Por Breno Altman, no sítio Opera Mundi:
Por pouco, em 2005, o Brasil não viveu situação semelhante. A oposição, porém, mesmo encorajada pela mídia tradicional, não teve peito para enfrentar o presidente Lula e correr o risco da resistência nas ruas. Mas a direita paraguaia, particularmente encarnada no velho Partido Colorado do falecido ditador Alfredo Stroessner, está apostando em uma empreitada da qual fugiram seus congêneres tupiniquins.
Há reação popular nas ruas de Assunção. Mas esse esforço de resistência pode não ser suficiente para deter o golpe em curso. Uma cartada fundamental será jogada desde o exterior, a partir das ações e inações da União de Nações da América do Sul, a Unasul. Uma delegação de chanceleres foi despachada à capital paraguaia para protestar contra o levante antidemocrático.
Se falar grosso e colocar os golpistas em seu devido lugar, a Unasul terá sucesso em seu batismo diplomático. Caso mie como um gatinho, adotando um discurso pasteurizado e anódino, vai passar vergonha e envelhecerá antes da hora. Trata-se, afinal, de demonstrar que é antípoda da Organização dos Estados Americanos, a OEA, o ministério da colonização a serviço da Casa Branca, como certa vez foi qualificada por Fidel Castro. Aliás, alguém quer apostar qual será o comportamento dos EUA e seus afilhados continentais?
Por enquanto, o bom exemplo veio do presidente boliviano Evo Morales, que deu nome aos bois e denunciou a ação em curso como um golpe institucional. O mau passo foi dado pelo Itamaraty, que publicamente não manifestou mais que sua “apreensão” pelos acontecimentos, em uma linguagem empolada e hesitante. Rapidinha em ceder às pressões fundamentalistas do Vaticano contra os direitos das mulheres, a diplomacia brasileira parece cheia de cuidados quando é o momento de matar a cobra do golpismo.
Não há tempo a perder. Os diplomatas, se necessários, devem ser atropelados pelos dirigentes políticos e pelos estadistas. O recado tem que ser curto e grosso: se o presidente Lugo for derrubado, seus eventuais e ilegitimos sucessores serão tratados como párias, condenados ao mais duro isolamento e caçados como inimigos da democracia.
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