Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog Cinema & Outras Artes:
O debate político brasileiro vive um momento tenso e contraditório. Embora seja inegável o salto qualitativo propiciado por uma maior penetração de blogs não-corporativos nos dois ou três últimos anos, certos vícios que caracterizaram a atuação de setores da blogosfera no período cobram, enfim, o custo de sua incongruência.
Pertence à lógica mais elementar, inescapável, a conclusão de que se o governo Dilma impinge ao país, neste momento, um duríssimo choque anticíclico - como não se viu igual sequer no turbulento início da presidência de Lula, herdeiro da “herança maldita” tucana – o faz porque há um grave problema com as contas deixadas pelo ex-presidente. Negar a evidência de um pronunciado déficit equivale a incorrer em desonestidade intelectual em nome de interesses político-ideológicos [1].
E distorcer os fatos em nome de tal modalidade de interesses é precisamente a acusação que, de forma muito justa, é recorrentemente feita contra a mídia corporativa. Portanto, os blogueiros que apoiam incondicionalmente o governo, não importando quão grave sejam as medidas que este toma, não estão se apercebendo do risco de se igualarem ao “Pig” que tanto criticam.
Dicotomias burras
De minha parte, estou cheio dessas divisões absolutistas e maniqueístas entre nós (os puros) e eles (os corruptos), PT x PSDB, blogosfera independente x mídia corporativa, Lula x FHC, Brasil x EUA. Que me desculpem os fanáticos, mas o mundo não é em preto e branco.
Também me encheu o simplismo fácil com que se usa o termo multiuso PIG (Partido da Mídia Golpista) como explicação para todos os males que nos afligem, como se uma atividade complexa e que envolve milhares de profissionais pudesse ser sempre, inapelavelmente, em qualquer contexto, associada a um rótulo jocoso que não poucas vezes tem servido de bode expiatório e de desculpa para que a esquerda deixe de olhar para seu próprio umbigo e reconhecer seus erros e contradições.
E, por fim, embora considere Lula, disparado, o melhor presidente que o país já teve, não estou disposto a consentir com seu processo de canonização e mitificação, em pleno andamento, e que o presume um ser perfeito, imune a mancadas ou erros e isento de responsabilidades, com uma manada feroz atacando, a la Inquisição Espanhola, quem ousa fazer qualquer restrição ou crítica. Ora, uma das grandezas maiores de Lula, tanto no espectro político quanto humano, é precisamente ter aprendido com seus erros e derrotas e a partir deles se aprimorado para se tornar o excelente presidente que foi e o notável ser humano que é. Santificar Lula, na verdade, o diminui, ao invés de engrandecê-lo.
Cai na real, blogosfera
Não bastasse essa crise ética que se manifesta em setores da blogosfera e os torna similar, em dissimulações interesseiras, à mídia corporativa que tanto criticam, Dilma Rousseff, após ter dispensado, por conta do episódio da licença Creative Commons no MinC, um tratamento no mínimo desrespeitoso aos ativistas digitais que tanto a apoiaram, presta-se ao lamentável papel de voar de Brasília para São Paulo para prestigiar, ao lado de toda a fauna tucana, os 90 anos da publicação que mais decaiu eticamente no Brasil na última década, a ponto de dar voz a um aloprado que “denunciou” Lula como estuprador e de estampar ficha policial falsa da pré-candidata Dilma na capa. E compareceu à festa na capital paulista sem um mísero pedido de desculpas em troca.
Ante a reação indignada de setores da blogosfera contra esse autêntico tapa na cara dos que, gratuita e dedicadamente, tanto lutaram pela candidatura Dilma e contra a mídia corporativa que a Folha representa, a reação foi um histérico cala-a-boca, seguido de tentativas grosseiras de desqualificação do interlocutor. Mal posso acreditar que depois de todos os escândalos e absurdos de um jornal que denunciei implacavelmente, vivi para ver alguns petistas igualarem-se a Marcelo Tas e elogiar a Folha por gozar as próprias mancadas. Foi um espetáculo doloroso.
O “argumento” dos que defendem incondicionalmente a presença de Dilma na Barão de Limeira? "Não era a pessoa Dilma Rousseff quem lá estava, mas a presidenta". Trata-se de uma premissa duplamente falaciosa: em primeiro lugar, porque não é possível dissociar uma de outra, e foi uma presidenta esquerdista, ex-guerrilheira, de um governo vilipendiado pela imprensa quem o povo brasileiro elegeu. Em segundo porque não há razão objetiva nenhuma para um presidente prestigiar a festa de um grupo privado de comunicação, ainda mais sendo este um dos principais responsáveis pela derrocada ética do jornalismo brasileiro. Se Dilma acha que com esse gesto angariará a leniência dos Frias então estamos mesmo perdidos.
