Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A partir das 23 horas de amanhã, no programa Espaço Público, na TV Brasil, você poderá assistir a uma entrevista de uma hora do economista Joseph Stiglitz.
Prêmio Nobel de Economia em 2001, chefe da Assessoria Econômica da Casa Branca durante o primeiro mandato de Bill Clinton na Casa Branca, na década de 1990, Stiglitz dedicou a vida a demonstrar cientificamente as falhas estruturais (o nome técnico é “ assimetrias”) da chamada economia de mercado. É um adversário competente dos ajustes estruturais e das políticas de austeridade que têm contribuído para reduzir conquistas históricas dos trabalhadores em anos recentes e se revelam um entrave à recuperação crescimento e à criação de empregos.
Criador da tese de que vivemos num mundo onde 99% trabalham para satisfazer 1%, que animou vários protestos de rua dos últimos anos, é um dos mais aplicados estudiosos a lembrar a importância da igualdade entre cidadãos – não apenas como princípio político natural das democracias, mas como condição para o bom funcionamento da economia.
Você acertou se já percebeu que o professor tem críticas duras à política econômica conduzida por Dilma Rousseff e Joaquim Levy. Na entrevista, que fiz em parceria com Florestan Fernandes Junior, Stiglitz faz isso com a autoridade de quem foi um aliado importante da orientação assumida pela economia brasileira na fase anterior a 2015. Elogia os programas de distribuição de renda e incentivo ao crescimento mantidos e até ampliados depois do colapso de 2008/2009.
Com um pragmatismo coerente e honesto, o professor defende a intervenção do Estado na economia, lembrando sua importância decisiva no financiamento de investimentos de longo prazo que sustentam o crescimento e os grandes avanços científicos e tecnológicos de nosso tempo, inclusive nos Estados Unidos.
Teve a mesma postura quando pedi sua opinião sobre o BNDES, o banco de desenvolvimento brasileiro que é alvo de admiração permanente em muitos centros acadêmicos fora do país, e vítima de suspeitas permanentes lançadas por um espírito reacionário que se disfarça pelas máscaras do moralismo barato.
O professor, que conhece bem o assunto, chegou a fazer uma ironia bem colocada com a tese de que o BNDES subsidia empresas supostamente amigas do governo. Mostrou que na vida real o subsídio não se encontra nas taxas de juro oferecidas pelo banco a quem faz investimentos – em linha com o mercado internacional, um pouco para cima, um pouco para baixo – mas vem das taxas de juros definidas pelo Banco Central, matematicamente as mais altas planeta. Deixou claro que ali sim se pode falar em favor amigo, que abrem rombos bilionários nas contas do Estado, sugerindo que é estranho que esse tipo de ajuda não seja questionado. Curto, direto, impossível de responder.
Perguntado sobre regras do imposto de renda brasileiro que garantem isenção total à minoria de milionários-felizardos que não entregam um centavo sequer de seus lucros e dividendos ao Estado, deixando a carga dos impostos aos pobres e a classe média, reagiu com respostas indignadas.
Numa conjuntura onde a política brasileira encontra-se contaminada pelo ódio, Stiglitz comenta uma das ideias de O Preço da Desigualdade, um de seus livros mais importantes. Ele está convencido de que um dos traços do mundo contemporâneo é a falta de sentimento de culpa por parte de elites e explica por que.
Abandonando regras de convívio e mesmo solidariedade que permitiram a construção de sociedades desiguais mas equilibrados ao longo do século XX, esses cidadãos tornaram-se capazes de tomar medidas que podem beneficiar exclusivamente seus próprios interesses, mas comprometem o futuro da maioria dos contemporâneos, por várias gerações. O resultado é a criação de um mundo de sobrevivência difícil pela falta de valores comuns, onde a deslealdade e a falta de transparência são uma regra constante.
É um raciocínio muito apropriado para se refletir sobre o Brasil de 2015. Vivemos um momento no qual vontade de destruir um adversário político que produziu inegáveis melhorias na condição da vida da maioria da população transformou-se numa campanha permanente contra o principal elemento de coesão da sociedade brasileira, o regime democrático. Sem culpa.
Deu para entender?
