Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O Brasil passou o fim de semana dividido entre o entusiasmo pela vitória contra a Colômbia, com a consequente classificação para as semifinais da Copa do Mundo, e a preocupação com a ausência do atacante Neymar Jr., que fica fora da competição por causa de uma lesão na coluna vertebral.
Na imprensa brasileira há pouco espaço para outra coisa que não a unânime condenação ao colombiano Juan Camilo Zúñiga, que agrediu o astro nacional, e muita especulação sobre as opções para substituí-lo. Mas há controvérsias.
O New York Times, que vem dedicando ao torneio da Fifa um interesse inédito, levantou no sábado (5/7) uma tese razoável: a de que foi a própria equipe brasileira a responsável por “calibrar” o nível de violência que acabou por vitimar seu principal craque. “Para um Brasil belicoso, o troco saiu caro: perda de Neymar”, diz o título da reportagem principal (ver aqui, em inglês). Na versão do diário americano, a joelhada violenta que fraturou a terceira vértebra lombar do atleta foi o resultado de um padrão viril de jogo proposto pela própria seleção brasileira.
A análise tem alguns aspectos interessantes: por exemplo, ao destacar que “a beleza do fluxo contínuo do futebol é que uma coisa leva a outra, que leva a outra (e a outra e mais outra)”, e isso permite traçar uma sequência que conduz ao momento mais importante do jogo. Segundo o Times, os brasileiros não gostariam de ouvir isso, mas se Zúñiga foi o causador direto da lesão, os jogadores brasileiros, especialmente o volante Fernandinho, bem como o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo, devem ser apontados como corresponsáveis, por terem contribuído para o alto grau de virulência do jogo, que acabou tirando Neymar do resto da Copa.
A principal fotografia da reportagem mostra o colombiano James Rodriguez sendo derrubado violentamente por Fernandinho sob o olhar do juiz. A legenda anota que o time brasileiro cometeu 31 das 54 faltas graves da partida.
Curiosamente, a imprensa brasileira conta esse indicador como um elemento positivo na competividade da seleção nacional, como na reportagem do UOL (ver aqui) que elogia a recuperação do “espírito Felipão”, que levou à conquista da Copa das Confederações em 2013.
Jornalistas subservientes
A imprensa brasileira se curva ao “espírito Felipão”, a tática que mistura um pouco de malandragem com o uso eficiente do antijogo. Embora seja consenso em todas as partes do mundo que o melhor do futebol brasileiro é o talento para driblar, e não o confronto físico, diante de Luiz Felipe Scolari os jornalistas especializados tendem a baixar o tom das críticas e se mostram passivos com de seus acessos de autoritarismo.
Não se lê no noticiário de origem nacional uma análise parecida com a do New York Times. Curiosamente, o texto que mais se aproxima dessa abordagem não foi escrito por um jornalista especializado, mas pelo empresário do setor hoteleiro e de restaurantes Rogério Fasano, na edição de segunda-feira (7/7) da Folha de S. Paulo (ver aqui). Ele observa que o jogo estava muito truncado, e que o técnico Scolari poderia ter tirado Neymar de campo quando o Brasil tinha 2 a 0 a seu favor. O atacante não estava jogando bem e, quando foi atingido pelas costas, tentava ajudar na defesa, tarefa que poderia ser executada por qualquer um dos reservas.
Durante o jogo, pouco antes de ocorrer o incidente, comentaristas de algumas emissoras sugeriam que o técnico deveria substituir o principal atleta do time e reforçar o meio de campo. Neymar tinha um cartão amarelo e, no meio de jogadas ríspidas, poderia acabar tomando outra advertência e recebido uma suspensão. Essa é a posição de Fasano, que responsabiliza diretamente o técnico brasileiro pelo ocorrido.
Contornando o debate sobre o leite derramado, pode-se observar com mais atenção a subserviência com que a imprensa esportiva do Brasil se relaciona com Luiz Felipe Scolari. Desde a convocação, quando cessaram imediatamente os palpites sobre este ou aquele jogador que alguns comentaristas queriam ver na relação da Copa, os jornalistas, de modo geral, baixam a cabeça diante do todo-poderoso condutor da seleção.
