Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais do final de semana registram uma mudança na estratégia do governo contra o movimento de partidos oposicionistas, apoiados pela mídia tradicional, que ensaiam um processo de impeachment da presidente da República. No sábado (18/4), ganhou espaço nas primeiras páginas o discurso unificado do Planalto contra a nova incursão do PSDB, que trocou a tentativa de incluir a presidente no centro do caso Petrobras pela tese de que o artifício usado no ano passado para fechar as contas do Tesouro seria uma causa para seu afastamento.
Os petistas respondem que, se a prática de recorrer a bancos públicos para cobrir responsabilidades do Tesouro é ilegal, o Tribunal de Contas da União deve investigar todos os governos que recorreram a ela, para se estabelecer uma jurisprudência sólida. Esse raciocínio colocaria sob investigação as contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e poderia levantar de sob os tapetes uma poeira capaz de tapar a luz do sol por muitos dias.
A atitude do ex-presidente, que no domingo (19/4) considerou precipitado o movimento pelo impeachment, parece respaldada por nobres princípios republicanos, mas também pode ser inspirada pelo velho e bom instinto de conservação. Não é uma ironia o fato de que sua declaração tenha sido feita durante o maior festival de vaidades do calendário de homens de negócio e políticos brasileiros: o encontro anual de celebridades na Ilha de Comandatuba.
Muito à vontade entre os emplumados egos em território baiano, Fernando Henrique também exibiu seu espírito republicano ao rejeitar a outra frente do movimento conspiratório de alguns de seus correligionários: o propósito de “extinguir” o Partido dos Trabalhadores. Apesar de testemunhas terem diagnosticado, na voz e na postura do ex-presidente, o efeito devastador da idade, ele demonstrou ainda ter energia para a polêmica: afinal, se o grupo liderado pelo senador Aécio Neves seguir empurrando a agenda alucinada do terceiro turno eleitoral, é a biografia de FHC que poderá sofrer danos colaterais. E a biografia, como se sabe, é o último bastião no ocaso dos homens públicos.
Os pólipos da imprensa
Mas o noticiário tem muito mais: naufrágio de migrantes no Mediterrâneo, cena que se repete periodicamente, a denunciar o cinismo desumano dos velhos colonizadores; as semifinais regionais de campeonatos de futebol; denúncias requentadas e mais uma chacina em São Paulo – esse modelo de resolução de conflitos que iguala a capital paulista a territórios conflagrados do Oriente Médio e do norte da África, sob o olhar complacente, quando não ativo, das autoridades policiais.
A denúncia que surgiu na Folha de S. Paulo no sábado, dando conta de que o governo paulista paga R$ 70 mil reais a um blogueiro para fazer campanha contra o governo federal, ganhou repercussão no Estado de S. Paulo no dia seguinte, mas o assunto morreu imediatamente. Aparentemente, os jornais consideram o caso encerrado com a alegação de que o blogueiro é terceirizado por uma agência de propaganda. E não se fala mais nisso.
No campo das revistas semanais, que, como demonstram os números da última década, sofrem o maior impacto das tecnologias digitais, chama atenção o novo estilo de Época. Não nos referimos ao seu perfil esquálido, resultado da rigorosa dieta de anúncios que afeta o setor, mas à linguagem mais leve e a um aparente esforço para buscar um público mais jovem e arejado, contrapondo-se à escolha de Veja, que prioriza leitores envelhecidos de todas a idades.
Restam poucas alternativas aos executivos chamados para dar algum alento aos meios tradicionais de imprensa. Na capa de Época, dois títulos dão ideia da janela que tenta abrir o novo diretor de redação, um jornalista experiente que é também musicista e escritor de talento reconhecido. Um deles diz: “Gasparzinho – a incrível história da sociedade entre um líder do PMDB e um defunto”. O outro anuncia: “Scooby-Doo – o PSDB finalmente começa a latir. Mas será que ele morde?”