Momento é de Desencanto
A nova presidente fez sua opção, e é pela mídia corporativa. Seu desprezo pela militância virtual que a ajudou a eleger-se é evidente e mesmo se algum desagravo vier a público nos próximos dias será meramente reativo, prêmio de consolação. O simbolismo do gesto da presidenta acabou por transferir a crise, da imprensa para a blogosfera.
Foi, como disse, um tapaço na cara da blogosfera – o qual, espero, derrube nossa auréola, faça-nos despertar e sair da bolha de certezas e auto-congratulação em que muitos de nós nos metemos. Aliás, uma das coisas mais assustadoras no maravilhoso mundo não tão novo dos blogs é seu excesso de certezas e escassez de dúvidas, o seu sem-número de opiniões mas sua carência de embasamento.
De minha parte, neste momento de desencanto, sinto o que o momento é de voltar aos livros, buscar na sabedoria de longo prazo que só eles oferecem inspiração e subsídios para entender mais esse tremendo retrocesso da esquerda brasileira.
Eduardo Guimarães afirmou ontem que perdeu muitos negócios por conta da dedicação a seu blog e à militância virtual; eu, para me dedicar a esta e a este espaço bem mais modesto, não perdi dinheiro, mas adiei o lançamento de livros e diminuí minha produção como autor acadêmico. É momento de rever prioridades e de aquietar meu lado militante e minha identificação com movimentos e partidos. Este blog continuará, mas com uma pauta mais diversificada e com textos mais leves, fiel à paixão ao jornalismo, ao cinema e à cultura em geral.
A despeito de seu triste e revoltante final, foi gratificante tomar parte da primavera digital. Mas, como diz a canção, todo carnaval tem seu fim.
Nota:
[1] No que concerne especificamente a tais problemas de caixa, a minha crítica não é a Lula por tê-la deixado – isso fatalmente aconteceria no bojo de um crescimento expressivo da economia, ainda mais em ano eleitoral -, mas à retomada da ortodoxia neoliberal promovida por Dilma para lidar com a questão, priorizando uma vez mais o mercado e o grande capital - em detrimento de assalariados e desempregados - ao invés de adotar medidas menos traumáticas, alongando o perfil do pagamento da dívida e fazendo valer o poder de barganha que o Brasil, ótimo pagador, angariou nos últimos anos. Porém, o próprio esforço dos que não admitem nenhuma crítica a Lula ou a Dilma para negar o buraco no caixa é sintomático do quão contaminados estão por premissas do ideário neoliberal no que tange à administração da macroeconomia do país. É a prova da presença insidiosa do neoliberalismo em mentes que se crêem de esquerda.
O debate político brasileiro vive um momento tenso e contraditório. Embora seja inegável o salto qualitativo propiciado por uma maior penetração de blogs não-corporativos nos dois ou três últimos anos, certos vícios que caracterizaram a atuação de setores da blogosfera no período cobram, enfim, o custo de sua incongruência.
Pertence à lógica mais elementar, inescapável, a conclusão de que se o governo Dilma impinge ao país, neste momento, um duríssimo choque anticíclico - como não se viu igual sequer no turbulento início da presidência de Lula, herdeiro da “herança maldita” tucana – o faz porque há um grave problema com as contas deixadas pelo ex-presidente. Negar a evidência de um pronunciado déficit equivale a incorrer em desonestidade intelectual em nome de interesses político-ideológicos [1].
E distorcer os fatos em nome de tal modalidade de interesses é precisamente a acusação que, de forma muito justa, é recorrentemente feita contra a mídia corporativa. Portanto, os blogueiros que apoiam incondicionalmente o governo, não importando quão grave sejam as medidas que este toma, não estão se apercebendo do risco de se igualarem ao “Pig” que tanto criticam.
Dicotomias burras
De minha parte, estou cheio dessas divisões absolutistas e maniqueístas entre nós (os puros) e eles (os corruptos), PT x PSDB, blogosfera independente x mídia corporativa, Lula x FHC, Brasil x EUA. Que me desculpem os fanáticos, mas o mundo não é em preto e branco.
Também me encheu o simplismo fácil com que se usa o termo multiuso PIG (Partido da Mídia Golpista) como explicação para todos os males que nos afligem, como se uma atividade complexa e que envolve milhares de profissionais pudesse ser sempre, inapelavelmente, em qualquer contexto, associada a um rótulo jocoso que não poucas vezes tem servido de bode expiatório e de desculpa para que a esquerda deixe de olhar para seu próprio umbigo e reconhecer seus erros e contradições.
