Por Flávio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
O título deste post pode ter dois sentidos. Exploremos ambos.
Primeiro, simplesmente, cascata, no sentido de conversa fiada, sem consistência e vinda de quem não inspira credibilidade. Desde a crise de 2007/2008, que levou o mundo à recessão inacabada que começou em 2008/2009, três agências que pretendem determinar a governança dos investimentos financeiros internacionais, a Standard & Poor's (que deu a nota de rebaixamento para o Brasil), a Moody's e a Fitch Ratings, estão sob suspeita, e tentando recuperar sua credibilidade.
Até a véspera da crise (literalmente) todas elas continuavam aconselhando seus clientes a investirem nas "securities" (que nome irônico…) ligadas à bolha imobiliária que estourou logo a seguir. A crise provocou no imediato perdas no valor de meio trilhão de dólares e forçou o governo norte-americano a comprar 700 bilhões das dívidas de instituições financeiras inadimplentes.
A crise mergulhou a Europa no buraco recessivo de onde seus indicadores econômicos podem estar saindo (ainda não saíram), mas não seus povos. Os índices de desemprego permanecem altíssimos na maioria dos países afetados, e alguns dos índices são "maquiados" por realidades como a imigração forçada, sobretudo de jovens, o que acontece, por exemplo, na Irlanda, em Portugal e nos países bálticos.
Além desta credibilidade inadimplente, há um "colateral" (como gostam de dizer os economistas ortodoxos) nesta situação toda. Mais recentemente, como o mundo não sai da recessão, tornou-se comum entre os analistas ortodoxos culpar os países emergentes (entre eles, destaque para os BRICS) e suas "apostas erradas" por esta situação em que a "crise" virou "normalidade", em que a recessão virou virtude, dependendo de quem esteja no seu comando.
Se for um neoliberal, com políticas antissociais, é virtude; se for um “populista de esquerda”, a culpa é de suas “políticas erradas”. Em ambas as possibilidades existe uma tendência a examinar os cenários caso a caso, isolando-os e tapando o cenário global com a peneira. Assim instalam-se "a crise da moeda chinesa", "a crise do rublo russo" e também "a crise da confiabilidade no Brasil".
A África do Sul fica um tanto à margem destes comentários, e a Índia, atualmente com um governo conservador, fica de lado. Na visão destes comentaristas ortodoxos, ocorre uma curiosa transubstanciação, pois dependendo do caso, “ajuste” vira "crise" e vice-versa. Se a Espanha mergulha seu povo numa recessão, seguindo a receita de Berlim, Frankfurt e Bruxelas, isto não é crise, é ajuste. Se o Brasil passa por uma fase de ajuste cambial, depois de muito tempo de m real supervalorizado, isto não é ajuste, é recessão.
A segunda possibilidade de leitura do titulo é a de um "efeito cascata". Traduzindo no contexto: tal tipo de rebaixamento pode (e quer) se constituir numa profecia autorrealizável. Até o momento o Brasil não é um mau pagador. Mas em decorrência deste rebaixamento, é quase certo que fundos de pensão que fazem investimentos internacionais deixarão de investir nas letras do país.
Isto vai aumentar os juros sobre elas, aumentando o risco de o Brasil tornar-se um devedor problemático. As justificativas da nota falam em um 2016 difícil, apontando para uma instabilidade governamental. Ao mesmo tempo, o rebaixamento induz, ele mesmo, a instabilidade e a dificuldade no futuro.
No curto prazo isto apenas aumenta a pressão para que o governo brasileiro permaneça fazendo o "ajuste" que o mundo financeiro quer que ele faça, em seu favor, e em detrimento do povo. Se der certo – isto é – se a profecia se auto-realizar, a agência dirá estar recuperando sua credibilidade. Se ela não se realizar, alegará que sua atitude contribuiu para "manter o Brasil no rumo certo", dizendo, por isso, estar recuperando sua credibilidade.
Em ambos os casos, do ponto de vista macro-político, a agência sairia ganhando e o Brasil, perdendo. Outro efeito "colateral" deste tipo de manobra é a esperança de reduzir novamente o Brasil à condição de "devedor" – mesmo que no plano imaginário – na cena internacional.
O país, em relação ao FMI, de devedor passou à condição de credor, e condições como a do pré-sal projetam um deslocamento maior ainda para o país no mapa geo-econômico. Isto assusta as agências desacreditadas, e junto com elas, as direitas internacionais e a nossa, paroquial e anacrônica como sempre. Uma última coisa: falta combinar estes roteiros com o nosso governo. Se este enfiar a cabeça neste gargalo, vai ser difícil sair depois.
