Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Ora, ora, ora pois, quem diria... Mal acabei de chegar de volta à terrinha, o motorista do táxi que peguei em Cumbica me oferece o jornal, e qual é a única grande "novidade"?
José Serra é o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo. Ou melhor, agora é candidato a candidato do PSDB, já que aceitou disputar as prévias do partido marcadas para o próximo domingo.
Dois pré-candidatos já desistiram - Bruno Covas e Andrea Matarazzo, que estavam só guardando lugar para Serra - e dois insistem na disputa - José Anibal e Ricardo Trípoli.
O Brasil está ficando um país cada vez mais previsível - o que não é necessariamente bom ou ruim. Para nós, jornalistas, que vivemos de contar novidades, trata-se de um problema, é verdade, mas a população parece estar gostando de acordar todos os dias do mesmo jeito que foi dormir ontem.
É bom, de um lado, porque vivemos num clima de estabilidade econômica, instituições democráticas em pleno funcionamento, liberdades públicas respeitadas e um mínimo de planejamento administrativo.
O lado negativo fica por conta do ainda e sempre pesado jogo político, com os mesmos personagens de sempre, os partidos preocupados unicamente em manter ou conquistar o poder, a qualquer preço.
"José Serra vem aí? É avolta da velha novela", foi o título do último post que escrevi antes de viajar para a Alemanha na semana do Carnaval.
Naquele momento, já parecia claro que tinha dado certo a jogada do PSD do prefeito Gilberto Kadssab de se oferecer ao PT de Lula para obrigar Serra a ser candidato.
O texto premonitório terminava assim:
"Em conversa com tucanos, segundo o noticiário da Folha, Serra avaliou que seria um desastre para qualquer projeto do PSDB uma aliança entre o PT e o PSD.
Ou seja, para evitar o desastre tucano, só tem um jeito de segurar Kassab: se Serra for o candidato a prefeito.
Ainda outro dia escrevi aqui que esta campanha eleitoral em São Paulo promete fortes emoções. Não percam os próximos capítulos. Estamos só no começo".
Nesta manhã de segunda-feira, o primeiro dia verdadeiramente útil do ano, depois das férias e do Carnaval, com o trânsito todo parado, só deu Serra no noticiário das rádios.
Logo cedo, às nove da manhã, ele anunciou solenemente pelo Twitter, para mostrar que agora é um político moderno, em texto reproduzido pelos locutores:
"Sempre fui favorável às prévias para a escolha do candidato a prefeito do PSDB. E delas pretendo agora participar. Hoje comunicarei por escrito à direção do PSDB de São Paulo minha disposição de disputar a prefeitura de SP".
Poucas semanas atrás, Serra também comunicou oficialmente ao PSDB, por intermédio de estafeta de confianças, que não aceitaria em hipótese alguma disputar mais uma vez as eleições paulistanas.
Por isso, foram programados debates entre os pré-candidatos e confirmadas as prévias. Sem aparecer em público nem dar declarações à imprensa, o ex-goverrnador só se manifestava pelo Twitter ou por seus seguidores mais fiéis.
Como tudo não passa de um grande teatro, que não chega mais a surpreender a platéria, é possível mesmo que o PSDB confirme as prévias para domingo e Serra saia de lá aclamado como candidato pelas "bases do partido".
A política provinciana aqui em São Paulo anda de tal jeito que é preciso mesmo escrever as palavras entre aspas para não enganar o leitor.
Ou alguém pode imaginar que o prefeito Gilberto Kadssab estava sendo absolutamente verdadeiro, agindo por conta própria, sem combinar tudo antes com seu parceiro José Serra, ao "oferecer" o apoio do seu partido a Lula, até indicando o vice para compor a chapa do PT?
Era o mote de que Serra precisava para desistir de desistir da candidatura e ser candidato de novo. A decisão de Serra de partir para o sacrifício para evitar uma aliança do PSD com o PT, até animou os editoriais dos jornalões e de alguns jornaizinhos, mas não foi suficiente para entusiasmar o partido.
Na verdade, não enstusiasmou nem o próprio candidato, a julgar pela nota de Lauro Jardim publicada na revista Veja desta semana, sob o título "Clima de enterro":
Duas semanas atrás, José Serra analisava com um interlocutor a possibilidade de candidatar-se à prefeitura de São Paulo. Comparou a eleição a um enterro: "É enterro, sim. A diferença é que, se eu ganhar, será um enterro com honras militares; se eu perder, será um enterro de indigente".
Belíssima opção, como se vê. Ao dar uma olhada nos jornais da semana passada, vi que as cartas já estavam marcadas. "Serra decide concorrer à Prefeitura de São Paulo", foi a mancherte da Folha de sábado, informando que o ex-governador aceitava disputar as prévias.
Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre as motivações de Kassab ao barganhar apoio para o PT e o PSDB ao mesmo tempo, o vice-governador Guilherme Afif, um dos mentores da criação do PSD, deixou bem claro nesta segunda-feira:
"O PT sempre foi considerado uma terceira alternativa para o PSD. Eram as alternativas que não tínhamos. A primeira era a candidatura de José Serra. A segunda condição era a candidatura própria desde que tivéssemos tempo de televisão".
Desta vez, ao que tudo indica, o feitiço se voltou contra o feiticeiro, e o mágico Lula, capaz de dar nó em pingo d'água na sua política de alianças, desta vez levou uma rasteira da dupla Serra-Kassab.
A não ser que aconteçam novas reviravoltas na novela, teremos este ano na eleição paulistana uma repetição da disputa entre Lula e Serra na campanha presidencial de 2002.
Com a diferença de que, agora, Serra é o candidato de Serra e o candidato de Lula chama-se Fernando Haddad, que ainda não foi testado em eleições.
É verdade, também, que, em 2010, a candidata de Lula era Dilma Rousseff, sem experiência eleitoral anterior. E o tucano José Serra perdeu pela segunda vez uma disputa presidencial para o PT.
Façam suas apostas, caros leitores. O jogo está aberto. Quem se habilita?
Ora, ora, ora pois, quem diria... Mal acabei de chegar de volta à terrinha, o motorista do táxi que peguei em Cumbica me oferece o jornal, e qual é a única grande "novidade"?
José Serra é o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo. Ou melhor, agora é candidato a candidato do PSDB, já que aceitou disputar as prévias do partido marcadas para o próximo domingo.
Dois pré-candidatos já desistiram - Bruno Covas e Andrea Matarazzo, que estavam só guardando lugar para Serra - e dois insistem na disputa - José Anibal e Ricardo Trípoli.
O Brasil está ficando um país cada vez mais previsível - o que não é necessariamente bom ou ruim. Para nós, jornalistas, que vivemos de contar novidades, trata-se de um problema, é verdade, mas a população parece estar gostando de acordar todos os dias do mesmo jeito que foi dormir ontem.
É bom, de um lado, porque vivemos num clima de estabilidade econômica, instituições democráticas em pleno funcionamento, liberdades públicas respeitadas e um mínimo de planejamento administrativo.
O lado negativo fica por conta do ainda e sempre pesado jogo político, com os mesmos personagens de sempre, os partidos preocupados unicamente em manter ou conquistar o poder, a qualquer preço.
"José Serra vem aí? É avolta da velha novela", foi o título do último post que escrevi antes de viajar para a Alemanha na semana do Carnaval.
Naquele momento, já parecia claro que tinha dado certo a jogada do PSD do prefeito Gilberto Kadssab de se oferecer ao PT de Lula para obrigar Serra a ser candidato.
O texto premonitório terminava assim:
"Em conversa com tucanos, segundo o noticiário da Folha, Serra avaliou que seria um desastre para qualquer projeto do PSDB uma aliança entre o PT e o PSD.
Ou seja, para evitar o desastre tucano, só tem um jeito de segurar Kassab: se Serra for o candidato a prefeito.
Ainda outro dia escrevi aqui que esta campanha eleitoral em São Paulo promete fortes emoções. Não percam os próximos capítulos. Estamos só no começo".
Nesta manhã de segunda-feira, o primeiro dia verdadeiramente útil do ano, depois das férias e do Carnaval, com o trânsito todo parado, só deu Serra no noticiário das rádios.
Logo cedo, às nove da manhã, ele anunciou solenemente pelo Twitter, para mostrar que agora é um político moderno, em texto reproduzido pelos locutores:
"Sempre fui favorável às prévias para a escolha do candidato a prefeito do PSDB. E delas pretendo agora participar. Hoje comunicarei por escrito à direção do PSDB de São Paulo minha disposição de disputar a prefeitura de SP".
Poucas semanas atrás, Serra também comunicou oficialmente ao PSDB, por intermédio de estafeta de confianças, que não aceitaria em hipótese alguma disputar mais uma vez as eleições paulistanas.
Por isso, foram programados debates entre os pré-candidatos e confirmadas as prévias. Sem aparecer em público nem dar declarações à imprensa, o ex-goverrnador só se manifestava pelo Twitter ou por seus seguidores mais fiéis.
Como tudo não passa de um grande teatro, que não chega mais a surpreender a platéria, é possível mesmo que o PSDB confirme as prévias para domingo e Serra saia de lá aclamado como candidato pelas "bases do partido".
A política provinciana aqui em São Paulo anda de tal jeito que é preciso mesmo escrever as palavras entre aspas para não enganar o leitor.
Ou alguém pode imaginar que o prefeito Gilberto Kadssab estava sendo absolutamente verdadeiro, agindo por conta própria, sem combinar tudo antes com seu parceiro José Serra, ao "oferecer" o apoio do seu partido a Lula, até indicando o vice para compor a chapa do PT?
Era o mote de que Serra precisava para desistir de desistir da candidatura e ser candidato de novo. A decisão de Serra de partir para o sacrifício para evitar uma aliança do PSD com o PT, até animou os editoriais dos jornalões e de alguns jornaizinhos, mas não foi suficiente para entusiasmar o partido.
