. Para ele, o Brasil deve ter um papel protagonista no cenário mundial. “Não tenho ilusões de que estamos aqui para resolver um problema que ninguém resolveu. Mas fazemos parte de um conjunto de esforços da comunidade internacional. A comunidade internacional não pode ser só EUA e União Européia”.
Uma postura bem diferente da adotada por Lampreia quando exerceu a mesmo cargo no governo entreguista de FHC. Na época, o ex-chanceler foi um dos mais ativos defensores da política de “alinhamento automático” com os EUA. Com inúmeros atos, ele tentou pavimentar “o caminho” para viabilizar o tratado neocolonial imposto pelo imperialismo, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Também propôs a concessão da base militar de Alcântara, no Maranhão, para os EUA. Quem quiser conhecer melhor este triste período da diplomacia brasileira basta ler o livro “As relações perigosas Brasil/Estados Unidos”, de Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Um direitista militante
Luiz Felipe Lampreia tenta se travestir de diplomata, mas é um direitista militante e um tucano de carteirinha. Para conhecer suas opiniões, basta passar os olhos no seu blog no site da Globo. No atual genocídio em Gaza, ele adota a mesma posição da carniceira Condoleezza Rice e dos sionistas, vendendo a imagem de Israel como vítima e dos palestinos como terroristas. Ataca o Hamas, que “prossegue em seu tom belicoso, anunciando que seguirá na luta. Para os radicais palestinos, o hasteamento de sua bandeira verde no último prédio de pé em Gaza representaria uma grande vitória política”. Ele até defende o cessar-fogo, mas sob os escombros de Gaza.
Já no que se refere à América Latina, um dos principais alvos de suas críticas a atual política do governo Lula, Lampreia explicita que não tem nada de diplomata. Prega maior endurecimento nas relações com os “parceiros truculentos”, atacando o presidente Rafael Correa, do Equador; agride Hugo Chávez – chamando-o de coronel e não de presidente –, criticando “os seus gastos ineficientes” e defendendo “uma mudança radical em sua política econômica”. O ódio ao líder bolivariano é tanto que ele condenou a aprovação da Câmara Federal do ingresso da Venezuela no Mercosul. “Esperemos que o Senado mantenha sua oposição a esta decisão desastrosa”.
Serviçal dos EUA e de Uribe
O ex-chanceler de FHC também adora desqualificar Cuba. “A revolução cubana fez 50 anos e os oligarcas de Havana celebraram muito. Mas o povo está cada vez mais miserável”, atacou num de seus últimos textos. Em outra, rancoroso, disse que foi destratado numa viagem à ilha. “Cuba é glorificada por alguns ingênuos (e outros não tanto). Mas continua sendo, desde os tempos do paredón, uma ditadura feroz, com um partido único, um chatíssimo jornal único, muitos presos políticos e o cerceamento das liberdades”, escreveu num linguajar típico dos agentes da CIA.
Para Lampreia, o governo Lula erra ao investir no avanço das relações políticas e econômicas no continente. Por isso, ele atacou de maneira hidrófoba a Cúpula da America Latina, realizada em dezembro na Bahia. “Os resultados foram nulos”, esbravejou. A razão, segundo o defensor do “alinhamento automático” com os EUA, foi “a retórica antiamericana extravagante dos Chávez e Morales da vida, no momento em que vai assumir o presidente Barack Obama, de quem muito se espera universalmente... Com radicais ideológicos não há muito espaço para a racionalidade”.
Ao mesmo tempo em que ataca Venezuela, Cuba, Bolívia e Equador – e, com inveja, o ministro Celso Amorim –, o ex-chanceler de FHC prioriza as suas “ligações” com os EUA e o presidente narcoterrorista Álvaro Uribe. Há poucos dias, o ministro de Relações Exteriores da Colômbia, Jaime Bermúdez, anunciou que Felipe Lampreia fará parte de uma missão especial encarregada de melhorar a imagem desde país – conhecido como o recordista mundial em assassinados de sindicalistas, pelos escândalos de corrupção nos altos escalões de governo e pela existência de milícias paramilitares envolvidas no trafico de cocaína. Belas companhias a de Lampreia!
