Por Cida de Oliveira, na Rede Brasil Atual:
Elas fazem o sucesso comercial da maior empresa brasileira de cosméticos, mas não têm qualquer vínculo empregatício ou direito trabalhista e ainda assumem diversos riscos financeiros. Estas são as principais constatações da pesquisa "Make up do trabalho: uma empresa e um milhão de revendedoras de cosméticos", para o doutoramento da socióloga Ludmila Costhek Abílio pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo o estudo, a empresa é um exemplo da exploração do trabalho e das injustiças que deixaram de ser discutidas diante da ameaça do desemprego. Ao mesmo tempo em que transmite a imagem de companhia moderna e comprometida com a preservação ambiental, explora o trabalho informal de aproximadamente 1 milhão de revendedoras, contingente equivalente à população de Campinas (SP), que se expõe a riscos inclusive financeiros numa atividade que raramente é reconhecida pela sociedade como um trabalho.
Procurada desde segunda-feira (15), a Natura não apresentou posição oficial sobre o tema, nem esclareceu a forma como as revendedoras são tratadas. Na página da empresa na internet, são apresentados 10 motivos para ser uma "consultora", incluindo "alta lucratividade", a flexibilidade de horário e compromissos socioambientais da companhia.
A pesquisa da Unicamp aborda aspectos relacionados à informalização e precarização do trabalho dentro de um segmento denominado Sistema de Vendas Diretas. A Natura foi escolhida por se se tratar de uma empresa brasileira multinacional líder de mercado e de reconhecido sucesso comercial. A marca está presente em sete países da América Latina e também na França.
A relação entre as chamadas consultoras e a empresa constitui um fenômeno social importante. Afinal são pessoas cujo trabalho, mesmo informal, contribui para o êxito da marca e a realização da distribuição dos produtos, inclusive internacionalmente.
Conforme a pesquisa, a relação entre a Natura e as consultoras é ambígua porque elas são tratadas igualmente como revendedoras e consumidoras. Muitas começam a vender os produtos para poder consumi-los. Ou seja, parte do que seria seu lucro é revertido em itens para uso próprio. Mas, para a empresa, o primordial é a relação de venda com as consultoras.
O que acontece entre elas e seus clientes não afeta de fato a acumulação da empresa, que determina uma pontuação mínima para os pedidos (cujo valor médio equivale a aproximadamente R$ 250), e formaliza a relação com as consultoras via boleto bancário. Novos pedidos só podem ser feitos quando a consultora tiver quitado as faturas anteriores. Para tornar-se uma "representante" da marca, a interessada precisa fazer um cadastro, ser maior de 18 anos e comprovar que não tem impedimentos financeiros em sistema de proteção ao crédito ligados ao seu CPF. Cumpridas as exigências, a candidata está liberada para comprar os produtos da empresa com 30% de desconto, o equivalente à comissão pelas vendas.
Como nem sempre essa revendedora consegue atingir a cota mínima para fechar o pedido, a alternativa quase sempre é vender os produtos que adquiriu para uso próprio para outras pessoas. O passo seguinte é aproveitar as promoções do tipo "compre um perfume e ganhe outro". Quando se dá conta, ela começa a fazer um estoque em casa, até para ter itens de pronta entrega e não perder vendas. O aspecto é interessante, segundo a pesquisa, porque configura transferência de risco da empresa para a trabalhadora.
As vendas da empresa para a rede de consultoras é muito segura. Caso descumpram o compromisso assumido, podem ser protestadas. O índice de inadimplência é próximo a 1%, mas as revendedoras, ainda segundo o estudo, e elas não têm a mesma garantia em relação a sua clientela – estão sujeitas a calotes.
A pesquisadora entrevistou faxineiras, professoras, donas de casa, mulheres de altos executivos e até uma delegada da Polícia Federal (que vende os cosméticos no prédio da própria corporação), ao longo do expediente. Algumas disseram vender muito e alcançar bons ganhos, o que é minoria. Em 2009, a empresa divulgou que, para 22% das mulheres consultoras, esta é sua ocupação principal.
A pesquisa constatou ainda que, apesar de dedicar muito do seu tempo à venda dos cosméticos e de enfrentar uma série de dificuldades, essas mulheres dificilmente são vistas como trabalhadoras. A atividade é considerada algo lúdico, quase um lazer, ou no máximo, um bico. Mas a pesquisadora diz que que claramente essas mulheres são trabalhadoras. Tanto que a atividade assume um papel central no sucesso empresarial da Natura.
Elas fazem o sucesso comercial da maior empresa brasileira de cosméticos, mas não têm qualquer vínculo empregatício ou direito trabalhista e ainda assumem diversos riscos financeiros. Estas são as principais constatações da pesquisa "Make up do trabalho: uma empresa e um milhão de revendedoras de cosméticos", para o doutoramento da socióloga Ludmila Costhek Abílio pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo o estudo, a empresa é um exemplo da exploração do trabalho e das injustiças que deixaram de ser discutidas diante da ameaça do desemprego. Ao mesmo tempo em que transmite a imagem de companhia moderna e comprometida com a preservação ambiental, explora o trabalho informal de aproximadamente 1 milhão de revendedoras, contingente equivalente à população de Campinas (SP), que se expõe a riscos inclusive financeiros numa atividade que raramente é reconhecida pela sociedade como um trabalho.
