Por Vanessa Martina Silva, de Buenos Aires, no site Opera Mundi:
Na ocasião, Macri considerou haver uma onda à direita na América Latina, após a vitória do conservador Sebastián Piñera no Chile. Para ele, José Serra venceria as eleições em 2010 no Brasil. “Macri crê que há uma tendência regional à direita, começando com a eleição de Sebastián Piñera no Chile. […] Macri acredita que José Serra ganhará a presidência no Brasil e ele espera seguir a tendência em 2011”, diz o informe.
Em outra avaliação, Macri ressaltou que a classe média já não apoiava o governo kirchnerista, disse ter mais votos que Cristina Kirchner e que “até aqueles da classe média baixa (a base política dos Kirchner) estão frustrados e fartos com o governo nacional. Na frente política havia um acordo do perigo que representavam os Kirchner, mas terão que aprender a trabalhar juntos para limitar o dano que eles podem fazer”. Sobre esse trecho, o jornalista O’Donnell ressalta que não está claro de quem é a opinião, se de Macri, ou da embaixadora, ou ainda dos dois.
Cristina venceu as eleições presidenciais em 2011 e encerra seu mandato em dezembro deste ano.
Consta ainda no documento que Macri teria solicitado ajuda dos Estados Unidos para treinar a polícia municipal, mas a ajuda não veio.
Outro lado
Em entrevista concedida em 2011 à rádio La Red, Macri admitiu ter manifestado críticas contra Néstor e Cristina Kirchner em encontros na embaixada dos Estados Unidos, tal como divulgado pelo Wikileaks, mas disse não lembrar de tais conversas por “fazer muito tempo”.
“Eu sempre fui muito crítico com o governo dos Kirchner, sempre senti que têm na política exterior um objetivo de fazer política interna, o que é o pior que alguém pode fazer”, afirmou na ocasião. E acrescentou: “a Argentina levando à política exterior a politicagem interna e fazendo shows midiáticos com a relação com outros países, o que consegue é se isolar”.
Já a embaixadora dos EUA no país afirmou, também à época, que as revelações do Wikileaks eram “um golpe contra os esforços de seu país de fortalecer as relações com a Argentina”. E ressaltou que levaria tempo “para se recuperar dos efeitos” das revelações.
O hoje presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri (Cambiemos), teve conversas suas com a embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires vazadas em 2011. De acordo com o Wikileaks, o novo mandatário, que assume o comando do país em 10 de dezembro, se assumiu, em conversas ao longo de três anos, como abertamente "pró-mercado", se colocou como o mais próximo ao governo norte-americano, falou que o governo de Cristina Kirchner 'duraria mais 60 dias' e pediu que os EUA fossem mais enfáticos em suas críticas à Argentina.
As informações a respeito do presidenciável foram compiladas pelo jornalista argentino Santiago O’Donnell, que recebeu, das mãos de Julian Assange, em 2011, um pendrive com centenas de documentos produzidos pela embaixada norte-americana em Buenos Aires sobre diversas figuras da política nacional. O material foi compilado no livro ArgenLeaks, publicado no país em 2011 (sem versão em português).
2007: "Pró-mercado" e "pró-negócios"
Ainda em 2007, seis meses antes das eleições presidenciais que elegeriam Cristina Kirchner para seu primeiro mandato, Macri se apresentou diante da embaixadora norte-americana Vilma Socorro Martínez da seguinte forma: “somos o primeiro partido pró-mercado e pró-negócios que está pronto para assumir o poder em cerca de 80 anos de história argentina”. Na ocasião, em que o líder do PRO (Proposta Republicana) e o cônsul político da embaixada Mike Matera falavam sobre a conjuntura eleitoral, ele disse que era o candidato mais amigável ao governo norte-americano, à época comandado por George W. Bush (2001-2009).
O líder opositor ainda não tinha claro nesse momento se iria concorrer à presidência ou ao governo da cidade de Buenos Aires. Por fim, optou pela segunda opção.
Durante o encontro, Macri disse estar pronto para governar e que sua fundação Crer e Crescer estava trabalhando junto com o Instituto Republicano dos Estados Unidos (e também com a fundação Konrad Adenauer da Alemanha) na formação de novas lideranças argentinas. Ainda na ocasião, o empresário do setor de construção e amigo de Macri, Nicolás Caputo, disse que os jovens da ONG estavam “um pouco ansiosos pelos vai e vens da política que não lhes permitia se concentrar no projeto de longo prazo”.
Apesar de se classificar como pró mercado, Macri criticou a política exterior do então presidente Néstor Kirchner. “A Argentina não está conseguindo os investimentos que precisa, especialmente no setor energético. [Néstor] Kirchner pensa que pode ir a Nova York, tocar a campainha na Bolsa do Comércio e dizer aos investidores: ‘antes não cumprimos nossas promessas, mas agora podem confiar em nós’. É preciso trabalhar muito para trazer os investidores de volta à Argentina”.