E, por fim, embora considere Lula, disparado, o melhor presidente que o país já teve, não estou disposto a consentir com seu processo de canonização e mitificação, em pleno andamento, e que o presume um ser perfeito, imune a mancadas ou erros e isento de responsabilidades, com uma manada feroz atacando, a la Inquisição Espanhola, quem ousa fazer qualquer restrição ou crítica. Ora, uma das grandezas maiores de Lula, tanto no espectro político quanto humano, é precisamente ter aprendido com seus erros e derrotas e a partir deles se aprimorado para se tornar o excelente presidente que foi e o notável ser humano que é. Santificar Lula, na verdade, o diminui, ao invés de engrandecê-lo.
Cai na real, blogosfera
Não bastasse essa crise ética que se manifesta em setores da blogosfera e os torna similar, em dissimulações interesseiras, à mídia corporativa que tanto criticam, Dilma Rousseff, após ter dispensado, por conta do episódio da licença Creative Commons no MinC, um tratamento no mínimo desrespeitoso aos ativistas digitais que tanto a apoiaram, presta-se ao lamentável papel de voar de Brasília para São Paulo para prestigiar, ao lado de toda a fauna tucana, os 90 anos da publicação que mais decaiu eticamente no Brasil na última década, a ponto de dar voz a um aloprado que “denunciou” Lula como estuprador e de estampar ficha policial falsa da pré-candidata Dilma na capa. E compareceu à festa na capital paulista sem um mísero pedido de desculpas em troca.
Ante a reação indignada de setores da blogosfera contra esse autêntico tapa na cara dos que, gratuita e dedicadamente, tanto lutaram pela candidatura Dilma e contra a mídia corporativa que a Folha representa, a reação foi um histérico cala-a-boca, seguido de tentativas grosseiras de desqualificação do interlocutor. Mal posso acreditar que depois de todos os escândalos e absurdos de um jornal que denunciei implacavelmente, vivi para ver alguns petistas igualarem-se a Marcelo Tas e elogiar a Folha por gozar as próprias mancadas. Foi um espetáculo doloroso.
O “argumento” dos que defendem incondicionalmente a presença de Dilma na Barão de Limeira? "Não era a pessoa Dilma Rousseff quem lá estava, mas a presidenta". Trata-se de uma premissa duplamente falaciosa: em primeiro lugar, porque não é possível dissociar uma de outra, e foi uma presidenta esquerdista, ex-guerrilheira, de um governo vilipendiado pela imprensa quem o povo brasileiro elegeu. Em segundo porque não há razão objetiva nenhuma para um presidente prestigiar a festa de um grupo privado de comunicação, ainda mais sendo este um dos principais responsáveis pela derrocada ética do jornalismo brasileiro. Se Dilma acha que com esse gesto angariará a leniência dos Frias então estamos mesmo perdidos.
Momento é de Desencanto
A nova presidente fez sua opção, e é pela mídia corporativa. Seu desprezo pela militância virtual que a ajudou a eleger-se é evidente e mesmo se algum desagravo vier a público nos próximos dias será meramente reativo, prêmio de consolação. O simbolismo do gesto da presidenta acabou por transferir a crise, da imprensa para a blogosfera.
Foi, como disse, um tapaço na cara da blogosfera – o qual, espero, derrube nossa auréola, faça-nos despertar e sair da bolha de certezas e auto-congratulação em que muitos de nós nos metemos. Aliás, uma das coisas mais assustadoras no maravilhoso mundo não tão novo dos blogs é seu excesso de certezas e escassez de dúvidas, o seu sem-número de opiniões mas sua carência de embasamento.
De minha parte, neste momento de desencanto, sinto o que o momento é de voltar aos livros, buscar na sabedoria de longo prazo que só eles oferecem inspiração e subsídios para entender mais esse tremendo retrocesso da esquerda brasileira.
Eduardo Guimarães afirmou ontem que perdeu muitos negócios por conta da dedicação a seu blog e à militância virtual; eu, para me dedicar a esta e a este espaço bem mais modesto, não perdi dinheiro, mas adiei o lançamento de livros e diminuí minha produção como autor acadêmico. É momento de rever prioridades e de aquietar meu lado militante e minha identificação com movimentos e partidos. Este blog continuará, mas com uma pauta mais diversificada e com textos mais leves, fiel à paixão ao jornalismo, ao cinema e à cultura em geral.
A despeito de seu triste e revoltante final, foi gratificante tomar parte da primavera digital. Mas, como diz a canção, todo carnaval tem seu fim.
