Por Claudia Jardim, no sítio da BBC-Brasil:
Popular, carismático, imprevisível, arrogante e sedento de poder. Essas são algumas das características que analistas e líderes políticos costumam usar para definir Leopoldo López, o mais novo inimigo público do governo venezuelano de Nicolás Maduro.
Referência da ala radical da oposição venezuelana, López está sendo procurado pela Justiça venezuelana. A polícia chegou a fazer buscas em sua casa neste domingo, mas ele não estava lá.
O opositor não é visto em público desde quarta-feira, quando milhares de estudantes saíram às ruas, liderados por ele, para exigir uma mudança de governo.
No entanto, ele divulgou um vídeo neste domingo, dizendo ser inocente e desafiando as autoridades a prendê-lo durante uma marcha que ele convocou para a terça-feira.
“Não tenho nada que temer, não cometi nenhum delito, sou um venezuelano comprometido com nosso país, como nosso povo. Se há alguma decisão legal de me prender, estarei pronto para assumir essa perseguição e essa decisão infame por parte do estado”, disse.
Ele é acusado de ser o autor intelectual da onda de protestos violentos que tomou a capital do país nos últimos dias. As marchas se tornaram mais violentas na quarta-feira, quando três homens foram mortos durante um protesto contra o governo. Maduro acusa López de incitar a violência, enquanto a oposição afirma que os homens foram assassinados por milícias pró-governo.
“López ordenou que todos esses jovens violentos, treinados por ele, destruíssem metade de Caracas e então resolveu se esconder”, disse o presidente. “Se entregue, seu covarde!”
‘Golpe’
López se converteu na mais nova dor de cabeça do ex-candidato presidencial e governador Henrique Capriles - líder do setor moderado da coalizão opositora - desde que decidiu colocar em prática o plano chamado "A saída". Apoiado pelo movimento estudantil, o plano consiste em intensificar a onda de protestos no país até levar o presidente à renúncia.
"Ainda acreditam que devemos esperar até 2019 (fim do mandato de Maduro) para sair deste regime?", questionou López, em seu perfil no Twitter, ao convocar os protestos.
Essa declaração foi interpretada pelo governo como um chamado a um golpe de Estado.
A escalada de violência que tem marcado o tom dos protestos nos últimos dias preocupa aos "moderados" da oposição. Um dos membros da Mesa de Unidade Democrática (MUD) afirmou à BBC Brasil que o setor moderado da oposição tentou dissuadir López de sua "aventura" com os estudantes.
Ambições pessoais
Conservador, vinculado aos partidos de direita da região, López é visto como um "maverick" - jargão político para definir quem desobedece as linhas do partido - na avaliação do analista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela. "López tem um estilo muito personalista, pouco institucional. Ele está sempre em permanente busca de protagonismo", afirmou Romero.
A seu ver, a polêmica decisão de levar a população às ruas para promover uma mudança de governo é uma manobra que tem como objetivo "ambições pessoais", mas que pode levar à crise toda a coalizão opositora. "Leopoldo é um dirigente que neste momento está promovendo danos importantes à oposição democrática", afirmou.
Sua habilidade em promover rupturas entre aliados políticos também foi destacada com preocupação por um conselheiro político da embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Em documento desclassificado de 2009 vazado pelo Wikileaks, Robin D. Meyer, qualificou a López como uma “figura divisora da oposição, arrogante, vingativo e sedento de poder”, diz o documento que tinha como enunciado "O problema Leopoldo".
A historiadora Margarita López Maya caracteriza a López como um político "audaz, ambicioso e carismático". Em sua opinião, ele é capaz de capitalizar os anseios da juventude que não vê saídas, se não o protesto, como mecanismo de pressão para debilitar o chavismo.
“Levá-lo prisão seria convertê-lo em um mártir e ele seria catapulta-lo a uma candidatura presidencial”, avaliou a historiadora.
Entre os jovens que estão protestando nas ruas, López é visto como um ícone da rebelião anti-chavista e um potencial presidenciável. "Se ele for preso, o movimento estudantil irá às ruas defender sua liberdade. Compartilhamos com ele a visão de que é preciso mudar esse governo. Vamos continuar nas ruas até a renúncia do presidente", afirmou à BBC Brasil o dirigente estudantil Daniel Alvarez.