“No seu afã de protagonismo, o ministro Amorim iniciou um périplo no Oriente Médio que beira o ridículo”, esbravejou Lampreia. Como sua mentalidade servil às potenciais imperialistas, ele avalia que o Brasil não tem nenhum papel a jogar no tabuleiro internacional. Para ele, Amorim “deve estar incomodando os líderes políticos da região com seus pedidos de audiência quando eles têm outras prioridades. Ele nada pode acrescentar aos esforços de paz que a França e o Egito desenvolvem. Deve ser vista com suspeita pelos líderes israelenses pelas posições que assumir. Seguramente não é considerado pelos americanos como um fator relevante na questão. Enfim, as peripécias do ministro são uma inutilidade que só pode trazer desgaste à diplomacia brasileira”.
Um notório entreguista
De Jerusalém, onde se encontrou com representantes do governo israelense, após se reunir com o presidente sírio Bashar Assad, Amorim deu o troco de forma diplomática. Sem citar nomes, ele classificou as críticas como sintoma da baixa autoestima de alguns brasileiros. “No futebol, nós superamos essa síndrome. Na política e no comércio internacional, ainda não”. Para ele, o Brasil deve ter um papel protagonista no cenário mundial. “Não tenho ilusões de que estamos aqui para resolver um problema que ninguém resolveu. Mas fazemos parte de um conjunto de esforços da comunidade internacional. A comunidade internacional não pode ser só EUA e União Européia”.
Uma postura bem diferente da adotada por Lampreia quando exerceu a mesmo cargo no governo entreguista de FHC. Na época, o ex-chanceler foi um dos mais ativos defensores da política de “alinhamento automático” com os EUA. Com inúmeros atos, ele tentou pavimentar “o caminho” para viabilizar o tratado neocolonial imposto pelo imperialismo, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Também propôs a concessão da base militar de Alcântara, no Maranhão, para os EUA. Quem quiser conhecer melhor este triste período da diplomacia brasileira basta ler o livro “As relações perigosas Brasil/Estados Unidos”, de Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Um direitista militante
Luiz Felipe Lampreia tenta se travestir de diplomata, mas é um direitista militante e um tucano de carteirinha. Para conhecer suas opiniões, basta passar os olhos no seu blog no site da Globo. No atual genocídio em Gaza, ele adota a mesma posição da carniceira Condoleezza Rice e dos sionistas, vendendo a imagem de Israel como vítima e dos palestinos como terroristas. Ataca o Hamas, que “prossegue em seu tom belicoso, anunciando que seguirá na luta. Para os radicais palestinos, o hasteamento de sua bandeira verde no último prédio de pé em Gaza representaria uma grande vitória política”. Ele até defende o cessar-fogo, mas sob os escombros de Gaza.
Já no que se refere à América Latina, um dos principais alvos de suas críticas a atual política do governo Lula, Lampreia explicita que não tem nada de diplomata. Prega maior endurecimento nas relações com os “parceiros truculentos”, atacando o presidente Rafael Correa, do Equador; agride Hugo Chávez – chamando-o de coronel e não de presidente –, criticando “os seus gastos ineficientes” e defendendo “uma mudança radical em sua política econômica”. O ódio ao líder bolivariano é tanto que ele condenou a aprovação da Câmara Federal do ingresso da Venezuela no Mercosul. “Esperemos que o Senado mantenha sua oposição a esta decisão desastrosa”.
Serviçal dos EUA e de Uribe
O ex-chanceler de FHC também adora desqualificar Cuba. “A revolução cubana fez 50 anos e os oligarcas de Havana celebraram muito. Mas o povo está cada vez mais miserável”, atacou num de seus últimos textos. Em outra, rancoroso, disse que foi destratado numa viagem à ilha. “Cuba é glorificada por alguns ingênuos (e outros não tanto). Mas continua sendo, desde os tempos do paredón, uma ditadura feroz, com um partido único, um chatíssimo jornal único, muitos presos políticos e o cerceamento das liberdades”, escreveu num linguajar típico dos agentes da CIA.