A partir das 23 horas de amanhã, no programa Espaço Público, na TV Brasil, você poderá assistir a uma entrevista de uma hora do economista Joseph Stiglitz.
Prêmio Nobel de Economia em 2001, chefe da Assessoria Econômica da Casa Branca durante o primeiro mandato de Bill Clinton na Casa Branca, na década de 1990, Stiglitz dedicou a vida a demonstrar cientificamente as falhas estruturais (o nome técnico é “ assimetrias”) da chamada economia de mercado. É um adversário competente dos ajustes estruturais e das políticas de austeridade que têm contribuído para reduzir conquistas históricas dos trabalhadores em anos recentes e se revelam um entrave à recuperação crescimento e à criação de empregos.
Criador da tese de que vivemos num mundo onde 99% trabalham para satisfazer 1%, que animou vários protestos de rua dos últimos anos, é um dos mais aplicados estudiosos a lembrar a importância da igualdade entre cidadãos – não apenas como princípio político natural das democracias, mas como condição para o bom funcionamento da economia.
Você acertou se já percebeu que o professor tem críticas duras à política econômica conduzida por Dilma Rousseff e Joaquim Levy. Na entrevista, que fiz em parceria com Florestan Fernandes Junior, Stiglitz faz isso com a autoridade de quem foi um aliado importante da orientação assumida pela economia brasileira na fase anterior a 2015. Elogia os programas de distribuição de renda e incentivo ao crescimento mantidos e até ampliados depois do colapso de 2008/2009.
Com um pragmatismo coerente e honesto, o professor defende a intervenção do Estado na economia, lembrando sua importância decisiva no financiamento de investimentos de longo prazo que sustentam o crescimento e os grandes avanços científicos e tecnológicos de nosso tempo, inclusive nos Estados Unidos.
Teve a mesma postura quando pedi sua opinião sobre o BNDES, o banco de desenvolvimento brasileiro que é alvo de admiração permanente em muitos centros acadêmicos fora do país, e vítima de suspeitas permanentes lançadas por um espírito reacionário que se disfarça pelas máscaras do moralismo barato.
O professor, que conhece bem o assunto, chegou a fazer uma ironia bem colocada com a tese de que o BNDES subsidia empresas supostamente amigas do governo. Mostrou que na vida real o subsídio não se encontra nas taxas de juro oferecidas pelo banco a quem faz investimentos – em linha com o mercado internacional, um pouco para cima, um pouco para baixo – mas vem das taxas de juros definidas pelo Banco Central, matematicamente as mais altas planeta. Deixou claro que ali sim se pode falar em favor amigo, que abrem rombos bilionários nas contas do Estado, sugerindo que é estranho que esse tipo de ajuda não seja questionado. Curto, direto, impossível de responder.
Perguntado sobre regras do imposto de renda brasileiro que garantem isenção total à minoria de milionários-felizardos que não entregam um centavo sequer de seus lucros e dividendos ao Estado, deixando a carga dos impostos aos pobres e a classe média, reagiu com respostas indignadas.
Numa conjuntura onde a política brasileira encontra-se contaminada pelo ódio, Stiglitz comenta uma das ideias de O Preço da Desigualdade, um de seus livros mais importantes. Ele está convencido de que um dos traços do mundo contemporâneo é a falta de sentimento de culpa por parte de elites e explica por que.
Abandonando regras de convívio e mesmo solidariedade que permitiram a construção de sociedades desiguais mas equilibrados ao longo do século XX, esses cidadãos tornaram-se capazes de tomar medidas que podem beneficiar exclusivamente seus próprios interesses, mas comprometem o futuro da maioria dos contemporâneos, por várias gerações. O resultado é a criação de um mundo de sobrevivência difícil pela falta de valores comuns, onde a deslealdade e a falta de transparência são uma regra constante.
É um raciocínio muito apropriado para se refletir sobre o Brasil de 2015. Vivemos um momento no qual vontade de destruir um adversário político que produziu inegáveis melhorias na condição da vida da maioria da população transformou-se numa campanha permanente contra o principal elemento de coesão da sociedade brasileira, o regime democrático. Sem culpa.
Deu para entender?
1 comentários:
Bravo!
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