Primeiro, simplesmente, cascata, no sentido de conversa fiada, sem consistência e vinda de quem não inspira credibilidade. Desde a crise de 2007/2008, que levou o mundo à recessão inacabada que começou em 2008/2009, três agências que pretendem determinar a governança dos investimentos financeiros internacionais, a Standard & Poor's (que deu a nota de rebaixamento para o Brasil), a Moody's e a Fitch Ratings, estão sob suspeita, e tentando recuperar sua credibilidade.
Até a véspera da crise (literalmente) todas elas continuavam aconselhando seus clientes a investirem nas "securities" (que nome irônico…) ligadas à bolha imobiliária que estourou logo a seguir. A crise provocou no imediato perdas no valor de meio trilhão de dólares e forçou o governo norte-americano a comprar 700 bilhões das dívidas de instituições financeiras inadimplentes.
A crise mergulhou a Europa no buraco recessivo de onde seus indicadores econômicos podem estar saindo (ainda não saíram), mas não seus povos. Os índices de desemprego permanecem altíssimos na maioria dos países afetados, e alguns dos índices são "maquiados" por realidades como a imigração forçada, sobretudo de jovens, o que acontece, por exemplo, na Irlanda, em Portugal e nos países bálticos.
Além desta credibilidade inadimplente, há um "colateral" (como gostam de dizer os economistas ortodoxos) nesta situação toda. Mais recentemente, como o mundo não sai da recessão, tornou-se comum entre os analistas ortodoxos culpar os países emergentes (entre eles, destaque para os BRICS) e suas "apostas erradas" por esta situação em que a "crise" virou "normalidade", em que a recessão virou virtude, dependendo de quem esteja no seu comando.
Se for um neoliberal, com políticas antissociais, é virtude; se for um “populista de esquerda”, a culpa é de suas “políticas erradas”. Em ambas as possibilidades existe uma tendência a examinar os cenários caso a caso, isolando-os e tapando o cenário global com a peneira. Assim instalam-se "a crise da moeda chinesa", "a crise do rublo russo" e também "a crise da confiabilidade no Brasil".
A África do Sul fica um tanto à margem destes comentários, e a Índia, atualmente com um governo conservador, fica de lado. Na visão destes comentaristas ortodoxos, ocorre uma curiosa transubstanciação, pois dependendo do caso, “ajuste” vira "crise" e vice-versa. Se a Espanha mergulha seu povo numa recessão, seguindo a receita de Berlim, Frankfurt e Bruxelas, isto não é crise, é ajuste. Se o Brasil passa por uma fase de ajuste cambial, depois de muito tempo de m real supervalorizado, isto não é ajuste, é recessão.
A segunda possibilidade de leitura do titulo é a de um "efeito cascata". Traduzindo no contexto: tal tipo de rebaixamento pode (e quer) se constituir numa profecia autorrealizável. Até o momento o Brasil não é um mau pagador. Mas em decorrência deste rebaixamento, é quase certo que fundos de pensão que fazem investimentos internacionais deixarão de investir nas letras do país.
Isto vai aumentar os juros sobre elas, aumentando o risco de o Brasil tornar-se um devedor problemático. As justificativas da nota falam em um 2016 difícil, apontando para uma instabilidade governamental. Ao mesmo tempo, o rebaixamento induz, ele mesmo, a instabilidade e a dificuldade no futuro.
No curto prazo isto apenas aumenta a pressão para que o governo brasileiro permaneça fazendo o "ajuste" que o mundo financeiro quer que ele faça, em seu favor, e em detrimento do povo. Se der certo – isto é – se a profecia se auto-realizar, a agência dirá estar recuperando sua credibilidade. Se ela não se realizar, alegará que sua atitude contribuiu para "manter o Brasil no rumo certo", dizendo, por isso, estar recuperando sua credibilidade.
Em ambos os casos, do ponto de vista macro-político, a agência sairia ganhando e o Brasil, perdendo. Outro efeito "colateral" deste tipo de manobra é a esperança de reduzir novamente o Brasil à condição de "devedor" – mesmo que no plano imaginário – na cena internacional.
O país, em relação ao FMI, de devedor passou à condição de credor, e condições como a do pré-sal projetam um deslocamento maior ainda para o país no mapa geo-econômico. Isto assusta as agências desacreditadas, e junto com elas, as direitas internacionais e a nossa, paroquial e anacrônica como sempre. Uma última coisa: falta combinar estes roteiros com o nosso governo. Se este enfiar a cabeça neste gargalo, vai ser difícil sair depois.
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