Na verdade, não enstusiasmou nem o próprio candidato, a julgar pela nota de Lauro Jardim publicada na revista Veja desta semana, sob o título "Clima de enterro":
Duas semanas atrás, José Serra analisava com um interlocutor a possibilidade de candidatar-se à prefeitura de São Paulo. Comparou a eleição a um enterro: "É enterro, sim. A diferença é que, se eu ganhar, será um enterro com honras militares; se eu perder, será um enterro de indigente".
Belíssima opção, como se vê. Ao dar uma olhada nos jornais da semana passada, vi que as cartas já estavam marcadas. "Serra decide concorrer à Prefeitura de São Paulo", foi a mancherte da Folha de sábado, informando que o ex-governador aceitava disputar as prévias.
Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre as motivações de Kassab ao barganhar apoio para o PT e o PSDB ao mesmo tempo, o vice-governador Guilherme Afif, um dos mentores da criação do PSD, deixou bem claro nesta segunda-feira:
"O PT sempre foi considerado uma terceira alternativa para o PSD. Eram as alternativas que não tínhamos. A primeira era a candidatura de José Serra. A segunda condição era a candidatura própria desde que tivéssemos tempo de televisão".
Desta vez, ao que tudo indica, o feitiço se voltou contra o feiticeiro, e o mágico Lula, capaz de dar nó em pingo d'água na sua política de alianças, desta vez levou uma rasteira da dupla Serra-Kassab.
A não ser que aconteçam novas reviravoltas na novela, teremos este ano na eleição paulistana uma repetição da disputa entre Lula e Serra na campanha presidencial de 2002.
Com a diferença de que, agora, Serra é o candidato de Serra e o candidato de Lula chama-se Fernando Haddad, que ainda não foi testado em eleições.
É verdade, também, que, em 2010, a candidata de Lula era Dilma Rousseff, sem experiência eleitoral anterior. E o tucano José Serra perdeu pela segunda vez uma disputa presidencial para o PT.
Façam suas apostas, caros leitores. O jogo está aberto. Quem se habilita?
1 comentários:
Até pode ser que Lula tenha recebido uma rasteira se seu olhar não fosse 2014.
Sim, o Lula está de olho em 2014 ele está construindo todos os alicerces para eleição para governo de estado em 2014, esse bastião ainda não conquistado.
O PT já ganhou duas vezes a prefeitura da capital, isso já não é mistério para o partido, mas até agora não ganhou o palácio dos bandeirantes.
Se nesses anos de análise do que se passa na cabeça engenhosa do Lula e pelo visto é o mesmo da Dilma,valeram a pena, a prefeitura é sim uma vitoria consagradora, mas o olhar desses dois é o palácio dos bandeirantes.
Se o Haddad perder? Sem problema, afinal ele nunca concorreu a nada, agora se José Serra perder são outros quinhentos. O Haddad está sem pressão alguma, afinal a Marta já perdeu para Serra e quando ele assume seu lugar vai sem pressão de fora. Já Serra é puro nervo, se ele perder sela seu futuro não somente,mas o futuro do PSDB.
A pessoa pressionada tende a cometer mais erros que seu adversário, esse vai ser o teor da campanha. Hoje o PT tem um candidato consistente e muito sereno nas tomadas de decisão. Isso é super importante, o Haddad só precisa não cometer erros, já Serra precisa mostrar ao povo de SP que ao concorrer a prefeitura vai até o fim, algo de dificil aceitação.
O povo acredita numa mentira uma vez, duas já é mais dificil.
Voltando a análise do Kostcho, quanto ao Lula ter recebido uma rasteira do Kassab...
O Lula não é homem de não ter um plano B ou C e até D. Ele sabia muito bem que Kassab poderia roer a corda e contava não contando com o Kassab e sim com o PSD.
A sorte não só do Serra, mas do Kassab está lançada, se o Serra perder seu poder de barganha para 2014 reduz-se a zero.
Para um partido iniciante é muito ruim.
Nessa eleição vamos ver a melhor e maior engenheiro politico em ação, mesmo que Haddad perca ( chance quase remota) os ganhos politicos para 2014 serão incalculáveis para o PT.
Eu vou ficar muito triste se Haddad perder, não por causa dele, mas pela visão estreita dos paulistanos. Trotar um homem integro por um corrupto confesso é realmente o fim da picada, mas principalmente que esse corrupto pode ser preso no meio do mandato.
Todo o Brasil hoje trabalha para a revisão da privataria do Serra, FHC e sua turma. Disso não abrimos mão.
A vida do Serra não será nada, mas nada fácil se depender daqueles que viram o que foi aquele 2010. Aquela eleição será inesquecivel por tudo que ela representa, mas principalmente pela forma baixa do adversário jogar.
Esse 2012 é mais do uma prefeitura são os 8 anos que o FHC nos fez engolir com a ajuda da imprensa golpista.
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