Nota:
[1] No que concerne especificamente a tais problemas de caixa, a minha crítica não é a Lula por tê-la deixado – isso fatalmente aconteceria no bojo de um crescimento expressivo da economia, ainda mais em ano eleitoral -, mas à retomada da ortodoxia neoliberal promovida por Dilma para lidar com a questão, priorizando uma vez mais o mercado e o grande capital - em detrimento de assalariados e desempregados - ao invés de adotar medidas menos traumáticas, alongando o perfil do pagamento da dívida e fazendo valer o poder de barganha que o Brasil, ótimo pagador, angariou nos últimos anos. Porém, o próprio esforço dos que não admitem nenhuma crítica a Lula ou a Dilma para negar o buraco no caixa é sintomático do quão contaminados estão por premissas do ideário neoliberal no que tange à administração da macroeconomia do país. É a prova da presença insidiosa do neoliberalismo em mentes que se crêem de esquerda.
4 comentários:
Maravilha de texto.
Tenho presenciado movimentos de cultura e também tenho essa sensação do simplismo exagerado, seguido de conivência e a falta de reflexão própria do movimento.
Será isso efeito da tal mitificação do governo Lula? Inegável que tenha havido isso. Ou de imaturidade política do povo brasileiro? Por mais que não goste de generalizações, as vezes parece ser o caso.
Vou esperar o amigo voltar dos livros e tentar compartilhar mais reflexões com ele. Eu mesma sigo seu conselho.
André Lux disse em resposta ao autor:
Desculpe amigo, mas sou obrigado a discordar do seu texto, que é bem primário e cheio de inverdades por sinal.
Explico.
Primeiro, você apela para um sofisma para desqualificar a blogosfera ao afirmar que ela tenta "canonizar e beatificar" Lula. Não vi ninguém fazendo isso. O que vejo são simplesmente pessoas dando a Lula o crédito que merece: o de melhor presidente da história do Brasil - e isso nem era algo difícil de conquistar, já que os presidentes anteriores a eles (ditadores inclusive) foram muito, mas muito ruins. Desafio você a dar o link para todos esses textos que querem "canonizar" o Lula na blogosfera - até porque quem acusa tem que provar, ao menos que eu tenha me enganado.
Segundo: você tenta qualificar como "herança maldita" o abacaxi que Lula deixou para Dilma como sendo fruto de incompetência ou de erros dele. Aí é ingenuidade sua. Todos nós sabíamos que as coisas não andavam tão bem com a economia - em grande parte devido à crise gravíssima que o capitalismo mundial atravessa. Mas o fato é que ano passado era ano eleitoral e seria suicídio político para um governo (qualquer governo!) começar a tomar atitudes impopulares para tentar regular a situação - ainda mais quando o adversário da esquerda era um psicopata como Serra que ainda por cima contava com apoio total do PiG. Dilma, portanto, sabia o que a esperava (assim como qualquer um com bom senso) e está fazendo o certo dentro das circustâncias: tomando medidas impopulares, porém necessárias, no início do governo quando ainda pode se dar ao luxo. Sim amigo, a política é algo complexo e é preciso jogar o jogo com lucidez e visão a longo prazo, sabendo a hora de atacar e de defender, algo que certamente incomoda muito os puristas e os ingênuos. Que bom que eles não estão no governo!
Terceiro. Você novamente apela para um sofisma para desmerecer aqueles que criticam o PiG sem tréguas ao dizer que ele possui milhares de profissionais ao seu serviço - muitos dignos do nosso respeito sim - porém "esquece" do principal: quem tem a palavra final do que sai e de que maneira sai no PiG são os editores chefes. E aí a coisa complica, pois estes são pessoas da total confiança dos donos do PiG que, como todos sabemos, são reacionários, elitistas, autoritários, soberbos e antitrabalhistas até os ossos. Portanto, o trabalho daqueles "milhares", no final das contas, tem muito pouco peso frente às decisões de meras "centenas", talvez "dezenas", de manda chuvas totalmente alinhados às doutrinas e ideologias de seus patrões.
