domingo, 9 de fevereiro de 2014

A pedagogia dos médicos cubanos


Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:

“As médicas cubanas parecem empregadas domésticas.” A afirmação, a mais expressiva da onda de expressões de intolerância e de discriminação racista, feita por uma jornalista brasileira de direita, representa, sem perceber, o mais significativo elogio de Cuba.

Diante das necessidades de atendimento médico da população, o governo brasileiro, depois de convocar a médicos brasileiros a ocupar os postos nas regiões do país com mais necessidades e menor atenção, fez um convênio com o governo de Cuba para trazer ao Brasil a profissionais de saúde do país que inquestionavelmente tem uma das melhores, senão a melhor medicina social do mundo. Os extraordinários índices de saúde da população cubana – da mortalidade infantil à expectativa de vida ao nascer -, ainda mais pelo nível de desenvolvimento econômico do pais, confirmam essa avaliação.

Esse convênio, que poderia passar simplesmente como um a mais entre tantos outros assinados entre o Brasil e Cuba, gerou uma onda de reações que propiciam um diagnóstico social de uma e de outra sociedade, inédito e de uma profundidade inesperada. Começando pelos próprios médicos brasileiros, na sua grande maioria formados em universidades públicas – as melhores do país -, mas que não são obrigados a entregar praticamente nenhuma contrapartida à sociedade que os formou, de forma gratuita. Frequentemente concluem seus cursos e abrem consultórios nos bairros melhor situados das grandes cidades brasileiras, para atender a uma clientela de grande poder aquisitivo.

Como resultado, o mapa das doenças do país e a localização dos médicos costuma ser brutalmente desencontrado, praticamente oposto: onde estão as doenças, não estão os médicos; onde estão os médicos, não estão as doenças.

Mesmo assim, depois de se negar a atender a população mais pobre – a grande maioria – tentaram impedir que o governo brasileiro trouxesse médicos de fora do pais – de outros países, além de Cuba – para atender à população. Fizeram manifestações, criaram situações de constrangimento para os médicos cubanos na sua chegada, anunciaram que fariam campanhas contra a reeleição da Dilma, acreditando dispor de autoridade política com seus pacientes.

A declaração com que começa este artigo se insere nesse cenário de elitismo e de falta de sensibilidade social de médicos brasileiros. A frase, que pretende desqualificar a médicas cubanas, porque no lugar da imagem do médico homem, branco, com fisionomia dos doutores dos filmes de Hollywood, são pessoas nascidas no meio do povo cubano, se revela como um imenso elogio da sociedade cubana e em uma crítica da brasileira. Mulheres de origem humilde, que no Brasil seria empregadas domésticas, em Cuba é normal que possam se formar como médicas e expressar sua solidariedade com outros povos, necessitados dos profissionais que Cuba consegue formar em excesso para as necessidades do seu país.

Essa reversão do sentido da frase se deu também no plano mais geral da sociedade brasileira que, confundida no começo, muito rapidamente reagiu de forma muito positiva, com mais de 80% apoio a vinda dos médicos cubanos ao Brasil. Pelas necessidades que passaram a ser atendidas por esses médicos, assim como também pela atenção que imediatamente começaram a receber setores populares muito amplos do Brasil, até ali sem nenhuma assistência ou com atenção médica absolutamente precária. Cidades que nunca tinham tido a presença de médicos, em que a população tinha que se deslocar quilômetros de distância para ter uma assistência esporádica, começam a conhecer um direito essencial à atenção médica direta e permanente, graças aos médicos cubanos.

É um programa de saúde pública, mas que encerra em si mesmo uma lição, uma pedagogia política de grande evidência – que é o que mais incomoda à direita brasileira. Pessoal formado em universidades públicas – e em Cuba todas o são – tem que atender prioritariamente as necessidades fundamentais do seu povo, que além de tudo paga os impostos que financiam as universidades públicas, mas que, via de regra, não pode ter seus filhos com acesso a essas mesmas universidades – mais ainda aos cursos de medicina.

O Brasil está avançando como nunca na sua história no combate à desigualdade, à pobreza e à miséria, mas não encontra ainda correspondência nas estruturas educacionais que formam os profissionais de medicina. Daí o apoio de Cuba – que a Dilma agradeceu a Fidel, por ocasião da recente reunião da Celac em Havana, quando se inaugurou a primeira parte do porto de Mariel, que o Brasil constrói na Ilha, colaborando com a ruptura do bloqueio imposto pelos EUA.

