Reproduzo artigo enviado pelo amigo Artur Araújo:
Os marqueteiros tucanos estudaram resmas de pesquisas qualitativas e tiveram uma iluminação: criaram o José da Móoca. Humilde filho de feirantes; economista das esquerdas; desenvolvimentista; e, acima de tudo, pós-Lula, um avatar da continuidade.
Esqueceram-se de consultar uma vasta bibliografia que trata de criaturas criadas, cuja referência mais conhecida é “O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde). E também não se lembraram de Garrincha e, por isso, não “combinaram com os russos”. Os resultados da marquetagem estão aí, para quem quiser ver.
O entorno de Serra já deixou claro: querem um candidato que lhes dê a segurança de pleno retorno ao passado, um neoliberal de carteirinha, que desmonte a obra de Lula e devolva o Brasil aos braços dos rentistas locais, dos oligopólios e do capital financeiro globalizado. Mesmo quando sabem que Serra está só recitando o script, não se contém e tentam enquadrá-lo.
Esse jogo de personagens – o do marketing, o de escolha de seu entorno e o verdadeiro Serra – tem provocado colisões em pleno palco da campanha. O destempero, a arrogância e a prepotência não são novidades, em se tratando do ex-governador de São Paulo. O que chama atenção, no entanto, são os estopins.
Nas últimas semanas, Serra tem revelado oscilações atípicas. Assim foi com o tal Ministério da Segurança, com “Lula acima do bem e do mal”, com o “convite” a Dilma e Marina para integrarem o governo que sonha comandar. Bem recentemente, juros e BC tiveram efeito explosivo. O que há de comum entre esses gatilhos?
São temas que se adequam ao personagem “marquetado”, mas que se chocam com a prática do medíocre governo, de corte neoliberal, que Serra conduziu em São Paulo. O candidato sabe dessa incongruência e isso é um primeiro elemento de desequilíbrio.
Quando Serra desfralda a bandeira da continuidade da era Lula, imediatamente se estabelece o contraponto com o fato de, como governador, não ter posto em prática uma mísera medida anticíclica para enfrentar a crise de 2009. Quando se apresenta como paladino da queda dos juros, a memória alerta que nem mesmo mandou telegrama de apoio às campanhas, das entidades empresariais e das centrais sindicais dos trabalhadores, pela revisão da linha do Banco Central.
Serra, lido pela chave de seu desempenho em São Paulo, é um desenvolvimentista sem plano de obras públicas, um “continuador de Lula” que descontinuou os serviços públicos no estado que governou. Os sistemas paulistas de educação e saúde públicas colecionam posições vergonhosas, quando se divulgam dados nacionais comparativos. A tal da “locomotiva do Brasil”, durante sua gestão, descarrilou, desindustrializou-se, perdeu postos de trabalho e competitividade. A segurança dos cidadãos vai de mal a pior.
A esse primeiro bloco de conflitos – entre a criatura eleitoral e o governador dos fatos – se adiciona a pressão do adensamento de seu entorno. Exigem de Serra que diga a sério a que veio, que afirme sua fidelidade, litúrgica e obsequiosa, aos mandamentos da banca e da matriz.
São diários, constantes, insistentes, os chamamentos à ordem unida. Pululam artigos, matérias, reportagens, cartas e falas em coro, cobrando oposição explícita a “tudo que aí está”. Como os marqueteiros e o candidato sabem que ir nessa rota é suicídio eleitoral, ficam emparedados e mais um fator desestabilizante se acresce.
Há, ainda, um terceiro elemento que, certamente, não abandona o pensar das madrugadas do candidato. Quando se trata de coleção de mágoas e ressentimentos contra si, Serra é, provavelmente, o campeão da política brasileira. Apenas para ficarmos nos casos mais explícitos, há faturas por cobrar nas mãos de credores mineiros preteridos e em carteiras paulistas, como a daquele candidato à Prefeitura de São Paulo e à Presidência da República, que tanto apoio dele recebeu. Circulam, nos desvãos, os transgênicos Anastadilma e Dilmin.
Essa conjunção de conflitos põe na berlinda a criatura e o homem. Miriam Leitão, durante entrevista do Doutor Serra à CBN, foi uma das que praticou a nobre arte do adensamento. Viu-se frente a frente com Míster Zé.
Um pouco de sutileza e um mínimo de sagacidade permitiriam a seus oponentes, valendo-se da luta interna da coleção de personagens que disputam a alma de Serra, explorar, com inteligência, as contradições e tensões afloradas.
Seria como provocar, para o candidato e no eleitorado, uma pergunta: e agora, José?
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2 comentários:
Eu sempre supus que o Jose Serra fosse um político com uma visão mais moderna e progressista, principlamente, em relação aos seus pares do PSDB, depois de sua atuação como governador do Estado de São Paulo, cheguei a conclusão que ele não é alguém que possa se colocar como continuador do Lula, percebe-se claramente que ele é um continuador do Maluf, interessado em tocar obras desnecessárias, discutíveis e abandonar, a Saúde, a Educação, o Transporte Público, a Habitação, etc. o que de fato interessa à população.
"O entorno de Serra já deixou claro: querem um candidato que lhes dê a segurança de pleno retorno ao passado, um neoliberal de carteirinha, que desmonte a obra de Lula e devolva o Brasil aos braços dos rentistas locais, dos oligopólios e do capital financeiro globalizado. Mesmo quando sabem que Serra está só recitando o script, não se contém e tentam enquadrá-lo."
O segredo esta que Ze Pedagio não vai se manter vai se desequilibrar.
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