Por Bepe Damasco, em seu blog:
A eleição do direitista Maurício Macri para a presidência da Argentina por uma margem apertada de votos (em termos percentuais, praticamente a mesma diferença de Dilma para Aécio em 2014) sobre o candidato da situação Daniel Scioli é o primeiro impacto eleitoral da onda conservadora que avança no continente sul-americano.
A derrota do "kirchnerismo" depois de mais de 12 anos no poder mexe no tabuleiro político da região. Como todo consevador sul-americano que se preze, Macri está longe de ser um entusiasta do Mercosul. Embora fale, protocolarmente, em manter seu país no bloco, o presidente argentino eleito defende o estabelecimento de relações privilegiadas com os Estados Unidos e a Europa.
Até agora o Mercosul, afora os espasmos antidemocráticos do Paraguai, vinha se notabilizando pela forte identidade política e estratégica entre os governos do Brasil, da Argentina e do Uruguai. A presença meia boca da Argentina no Mercosul, no mínimo, cobre de incertezas o processo de integração, até então tratado como prioridade.
No front interno, o tempo vai dizer qual é o tamanho do estrago. Ninguém duvida que o novo governo vai avançar sobre os direitos sociais e conquistas políticas e econômicas da população argentina. Esse desmonte, além de fazer parte do programa econômico de Macri, está no DNA da direita, seja da Argentina, do Brasil ou de qualquer lugar do planeta. A profundidade e o alcance dessas medidas antipopulares dependem, no entanto, do cacife político do novo governo.
É importante lembrar que a a coligação peronista de Sciol, a Frente para a Vitória, tem maioria tanto na Câmara como no Senado, o que deve trazer enormes dificuldades para Macri aplicar seu programa. Sem falar no apoio de quase metade do eleitorado que o "kirchnerismo" obteve nas urnas no segundo turno. E o ambiente político de hoje não pode ser comparado com o dos tempos de Carlos Menem, quando o vendaval neoliberal varria a Argentina, o Brasil e o mundo.
Macri fala em promover uma megadesvalorização do câmbio. Mas não terá condições políticas para embarcar em loucuras como a paridade peso-dólar inventada por Menem, que fez com que os fundamentos da economia argentina virassem pó.
Macri fala em frear a valorização da massa salarial e adequar às políticas de geração de emprego à realidade argentina, condicionado-as ao combate à inflação. Mas terá força para enfrentar os sindicatos e convencer a população de que é necessário andar várias casas para trás ?
Macri fala em rediscutir pontos da Lei de Meios, um marco na democratização da mídia no continente, que abalou os alicerces do monopólio do Grupo Clarín. Mas contará com o apoio do politizado cidadão argentino para efetivar tamanho retrocesso ?
Claro que não se pode minimizar a gravidade do resultado eleitoral da Argentina para as forças progressistas e de esquerda da América do Sul, tanto no que refere aos seus aspectos práticos (desdobramentos políticos, sociais e econômicos) como na esfera simbólica, na medida em que interrompe uma longa hegemonia das forças antineoliberais.
Contudo, é preciso contextualizar a eleição de Macri. Se é verdade que ela se deu no embalo de uma forte reação conservadora continental, não se pode desprezar a capacidade de mobilização política dos trabalhadores e dos setores comprometidos com o avanço social, as conquistas democráticas e a soberania nacional.
A eleição do direitista Maurício Macri para a presidência da Argentina por uma margem apertada de votos (em termos percentuais, praticamente a mesma diferença de Dilma para Aécio em 2014) sobre o candidato da situação Daniel Scioli é o primeiro impacto eleitoral da onda conservadora que avança no continente sul-americano.
A derrota do "kirchnerismo" depois de mais de 12 anos no poder mexe no tabuleiro político da região. Como todo consevador sul-americano que se preze, Macri está longe de ser um entusiasta do Mercosul. Embora fale, protocolarmente, em manter seu país no bloco, o presidente argentino eleito defende o estabelecimento de relações privilegiadas com os Estados Unidos e a Europa.
Até agora o Mercosul, afora os espasmos antidemocráticos do Paraguai, vinha se notabilizando pela forte identidade política e estratégica entre os governos do Brasil, da Argentina e do Uruguai. A presença meia boca da Argentina no Mercosul, no mínimo, cobre de incertezas o processo de integração, até então tratado como prioridade.
No front interno, o tempo vai dizer qual é o tamanho do estrago. Ninguém duvida que o novo governo vai avançar sobre os direitos sociais e conquistas políticas e econômicas da população argentina. Esse desmonte, além de fazer parte do programa econômico de Macri, está no DNA da direita, seja da Argentina, do Brasil ou de qualquer lugar do planeta. A profundidade e o alcance dessas medidas antipopulares dependem, no entanto, do cacife político do novo governo.
É importante lembrar que a a coligação peronista de Sciol, a Frente para a Vitória, tem maioria tanto na Câmara como no Senado, o que deve trazer enormes dificuldades para Macri aplicar seu programa. Sem falar no apoio de quase metade do eleitorado que o "kirchnerismo" obteve nas urnas no segundo turno. E o ambiente político de hoje não pode ser comparado com o dos tempos de Carlos Menem, quando o vendaval neoliberal varria a Argentina, o Brasil e o mundo.
Macri fala em promover uma megadesvalorização do câmbio. Mas não terá condições políticas para embarcar em loucuras como a paridade peso-dólar inventada por Menem, que fez com que os fundamentos da economia argentina virassem pó.
Macri fala em frear a valorização da massa salarial e adequar às políticas de geração de emprego à realidade argentina, condicionado-as ao combate à inflação. Mas terá força para enfrentar os sindicatos e convencer a população de que é necessário andar várias casas para trás ?
Macri fala em rediscutir pontos da Lei de Meios, um marco na democratização da mídia no continente, que abalou os alicerces do monopólio do Grupo Clarín. Mas contará com o apoio do politizado cidadão argentino para efetivar tamanho retrocesso ?
Claro que não se pode minimizar a gravidade do resultado eleitoral da Argentina para as forças progressistas e de esquerda da América do Sul, tanto no que refere aos seus aspectos práticos (desdobramentos políticos, sociais e econômicos) como na esfera simbólica, na medida em que interrompe uma longa hegemonia das forças antineoliberais.
Contudo, é preciso contextualizar a eleição de Macri. Se é verdade que ela se deu no embalo de uma forte reação conservadora continental, não se pode desprezar a capacidade de mobilização política dos trabalhadores e dos setores comprometidos com o avanço social, as conquistas democráticas e a soberania nacional.
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