quinta-feira, 1 de março de 2012

Terá fim "El baile rojo" na Colômbia?

Por Ismael Cardoso, no sítio Vermelho:

Nota oficial das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), foi divulgada no dia 27 de fevereiro. Nela consta a entrega dos últimos seqüestrados civis do movimento guerrilheiro.

Não entrarei nos porquês da existência de uma guerrilha no território colombiano. As motivações são iguais a todos os movimentos guerrilheiros que pipocaram no século passado no mundo: a luta pela libertação popular, esta é a causa sui generis. Entretanto não faço aqui uma defesa do movimento guerrilheiro, o que a Colômbia precisa é de paz para que seu povo possa seguir o caminho do desenvolvimento e independência que vive outros países da América Latina.

As tentativas de negociar a paz

Não é de hoje que ocorrem tentativas de uma paz negociada, onde os guerrilheiros entregam suas armas e retornam a legalidade. Entretanto, sempre que entregaram suas armas foram cruelmente chacinados.

No governo de Belisário Betancur (1982-1986) iniciaram-se as negociações entre o Estado e os diversos movimentos guerrilheiros. Estas negociações fracassaram e em 1992 o governo declarou guerra integral.

No governo de Andrés Pastrana (1998-2002) as negociações de paz ganharam mais concretude. Pastrana chegou a defender ações avançadas, ele dividiu o drama colombiano da seguinte maneira: de um lado camponeses pobres — que como em todo país andino tem a cultura do plantio de coca — sem alternativa por falta de projetos estatais, de outro lado os verdadeiros traficantes que compram a folha de coca e realizam todo processo de produção da cocaína e, por último, uma guerrilha ideológica. Por tanto, para Pastrana a atuação governamental deveria ocorrer no primeiro caso com incentivo a criação de alternativas aos camponeses, no segundo caso combatendo os traficantes e, em terceiro lugar uma negociação política para que os guerrilheiros entregassem as armas.

“Me refiero a la decisión... de viabilizar la alternatividad productiva... esa erradicación debe complementarse com una estrategia consensuada entre la insurgencia, la comunidad internacional y el Estado colombiano.” [1]

Pastrana foi devidamente enquadrado pelo EUA através do “Plano Colômbia”. A partir de então o termo a ser usado seria “narcoguerrilha”, colocando em pé de igualdade a ser combatido, tanto os camponeses produtores, como os guerrilheiros.

O plano Colômbia tem metas muito duvidosas. Por exemplo: “82% de la ayuda militar de EUA va dirigido a golpear a los cultivadores que participan del 0,67% de precio de venta de las calles de Frankfurt y uma insurgência que beneficia del 1% del jugoso volumen aprovechado por las organizaciones del narcotráfico. Qué sucede entoces, perguntamos, com el crimen organizado que se beneficia del 99% del capital exportador de cocaína?” [2].

Outro aspecto estranho no plano Colômbia é a possibilidade do presidente dos EUA poder deslocar, sem consulta ao congresso nacional, qualquer número de tropas naquela região, caso considere alguma ameaça grave a suas bases já instaladas no território.

A operação Baile Rojo

Em 1985 nos marcos do diálogo das Farc com o governo de Belisário Betancur, fundou-se a União Patriótica (UP), um partido político legalizado, onde ingressaram todas as lideranças guerrilheiras sem armas, pois, tiveram garantias do Estado colombiano de sua integridade física. Parecia nascer neste momento a solução definitiva dos conflitos na Colômbia.

A União Patriótica foi às ruas e participou das eleições de 1986. Alcançaram êxitos jamais conseguidos por nenhuma força de oposição, elegeram 12 deputados, nove congressistas, 14 prefeitos e 350 conselheiros nacionais, entre os deputados, elegeram-se dois comandantes das Farc que haviam entregado as armas.

Passadas as eleições começa a ser executado um plano que seria denunciado no âmbito internacional, chamado El baile rojo. Consistia em assassinar todos os membros da UP que haviam sido eleitos naquele ano de 1986. Ao final do ano de 1989 haviam sido assassinados dois candidatos a presidente, Jaime Pardo Leal (1986) e Bernardo Jaramillo (1989), oito congressistas, 11 prefeitos e milhares de seus militantes.

Não poderia haver outra consequência para tamanha atrocidade: os guerrielheiros que haviam abandonados suas armas voltaram para as matas e o conflito se reiniciou com toda força e brutalidade.

O massacre permanece

No final do ano de 2011, tive a honra de representar a UJS no congresso da Juventude Comunista Colombiana (Juco) e me impressionou um ato que devia ser uma homenagem aos militantes da Juco que saiam do trabalho de juventude naquele congresso e passariam ao trabalho partidário, no Partido Comunista Colombiano (PCC), entretanto, o ato se transformou numa emocionante homenagem aos últimos militantes da Juco que haviam sido assassinados, entre eles, uma jovem de apenas de 16 anos de idade! Pergunto, “El baile rojo” terminou?

A verdade é que o governo colombiano não tem interesse na paz, com o argumento da “narcoguerrilha”, ampliam o massacre as forças de esquerda — diga-se de passagem que o PCC é um partido legalizado, mas, isso não impede o governo de matar seus militantes — e, no limite, não podem permitir que uma corrente política tão poderosa, que num suspiro de liberdade pôde eleger tantos parlamentares e que ganhou a simpatia do povo com seus candidatos a presidente, atue de maneira livre. Este é um risco que eles não querem correr.

Os países da América Latina precisam participar decididamente das negociações de paz, caso contrário, o massacre continuará, dando argumento para ampliação das bases militares estadunidenses em nosso continente. Como se diz na Juco: “por nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas, uma vida inteira de lutas”.

Notas:

1- Pastrana, Andrés. El plan Colômbia: uma Gran Alianza com el Mundo contra el delito Interncional, por los Derechos Humanos, los Derechos Sociales e por la Ecología. 22 de outubro de 1998.

2- Cycedo, Jaime. Paz democrática y emancipación. Colômbia em la hora latinoamericana. Presidente de Partido Comunista Colombiano

* Ismael Cardoso é secretário nacional de Comunicação da UJS

1 comentários:

Anônimo disse...

Por q o pe marcelo não vai trabalhar? Já tem tanto vagabundo por aí...