Ao fim do informe diplomático, Matera observou que Macri é o líder da oposição que “tem recursos suficientes e é suficientemente jovem para competir [com o kirchnerismo] no longo prazo”.
2008: "Governo Cristina dura mais 60 dias"
Em conversas em seu gabinete em 2008, Macri sinalizou que os argentinos ficariam satisfeitos se o governo kirchnerista caísse. Na mesma conversa, um assessor do prefeito portenho afirmou que a gestão de Cristina teria somente mais 60 dias de duração.
“Macri falou com franqueza sobre o atual governo dos Kirchner. Disse que os argentinos ficariam ‘contentes’ se os Kirchner caíssem (erguendo um copo d’água, disse: ‘se esse copo de água fosse os Kirchner, todos estariam brigando para derrubá-lo’)”, escreveu Carl Meacham, funcionário sênior do comitê de Relações Exteriores do Senado norte-americano.
À época, Macri ressaltou ainda que a principal sustentação do governo Kirchner era “o medo de que um colapso do governo pudesse trazer um retorno ao caos de 2001-2002, quando o país viveu o chamado corralito - congelamento dos depósitos bancários – calote da dívida e abandono do câmbio fixo. Como resultado, o país vivenciou um colapso na produção, altos níveis de desemprego e forte mobilização social. Nessa época, a Argentina teve cinco presidentes diferentes em apenas 10 dias.
Durante a conversa, Macri reclamou da postura do governo norte-americano, que, segundo ele, deveria aumentar o tom das críticas, e pediu “que os Estados Unidos voltassem a reconhecer a Argentina independentemente dos vizinhos, ao invés de agrupá-la ao lado de países como Bolívia, Equador e Venezuela”, diz o autor do informe.
2010: "Serra ganharia no Brasil"
“Como já havia feito no passado, Macri pressionou sobre o enfoque que dos Estados Unidos com relação aos Kirchner, insistindo em uma crítica mais aberta das medidas que consideramos pouco sábias”, relatou a embaixadora norte-americana Vilma Socorro Martínez após jantar com o prefeito de Buenos Aires, para na sequência ressaltar que “a embaixadora respondeu que continuaremos buscando uma relação de trabalho positiva com o governo da Argentina”.
No mesmo documento diplomático, consta que Macri discutira abertamente seus planos para se candidatar à presidência em 2011 – o que não chegou a fazer, optando pela reeleição ao governo da cidade de Buenos Aires.
As informações a respeito do presidenciável foram compiladas pelo jornalista argentino Santiago O’Donnell, que recebeu, das mãos de Julian Assange, em 2011, um pendrive com centenas de documentos produzidos pela embaixada norte-americana em Buenos Aires sobre diversas figuras da política nacional. O material foi compilado no livro ArgenLeaks, publicado no país em 2011 (sem versão em português).
2007: "Pró-mercado" e "pró-negócios"
Ainda em 2007, seis meses antes das eleições presidenciais que elegeriam Cristina Kirchner para seu primeiro mandato, Macri se apresentou diante da embaixadora norte-americana Vilma Socorro Martínez da seguinte forma: “somos o primeiro partido pró-mercado e pró-negócios que está pronto para assumir o poder em cerca de 80 anos de história argentina”. Na ocasião, em que o líder do PRO (Proposta Republicana) e o cônsul político da embaixada Mike Matera falavam sobre a conjuntura eleitoral, ele disse que era o candidato mais amigável ao governo norte-americano, à época comandado por George W. Bush (2001-2009).
O líder opositor ainda não tinha claro nesse momento se iria concorrer à presidência ou ao governo da cidade de Buenos Aires. Por fim, optou pela segunda opção.
Durante o encontro, Macri disse estar pronto para governar e que sua fundação Crer e Crescer estava trabalhando junto com o Instituto Republicano dos Estados Unidos (e também com a fundação Konrad Adenauer da Alemanha) na formação de novas lideranças argentinas. Ainda na ocasião, o empresário do setor de construção e amigo de Macri, Nicolás Caputo, disse que os jovens da ONG estavam “um pouco ansiosos pelos vai e vens da política que não lhes permitia se concentrar no projeto de longo prazo”.
Apesar de se classificar como pró mercado, Macri criticou a política exterior do então presidente Néstor Kirchner. “A Argentina não está conseguindo os investimentos que precisa, especialmente no setor energético. [Néstor] Kirchner pensa que pode ir a Nova York, tocar a campainha na Bolsa do Comércio e dizer aos investidores: ‘antes não cumprimos nossas promessas, mas agora podem confiar em nós’. É preciso trabalhar muito para trazer os investidores de volta à Argentina”.