Para Lampreia, o governo Lula erra ao investir no avanço das relações políticas e econômicas no continente. Por isso, ele atacou de maneira hidrófoba a Cúpula da America Latina, realizada em dezembro na Bahia. “Os resultados foram nulos”, esbravejou. A razão, segundo o defensor do “alinhamento automático” com os EUA, foi “a retórica antiamericana extravagante dos Chávez e Morales da vida, no momento em que vai assumir o presidente Barack Obama, de quem muito se espera universalmente... Com radicais ideológicos não há muito espaço para a racionalidade”.
Ao mesmo tempo em que ataca Venezuela, Cuba, Bolívia e Equador – e, com inveja, o ministro Celso Amorim –, o ex-chanceler de FHC prioriza as suas “ligações” com os EUA e o presidente narcoterrorista Álvaro Uribe. Há poucos dias, o ministro de Relações Exteriores da Colômbia, Jaime Bermúdez, anunciou que Felipe Lampreia fará parte de uma missão especial encarregada de melhorar a imagem desde país – conhecido como o recordista mundial em assassinados de sindicalistas, pelos escândalos de corrupção nos altos escalões de governo e pela existência de milícias paramilitares envolvidas no trafico de cocaína. Belas companhias a de Lampreia!
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Quem são os terroristas em Gaza?
“A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza é terrorismo de Estado. Quando há um atentado contra Israel, é um ato terrorista. Mas quando uma ação do exercito israelense provoca a morte de civis palestinos, é uma ‘reação de defesa’? Isso é terrorismo de Estado, me desculpem”.
Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula.
A incisiva declaração de um dos principais assessores do governo brasileiro gerou forte gritaria de parte da comunidade israelense no Brasil. Até o ministro de “assuntos sociais” de Israel, Isaac Herzog, retrucou em tom presunçoso: “As pessoas deveriam ler mais para conhecer a história”. Colunistas da mídia, que não negam seus préstimos, também esbravejaram. O jornalista Carlos Brickmann tentou desqualificar o assessor especial do presidente e propôs que ele fosse “enviado para a França, onde estão os trotskistas que, há 40 anos, influenciaram a sua cabeça stalinista”.
A corajosa declaração incomodou tanto porque Marco Aurélio Garcia colocou o dedo na ferida, desmascarando uma das principais peças de propaganda dos sionistas e da sua mídia servil. Na prática, boa parte da imprensa mundial e nativa tenta fixar a imagem de que os palestinos sãos os terroristas. Israel seria apenas vítima indefesa de atentados e agressões. Na “guerra” em curso, a mídia inclusive difundiu a mentira de que Israel foi atacado primeiro em dezembro passado e de que o Hamas rompeu o cessar-fogo ao lançar foguetes contra cidades fronteiriças. Puro engodo!
“Mãos sujas de sangue”
O jornalista inglês Robert Fisk, um dos maiores especialistas em Oriente Médio, já comprovou que foi Israel quem rompeu primeiro o tênue acordo de paz. Além de promover um cerco brutal aos 1,5 milhão de palestinos que superlotam a Gaza, vetando a entrada de alimentos e remédios para isolar o Hamas, que democraticamente venceu as eleições no território em janeiro de 2006, o exercito sionista ainda assassinou militantes deste movimento. “O cessar-fogo foi rompido por Israel, primeiro em 4 de novembro, quando bombardeou e matou seis palestinos em Gaza; e depois, em 17 de novembro, quando outra vez bombardeou e matou mais quatro palestinos”.
Para o veterano correspondente de guerra, que já presenciou várias outras atrocidades de Israel, a cumplicidade de governos e da mídia com essas mentiras é vergonhosa. Referindo à matança de crianças e civis inocentes, ele desabafa. “O que surpreende é que tantos líderes ocidentais, tantos presidentes e primeiros-ministros e tantos editores e jornalistas tenham acreditado nas mesmas velhas mentiras... Todos os presidentes e primeiros-ministros que repetiram a mesma mentira, como pretexto para não impor o cessar-fogo, têm as mãos sujas de sangue da carnificina”.