Quarto. Você surta e rompe com Dilma porque ela teve a "audácia" de aceitar um convite da Folha para participar da comemoração dos 90 anos do jornaleco golpista. Você e alguns outros encararam isso como uma traição. Direito seu ter essa reação, mas quem lida com política no mundo real e não apenas no mundo das idéias sabe que muitas vezes um gesto de grandeza fere o inimigo muito mais do que um gesto de violência. Ao aceitar ir ao evento e ser a principal oradora, Dilma dá uma estocada de mestre em toda aquela corja de papagaios e capachos que tanto a agrediram só para agradar o chefinho deles. E uma estocada ainda maior no próprio chefinho! Afinal, todos tiveram que engolir a presença dela na festa deles como a PRESIDENTA DA REPÚBLICA, eleita democraticamente, a despeito de TUDO que fizeram para impedir tal ato. Eu, se estivesse no lugar dela e com a experiência que tenho hoje, faria EXATAMENTE a mesma coisa. E sairia de lá gargalhando. Muito melhor do que dar uma de orgulhoso e não ir ao tal evento, só para no dia seguinte ser chamado de "pequeno", "mesquinho", "indigno de ocupar a Presidência da República" e outras ofensas que eles estavam loucos para escrever ao meu respeito, não?
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/mauricio-caleiro-primavera-digital-chega-ao-fim.html
Creio que o artigo tem seus pontos altos mas padece do mal que pretende criticar: é repleto de certezas e tira conclusões precipitadas, ideologicamente construídas. Não podemos cair na falácia de qualificar Dilma Rousseff como liberal ou ortodoxa. A chefe do processo de desenvolvimento do governo Lula foi ela. Lula entende bem de política e pouco de economia! A decisão do governo Dilma não é mero ajoelhar diante da teoria econômica neo-liberal, antes é um passo atrás com vistas a possibilitar um desenvolvimento sustentável de longo prazo. Se continuarmos na toada anterior, seríamos vítimas de um crise inflacionária, um monstro macroeconômico que gera miséria e aprofunda desigualdades. A ação do Estado no governo Lula, administrada por Dilma, para enfrentar a crise foi eficiente e todos reconhecemos isso. No entanto, não se pode manter a mesma dinâmica por tempo indeterminado.
Reitero o apoio ao governo Dilma e espero que a gestão dos recursos públicos seja marcado por maior eficiência do que no governo anterior com vistas a um desenvolvimento eficiente e de longo prazo.
Já tem resposta:
Do André Lux
http://tudo-em-cima.blogspot.com/
Reproduzo abaixo o texto que postei no blog do autor do texto:
Desculpe amigo, mas sou obrigado a discordar do seu texto, que é bem primário e cheio de inverdades por sinal.
Explico.
Primeiro, você apela para um sofisma para desqualificar a blogosfera ao afirmar que ela tenta "canonizar e beatificar" Lula. Não vi ninguém fazendo isso. O que vejo são simplesmente pessoas dando a Lula o crédito que merece: o de melhor presidente da história do Brasil - e isso nem era algo difícil de conquistar, já que os presidentes anteriores a eles (ditadores inclusive) foram muito, mas muito ruins. Desafio você a dar o link para todos esses textos que querem "canonizar" o Lula na blogosfera - até porque quem acusa tem que provar, ao menos que eu tenha me enganado.
Segundo: você tenta qualificar como "herança maldita" o abacaxi que Lula deixou para Dilma como sendo fruto de incompetência ou de erros dele. Aí é ingenuidade sua. Todos nós sabíamos que as coisas não andavam tão bem com a economia - em grande parte devido à crise gravíssima que o capitalismo mundial atravessa. Mas o fato é que ano passado era ano eleitoral e seria suicídio político para um governo (qualquer governo!) começar a tomar atitudes impopulares para tentar regular a situação - ainda mais quando o adversário da esquerda era um psicopata como Serra que ainda por cima contava com apoio total do PiG. Dilma, portanto, sabia o que a esperava (assim como qualquer um com bom senso) e está fazendo o certo dentro das circustâncias: tomando medidas impopulares, porém necessárias, no início do governo quando ainda pode se dar ao luxo. Sim amigo, a política é algo complexo e é preciso jogar o jogo com lucidez e visão a longo prazo, sabendo a hora de atacar e de defender, algo que certamente incomoda muito os puristas e os ingênuos. Que bom que eles não estão no governo!
Terceiro. Você novamente apela para um sofisma para desmerecer aqueles que criticam o PiG sem tréguas ao dizer que ele possui milhares de profissionais ao seu serviço - muitos dignos do nosso respeito sim - porém "esquece" do principal: quem tem a palavra final do que sai e de que maneira sai no PiG são os editores chefes. E aí a coisa complica, pois estes são pessoas da total confiança dos donos do PiG que, como todos sabemos, são reacionários, elitistas, autoritários, soberbos e antitrabalhistas até os ossos. Portanto, o trabalho daqueles "milhares", no final das contas, tem muito pouco peso frente às decisões de meras "centenas", talvez "dezenas", de manda chuvas totalmente alinhados às doutrinas e ideologias de seus patrões.
íntegra no blog do André
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