Carreira
Ex-prefeito do munícipio de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos, vem de uma das famílias da elite venezuelana, ligada ao setor industrial e petroleiro.
Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou brevemente o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuído pelo governo e seus seguidores.
Em 2008, uma acusação de mau uso de recursos públicos, como prefeito de Chacao, fez com que o político fosse inabilitado politicamente pela justiça da Venezuela. Essa decisão do tribunal, impediu que líder opositor se projetasse como potencial candidato presidencial.
Formado em Harvard, sua carreira politica começou no partido Primeira Justiça, o mesmo de Capriles. Um racha interno o levou a abandonar o grupo. Ele então se filiou ao partido conservador Um Novo Tempo, onde permaneceu pouco tempo, até fundar seu atual partido Voluntad Popular.
***
A posição de Capriles
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles vem se desvinculando dos protestos violentos que marcam a capital do país nos últimos cinco dias. “Para que serviu o ‘saia já’? Alguém que talvez não aprendeu nada durante estes anos, vai nos meter a todos no ‘saia já’?”, disse Capriles, em clara referência à campanha “A Saída” liderada por Lopez e aludindo ao golpe de Estado contra Chávez em 2002, cujo desenlace minou a base politica da oposição.
“Com isso não estou de acordo e claramente me desvinculo”, afirmou.
Desde a derrota da oposição nas eleições municipais em dezembro do ano passado, a liderança de Capriles vem se debilitando. Este é o cenário que López espera aproveitar, como oportunidade para se projetar como líder, de olho nas eleições presidenciais de 2019.
Uma fonte próxima a Capriles afirmou à BBC Brasil que ha uma preocupação real da escalada de violência sair definitivamente de controle. “Se isso não se resolver em uma semana, governo e a oposição democrática estarão realmente em apuros. Não sabemos onde isso pode parar e não sabemos como para-lo (a López)”.
Popular, carismático, imprevisível, arrogante e sedento de poder. Essas são algumas das características que analistas e líderes políticos costumam usar para definir Leopoldo López, o mais novo inimigo público do governo venezuelano de Nicolás Maduro.
Referência da ala radical da oposição venezuelana, López está sendo procurado pela Justiça venezuelana. A polícia chegou a fazer buscas em sua casa neste domingo, mas ele não estava lá.
O opositor não é visto em público desde quarta-feira, quando milhares de estudantes saíram às ruas, liderados por ele, para exigir uma mudança de governo.
No entanto, ele divulgou um vídeo neste domingo, dizendo ser inocente e desafiando as autoridades a prendê-lo durante uma marcha que ele convocou para a terça-feira.
“Não tenho nada que temer, não cometi nenhum delito, sou um venezuelano comprometido com nosso país, como nosso povo. Se há alguma decisão legal de me prender, estarei pronto para assumir essa perseguição e essa decisão infame por parte do estado”, disse.
Ele é acusado de ser o autor intelectual da onda de protestos violentos que tomou a capital do país nos últimos dias. As marchas se tornaram mais violentas na quarta-feira, quando três homens foram mortos durante um protesto contra o governo. Maduro acusa López de incitar a violência, enquanto a oposição afirma que os homens foram assassinados por milícias pró-governo.
“López ordenou que todos esses jovens violentos, treinados por ele, destruíssem metade de Caracas e então resolveu se esconder”, disse o presidente. “Se entregue, seu covarde!”
‘Golpe’
López se converteu na mais nova dor de cabeça do ex-candidato presidencial e governador Henrique Capriles - líder do setor moderado da coalizão opositora - desde que decidiu colocar em prática o plano chamado "A saída". Apoiado pelo movimento estudantil, o plano consiste em intensificar a onda de protestos no país até levar o presidente à renúncia.
"Ainda acreditam que devemos esperar até 2019 (fim do mandato de Maduro) para sair deste regime?", questionou López, em seu perfil no Twitter, ao convocar os protestos.
Essa declaração foi interpretada pelo governo como um chamado a um golpe de Estado.
A escalada de violência que tem marcado o tom dos protestos nos últimos dias preocupa aos "moderados" da oposição. Um dos membros da Mesa de Unidade Democrática (MUD) afirmou à BBC Brasil que o setor moderado da oposição tentou dissuadir López de sua "aventura" com os estudantes.
