Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
É incrível - e previsível - a salivação da mídia com a nova etapa da Lava Jato.
Merval Pereira nem sequer disfarça: "Investigação da Bancoop pega Lula".
O ódio os cega, porque na verdade pode acontecer o contrário.
Caso não encontrem nada, a Lava Jato, assim como a Zelotes, dará ao ex-presidente a ficha mais limpa entre todos os políticos do país.
O caso Bancoop é investigado há anos pelo ministério público de São Paulo, que tem um viés notoriamente tucano (vide o engavetamento, por anos a fio, das investigações do trensalão).
Nunca se provou nada contra Vaccari, nunca se encontrou nada contra Lula.
A Lava Jato age como um polvo investigativo, seus tentáculos se espalham para todo o lado, mas jamais tocam em nada que possa atingir politicamente a oposição.
A nova etapa da Operação é a prova disso.
É interessante a certeza de Merval. Como ele sabe que "pega" Lula? A investigação mal começou, como ele pode afirmar isso?
Não seria ao contrário: investigação do Bancoop pega a Lava Jato, que caiu numa armadilha?
A frase de Merval tem um sentido midiático, e por isso não está errada. Se o objetivo principal é a destruição política, então a nova etapa, de fato, "pega Lula".
Nesta série documental da Netflix, Making a Murderer, uma das cenas mais chocantes é como os investigadores manipulam o depoimento de um adolescente, para que este acusa o réu de assassinato e inclusive se auto-acuse.
Eles fazem isso em poucas horas. Um garoto de dezesseis anos, inocente, com um QI baixíssimo, muito frágil emocionalmente, é forçado, sem violência, a aceitar um depoimento que os interrogadores praticamente lhe empurram goela abaixo.
A série chocou a opinião pública americana, porque mostra as autoridades como vilãs. Mas quem estuda a fundo a cultura judicial brasileira ou americana sabe que, infelizmente, esse tipo de coisa é mais comum do que parece.
Nos EUA, a figura da "conspiração" faz parte do imaginário do americano, porque, ao longo de sua história, foram tantas e tantas conspirações descobertas, ou encobertas, que ele sabe que elas existem por toda a parte.
Making a Murderer mostra o desenvolvimento de uma conspiração, para salvar a pele de alguns policiais e procuradores envolvidos na condenação injusta de um réu, e o fazem imputando-lhe um segundo crime.
Assim como no famoso caso Dreyfus, o trágico nisso tudo é que todos os atores envolvidos na conspiração, incluindo aí as instituições, tendem a levá-la, contra tudo e contra todos, até o fim.
O Estado tende a acobertar as conspirações, por um corporativismo natural. Assim, o Judiciário acoberta os erros da polícia e do Ministério Público, e a polícia e o Ministério Público acobertam os erros do judiciário.
O que acontece no Brasil, porém, é muito mais grave do que o episódio relatado em Making a Murderer, porque está em jogo não o destino de um ou dois réus, mas de centenas deles, e a coisa toda está ligada a um jogo político incrivelmente sujo e brutal.
Hoje já está claro que a Lava Jato puxou o PIB para baixo, desempregou centenas de milhares de pessoas, mas quem tem coragem de criticá-la?
Afinal, o escopo não é o "combate à corrupção"?
No entanto, quem combate a corrupção dentro do Judiciário, dentro do Ministério Público, dentro da Polícia Federal, uma corrupção que se revela a luz do dia a cada vez que um vazamento seletivo acontece?
A Lava Jato mordeu a isca lançada por Lula. O ex-presidente queria mostrar à opinião pública exatamente o que está acontecendo agora: a investigação politizou-se, seus operadores estão tomados de profundo ódio político, e, diante do desafio de Lula de que "nenhum procurador, nenhum delegado, teria coragem de acusá-lo", eles imediatamente deixaram a cabeça da cobra aparecer para fora da superfície do lago.
Lula mexeu suas peças, e os procuradores caíram como patinhos. O que ele pretendia talvez fosse isso mesmo, atrair as atenções para ele, porque entende que ele consegue se defender.
O ex-presidente atraiu para si a fúria do tiranossauro da Lava Jato, permitindo que Dilma ganhe mais algumas semanas de paz, para poder levar adiante uma agenda positiva, visando o crescimento econômico e a geração de empregos.
É um jogo bruto, perigoso, sujo. O ex-presidente sabe disso, mas decidiu partir para a ofensiva, para acelerar a história. Ele disse isso aos blogueiros, que não quer a repetição de 2015. Se os conspiradores querem sua cabeça, então vem para o ringue, porque a luta começou.
Ao ir na direção de Lula, a Lava Jato deixou a bunda de fora. Seus flancos políticos ficaram expostos. As dúvidas agora serão maiores do que nunca: quer dizer que a intenção, no fundo, sempre foi essa? Destruiram-se centenas de milhares de empregos, prejudicou-se todo um setor, e no momento mais delicado, em décadas, para a indústria do petróleo, por causa de uma maldita vendeta política?
É incrível - e previsível - a salivação da mídia com a nova etapa da Lava Jato.
