quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Greves: FHC e mídia apoiam Dilma

Foto:  Marcello Casal Jr./ABr
Por Altamiro Borges

A intransigência e a inabilidade do governo Dilma no trato das greves no setor público têm produzido cenas inusitadas. Cinco centrais sindicais que apoiaram a sua eleição divulgaram nesta semana nota criticando o “autoritarismo” do Palácio do Planalto e exigindo seriedade nas negociações com os grevistas. No outro extremo, todos os jornalões publicaram editoriais elogiando o comportamento “duro” do governo. Para piorar, o ex-presidente FHC, conhecido por sua postura antissindical, resolveu elogiar a presidenta Dilma.

Ontem, diante de uma plateia de empresários num seminário da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), em São Paulo, o grão-tucano saiu em defesa do governo. “A presidente Dilma está num momento de dificuldade financeira e fiscal e muita pressão dos funcionários que se habituaram no governo Lula, que tinha mais folga, a receber aumentos. Ela não tem a mesma condição, então ela enrijeceu. Não vejo como ela pudesse não enrijecer”. Para FHC, Dilma está no rumo certo, “mesmo contrária a posições antigas do PT”.

O veneno do jornal O Globo

No mesmo rumo, os jornalões e as emissoras de televisão retomam o “namorico” com a presidenta. Em editorial intitulado “Dilma faz a opção certa diante dos grevistas”, o jornal O Globo fez ontem rasgados elogios à ação do governo. “Não há dúvida que a presidente Dilma tem assumido a melhor postura diante de um movimento em que se misturam o mais autista do corporativismo da burocracia pública, oportunismo sindical e o interesse de frações mais à esquerda, de dentro e fora do PT, em criar dificuldades para o governo”.

O jornal da famiglia Marinho também aproveita para, mais uma vez, colocar uma cunha entre Dilma e Lula, atiçando a cizânia. “Como é mais do que sabido, os servidores públicos em geral e, em particular, os do Executivo federal, foram uma categoria privilegiada nos oito anos de gestão Lula com generosos reajustes. Lula não apenas contratou muitos funcionários, como os brindou com aumentos bem acima da realidade dos assalariados da iniciativa privada”. Daí o efusivo apoio a Dilma, que não deve ceder aos “privilegiados”!

"Dilma rompe tradição da esquerda"

Os jornais Estadão e Folha, atuando numa só voz, também publicaram artigos com a mesma fúria antissindical e de entusiástico apoio ao “enrijecimento” do atual governo. Já o editorial do Valor, mais dedicado à nata empresarial, preferiu teorizar sobre os efeitos desta mudança de postura. “Dilma rompe tradição da esquerda ao enfrentar greve”, opinou na segunda-feira (13). O jornal até lembra que, durante o governo Lula, também houve estremecimento na relação com o sindicalismo quando da aprovação da reforma da Previdência.

Mas, malicioso, o Valor afirma que a crise do chamado “mensalão petista” obrigou o ex-presidente a retomar a sua origem, dobrando-se à pressão sindical. O fato novo, segundo o editorial, é que agora a presidenta Dilma decidiu romper com esta tradição. O jornal elogia o decreto 7.777, baixado há duas semanas, que autoriza o governo a assinar convênios com Estados e municípios para substituir os servidores em greve. “Trata-se de uma medida dura, ousada, de quem está disposto a ir ao limite no enfrentamento das greves”.

Corrosão da base de apoio

Os elogios do escorpião FHC e o “namorico” da mídia deveriam servir para indicar que o atual governo está indo na direção errada no trato das greves dos servidores públicos. A falta de diálogo e a inabilidade crônica dos tecnocratas do Palácio do Planalto têm apenas ampliado e radicalizado às greves – que já duram três meses nas universidades e dois meses em mais de 30 categorias do setor público. Aos poucos, a sociedade já começa a sentir os efeitos das paralisações em áreas nevrálgicas, o que prova a importância dos servidores.

Ao invés de seguir os péssimos conselhos dos neoliberais, que pregam mais austeridade fiscal e enrijecimento diante do sindicalismo, a presidenta Dilma deveria se lembrar dos seus compromissos de campanha e das suas alianças prioritárias. Do contrário, ela sofrerá desgastes e causará a corrosão da sua base de apoio – para a alegria dos mesmos oportunistas que agora a elogiam.

10 comentários:

Anônimo disse...

Se o FHC está elogiando a Dilma significa que ela está errada. Esse cara não passa de um Lambe Botas dos Yankees

Ignez disse...