Os médicos cubanos são melhores que grande parte dos médicos que o Brasil tem hoje porque – além da sua excelente formação profissional -, são melhores cidadãos, formados por uma sociedade orientada não pela medicina mercantil, mas pelas necessidades reais da população. A vinda dos médicos cubanos permite, como nenhum manual de educação política, esclarecer princípios das sociedades capitalistas – voltadas para os valores de troca – e das sociedades socialistas – voltadas para os valores de uso. Uma atendendo demandas do mercado, a outra, as necessidades das pessoas.

12 comentários:

Anônimo disse...

Hahaha, a piada mais engraçada que li. Ótima formação médica sem internet? Nos dias de hoje? Conhecimento só cresce quando é difundido, compartilhado, algo que os tais "médicos" cubanos não tem acesso. As necessidades das pessoas realmente é bem vista no socialismo.. 900 reais conseguem, com folga, manter as necessidades das pessoas. Hipocrisia mandou lembranças. Escravidão não tem justificativa, nunca, NEM AQUELA DE GARANTIR A SAÚDE ÀS PESSOAS MAIS POBRES.

roger disse...

cavalheiro na verdade com esse seu complexoo sr aparenta ser um cucaracha anonimo que pensa que e informado,eu vivi em cuba e os medicos cubanos tem acesso a internete sim ;seu ignorante o saibin,dr barnard (tranplantes ),o nosso osvaldo cruz, sequer conheceram a iternete nao fala abobrinha cara

roger disse...

e por acaso o saibin tinha net,os medicos cubanos ,tem acesso a inter net em suas casas.eu vivi la e convivi com varios doutores;portanto nao fala abobra tovarich

Anônimo disse...

Caramba, não sabia que a internet já existia no tempo de Sócrates, Platão, Jesus Cristo, Freud, Goethe e outras tantas mais feras do conhecimento!!! Então foi pela internet que eles conseguiram difundir seus conhecimentos? Interessante!!!

Ignez disse...

Roger, acho que o problema desse "anônimo" é indigência mental. Não vale à pena argumentar com que abdicou do uso da razão. É como dar remédio a um morto.

J Fernando disse...

Pelo critério do anônimo aí, atualmente ao se chegar ao consultório do médio é melhor perguntar se ele tem internet ao invés de observar os diplomas nos quadros da sala de espera.

Danilo Henrique disse...

Que outros tipo de tecnologia existem nos cursos de medicina da ilha de Fidel? Gostaria de saber, honestamente, de todos vocês, o quanto de acesso a tecnologia médica os cubanos possuem?

É do mesmo nível que nos EUA, Alemanha, Dinamarca, Suíça ou Japão?

Anônimo disse...

'Santa'ignorância desse anônimo...
Sem falar da ironia e do deboche do
1º anônimo,é claro.

Anônimo disse...

Nao existe internet de livre acesso e qualidade em Cuba. So nos resorts e na alta cupula do governo. Que vergonha o governo brasileiro apoiar um regime desse, que aprisiona os seus cidadaos no seu proprio pais. Se o regime e assim tao bom, porque nao garantir a liberadade de ir e vir. Voces esquerdistas teoricos gostariam de viver em uma realidade como essa?

Mari ASL disse...

Aos teleguiados sobre Cuba:

Chefe da ONU elogia médicos de Cuba e afirma que país pode ensinar ao mundo como cuidar da saúde =

http://www.onu.org.br/chefe-da-onu-elogia-medicos-de-cuba-e-afirma-que-pais-pode-ensinar-ao-mundo-como-cuidar-da-saude/

Cuba é campeã no desenvolvimento de vacinas, sobretudo contra o câncer. Na última visita de Dilma foi firmada parceria nessa área.

Haja paciência para tanta ignorância e preconceito.

Unknown disse...

Trabalho na saude a dez anos, e posso afirmar que ate agr os profissionais cubanos que conheci, ñ perdem em nada para os medicos brasileiros. E antes que venham com a piada, "que leve sua mãe pra se tratar com ele" digo que levei e ela esta muito bem, e foi tratada com todo o respeito que um paciente merece, diferente de muitas vezes que a levei pra passar com medicos tupiniquins.

Anônimo disse...

Esses medicos estao sendo explorados no Brasil, essa e a questao. O dinheiro deles e confiscado, estao sendo vigiados. Estao vivendo de favor, comendo na casa de terceiros. Isso e isustentavel. Os cubanos, gracas a deus, estao fugindo. Torco por mais desistencias! E pessima politica publica. Drena recursos importante para um governo que e uma ditadura. Isso e trabalho analogo a escravidao. Uma vergonha. Se brasileiros estivessem tarbalhando nessas condicoes nso EUA por uma politica do governo federal, voces da esquerda caviar iriam acharbuma absurdo. Comi e do governo Dilma, esta tudo bem, falta capacidade critica!