Ambições pessoais
Conservador, vinculado aos partidos de direita da região, López é visto como um "maverick" - jargão político para definir quem desobedece as linhas do partido - na avaliação do analista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela. "López tem um estilo muito personalista, pouco institucional. Ele está sempre em permanente busca de protagonismo", afirmou Romero.
A seu ver, a polêmica decisão de levar a população às ruas para promover uma mudança de governo é uma manobra que tem como objetivo "ambições pessoais", mas que pode levar à crise toda a coalizão opositora. "Leopoldo é um dirigente que neste momento está promovendo danos importantes à oposição democrática", afirmou.
Sua habilidade em promover rupturas entre aliados políticos também foi destacada com preocupação por um conselheiro político da embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Em documento desclassificado de 2009 vazado pelo Wikileaks, Robin D. Meyer, qualificou a López como uma “figura divisora da oposição, arrogante, vingativo e sedento de poder”, diz o documento que tinha como enunciado "O problema Leopoldo".
A historiadora Margarita López Maya caracteriza a López como um político "audaz, ambicioso e carismático". Em sua opinião, ele é capaz de capitalizar os anseios da juventude que não vê saídas, se não o protesto, como mecanismo de pressão para debilitar o chavismo.
“Levá-lo prisão seria convertê-lo em um mártir e ele seria catapulta-lo a uma candidatura presidencial”, avaliou a historiadora.
Entre os jovens que estão protestando nas ruas, López é visto como um ícone da rebelião anti-chavista e um potencial presidenciável. "Se ele for preso, o movimento estudantil irá às ruas defender sua liberdade. Compartilhamos com ele a visão de que é preciso mudar esse governo. Vamos continuar nas ruas até a renúncia do presidente", afirmou à BBC Brasil o dirigente estudantil Daniel Alvarez.
Carreira
Ex-prefeito do munícipio de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos, vem de uma das famílias da elite venezuelana, ligada ao setor industrial e petroleiro.
Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou brevemente o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuído pelo governo e seus seguidores.
Em 2008, uma acusação de mau uso de recursos públicos, como prefeito de Chacao, fez com que o político fosse inabilitado politicamente pela justiça da Venezuela. Essa decisão do tribunal, impediu que líder opositor se projetasse como potencial candidato presidencial.
Formado em Harvard, sua carreira politica começou no partido Primeira Justiça, o mesmo de Capriles. Um racha interno o levou a abandonar o grupo. Ele então se filiou ao partido conservador Um Novo Tempo, onde permaneceu pouco tempo, até fundar seu atual partido Voluntad Popular.
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A posição de Capriles
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles vem se desvinculando dos protestos violentos que marcam a capital do país nos últimos cinco dias. “Para que serviu o ‘saia já’? Alguém que talvez não aprendeu nada durante estes anos, vai nos meter a todos no ‘saia já’?”, disse Capriles, em clara referência à campanha “A Saída” liderada por Lopez e aludindo ao golpe de Estado contra Chávez em 2002, cujo desenlace minou a base politica da oposição.
“Com isso não estou de acordo e claramente me desvinculo”, afirmou.
Desde a derrota da oposição nas eleições municipais em dezembro do ano passado, a liderança de Capriles vem se debilitando. Este é o cenário que López espera aproveitar, como oportunidade para se projetar como líder, de olho nas eleições presidenciais de 2019.
Uma fonte próxima a Capriles afirmou à BBC Brasil que ha uma preocupação real da escalada de violência sair definitivamente de controle. “Se isso não se resolver em uma semana, governo e a oposição democrática estarão realmente em apuros. Não sabemos onde isso pode parar e não sabemos como para-lo (a López)”.
1 comentários:
Vozes conscientes da Venezuela: "Não somos golpistas, o que somos e representamos é a mudança que este país precisa. Falam de revolução, mas fazem o mesmo que governo anteriores. Falam de revolução e o país está cada vez pior. Os verdadeiros revolucionários são os estudantes que querem transformar este país", afirma Daniel Martínez.
"Sempre que alguém protesta por um direito, o governo sai com o discurso de que 'sofremos um golpe de Estado' ou que 'estão criando uma agenda oculta para desestabilizar'. Desestabilizada está a sociedade venezuelana que vive com medo e fazendo filas", disse a líder estudantil Arellano.
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