Merval Pereira nem sequer disfarça: "Investigação da Bancoop pega Lula".
O ódio os cega, porque na verdade pode acontecer o contrário.
Caso não encontrem nada, a Lava Jato, assim como a Zelotes, dará ao ex-presidente a ficha mais limpa entre todos os políticos do país.
O caso Bancoop é investigado há anos pelo ministério público de São Paulo, que tem um viés notoriamente tucano (vide o engavetamento, por anos a fio, das investigações do trensalão).
Nunca se provou nada contra Vaccari, nunca se encontrou nada contra Lula.
A Lava Jato age como um polvo investigativo, seus tentáculos se espalham para todo o lado, mas jamais tocam em nada que possa atingir politicamente a oposição.
A nova etapa da Operação é a prova disso.
É interessante a certeza de Merval. Como ele sabe que "pega" Lula? A investigação mal começou, como ele pode afirmar isso?
Não seria ao contrário: investigação do Bancoop pega a Lava Jato, que caiu numa armadilha?
A frase de Merval tem um sentido midiático, e por isso não está errada. Se o objetivo principal é a destruição política, então a nova etapa, de fato, "pega Lula".
Nesta série documental da Netflix, Making a Murderer, uma das cenas mais chocantes é como os investigadores manipulam o depoimento de um adolescente, para que este acusa o réu de assassinato e inclusive se auto-acuse.
Eles fazem isso em poucas horas. Um garoto de dezesseis anos, inocente, com um QI baixíssimo, muito frágil emocionalmente, é forçado, sem violência, a aceitar um depoimento que os interrogadores praticamente lhe empurram goela abaixo.
A série chocou a opinião pública americana, porque mostra as autoridades como vilãs. Mas quem estuda a fundo a cultura judicial brasileira ou americana sabe que, infelizmente, esse tipo de coisa é mais comum do que parece.
Nos EUA, a figura da "conspiração" faz parte do imaginário do americano, porque, ao longo de sua história, foram tantas e tantas conspirações descobertas, ou encobertas, que ele sabe que elas existem por toda a parte.
Making a Murderer mostra o desenvolvimento de uma conspiração, para salvar a pele de alguns policiais e procuradores envolvidos na condenação injusta de um réu, e o fazem imputando-lhe um segundo crime.
Assim como no famoso caso Dreyfus, o trágico nisso tudo é que todos os atores envolvidos na conspiração, incluindo aí as instituições, tendem a levá-la, contra tudo e contra todos, até o fim.
O Estado tende a acobertar as conspirações, por um corporativismo natural. Assim, o Judiciário acoberta os erros da polícia e do Ministério Público, e a polícia e o Ministério Público acobertam os erros do judiciário.
O que acontece no Brasil, porém, é muito mais grave do que o episódio relatado em Making a Murderer, porque está em jogo não o destino de um ou dois réus, mas de centenas deles, e a coisa toda está ligada a um jogo político incrivelmente sujo e brutal.
Hoje já está claro que a Lava Jato puxou o PIB para baixo, desempregou centenas de milhares de pessoas, mas quem tem coragem de criticá-la?
Afinal, o escopo não é o "combate à corrupção"?
No entanto, quem combate a corrupção dentro do Judiciário, dentro do Ministério Público, dentro da Polícia Federal, uma corrupção que se revela a luz do dia a cada vez que um vazamento seletivo acontece?
A Lava Jato mordeu a isca lançada por Lula. O ex-presidente queria mostrar à opinião pública exatamente o que está acontecendo agora: a investigação politizou-se, seus operadores estão tomados de profundo ódio político, e, diante do desafio de Lula de que "nenhum procurador, nenhum delegado, teria coragem de acusá-lo", eles imediatamente deixaram a cabeça da cobra aparecer para fora da superfície do lago.
Lula mexeu suas peças, e os procuradores caíram como patinhos. O que ele pretendia talvez fosse isso mesmo, atrair as atenções para ele, porque entende que ele consegue se defender.
O ex-presidente atraiu para si a fúria do tiranossauro da Lava Jato, permitindo que Dilma ganhe mais algumas semanas de paz, para poder levar adiante uma agenda positiva, visando o crescimento econômico e a geração de empregos.
É um jogo bruto, perigoso, sujo. O ex-presidente sabe disso, mas decidiu partir para a ofensiva, para acelerar a história. Ele disse isso aos blogueiros, que não quer a repetição de 2015. Se os conspiradores querem sua cabeça, então vem para o ringue, porque a luta começou.
Ao ir na direção de Lula, a Lava Jato deixou a bunda de fora. Seus flancos políticos ficaram expostos. As dúvidas agora serão maiores do que nunca: quer dizer que a intenção, no fundo, sempre foi essa? Destruiram-se centenas de milhares de empregos, prejudicou-se todo um setor, e no momento mais delicado, em décadas, para a indústria do petróleo, por causa de uma maldita vendeta política?
2 comentários:
Mas o Merval é assim, só quando não usa o caríssimo fardão da ABL, pago pelo dinheiro dos contribuintes.
Para mim opinião do MERDAL não vale nada.
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