Ana Nascimento/ABr |
Em discurso na abertura de um congresso nacional contra a corrupção, organizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro criticou duramente nesta quinta-feira (20) o modo como a mídia conduz as discussões políticas no Brasil, em especial no que se refere à corrupção.
“Criou-se um jornalismo de denúncia, que julga e condena. Usam a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las”, afirmou Tarso. Dizendo que as campanhas contra a corrupção podem estar gerando o “ovo da serpente”, o governador gaúcho pediu que se reforce o poder das instituições, como forma de promover um efetivo combate a esse tipo de crime.
Tarso Genro começou falando sobre os recentes protestos contra o sistema financeiro que tomaram conta do mundo. Referindo-se aos manifestantes como “indignados”, o governador aproveitou para dar uma cutucada pouco sutil no grupo que pedia o fim da corrupção, sob o slogan “Agora Chega”. “Alguns jovens uniformizados cantaram em recentes protestos que ‘povo unido protesta sem partido’”, lembrou. “Para mim, isso é como dizer que povo com dor não precisa de promotor”, alfinetou, provocando desconforto em parte dos presentes.
O governador frisou que não defendia “teorias de conspiração” nem pregava a restrição de liberdade de imprensa. No entanto, durante a maior parte de sua fala, Tarso usou artilharia pesada contra os grandes grupos de mídia, aos quais acusou de tentar instituir uma “justiça paralela” no Brasil.
Segundo ele, os grandes meios de comunicação se apropriaram do problema da corrupção e o usam para os próprios interesses, transformando um crime comum em crime político. “Atualmente, os casos mais graves são investigados pela mídia e divulgados dentro das conveniências dos proprietários dos grandes veículos”, disse Tarso. “Fazem condenações políticas de largas consequências sobre a vida dos atingidos, e tomam para si até o direito de perdão, quando isso se mostra conveniente”, disparou.
Essa justiça paralela, defendeu Tarso, se dá fora do âmbito do Estado e o esvazia. “Regredimos até uma situação que leva o Ministério Público à impotência e o Judiciário à irrelevância. É um fascismo pós-moderno”, descreveu. “É um juízo público, que faz vibrar a classe média ingênua e os adversários políticos do atingido da vez. Mas essas mesmas pessoas podem ser as próximas atingidas, dependendo de como se mover as disputas dentro dos meios de comunicação”.
De acordo com o governador, é justamente aí que reside o risco de tentar-se esvaziar os partidos políticos, eliminando seu papel de mediador entre os grupos sociais e o exercício do poder. “A corrupção não admite mediação”, frisou. E a grande mídia, de acordo com Tarso Genro, coloca a corrupção em primeiro plano nas discussões, deixando de lado problemas que ajudam a seguir existindo como a tutela financeira, as deficiências do sistema político brasileiro e a despreocupação com políticas sociais. O objetivo, afirma Tarso, é abalar a segurança política e a própria imagem das instituições. “Temos que reforçar as instituições e não enfraquecê-las. É o único modo de realmente combater a corrupção”, defendeu.
Em outro momento, o governador gaúcho apontou o suposto interesse de setores midiáticos em pressionar o Legislativo para a aprovação de leis de seu interesse, em especial as que propõem penas mais duras para criminosos. “Sem verdadeiro conhecimento, assumem o posto de especialistas, acabam formando uma criminologia empírica do poder midiático”, disse Tarso Genro. “Cada crime bárbaro ganha ampla projeção. O que reduzirá a criminalidade é a certeza de punição, não a aplicação de penas mais duras. Inúmeras pesquisas e estatísticas nos mostram isso”.
O congresso do MP, que lança a campanha “O que você tem a ver com a corrupção?”, segue nesta sexta-feira na sede do Ministério Público gaúcho, em Porto Alegre.
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