Há algo estranho no processo de negociação que o governo instaurou. Se o govero é transparente, se cede em alguns pontos, o que está havendo? Chego a pensar que os "ultra" estão fazendo o jogo da direita...E a direita está feliz com a reação do governo. Estranho, muito estranho...

Marcelo Rodrigues disse...

O governo está "esquecendo" de considerar o efeito multiplicador que o salário (inclusive dos servidores) tem na economia, ou seja, o valor que for destinado para os reajustes voltará, em alguma medida, na forma de aumento em cascata da arrecadação.

Um exemplo singelo: o supermercado passa a vender mais, tem de fazer novas contratações, passa a fazer maiores compras dos fabricantes, há ganhos nos lucros das cadeias produtiva e comercial, surge necessidade de ampliações, contratação de pedreiros, que também consomem e realimentam o ciclo e por aí vai, tudo implicando em aumento das obrigações tributárias e previdenciárias.

Além disso, temos de lembrar que nas regiões mais pobres do país o salário dos servidores é o único recurso que movimenta a economia local.

Quanto à deterioração do apoio, o que há é aproveitamento da situação pelos de sempre. Estive no ato público dos servidores na semana passada, que reuniu cerca de 6.000 manifestantes no pico da concentração. A despeito de centenas de cartazes com críticas à postura do governo, somente UM deles trazia dizeres tucano, "PT nunca mais".

Anônimo disse...

Espero que a presidenta tenha em sua memória a moral da fábula de La Fontaine "O corvo e a raposa", tão vista nas aulas do antigo Primário, que assegura: "os bajuladores vivem às custas daqueles que os escutam".

Unknown disse...

Este governo faz vários acordos com a mídia, quando o interessa. Terreno perigoso esse que a Presidente (quando ela voltar a tratar os professores respeitosamente, volto a grafar presidenta) resolveu trilhar. E o Mercadante fazendo joguinho de notinhas plantadas sobre corte de ponto ou, pior, fazendo acordo espúrio com entidade sindical pelega tendo a mídia como caixa de ressonância, sinceramente, penso que eles acham que podem mudar o G do PIG ao bel prazer: ora golpista, ora governista.

Luis disse...

A presidência opta pela demagogia ao criar o jogo errôneo entre "estáveis" vs "não estáveis". Os salearios nas universidades estão defasados em mais de 2/3 em relação ao chamado mercado de trabalho assim como em várias outras áreas técnicas e isso foi percebido pelo governo Lula ao tentar corrigir distorções. O que Dilma tem de bom em algumas qualidades tem de teimosa e inculta por outro lado. Greve é um sofrimento que aflige a todos, grevistas ou não, e não é difícil resolver as questões. Mas, neste momento, ela só ouve gente do empresariado, capitalistas, imprensa etc, vai de dar mal. Porém, quem sabe o Lula volta em 2014 para apagar o incêndio.

Anônimo disse...

eu votei na presidenta , mas estou começando a me arrepender. ela pelo o que eu estou lendo ela esta traindo o povo brasileiro e se juntando a direita e a midia golpista. tomara que eu esteja enganado , mas ela ta começando a tomar partido dos golpistas e trair o povo. tudo porque ela tem medo da imprensa , deixa o pmdb mandar no seu governo e outras coisas mais. se continuar assim a direita vai tomar o poder logo,logo.

Anônimo disse...

Como já disse o José Sarney, governo é como violino...a gente toma com a esquerda, mas toca com a direita....a frase do Sarney é antiga, mas bem aplicável

Anônimo disse...

Hoje, av. cde. boa vista/Recife, passeata de várias categorias de federais distriubuía informes à população. Um gráfico "pizza" mostrava o orçamento 2012: quase 50% era gasto com juros e desperdícios que tais. O resto é era isto msm: o resto. Arcar com esse desgaste político sem nem ter argumento honesto é demais pra um governo que se quer popular. Pensei nisso de jogar água no moinho da direita. Mas, aguentar sorrindo arrocho bruto que passa dos 6 anos e 30% de perdas inflacionárias é pra atriz pornô. 30% de perda é de verdade, companheiro,não é estatística impmressionista.
Sousandrade
Recife
Servidor do Judiciário

Regina disse...

Pena que a presidente (enqto turrona - presidente e minusculo - bem de acordo com sua postura minúscula)não adote essa dita austeridade, essa bravura indômita para resolver a questão da mídia, a aauditoria da dívida. Com certeza só com a auditoria ela resolveria uma grande parte dos problemas econômicos-financeiros. Mas cadê a coragem? Vamos, lá Dilma, mostra sua coragem. Não adianta ser valente com tico-tico...