segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A xenofobia à moda grega

Por Antonio Martins, no sítio Outras Palavras:

Pelo menos 6 mil pessoas foram detidas no final de semana em Atenas e nas principais cidades gregas, numa vasta operação policial que reforça os sinais de xenofobia crescente na Europa. Pelo menos 1.600 foram aprisionadas em condições precárias e deverão ser deportadas. Não são acusadas de crime algum - apenas serem estrangeiras sem documentos de permanência no país. Anunciada com alarde na TV, pelo ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, a operação teve nítido caráter racista, segundo denúncia da Anistia Internacional (AI): a polícia escolheu quem prender de acordo com a cor da pele.


As detenções em massa ocorrem em meio a crescentes dificuldades do governo. Ao contrário do que prometeu em campanha eleitoral, a coalizão de centro-direita que venceu as eleições em abril (ler “A Grécia revive uma vitória de Pirro“) não renegociou, as bases do programa de corte de direitos sociais imposto pela União Europeia. Um novo pacote de medidas deverá ser anunciado nos próximos dias. Prevê a demissão de mais 40 mil servidores públicos e uma ampla lista de privatizações.

A fala do ministro Dendias apela claramente para um expediente tradicional dos governos em dificuldades: culpar um inimigo externo. “O país está se perdendo. Estamos sofrendo a maior invasão desde a chegada dos dórios, há 3 mil anos”, disse ele. O preço humano do estratagema é severo. Segundo a AI, os milhares de detidos estão submetidos a condições “degradantes e desumanas”. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados acrescentou que as vidas de muitos dos deportados podem estar em risco, nos países para onde estão sendo enviados. A Organização Mundial para as Migrações (OIM) denunciou que a atitude fere compromissos internacionais assumidos pela Grécia.

A União Europeia, porém, não parece incomodada por este ataque aos direitos humanos. Emissários do bloco, que permanecem em Atenas, estão ocupados em assegurar a submissão do país às exigências econômicas e sociais que lhe foram impostas. Entre os partidos gregos, a Syriza, coalizão de grupos de esquerda e movimentos sociais, denunciou a ação do governo e voltou a pedir a ruptura com os acordos que implicam ataque aos direitos sociais e serviços públicos.

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