Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais noticiam na quarta-feira (16/4) que a Polícia Federal concluiu os quatro inquéritos da chamada Operação Lava-Jato, que aponta o doleiro Alberto Youssef e seus associados como suspeitos de operar uma rede dedicada a legalizar dinheiro de origem criminosa. Embora o noticiário esteja centrado nas relações do doleiro com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e com o deputado federal André Vargas (PT-PR), há aspectos ainda mais graves que a corrupção a serem anotados pela imprensa.
Com base nos inquéritos, os procuradores do Ministério Público têm cinco dias para apresentar denúncia à Justiça, e muito provavelmente a peça que irão produzir vai fazer referência principalmente àquilo que tem saído nos jornais, ou seja, o esquema de desvio de dinheiro público para contas no exterior. Pelo que se pode ler nas reportagens, a rede captava os recursos em obras superfaturadas e outras manobras de desvio de verbas e entregava o dinheiro ao doleiro, que tratava da operação de lavagem.
A conexão com políticos permitia que uma parte desses recursos fosse aplicada em empresas de variados tipos, algumas fictícias, outras reais, que eram beneficiadas em contratos públicos, com os quais se produzia uma fonte legal para o dinheiro. Parte dessa verba ficava resguardada para ser distribuída sob a forma de doações para campanhas eleitorais. Outra parte, usada como uma espécie de poupança, era administrada para assegurar uma vida confortável aos beneficiários.
Esse é o caso, aparentemente, de familiares de um irmão do ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Clementino de Souza Coelho, que foi presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Clementino Coelho, ex-deputado federal pelo PPS, foi flagrado sacando dinheiro de contas administradas por Youssef. A estatal que dirigia até o ano passado possui um orçamento bilionário para operações de combate à seca no Nordeste e parte do Centro-Oeste. Os irmãos Coelho eram parte da cota do ex-governador Eduardo Campos no governo federal antes de ele se tornar candidato oposicionista.
Tráfico de drogas
Um dos aspectos mais perversos dessa organização criminosa é o fato de ter envolvido projetos essenciais para o bem-estar da população mais carente, como a distribuição de água nas regiões castigadas pela seca e a produção de medicamentos mais baratos. Mas os inquéritos revelam muito mais: a rede pode ter ligações com o financiamento do tráfico de drogas e com o contrabando de armas.
Uma linha de investigação anterior, que chegou a ser relacionada ao esquema, chamou a atenção de autoridades dos Estados Unidos por citar suspeitos de terrorismo que teriam se abrigado na região da tríplice fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina. Portanto, trata-se de muito mais do que apregoam as manchetes dos jornais, essencialmente interessados no aspecto da corrupção que afete uma das partes envolvidas.
Estamos diante de um sistema que nada fica a dever ao descalabro que exigiu um verdadeiro esforço de guerra do governo italiano, nos anos 1990, na chamada Operação Mãos Limpas.
Concluídos apressadamente por causa dos prazos legais, os inquéritos estão incompletos. Mesmo assim, produziram 31 mandados de prisão, 27 outras intimações para depoimento e 105 mandados de busca e apreensão. O esquema revelado parcialmente pela Polícia Federal pode ter desviado R$ 10 bilhões, em operações que envolviam outros doleiros, numa rede ampla e capilarizada.
O grupo principal se agregava em quatro núcleos independentes entre si, que faziam operações combinadas de lavagem de dinheiro e possuíam negócios em comum. O alcance de suas ações dificilmente será completamente elucidado numa operação policial de rotina, devido à sua complexidade.
Segundo um promotor de Brasília, a lista dos “clientes” da quadrilha inclui muitos cidadãos acima de qualquer suspeita. Portanto, é muito provável que o noticiário continue limitado às relações do até aqui quase ex-deputado André Vargas com os doleiros.
Lava-se a superfície, fica o resto para o próximo escândalo.
Os jornais noticiam na quarta-feira (16/4) que a Polícia Federal concluiu os quatro inquéritos da chamada Operação Lava-Jato, que aponta o doleiro Alberto Youssef e seus associados como suspeitos de operar uma rede dedicada a legalizar dinheiro de origem criminosa. Embora o noticiário esteja centrado nas relações do doleiro com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e com o deputado federal André Vargas (PT-PR), há aspectos ainda mais graves que a corrupção a serem anotados pela imprensa.
Com base nos inquéritos, os procuradores do Ministério Público têm cinco dias para apresentar denúncia à Justiça, e muito provavelmente a peça que irão produzir vai fazer referência principalmente àquilo que tem saído nos jornais, ou seja, o esquema de desvio de dinheiro público para contas no exterior. Pelo que se pode ler nas reportagens, a rede captava os recursos em obras superfaturadas e outras manobras de desvio de verbas e entregava o dinheiro ao doleiro, que tratava da operação de lavagem.
A conexão com políticos permitia que uma parte desses recursos fosse aplicada em empresas de variados tipos, algumas fictícias, outras reais, que eram beneficiadas em contratos públicos, com os quais se produzia uma fonte legal para o dinheiro. Parte dessa verba ficava resguardada para ser distribuída sob a forma de doações para campanhas eleitorais. Outra parte, usada como uma espécie de poupança, era administrada para assegurar uma vida confortável aos beneficiários.
Esse é o caso, aparentemente, de familiares de um irmão do ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Clementino de Souza Coelho, que foi presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Clementino Coelho, ex-deputado federal pelo PPS, foi flagrado sacando dinheiro de contas administradas por Youssef. A estatal que dirigia até o ano passado possui um orçamento bilionário para operações de combate à seca no Nordeste e parte do Centro-Oeste. Os irmãos Coelho eram parte da cota do ex-governador Eduardo Campos no governo federal antes de ele se tornar candidato oposicionista.
Tráfico de drogas
Um dos aspectos mais perversos dessa organização criminosa é o fato de ter envolvido projetos essenciais para o bem-estar da população mais carente, como a distribuição de água nas regiões castigadas pela seca e a produção de medicamentos mais baratos. Mas os inquéritos revelam muito mais: a rede pode ter ligações com o financiamento do tráfico de drogas e com o contrabando de armas.
Uma linha de investigação anterior, que chegou a ser relacionada ao esquema, chamou a atenção de autoridades dos Estados Unidos por citar suspeitos de terrorismo que teriam se abrigado na região da tríplice fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina. Portanto, trata-se de muito mais do que apregoam as manchetes dos jornais, essencialmente interessados no aspecto da corrupção que afete uma das partes envolvidas.
Estamos diante de um sistema que nada fica a dever ao descalabro que exigiu um verdadeiro esforço de guerra do governo italiano, nos anos 1990, na chamada Operação Mãos Limpas.
Concluídos apressadamente por causa dos prazos legais, os inquéritos estão incompletos. Mesmo assim, produziram 31 mandados de prisão, 27 outras intimações para depoimento e 105 mandados de busca e apreensão. O esquema revelado parcialmente pela Polícia Federal pode ter desviado R$ 10 bilhões, em operações que envolviam outros doleiros, numa rede ampla e capilarizada.
O grupo principal se agregava em quatro núcleos independentes entre si, que faziam operações combinadas de lavagem de dinheiro e possuíam negócios em comum. O alcance de suas ações dificilmente será completamente elucidado numa operação policial de rotina, devido à sua complexidade.
Segundo um promotor de Brasília, a lista dos “clientes” da quadrilha inclui muitos cidadãos acima de qualquer suspeita. Portanto, é muito provável que o noticiário continue limitado às relações do até aqui quase ex-deputado André Vargas com os doleiros.
Lava-se a superfície, fica o resto para o próximo escândalo.
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