quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Chico Buarque é um ser humano

Por Renato Rovai, em seu blog:

Chico Buarque é um misto de santo e super herói para muitos da minha geração, da do meu pai e da minha filha. Chico é aquele cara do qual muitos de nós adoraríamos ter como amigo de cerveja ou de pelada. Hábitos que ele ainda cultiva. Dizem que Chico também foi o sonhado genro de muitos da geração do meu avô. E sonhado príncipe de muitas e muitos da geração da minha mãe, das minhas amigas e até de amigas da minha filha. O cara é realmente fueda, sendo direto e reto.

Mas Chico não é santo e nem super herói. Alvissaras. E também não é um filho de uma @#@%* porque decidiu apoiar a cruzada artístico cultural mercadológica de Paula Lavigne, que há algum tempo se transformou na gerente do banco dos músicos de uma geração querida. Aliás, Paula Lavigne, que show deprimente o seu, hein? Tentar constranger alguém, como você fez com Bárbara Gancia, revelando em público sua homossexualidade é de envergonhar escroques da ditadura militar. Alguns deles eram mais respeitosos ao tratar da orientação sexual alheia. E isso não tem nada a ver com censura, liberdade ou pastéis de feira.

Mas Paula Lavigne e seu deprimente show à parte, vale a pena entender Chico Buarque. Porque Chico vale a pena. O nosso principal músico da MPB cometeu duas derrapadas seguidas. Entrou num grupo que está mais preocupado em ganhar algum no final do mês e colocou sua história e reputação a serviço de interesses mesquinhos. Chico deve estar sinceramente preocupado em manter sua vida privada protegida. Muitos dos que estão neste grupo estão muito mais preocupados com uns tostões a mais para poder ficar mais tempo não compondo mais nada. Aliás, se há uma área da cultura em que produzir muito pouco não é sinônimo de ganhar pouco é a música. Isso não é para muitos. É para muito poucos. Mas é um fato.

A segunda derrapada de Chico foi a de dizer que não tinha sido entrevistado pelo biógrafo de Roberto Carlos e que acha mais é justo que as filhas de Garrincha cobrem uma baita grana para que o pai possa ser biografado, mesmo numa biografia não autorizada. A primeira parte já foi desmentida. O vídeo de Paulo César Araújo é inquestionável. Em relação ao livro de Garrincha, só cabe a reflexão.

Chico defende um contar histórico que se resume a autorizações? Se alguém não autorizar, que não se registre? É isso mesmo, Chico? Ou o que vale para livro de biografia não vale para o livro de história? Ou o que vale para a biografia não vale para matéria em jornal, site, TV, rádio? Qual é o limite entre privacidade e liberdade de expressão? É o autorizar e transformar em negócio o relato?

O Brasil deu um passo a frente por muito do que Chico e outros músicos fizeram na época da ditadura em relação à liberdade de expressão. E agora os têm na trincheira do passo atrás. Esse movimento criado por uma conciliação ainda nebulosa de interesses que levaram Roberto Carlos a ir ao Congresso lutar contra o Ecad precisa ser combatida, a despeito de Chico estar do lado de lá.

Ele está equivocado e seria muito interessante que reavaliasse sua posição. Chico se mostra humano ao cometer um erro atrás do outro neste episódio. Seria ainda mais humano se ponderasse, à luz do que pode estar ajudando a construir, sua posição.

A liberdade de expressão não pode ser refém de uma suposta luta por privacidade. E a história não pode ser apenas tratada como um negócio.

6 comentários:

Anônimo disse...

Será que o tal video deixa claro que a entrevista era para ser usada na biografia do Roberto Carlos? Ou o foco da entrevista era ouro e, meio que escondido, apareceu uma pergunta que no futuro foi usada na tal biografia?
Seja como for, o grande Cidadão e Artista Chico tem crédito para errar muitas vezes...

Veruska disse...

Adorei, disse tudo.

Swamy Santos disse...

Miro,
O Chico Buarque, como ser humano e, felizmente, um ser humano diferente, já disse que errou e, humildemente, se submete à liberdade do escritor em publicar sua obra. O que poderíamos esperar de Chico Buarque além dessa lição de humildade?
Quanto à polêmica em torno do tema, fico com a opinião do Renato Rovai, ou seja, alguns querem participar da obra, mas ganhando um trocadinho no fim.


Anônimo disse...

Se algum fdp vier com uma biografia do sr lula, chamando-o de ladrão, estuprador,bêbado, vagabundo e etc.... aí tu vai mudar de ideia também, né? É o velho "democratismo" petista em ação, democratismo da falsa esquerda.Liberdade de expressão uma ova! É o mesmo argumento fajuto da veja e globo para continuar caluniando, mentindo, destruindo reputações impunemente.

Anônimo disse...

Como eu dizia, é o velho e surrado democratismo da falsa esquerda, da esquerda "liberal". Liberdade de expressão somente para os ricos e poderosos, assim como todas as liberdades na democracia burguesa tão adorada pelos pelos petistas e seus satélites.

Ignez disse...

Não, meu amigo. Ou se tem convicção, ou não se tem. Chico nunca foi inescrupuloso. De Caetano e companhia não se pode dizer o mesmo. Entretanto, para quem escreveu, e nós cantamos: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia..." não cabe nos decepcionar com esse apoio. Só pode ser coisa do 'alemão'...