Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
O que aconteceu de tão grave no país de uma pesquisa para outra capaz de justificar as abruptas oscilações na avaliação positiva do governo de Dilma Rousseff no Ibope?
Primeiro, Dilma despencou dos 63% de ótimo e bom, que tinha antes do início das manifestaçoes de junho, para 31% em 12 de julho, sua avaliação mais baixa desde a posse.
Agora, sem que de novo algo de fantástico tenha acontecido, Dilma subiu 7 pontos na pesquisa divulgada neste sábado, chegando a 38%.
São bastante semelhantes os números do Ibope e o do Datafolha, em que Dilma apareceu com 36% de aprovação na semana passada, os dois maiores e mais respeitados institutos de pesquisa do país.
Descartada a velha teoria da conspiração, levantada por alguns leitores e analistas, de que as pesquisas são também dirigidas pelo Instituto Millenium, a onipresente entidade que congrega os barões da mídia no país em defesa da "liberdade de expressão" (deles, é claro, e contra a dos outros), resta tentar entender o mistério das abruptas oscilações de Dilma nas pesquisas.
Se o Montenegro do Ibope ou o Paulino do Datafolha, dois profissionais pelos quais tenho o maior respeito e nenhum motivo para duvidar de sua seriedade, puderem me ajudar a entender este fenômeno, eu agradeço, pois confesso que não consigo concondar com as explicações dadas pela maioria dos especialistas até agora.
A queda foi atribuída aos protestos das chamadas "Jornadas de Junho", como se a presidente Dilma tivesse sido o principal alvo daquelas manifestações, com o governo vivendo uma crise profunda, o que não é verdade.
Aquele foi um movimento difuso "contra tudo e contra todos", que atacou indistintamente partidos e políticos. Em nenhum momento, as críticas à corrupção e a reivindicação de melhores serviços públicos voltaram-se para algo como "Fora Dilma", a exemplo do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.
E qual foi o único fato concreto resultante das manifestações que levaram milhões às ruas? Apenas a redução das tarifas de transporte coletivo, exatamente a reivindicação inicial do Movimento Passe Livre, que detonou os protestos.
Das medidas anunciadas pelo governo, a reforma política foi jogada às calendas pelo Congresso Nacional, com a valiosa colaboração da base aliada, e o programa "Mais Médicos" ainda nem entrou em funcionamento, e já está provocando um massacre de críticas detonadas pela mídia e pelas entidades de classe.
Não foram elas, certamente, que explicam a recuperação da avaliação do governo. O que foi então? Os principais indicadores econômicos que oscilaram dentro da margem de erro (inflação, renda, emprego, crescimento econômico), com exceção do dólar que disparou? Nada isso, a meu ver, afetou diretamente até agora a vida do cidadão eleitor ouvido pelos pesquisadores.
Em tempos recentes, capas de jornais e revistas e os porta-vozes do Millenium chegaram a comemorar duas vezes o advento de um "novo Brasil", expocando rojões e anunciando que "nada será como antes", após o julgamento do mensalão e a volta do povo às ruas. E o que de concreto mudou até agora?
Assim como tem dia que chove e tem dia que faz sol, e todo dia as marés sobem e descem, na vida de um país, como na vida de cada um de nós, há bons e maus momentos que não significam a chegada ao paraíso nem o fim do mundo - são movimentos que se alternam, e cabe aos institutos de pesquisa e a nós jornalistas fazer o retrato do momento, relatando os fatos e tentando entender o que eles representam.
Discordo de Marcia Cavallari, do Ibope Inteligência, quando ela afirma que "os protestos diminuíram de tamanho e de alvo. A presidente não está mais no foco das manifestações (...)". Para mim, ela nunca esteve no foco e, assim como o movimento começou e assustou todo mundo, de uma hora para outra sumiu do cenário, limitando-se agora a alguns pequenos grupos com reivindicações corporativas e a arruaceiros em geral.
Cavallari também constata que "nas últimas semanas houve melhoria de vários indicadores da economia", mas se esquece de dizer que também houve piora em outros, como vemos no noticiário todos os dias. Para melhor ou para pior, nada que justifique solavancos tão fortes da população nos seus sentimentos em relação aos rumos do país e do governo. O índice de volubilidade é muito alto.
Para mim, o mistério continua. Talvez só as próximas pesquisas possam nos dar respostas para tantas perguntas que continuam no ar e me deixam naquela difícil situação de não conseguir entender o que está acontecendo, muito menos explicar. Para tristeza de alguns colegas apocalípticos, o governo Dilma não só não acabou como está em franco processo de recuperar a sua popularidade.
Como tudo é imprevisível, façam suas apostas, senhoras e senhores. Se alguém tiver as respostas para minhas dúvidas, por favor as envie para o Balaio.
Bom final de semana a todos.
O que aconteceu de tão grave no país de uma pesquisa para outra capaz de justificar as abruptas oscilações na avaliação positiva do governo de Dilma Rousseff no Ibope?
Primeiro, Dilma despencou dos 63% de ótimo e bom, que tinha antes do início das manifestaçoes de junho, para 31% em 12 de julho, sua avaliação mais baixa desde a posse.