Operação “chumbo fundido”
Um estudo acalentado do intelectual Michel Chossudovsky demonstra que essa ação terrorista de Israel já estava planejada há tempos. Os foguetes artesanais do Hamas, que nos últimos sete anos causaram 17 mortes – enquanto a alta tecnologia militar israelense-ianque produziu milhares de mortes –, serviram apenas como pretexto. “Os bombardeios aéreos e a presente invasão de Gaza pela forças terrestres israelenses têm que ser analisados num contexto histórico. A operação ‘Chumbo Fundido’ (Cast Lead) é uma missão cuidadosamente planejada que, por sua vez, faz parte da estratégia militar e do serviço secreto formulada pela primeira vez em 2001”.
Segundo revelou o jornal israelense Haaretz, “fontes do establishment disseram que o ministro da Defesa, Ehud Barak, deu instruções às forças militares israelenses para se prepararem para a operação há mais de seis meses, na altura em que Israel negociava o acordo de cessar-fogo com Hamas”. Em 8 de dezembro passado, num mau agouro, o vice-secretário de Estado dos EUA, o carniceiro John Negroponte – o que mesmo que organizou os esquadrões da morte na América Central – reuniu-se em Tel Aviv com Meir Dagan, diretor do serviço secreto sionista (Mossad). O genocídio, que até agora gerou quase mil mortes – entre elas, mais de 250 crianças –, já estava em acelerado curso e nada teve a ver com os ataques imprecisos do Hamas.
“Desastre humanitário planejado”
Na opinião de Chossudovsky, a “operação chumbo fundido” não tem como meta maior atingir os alvos militares do Hamas. “Ela pretende, deliberadamente, provocar baixas civis. Trata-se de um ‘desastre humanitário planejado’ em Gaza. O objetivo de longo prazo, conforme formulado pelos militares israelenses, é a expulsão dos palestinos de suas terras”. Visaria “aterrorizar a população civil, garantido a máxima destruição de propriedades e de recursos culturais... A vida diária dos palestinos deveria se tornar insuportável. Eles seriam cercados nas cidades e aldeias, impedidos de exercer a sua atividade econômica normal, afastados dos locais de trabalho, das escolas e dos hospitais. Isso encorajaria a emigração e enfraqueceria a resistência a futuras expulsões”.
A operação também é conhecida como “plano Dagan”, numa referência ao nome do atual chefe da Mossad. General da reserva, Dagan elaborou o plano expansionista durante a campanha que elegeu o direitista Ariel Sharon como primeiro-ministro, em fevereiro de 2001. Ele já previa que a ação “provocará a morte de centenas de israelenses e de milhares de palestinos”, propunha o desmembramento de Gaza e o estímulo à divisão entre as forças palestinas – entre o Fatah e o Hamas. Nomeado diretor do Mossad por Sharon, em agosto de 2002, Dagan foi reconduzido ao cargo por Ehud Olmert e ficou com as mãos livres para desencadear o atual genocídio.
As primeiras bombas sionistas
Segundo Chossudovsky, ainda fazia parte do plano “chumbo fundido” a construção do Muro do Apartheid e o assassinato do líder palestino Yasser Arafat, morto em novembro de 2004. Quando primeiro-ministro, Ehud Barak, que hoje concorre novamente ao cargo, declarou à imprensa que “Arafat é uma séria ameaça à segurança e o prejuízo que pode resultar do seu desaparecimento é menor do que o prejuízo causado por sua existência”. Com a vitória eleitoral do Hamas em Gaza, a fase final do plano foi acionada e previa: “invasão do território com cerca de 30 mil soldados israelenses e a missão claramente definida de destruir a infra-estrutura, de arrebatar o armamento atualmente na posse das forças palestinas e de expulsar e matar seus dirigentes militares”.
A revelação dos detalhes da “operação chumbo fundido”, que a mídia quase não cita, evidencia que são os verdadeiros terroristas. Este projeto macabro desmistifica a idéia de que Israel é uma vítima inocente, que apenas “protege seus cidadãos num ato de legítima defesa” – como garante o cínico ministro Isaac Herzog. A parte mais lúcida da comunidade judaica deveria fustigar a sua consciência diante destes fatos e atos. Pode ajudar nesta reflexão a lembrança de que os sionistas nunca foram pacifistas inocentes. Em muitos aspectos, eles lembram os nazistas e a tragédia do Holocausto. Já adotaram o terrorismo no passado e hoje exercem o terrorismo de Estado.
