Por Altamiro Borges
O julgamento sumário do presidente democraticamente eleito teve início às 13h30 (pelo horário de Brasília) e durou apenas cinco horas. Os advogados de Fernando Lugo tiveram menos de duas horas para apresentar a defesa. Na verdade, a decisão golpista já havia sido tomada bem antes – com o apoio das reacionárias elites urbanas e rurais e da mídia empresarial do Paraguai.
Condenação sumária
Reação da Unasul
O Senado do Paraguai, controlado por forças de direita,
acaba de aprovar o impeachment do presidente Fernando Lugo. O golpe de Estado, mascarado
de “saída institucional”, teve o voto favorável de 39 senadores – quatro votaram contra
a destituição e dois se abstiveram. O vice-presidente Federico Franco, que há
muito investia na desestabilização do governo, deverá assumir o cargo.
O julgamento sumário do presidente democraticamente eleito teve início às 13h30 (pelo horário de Brasília) e durou apenas cinco horas. Os advogados de Fernando Lugo tiveram menos de duas horas para apresentar a defesa. Na verdade, a decisão golpista já havia sido tomada bem antes – com o apoio das reacionárias elites urbanas e rurais e da mídia empresarial do Paraguai.
Lugo foi acusado por “mau desempenho” de suas funções e pelo
recente conflito agrário no país, em Curuguaty, que resultou na morte de 11
camponeses e seis policiais. Lugo chegou a apresentar uma ação de
inconstitucionalidade à Suprema Corte de Justiça para suspender o julgamento
político. Conforme denunciou o advogado do presidente, Emílio Camacho, “o que
está acontecendo aqui não é um julgamento, é uma condenação. É a execução de
uma sentença”.
Em entrevista à Rádio 10, da Argentina, Lugo criticou a decisão
e disse que estimulará a resistência, “a partir de outras instâncias
organizacionais... Certamente decidiremos impor uma resistência para que o
âmbito democrático e participativo do Paraguai vá se consolidando”, afirmou.
Para ele, o que ocorreu hoje no Senado “não é mais um golpe de Estado contra o
presidente, é um golpe parlamentar disfarçado de julgamento legal, que serve de
instrumento para um impeachment sem razões válidas que o justifiquem”.
Em frente ao Congresso Nacional, em Assunção, milhares de pessoas
se concentraram para condenar o golpe. Houve protestos também em frente à
residência do golpista Federico Franco. Organizações populares prometem
intensificar as manifestações nos próximos dias, exigindo o retorno da
democracia.
Pouco antes da condenação sumária, a União das Nações
Latino-americanas (Unasul) divulgou nota oficial afirmando que a
destituição de Fernando Lugo constitui “uma ameaça à ordem
democrática” e anunciou que os países membros poderão romper as relações de
cooperação com o Paraguai. A estatal petrolífera venezuelana, PDVSA, antecipou
que poderá cancelar os repasses de combustível feitos à Petropar.
O golpe no Paraguai abre um perigoso precedente na América
do Sul. Fernando Lugo foi eleito presidente em 2008 com 41% dos votos,
interrompendo uma hegemonia de seis décadas do Partido Colorado e o domínio do
país por forças direitistas da elite. Com todas as dificuldades do seu governo,
sempre boicotado pelo parlamento, o “bispo dos pobres” representava a esperança
de mudança para o sofrido povo paraguaio. O golpe visa conter a guinada
progressista no continente.
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