De uma semana para outra, as eleições municipais viraram apenas pano de fundo para os atores que se movimentam no palco já pensando na sucessão de Dilma Rousseff em 2014.
Entre eles, ganha cada vez mais destaque o governador pernambucano Eduardo Campos, presidente nacional do PSB. Campeão de votos nas eleições de 2010, Campos rapidamente ganhou projeção nacional e se tornou peça-chave no tabuleiro da sucessão presidencial.
Até a presidente Dilma, candidata natural à reeleição, que pretendia se manter distante da campanha eleitoral deste ano, viu-se obrigada a entrar no jogo.
O racha do PT com o PSB em Belo Horizonte, a exemplo do que já havia acontecido no Recife e em Fortaleza, foi a gota d´água para deflagrar um processo previsto para acontecer só após as eleições de outubro.
Em Belo Horizonte, entraram em cena os principais personagens que se movimentam para 2014, levando Dilma a agir com rapidez para não perder o controle do jogo sucessário.
Ao rifar o PT da chapa de vereadores e provocar o rompimento com seu tradicional aliado, o socialista Eduardo Campos, de um lado, e o senador tucano Aécio Neves, de outro, com a prestimosa ajuda de Ciro Gomes, procuraram isolar o partido de Dilma e Lula em Minas.
Estava tudo certo para se repetir este ano em Belo Horizonte a dobradinha do prefeito Márcio Lacerda, político do PSB ligado a Ciro Gomes, com um vice do PT numa coligação com o PSDB de Aécio Neves, mas a disputa de 2014 precipitou o desenlace.
Dilma chamou ao Palácio do Planalto a responsabilidade de bancar a candidatura petista do ex-ministro Patrus Ananias, convocando vários ministros para montar uma aliança competitiva capaz de derrotar ao mesmo tempo Eduardo Campos e Aécio Neves, dois possíveis adversários, juntos ou separados, em 2014.
Até outro dia, o nome de Campos aparecia muito como provável vice de Dilma nas próximas eleições presidenciais, cacifando-se para ser o candidato dela e de Lula em 2018. Atento às circunstâncias e às mudanças do vento, o governador pernambucano resolveu alçar vôo próprio desde já ao se desfazer da aliança com o PT em algumas importantes capitais do país.
Em outra frente, ele articula há tempos uma parceria com o PSD de Gilberto Kassab com o objetivo de se fortalecer na região sudeste, já que o seu PSB tem maior expressão no norte-nordeste.
Como uma coisa puxa a outra, a turma de José Serra, da qual faz parte o mesmo Kassab, que estava só na espreita do rolo em Belo Horizonte, aproveitou para colocar o bico de fora e, numa penada só, tenta agora derrubar do poleiro o PT, o PSB e Aécio Neves, o principal adversário no ninho tucano. Para derrotar Aécio, vale tudo, até o PSD se aliar ao PT em Belo Horizonte.
Um dos porta-estandartes de Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), resolveu abrir o jogo sobre os objetivos do grupo em matéria de Catia Seabra, publicada na "Folha" desta quinta-feira:
"PSB e PSD, dois planetas viajando pelo espaço público em órbitas independentes do PT, que se arvora em centro do sistema polar: esse poderá ser um dos reflexos mais importantes das eleições municipais sobre o quadro nacional".
Os partidos de Campos e Kassab tornaram-se o objeto de desejo dos tucanos paulistas para enfrentar o PT em 2014. Eleições municipais? Ninguém mais fala nisso. Todo mundo agora só pensa na sucessão de Dilma, que acabou de completar apenas 18 meses de governo. Serra, por exemplo, nunca pensou em outra coisa.
A disputa municipal é apenas um detalhe. Da mesma forma, o PT de Lula joga todas as suas fichas na capital paulista, fazendo alianças complicadas e abrindo mão de outras cidades importantes, já pensando na sucessão estadual em 2014.
Quem sai ganhando com tudo isso, por enquanto, é Eduardo Campos, o neto de Miguel Arraes, que se tornou o pivô da sucessão de Dilma.
Como se vê, o jogo é complicado, briga para cachorro grande.
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