Basta recordar, como fez o site Resistir, que “as bombas em cafés foram usadas pelos sionistas pela primeira vez na Palestina em 17 de março de 1937, em Jaffa; bombas em automóveis foram usadas primeiro pelos sionistas de 20 de agosto a 26 de setembro de 1937; bombas em mercados foram usadas primeiro pelos sionistas em 6 de julho de 1938, em Haifa; bombas em hotéis foram usadas primeiro pelos sionistas em 22 de julho de 1946, em Jerusalém; bombas em embaixadas estrangeiras foram usadas primeiro pelos sionistas em 01 de outubro de 1946, em Roma; cartas bombas foram usadas primeiro pelos sionistas em junho de 1947 no Reino Unido”.
Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula.
A incisiva declaração de um dos principais assessores do governo brasileiro gerou forte gritaria de parte da comunidade israelense no Brasil. Até o ministro de “assuntos sociais” de Israel, Isaac Herzog, retrucou em tom presunçoso: “As pessoas deveriam ler mais para conhecer a história”. Colunistas da mídia, que não negam seus préstimos, também esbravejaram. O jornalista Carlos Brickmann tentou desqualificar o assessor especial do presidente e propôs que ele fosse “enviado para a França, onde estão os trotskistas que, há 40 anos, influenciaram a sua cabeça stalinista”.
A corajosa declaração incomodou tanto porque Marco Aurélio Garcia colocou o dedo na ferida, desmascarando uma das principais peças de propaganda dos sionistas e da sua mídia servil. Na prática, boa parte da imprensa mundial e nativa tenta fixar a imagem de que os palestinos sãos os terroristas. Israel seria apenas vítima indefesa de atentados e agressões. Na “guerra” em curso, a mídia inclusive difundiu a mentira de que Israel foi atacado primeiro em dezembro passado e de que o Hamas rompeu o cessar-fogo ao lançar foguetes contra cidades fronteiriças. Puro engodo!
“Mãos sujas de sangue”
O jornalista inglês Robert Fisk, um dos maiores especialistas em Oriente Médio, já comprovou que foi Israel quem rompeu primeiro o tênue acordo de paz. Além de promover um cerco brutal aos 1,5 milhão de palestinos que superlotam a Gaza, vetando a entrada de alimentos e remédios para isolar o Hamas, que democraticamente venceu as eleições no território em janeiro de 2006, o exercito sionista ainda assassinou militantes deste movimento. “O cessar-fogo foi rompido por Israel, primeiro em 4 de novembro, quando bombardeou e matou seis palestinos em Gaza; e depois, em 17 de novembro, quando outra vez bombardeou e matou mais quatro palestinos”.
Para o veterano correspondente de guerra, que já presenciou várias outras atrocidades de Israel, a cumplicidade de governos e da mídia com essas mentiras é vergonhosa. Referindo à matança de crianças e civis inocentes, ele desabafa. “O que surpreende é que tantos líderes ocidentais, tantos presidentes e primeiros-ministros e tantos editores e jornalistas tenham acreditado nas mesmas velhas mentiras... Todos os presidentes e primeiros-ministros que repetiram a mesma mentira, como pretexto para não impor o cessar-fogo, têm as mãos sujas de sangue da carnificina”.
Operação “chumbo fundido”
Um estudo acalentado do intelectual Michel Chossudovsky demonstra que essa ação terrorista de Israel já estava planejada há tempos. Os foguetes artesanais do Hamas, que nos últimos sete anos causaram 17 mortes – enquanto a alta tecnologia militar israelense-ianque produziu milhares de mortes –, serviram apenas como pretexto. “Os bombardeios aéreos e a presente invasão de Gaza pela forças terrestres israelenses têm que ser analisados num contexto histórico. A operação ‘Chumbo Fundido’ (Cast Lead) é uma missão cuidadosamente planejada que, por sua vez, faz parte da estratégia militar e do serviço secreto formulada pela primeira vez em 2001”.