Ao fim do informe diplomático, Matera observou que Macri é o líder da oposição que “tem recursos suficientes e é suficientemente jovem para competir [com o kirchnerismo] no longo prazo”.
2008: "Governo Cristina dura mais 60 dias"
Em conversas em seu gabinete em 2008, Macri sinalizou que os argentinos ficariam satisfeitos se o governo kirchnerista caísse. Na mesma conversa, um assessor do prefeito portenho afirmou que a gestão de Cristina teria somente mais 60 dias de duração.
“Macri falou com franqueza sobre o atual governo dos Kirchner. Disse que os argentinos ficariam ‘contentes’ se os Kirchner caíssem (erguendo um copo d’água, disse: ‘se esse copo de água fosse os Kirchner, todos estariam brigando para derrubá-lo’)”, escreveu Carl Meacham, funcionário sênior do comitê de Relações Exteriores do Senado norte-americano.
À época, Macri ressaltou ainda que a principal sustentação do governo Kirchner era “o medo de que um colapso do governo pudesse trazer um retorno ao caos de 2001-2002, quando o país viveu o chamado corralito - congelamento dos depósitos bancários – calote da dívida e abandono do câmbio fixo. Como resultado, o país vivenciou um colapso na produção, altos níveis de desemprego e forte mobilização social. Nessa época, a Argentina teve cinco presidentes diferentes em apenas 10 dias.
Durante a conversa, Macri reclamou da postura do governo norte-americano, que, segundo ele, deveria aumentar o tom das críticas, e pediu “que os Estados Unidos voltassem a reconhecer a Argentina independentemente dos vizinhos, ao invés de agrupá-la ao lado de países como Bolívia, Equador e Venezuela”, diz o autor do informe.
2010: "Serra ganharia no Brasil"
“Como já havia feito no passado, Macri pressionou sobre o enfoque que dos Estados Unidos com relação aos Kirchner, insistindo em uma crítica mais aberta das medidas que consideramos pouco sábias”, relatou a embaixadora norte-americana Vilma Socorro Martínez após jantar com o prefeito de Buenos Aires, para na sequência ressaltar que “a embaixadora respondeu que continuaremos buscando uma relação de trabalho positiva com o governo da Argentina”.
No mesmo documento diplomático, consta que Macri discutira abertamente seus planos para se candidatar à presidência em 2011 – o que não chegou a fazer, optando pela reeleição ao governo da cidade de Buenos Aires.
Na ocasião, Macri considerou haver uma onda à direita na América Latina, após a vitória do conservador Sebastián Piñera no Chile. Para ele, José Serra venceria as eleições em 2010 no Brasil. “Macri crê que há uma tendência regional à direita, começando com a eleição de Sebastián Piñera no Chile. […] Macri acredita que José Serra ganhará a presidência no Brasil e ele espera seguir a tendência em 2011”, diz o informe.
Em outra avaliação, Macri ressaltou que a classe média já não apoiava o governo kirchnerista, disse ter mais votos que Cristina Kirchner e que “até aqueles da classe média baixa (a base política dos Kirchner) estão frustrados e fartos com o governo nacional. Na frente política havia um acordo do perigo que representavam os Kirchner, mas terão que aprender a trabalhar juntos para limitar o dano que eles podem fazer”. Sobre esse trecho, o jornalista O’Donnell ressalta que não está claro de quem é a opinião, se de Macri, ou da embaixadora, ou ainda dos dois.
Cristina venceu as eleições presidenciais em 2011 e encerra seu mandato em dezembro deste ano.
Consta ainda no documento que Macri teria solicitado ajuda dos Estados Unidos para treinar a polícia municipal, mas a ajuda não veio.
Outro lado
Em entrevista concedida em 2011 à rádio La Red, Macri admitiu ter manifestado críticas contra Néstor e Cristina Kirchner em encontros na embaixada dos Estados Unidos, tal como divulgado pelo Wikileaks, mas disse não lembrar de tais conversas por “fazer muito tempo”.
“Eu sempre fui muito crítico com o governo dos Kirchner, sempre senti que têm na política exterior um objetivo de fazer política interna, o que é o pior que alguém pode fazer”, afirmou na ocasião. E acrescentou: “a Argentina levando à política exterior a politicagem interna e fazendo shows midiáticos com a relação com outros países, o que consegue é se isolar”.
Já a embaixadora dos EUA no país afirmou, também à época, que as revelações do Wikileaks eram “um golpe contra os esforços de seu país de fortalecer as relações com a Argentina”. E ressaltou que levaria tempo “para se recuperar dos efeitos” das revelações.
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