Agora, sem que de novo algo de fantástico tenha acontecido, Dilma subiu 7 pontos na pesquisa divulgada neste sábado, chegando a 38%.
São bastante semelhantes os números do Ibope e o do Datafolha, em que Dilma apareceu com 36% de aprovação na semana passada, os dois maiores e mais respeitados institutos de pesquisa do país.
Descartada a velha teoria da conspiração, levantada por alguns leitores e analistas, de que as pesquisas são também dirigidas pelo Instituto Millenium, a onipresente entidade que congrega os barões da mídia no país em defesa da "liberdade de expressão" (deles, é claro, e contra a dos outros), resta tentar entender o mistério das abruptas oscilações de Dilma nas pesquisas.
Se o Montenegro do Ibope ou o Paulino do Datafolha, dois profissionais pelos quais tenho o maior respeito e nenhum motivo para duvidar de sua seriedade, puderem me ajudar a entender este fenômeno, eu agradeço, pois confesso que não consigo concondar com as explicações dadas pela maioria dos especialistas até agora.
A queda foi atribuída aos protestos das chamadas "Jornadas de Junho", como se a presidente Dilma tivesse sido o principal alvo daquelas manifestações, com o governo vivendo uma crise profunda, o que não é verdade.
Aquele foi um movimento difuso "contra tudo e contra todos", que atacou indistintamente partidos e políticos. Em nenhum momento, as críticas à corrupção e a reivindicação de melhores serviços públicos voltaram-se para algo como "Fora Dilma", a exemplo do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.
E qual foi o único fato concreto resultante das manifestações que levaram milhões às ruas? Apenas a redução das tarifas de transporte coletivo, exatamente a reivindicação inicial do Movimento Passe Livre, que detonou os protestos.
Das medidas anunciadas pelo governo, a reforma política foi jogada às calendas pelo Congresso Nacional, com a valiosa colaboração da base aliada, e o programa "Mais Médicos" ainda nem entrou em funcionamento, e já está provocando um massacre de críticas detonadas pela mídia e pelas entidades de classe.
Não foram elas, certamente, que explicam a recuperação da avaliação do governo. O que foi então? Os principais indicadores econômicos que oscilaram dentro da margem de erro (inflação, renda, emprego, crescimento econômico), com exceção do dólar que disparou? Nada isso, a meu ver, afetou diretamente até agora a vida do cidadão eleitor ouvido pelos pesquisadores.
Em tempos recentes, capas de jornais e revistas e os porta-vozes do Millenium chegaram a comemorar duas vezes o advento de um "novo Brasil", expocando rojões e anunciando que "nada será como antes", após o julgamento do mensalão e a volta do povo às ruas. E o que de concreto mudou até agora?
Assim como tem dia que chove e tem dia que faz sol, e todo dia as marés sobem e descem, na vida de um país, como na vida de cada um de nós, há bons e maus momentos que não significam a chegada ao paraíso nem o fim do mundo - são movimentos que se alternam, e cabe aos institutos de pesquisa e a nós jornalistas fazer o retrato do momento, relatando os fatos e tentando entender o que eles representam.
Discordo de Marcia Cavallari, do Ibope Inteligência, quando ela afirma que "os protestos diminuíram de tamanho e de alvo. A presidente não está mais no foco das manifestações (...)". Para mim, ela nunca esteve no foco e, assim como o movimento começou e assustou todo mundo, de uma hora para outra sumiu do cenário, limitando-se agora a alguns pequenos grupos com reivindicações corporativas e a arruaceiros em geral.
Cavallari também constata que "nas últimas semanas houve melhoria de vários indicadores da economia", mas se esquece de dizer que também houve piora em outros, como vemos no noticiário todos os dias. Para melhor ou para pior, nada que justifique solavancos tão fortes da população nos seus sentimentos em relação aos rumos do país e do governo. O índice de volubilidade é muito alto.
Para mim, o mistério continua. Talvez só as próximas pesquisas possam nos dar respostas para tantas perguntas que continuam no ar e me deixam naquela difícil situação de não conseguir entender o que está acontecendo, muito menos explicar. Para tristeza de alguns colegas apocalípticos, o governo Dilma não só não acabou como está em franco processo de recuperar a sua popularidade.
Como tudo é imprevisível, façam suas apostas, senhoras e senhores. Se alguém tiver as respostas para minhas dúvidas, por favor as envie para o Balaio.
Bom final de semana a todos.
1 comentários:
Caros Miro, apesar de vermos na matéria, que Kotscho demonstra confiança nos "donos" dos institutos de pesquisa, o primeiro a demonstrar a monstruosa queda de Dilma, o DataFolha, a base de entrevistados foi bastante mudada, o que pode ter dado uma queda muito maior do que realmente e naturalmente teria. Na pesquisa anterior, os de menor escolaridade/renda, eram 51%, sendo que na posterior, baixou para 38%, o que pode ter potencializado a queda. Apesar de ser previsível a recuperação de Dilma nas pesquisas, vou usar o bom conselho do colega Kotscho e aguardar os próximos levantamentos para poder ter uma opinião melhor embasada.
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