Os jornalistas parecem gostar quando a seleção é viril em campo, mas, diante de Felipão, a imprensa é uma florzinha.
Na imprensa brasileira há pouco espaço para outra coisa que não a unânime condenação ao colombiano Juan Camilo Zúñiga, que agrediu o astro nacional, e muita especulação sobre as opções para substituí-lo. Mas há controvérsias.
O New York Times, que vem dedicando ao torneio da Fifa um interesse inédito, levantou no sábado (5/7) uma tese razoável: a de que foi a própria equipe brasileira a responsável por “calibrar” o nível de violência que acabou por vitimar seu principal craque. “Para um Brasil belicoso, o troco saiu caro: perda de Neymar”, diz o título da reportagem principal (ver aqui, em inglês). Na versão do diário americano, a joelhada violenta que fraturou a terceira vértebra lombar do atleta foi o resultado de um padrão viril de jogo proposto pela própria seleção brasileira.
A análise tem alguns aspectos interessantes: por exemplo, ao destacar que “a beleza do fluxo contínuo do futebol é que uma coisa leva a outra, que leva a outra (e a outra e mais outra)”, e isso permite traçar uma sequência que conduz ao momento mais importante do jogo. Segundo o Times, os brasileiros não gostariam de ouvir isso, mas se Zúñiga foi o causador direto da lesão, os jogadores brasileiros, especialmente o volante Fernandinho, bem como o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo, devem ser apontados como corresponsáveis, por terem contribuído para o alto grau de virulência do jogo, que acabou tirando Neymar do resto da Copa.
A principal fotografia da reportagem mostra o colombiano James Rodriguez sendo derrubado violentamente por Fernandinho sob o olhar do juiz. A legenda anota que o time brasileiro cometeu 31 das 54 faltas graves da partida.
Curiosamente, a imprensa brasileira conta esse indicador como um elemento positivo na competividade da seleção nacional, como na reportagem do UOL (ver aqui) que elogia a recuperação do “espírito Felipão”, que levou à conquista da Copa das Confederações em 2013.
Jornalistas subservientes
A imprensa brasileira se curva ao “espírito Felipão”, a tática que mistura um pouco de malandragem com o uso eficiente do antijogo. Embora seja consenso em todas as partes do mundo que o melhor do futebol brasileiro é o talento para driblar, e não o confronto físico, diante de Luiz Felipe Scolari os jornalistas especializados tendem a baixar o tom das críticas e se mostram passivos com de seus acessos de autoritarismo.
Não se lê no noticiário de origem nacional uma análise parecida com a do New York Times. Curiosamente, o texto que mais se aproxima dessa abordagem não foi escrito por um jornalista especializado, mas pelo empresário do setor hoteleiro e de restaurantes Rogério Fasano, na edição de segunda-feira (7/7) da Folha de S. Paulo (ver aqui). Ele observa que o jogo estava muito truncado, e que o técnico Scolari poderia ter tirado Neymar de campo quando o Brasil tinha 2 a 0 a seu favor. O atacante não estava jogando bem e, quando foi atingido pelas costas, tentava ajudar na defesa, tarefa que poderia ser executada por qualquer um dos reservas.
Durante o jogo, pouco antes de ocorrer o incidente, comentaristas de algumas emissoras sugeriam que o técnico deveria substituir o principal atleta do time e reforçar o meio de campo. Neymar tinha um cartão amarelo e, no meio de jogadas ríspidas, poderia acabar tomando outra advertência e recebido uma suspensão. Essa é a posição de Fasano, que responsabiliza diretamente o técnico brasileiro pelo ocorrido.
Contornando o debate sobre o leite derramado, pode-se observar com mais atenção a subserviência com que a imprensa esportiva do Brasil se relaciona com Luiz Felipe Scolari. Desde a convocação, quando cessaram imediatamente os palpites sobre este ou aquele jogador que alguns comentaristas queriam ver na relação da Copa, os jornalistas, de modo geral, baixam a cabeça diante do todo-poderoso condutor da seleção.
Os jornalistas parecem gostar quando a seleção é viril em campo, mas, diante de Felipão, a imprensa é uma florzinha.
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