sexta-feira, 10 de julho de 2015

Linchamento no MA e o papel da mídia

Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Um homem de 29 anos foi linchado por moradores do Jardim São Cristóvão, em São Luís (MA). Segundo a polícia civil, ele havia tentado assaltar um bar, quando foi rendido, amarrado nu em um poste e agredido até a morte com socos, chutes, pedradas e garrafadas. Um jovem de 16 anos que seria seu cúmplice também foi espancado, mas sobreviveu.

Fiz questão de postar a imagem. Alguns leitores psicopatas sentirão orgasmo com ela. Para esses, há pouco a ser feito fora da medicina. Contudo, não acredito que a maioria de vocês ache normal uma turba de moradores fazer justiça com as próprias mãos – e com requintes de crueldade.

Ou indo direto ao ponto: a Lei Áurea completou 127 anos, mas a sociedade ainda coloca negros no pelourinho. Por raiva, por vingança, para servir de exemplo.


Foto: Imirante.com

Desde que jornalistas fizeram apologia ao fato de um jovem ter sido preso a um poste e espancado, como punição por um suposto crime, no ano passado, no Rio de Janeiro, a moda parece ter pegado. Pois, no que pese linchamentos serem corriqueiros por aqui, outros casos de pessoas amarradas em postes pipocaram pelo país.

Parabéns, colegas. Parabéns a todos os envolvidos.

Teoricamente em algum momento da história humana, nós abrimos mão de resolver as coisas por conta própria para impedir que nos devoremos. Sei que parte da população, cansada de esperar que o poder público cumpra seu papel e garanta condições mínimas de segurança, ressuscita seus instintos mais primitivos. O sistema que criamos para isso não é perfeito, longe disso, mas é o que tem para hoje.

O Brasil não tem pena de morte. Oficialmente, é claro. Porque muitos governos e suas polícias fingem que não sabem disso. E, não raro, turbas processam, julgam e executam também.


Foto: Biné Morais

Ao criticar linchamentos públicos de “culpados'' ou “inocentes'' não defendo “bandido'' ou “impunidade'', mas sim esse pacto que os membros da sociedade fizeram entre si para poderem conviver (minimamente) em harmonia.

Se algo causa impacto, é claro que será copiado. Não estou jogando a culpa no mensageiro ou dizendo que o mimetismo é a causa, mas nós jornalistas temos certa parcela de responsabilidade. E não falo apenas por conta da banalização da violência. É a sua transmissão acrítica, como se notícias fossem neutras, não houvesse contexto social e todos os receptores da informação compartilhassem dos mesmos valores.

As pessoas veem, as pessoas copiam. E a sociedade vai indo da barbárie para a decadência sem passar pela civilização.

1 comentários:

Anônimo disse...

e vejam a quantidade de pessoas olhando o homem morto, apenas esperando os carros de reportagens para ver se algum repórter babaca os entrevistam para aparecerem na TV, tipo programas do Marcelo Rezende, Datena e os regionais.