Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:
Foi uma vitória épica, à altura das biografias de Lula e Dilma.
Nunca antes na História deste país, diria o ex-presidente, tantas forças se juntaram, dentro e fora do Brasil, para derrotar eleitoralmente um projeto político.
Um projeto cheio de defeitos, insuficiente e sustentado por uma coalizão instável; porém, o projeto possível.
Em nossa modesta opinião, foi o sociólogo Jessé de Souza, no Estadão, quem melhor definiu a distinção dos modelos que estavam diante da sociedade brasileira:
O primeiro, que ainda é o dominante, foi gestado em outro momento decisivo de nossa história, um desses momentos raros em que a escolha entre caminhos alternativos possíveis se realiza e se congela depois em uma espécie de “destino” para as gerações futuras. Esse momento foi o golpe de 1964 e das forças que o apoiaram, que optou por construir um modelo de moderna sociedade de consumo para 20% da população. Essa opção histórica foi consolidada nos anos 1990 com o governo FHC. O segundo modelo representa o anseio das forças derrotadas em 1964 por uma sociedade mais inclusiva. Modelo esse que vingou na esfera política nos últimos 12 anos, ainda que longe de deter a hegemonia na esfera pública que constrói a “opinião pública” e, portanto, não detém o efetivo controle da prática econômica e social. Afinal, existem limites claros para um Estado reformador em meio a uma sociedade conservadora.
Felizmente, a esquerda brasileira percebeu com nitidez e clareza tal distinção e nas últimas semanas da campanha mesmo os críticos mais ferozes de Dilma fizeram questão de declarar publicamente sua opção por reelegê-la.
Eles perceberam, por exemplo, que estava em jogo nada mais, nada menos que o pré-sal e uma política externa com certo grau de autonomia, sem falar na prioridade em mitigar a histórica desigualdade econômica entre os brasileiros.
A pequena margem de vitória, no entanto, impõe a Dilma e à coalizão governista uma boa dose de cautela. A presidenta colocou como prioridade de seu segundo mandato a reforma política.
É certo que, de cara, terá margem para trabalhar com as ideias apresentadas na campanha que são praticamente consensuais na sociedade: a aprovação das leis de combate à corrupção, o reforço no sistema de defesa das mulheres contra a violência doméstica e a reforma do futebol, por exemplo.
Porém, Dilma cometerá um erro gravíssimo se insistir na ênfase ao “gerenciamento administrativo”. A crise econômica internacional e o fantasma das manifestações de junho impõem escolhas em que haverá perdedores. Por isso, o segundo mandato exige política com P maiúsculo.
Uma combinação de atuação eficiente no Parlamento com mobilização popular nas ruas.
Felizmente, para ela, a campanha de segundo turno revelou uma notável presença de jovens apoiadores dentre aqueles que levaram Dilma à vitória.
Basta olhar não apenas nos eventos da campanha, mas também nas estatísticas eleitorais, para descobrir que uma razoável parcela do eleitorado jovem, com sua energia transformadora, apostou em Dilma. Frustrá-los seria o maior pecado da presidenta reeleita.
No domingo da apuração, na GloboNews, antes mesmo do anúncio oficial dos resultados os comentaristas já “escolhiam” o futuro ministro da Fazenda: o ex-secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa.
Merval Pereira, a voz da Globo, duvidava que Aloizio Mercadante deixará a Casa Civil para comandar a economia. É óbvio que, não podendo escolher o presidente, a Globo quer ocupar o segundo cargo mais importante na hierarquia do Executivo.
É deste tipo de pressão da mídia que Dilma deverá se libertar de cara no segundo mandato.
Jamais saberemos quantos votos a tentativa de golpe eleitoral articulada pela revista Veja, com apoio de emissoras de rádio e TV, custaram à presidenta nas horas finais da campanha. Um dia a mais de campanha e talvez Dilma nem tivesse sido reeleita.
Se o foi, deve isso especialmente ao papel-chave do que um colega jornalista definiu como “a Ohio brasileira”, o estado de Minas Gerais, onde confirmou-se o que a própria campanha de Dilma vaticinara: quem conhece Aécio, não vota em Aécio.
Embora o papel do ex-presidente Lula tenha sido fundamental, a campanha do segundo turno serviu para revelar abertamente o espírito combativo de Dilma.
Tanto nos debates quando nos palanques, podemos dizer que ela “saiu da sombra” de seu antecessor. Reagiu com firmeza à tentativa de golpe de última hora.
Se faltava algo para que Dilma percebesse a necessidade de uma mídia eletrônica mais plural e menos monopolizada, esperamos que ela tenha se dado conta de que a regulação econômica do setor, agora, é tão fundamental quanto a reforma política.
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