Procurada desde segunda-feira (15), a Natura não apresentou posição oficial sobre o tema, nem esclareceu a forma como as revendedoras são tratadas. Na página da empresa na internet, são apresentados 10 motivos para ser uma "consultora", incluindo "alta lucratividade", a flexibilidade de horário e compromissos socioambientais da companhia.
A pesquisa da Unicamp aborda aspectos relacionados à informalização e precarização do trabalho dentro de um segmento denominado Sistema de Vendas Diretas. A Natura foi escolhida por se se tratar de uma empresa brasileira multinacional líder de mercado e de reconhecido sucesso comercial. A marca está presente em sete países da América Latina e também na França.
A relação entre as chamadas consultoras e a empresa constitui um fenômeno social importante. Afinal são pessoas cujo trabalho, mesmo informal, contribui para o êxito da marca e a realização da distribuição dos produtos, inclusive internacionalmente.
Conforme a pesquisa, a relação entre a Natura e as consultoras é ambígua porque elas são tratadas igualmente como revendedoras e consumidoras. Muitas começam a vender os produtos para poder consumi-los. Ou seja, parte do que seria seu lucro é revertido em itens para uso próprio. Mas, para a empresa, o primordial é a relação de venda com as consultoras.
O que acontece entre elas e seus clientes não afeta de fato a acumulação da empresa, que determina uma pontuação mínima para os pedidos (cujo valor médio equivale a aproximadamente R$ 250), e formaliza a relação com as consultoras via boleto bancário. Novos pedidos só podem ser feitos quando a consultora tiver quitado as faturas anteriores. Para tornar-se uma "representante" da marca, a interessada precisa fazer um cadastro, ser maior de 18 anos e comprovar que não tem impedimentos financeiros em sistema de proteção ao crédito ligados ao seu CPF. Cumpridas as exigências, a candidata está liberada para comprar os produtos da empresa com 30% de desconto, o equivalente à comissão pelas vendas.
Como nem sempre essa revendedora consegue atingir a cota mínima para fechar o pedido, a alternativa quase sempre é vender os produtos que adquiriu para uso próprio para outras pessoas. O passo seguinte é aproveitar as promoções do tipo "compre um perfume e ganhe outro". Quando se dá conta, ela começa a fazer um estoque em casa, até para ter itens de pronta entrega e não perder vendas. O aspecto é interessante, segundo a pesquisa, porque configura transferência de risco da empresa para a trabalhadora.
As vendas da empresa para a rede de consultoras é muito segura. Caso descumpram o compromisso assumido, podem ser protestadas. O índice de inadimplência é próximo a 1%, mas as revendedoras, ainda segundo o estudo, e elas não têm a mesma garantia em relação a sua clientela – estão sujeitas a calotes.
A pesquisadora entrevistou faxineiras, professoras, donas de casa, mulheres de altos executivos e até uma delegada da Polícia Federal (que vende os cosméticos no prédio da própria corporação), ao longo do expediente. Algumas disseram vender muito e alcançar bons ganhos, o que é minoria. Em 2009, a empresa divulgou que, para 22% das mulheres consultoras, esta é sua ocupação principal.
A pesquisa constatou ainda que, apesar de dedicar muito do seu tempo à venda dos cosméticos e de enfrentar uma série de dificuldades, essas mulheres dificilmente são vistas como trabalhadoras. A atividade é considerada algo lúdico, quase um lazer, ou no máximo, um bico. Mas a pesquisadora diz que que claramente essas mulheres são trabalhadoras. Tanto que a atividade assume um papel central no sucesso empresarial da Natura.
3 comentários:
Natura é um exemplo de diversas empresas que adotam a mesma postura, no ramo de lingeries a situação é bem parecida. até quando o Ministério do Trabalho fará vista grossa?
Realmente as "consultoras" da Natura trabalham de forma autônoma, tudo o que está escrito no blog procede. Não estou aqui defendendo a empresa de forma alguma, mas todas as pessoas que trabalham desta forma (grande maioria), são pessoas esclarecidas e sabem muito bem as regras da empresa. Falo isso, pois minha irmã trabalhou nesta empresa por muitos anos, era funcionária contratada do escritório de Porto Alegre, e também trabalhava como consultora (bico). O que lhe rendia uma boa remuneração, e por vestir a camiseta, que se preocupa sim, com o meio ambiente. Não estou aqui levantando bandeira, por favor longe disso, apenas estou colocando minha opinião e por conhecimento de causa. Minha irmã que era funcionária contratada faleceu em 2007, teve todo o apoio emocional e financeiro da empresa no tempo da sua luta contra a doença,(câncer) inclusive nós familiares tivemos todos os procedimentos necessários nessa área..num momento de grande abalo familiar. Acho que tudo tem dois lados. Ok, as consultoras deveriam ter carteira assinada...mas então, o mesmo vale para as revendedoras Avon..e outras similares. Se é para defender uma classe, que sejam todas. E não colocar o nome Natura em exposição. Unicamente!!!!
Empresário brasileiro é tão bonzinho, hem?
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