Segundo revelou o jornal israelense Haaretz, “fontes do establishment disseram que o ministro da Defesa, Ehud Barak, deu instruções às forças militares israelenses para se prepararem para a operação há mais de seis meses, na altura em que Israel negociava o acordo de cessar-fogo com Hamas”. Em 8 de dezembro passado, num mau agouro, o vice-secretário de Estado dos EUA, o carniceiro John Negroponte – o que mesmo que organizou os esquadrões da morte na América Central – reuniu-se em Tel Aviv com Meir Dagan, diretor do serviço secreto sionista (Mossad). O genocídio, que até agora gerou quase mil mortes – entre elas, mais de 250 crianças –, já estava em acelerado curso e nada teve a ver com os ataques imprecisos do Hamas.
“Desastre humanitário planejado”
Na opinião de Chossudovsky, a “operação chumbo fundido” não tem como meta maior atingir os alvos militares do Hamas. “Ela pretende, deliberadamente, provocar baixas civis. Trata-se de um ‘desastre humanitário planejado’ em Gaza. O objetivo de longo prazo, conforme formulado pelos militares israelenses, é a expulsão dos palestinos de suas terras”. Visaria “aterrorizar a população civil, garantido a máxima destruição de propriedades e de recursos culturais... A vida diária dos palestinos deveria se tornar insuportável. Eles seriam cercados nas cidades e aldeias, impedidos de exercer a sua atividade econômica normal, afastados dos locais de trabalho, das escolas e dos hospitais. Isso encorajaria a emigração e enfraqueceria a resistência a futuras expulsões”.
A operação também é conhecida como “plano Dagan”, numa referência ao nome do atual chefe da Mossad. General da reserva, Dagan elaborou o plano expansionista durante a campanha que elegeu o direitista Ariel Sharon como primeiro-ministro, em fevereiro de 2001. Ele já previa que a ação “provocará a morte de centenas de israelenses e de milhares de palestinos”, propunha o desmembramento de Gaza e o estímulo à divisão entre as forças palestinas – entre o Fatah e o Hamas. Nomeado diretor do Mossad por Sharon, em agosto de 2002, Dagan foi reconduzido ao cargo por Ehud Olmert e ficou com as mãos livres para desencadear o atual genocídio.
As primeiras bombas sionistas
Segundo Chossudovsky, ainda fazia parte do plano “chumbo fundido” a construção do Muro do Apartheid e o assassinato do líder palestino Yasser Arafat, morto em novembro de 2004. Quando primeiro-ministro, Ehud Barak, que hoje concorre novamente ao cargo, declarou à imprensa que “Arafat é uma séria ameaça à segurança e o prejuízo que pode resultar do seu desaparecimento é menor do que o prejuízo causado por sua existência”. Com a vitória eleitoral do Hamas em Gaza, a fase final do plano foi acionada e previa: “invasão do território com cerca de 30 mil soldados israelenses e a missão claramente definida de destruir a infra-estrutura, de arrebatar o armamento atualmente na posse das forças palestinas e de expulsar e matar seus dirigentes militares”.
A revelação dos detalhes da “operação chumbo fundido”, que a mídia quase não cita, evidencia que são os verdadeiros terroristas. Este projeto macabro desmistifica a idéia de que Israel é uma vítima inocente, que apenas “protege seus cidadãos num ato de legítima defesa” – como garante o cínico ministro Isaac Herzog. A parte mais lúcida da comunidade judaica deveria fustigar a sua consciência diante destes fatos e atos. Pode ajudar nesta reflexão a lembrança de que os sionistas nunca foram pacifistas inocentes. Em muitos aspectos, eles lembram os nazistas e a tragédia do Holocausto. Já adotaram o terrorismo no passado e hoje exercem o terrorismo de Estado.
Basta recordar, como fez o site Resistir, que “as bombas em cafés foram usadas pelos sionistas pela primeira vez na Palestina em 17 de março de 1937, em Jaffa; bombas em automóveis foram usadas primeiro pelos sionistas de 20 de agosto a 26 de setembro de 1937; bombas em mercados foram usadas primeiro pelos sionistas em 6 de julho de 1938, em Haifa; bombas em hotéis foram usadas primeiro pelos sionistas em 22 de julho de 1946, em Jerusalém; bombas em embaixadas estrangeiras foram usadas primeiro pelos sionistas em 01 de outubro de 1946, em Roma; cartas bombas foram usadas primeiro pelos sionistas em junho de 1947 no Reino Unido”.
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