quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chávez e a falta de espelhos

http://www.rnv.gob.ve/
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Como tantos personagens da América Latina, Hugo Chávez morreu como objeto da história.

Não teve direito a contar sua própria versão dos fatos. Não foi ouvido nem pôde explicar-se. Foi explicado, analisado e julgado – por adversários e inimigos.

Num continente onde a elite política convive com a má consciência de quem nada fez de relevante pela melhoria das condições de vida do povo, mas nem por isso abre mão de 100% do conforto que só um imenso egoísmo social permite, o combate a toda liderança nascida fora de seu berço é uma necessidade permanente.

Se ainda em 2012, 58 anos depois daquele tiro no peito, ainda se publicam livros em que Getúlio Vargas é chamado de fascista, salazarista, franquista...

Sabemos o que se faz com Lula. Imagine-se o que será feito com Chávez.

Embora um de seus antecessores estivesse na lista de autoridades pagas pela CIA, Chávez é chamado de inimigo da democracia.

Embora tenha sido vítima de um golpe de Estado articulado por empresários e militares conservadores e com apoio imediato de Washington, foi chamado de autoritário. Fez um governo que pela primeira vez enfrentou um ambiente de desigualdade social histórica e foi chamado de populista. Melhorou a saúde pública, especialmente os índices de mortalidade infantil, para patamares aplaudidos pela OMS. Foi chamado de demagogo.

A retórica é conhecida. Para se recordar que há muito a ser feito -- o que é certíssimo --, tenta-se minimizar o pouco que conseguiu ele realizar, ainda que este seja essencial para quem não tinha nada.
É um problema de ponto de vista. É assim na história daqueles que não conseguiram o direito de narrá-la.
Mas algo está mudando e Chávez, com suas qualidades e seus defeitos, é parte dessa novidade.

Sempre se evitará comparar Hugo Chávez com seus adversários, por uma razão muito simples.

Na soma de qualidades e defeitos, acertos, erros e desastres, seus antecessores foram muito piores. E é por isso que, mesmo com inflação alta, crescimento baixo e até falta de comida em determinados momentos, nunca deixou de vencer eleições, cuja legitimidade sempre foi reconhecida por observadores isentos, como Jimmy Carter.

A falta de espelho permite grandes atrocidades – morais, políticas, históricas – sem que seja possível corar de vergonha.

1 comentários:

Ignez disse...

Da mesma forma que o olipólio midiático boicota sistematicamente as realizações do governo do PT - com Lula e Dilma - também buscam enxovalhar as transformações sociais e econômicas dos governos de Hugo Chávez. Mas, o povo luta, lá e cá, para manter esses detratores longe do poder. Aliás, ultraje maior foi a farsa da Ação penal 470, forjada pel mída oligárquica e perpetrada pela oligarquia togada do STF contra membros do PT . O "Outro lado do Mensalão" é o livro mais esclarecdor desse processo indecente e transviado. Estou lendo. QUe o povo venezuelano não recue jamais, e que continue o processo de desenvolvimento e inclusão social! O legado de Chávez não morrerá!