A revista Época parece ganhar um pouco de oxigênio, apesar de ainda manter em suas páginas um ou outro foco de um jornalismo raivoso, essa espécie de pólipo que na última década tem proliferado nos intestinos da imprensa brasileira. Sua vantagem sobre a concorrência é pertencer ao maior grupo empresarial de comunicação do País. Seu risco é a possibilidade de que bons textos já não sejam suficientes para reverter a decadência da imprensa brasileira.
Os petistas respondem que, se a prática de recorrer a bancos públicos para cobrir responsabilidades do Tesouro é ilegal, o Tribunal de Contas da União deve investigar todos os governos que recorreram a ela, para se estabelecer uma jurisprudência sólida. Esse raciocínio colocaria sob investigação as contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e poderia levantar de sob os tapetes uma poeira capaz de tapar a luz do sol por muitos dias.
A atitude do ex-presidente, que no domingo (19/4) considerou precipitado o movimento pelo impeachment, parece respaldada por nobres princípios republicanos, mas também pode ser inspirada pelo velho e bom instinto de conservação. Não é uma ironia o fato de que sua declaração tenha sido feita durante o maior festival de vaidades do calendário de homens de negócio e políticos brasileiros: o encontro anual de celebridades na Ilha de Comandatuba.
Muito à vontade entre os emplumados egos em território baiano, Fernando Henrique também exibiu seu espírito republicano ao rejeitar a outra frente do movimento conspiratório de alguns de seus correligionários: o propósito de “extinguir” o Partido dos Trabalhadores. Apesar de testemunhas terem diagnosticado, na voz e na postura do ex-presidente, o efeito devastador da idade, ele demonstrou ainda ter energia para a polêmica: afinal, se o grupo liderado pelo senador Aécio Neves seguir empurrando a agenda alucinada do terceiro turno eleitoral, é a biografia de FHC que poderá sofrer danos colaterais. E a biografia, como se sabe, é o último bastião no ocaso dos homens públicos.
Os pólipos da imprensa
Mas o noticiário tem muito mais: naufrágio de migrantes no Mediterrâneo, cena que se repete periodicamente, a denunciar o cinismo desumano dos velhos colonizadores; as semifinais regionais de campeonatos de futebol; denúncias requentadas e mais uma chacina em São Paulo – esse modelo de resolução de conflitos que iguala a capital paulista a territórios conflagrados do Oriente Médio e do norte da África, sob o olhar complacente, quando não ativo, das autoridades policiais.
A denúncia que surgiu na Folha de S. Paulo no sábado, dando conta de que o governo paulista paga R$ 70 mil reais a um blogueiro para fazer campanha contra o governo federal, ganhou repercussão no Estado de S. Paulo no dia seguinte, mas o assunto morreu imediatamente. Aparentemente, os jornais consideram o caso encerrado com a alegação de que o blogueiro é terceirizado por uma agência de propaganda. E não se fala mais nisso.
No campo das revistas semanais, que, como demonstram os números da última década, sofrem o maior impacto das tecnologias digitais, chama atenção o novo estilo de Época. Não nos referimos ao seu perfil esquálido, resultado da rigorosa dieta de anúncios que afeta o setor, mas à linguagem mais leve e a um aparente esforço para buscar um público mais jovem e arejado, contrapondo-se à escolha de Veja, que prioriza leitores envelhecidos de todas a idades.
Restam poucas alternativas aos executivos chamados para dar algum alento aos meios tradicionais de imprensa. Na capa de Época, dois títulos dão ideia da janela que tenta abrir o novo diretor de redação, um jornalista experiente que é também musicista e escritor de talento reconhecido. Um deles diz: “Gasparzinho – a incrível história da sociedade entre um líder do PMDB e um defunto”. O outro anuncia: “Scooby-Doo – o PSDB finalmente começa a latir. Mas será que ele morde?”
A revista Época parece ganhar um pouco de oxigênio, apesar de ainda manter em suas páginas um ou outro foco de um jornalismo raivoso, essa espécie de pólipo que na última década tem proliferado nos intestinos da imprensa brasileira. Sua vantagem sobre a concorrência é pertencer ao maior grupo empresarial de comunicação do País. Seu risco é a possibilidade de que bons textos já não sejam suficientes para reverter a decadência da imprensa brasileira.
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