Por Renato Rovai, em seu blog:
Desde a derrota de Hillary Clinton para Barack Obama nas primárias do Partido Democrata que o mundo percebeu como a internet pode ser um instrumento poderoso para mobilizar pessoas e derrotar grandes e poderosos esquemas.
Obama não ganhou a eleição dos EUA quando derrotou John McCain. Sua grande vitória foi contra Hillary, a verdadeira candidata do poder econômico, já que se sabia que o melancólico fim do segundo governo do segundo Bush levaria de novo um Democrata à presidência.
O grupo que trabalhava com Obama criou uma campanha baseada numa argumentação simples, a de que era possível eleger um negro para a presidência dos EUA e com isso ampliar os direitos da população menos favorecida. Yes, we can. Sim nós podemos era a tradução daquela mensagem.
A candidatura de Obama na sua primeira eleição só foi possível porque isso mobilizou imensa quantidade de jovens e de eleitores mais progressistas que lhe doavam recursos picados e militância integral, buscando convencer um a um sua rede de amigos e contatos de que ele era a encarnação de um novo país. De um EUA para todos. De um América mais justa.
Obama foi ganhando força enquanto ao mesmo tempo ia sendo capturado e por isso mesmo se tornando mais palatável às grandes corporações. Hoje, se não se pode dizer que Obama se tornou um pesadelo, ele está longe de ser o símbolo do sonho que já encarnou.
E eis que a história que segundo Marx da primeira vez se repete como tragédia e da segunda como farsa, parece que pode levar Hillary a uma segunda derrota nas prévias do seu partido. E para um personagem que é a antítese do Obama, o jovem negro, cuja oratória era algo impressionante. Um velho judeu, branquelo, que se diz socialista e que não dispensa umas tossidas quando fala, volta a encarnar o sonho de uma nova América.
Bernie Sanders, sem sê-lo, é hoje o Obama de ontem.
E fundamentalmente porque entendeu que a política em tempos de redes se faz ainda mais com ideias do que antes. E a ideia central de sua campanha é a que moveu os EUA em occupies de jovens que se diziam os 99% contra o 1% de Wall Street.
A candidatura de Sanders é anti-Wall Street. E por isso ele acabou vocalizando as teses dos garotos que ocuparam praças pelo país inteiro e que ao mesmo tempo moveram as redes digitais e as ruas de várias partes do mundo com seus discursos anti-estabilishment.
As ideias de Sanders não são deles. Elas estavam à procura de um candidato mesmo depois que as barracas foram sendo desmontadas pouco a pouco.
Há quem ainda pense a internet como um espaço de disputa de geeks, hackers, haters ou gente paga para falar mal dos outros. Ela também é um pouco isso, mas está longe de se resumir a isso. A internet é utilizada por milhões de pessoas que se relacionam e se transformam conforme vão se relacionando.
O sociólogo Manuel Castells, já em 2003, no livro A Galáxia da Internet, definia-a como “o tecido das nossas vidas”. Pode parecer piegas, mas essa caracterização apontava para o seu poder de transformação não apenas dos aspectos tecnológicos da sociedade, mas comportamentais e culturais.
As pessoas mudaram com a internet. O ser político é outro. Ele não se relaciona mais como um ator passivo que se decide sobre que caminho tomar a partir do desempenho dos candidatos na TV. Algo que caracterizou a política desde que o debate televiso ao vivo entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960, definiu a vitória do Democrata. Agora o eleitor quer ser o candidato. Ele quer se representar.
Essa grande transformação esta acontecendo à direita, à esquerda, ao centro e para os lados. Em todos os segmentos do espectro ideológico. Há cada vez mais gente disputando narrativas e produzindo novos sentidos de participação.
A candidatura de um senhor de 75 anos que se diz contra os poderosos não é mais dele. É dessa ideia que se produziu lá atrás e aos poucos em redes digitas, ruas e praças. No Brasil, junho de 2013, foi um meteoro que mexeu com as estruturas políticas tradicionais e que de alguma forma ainda está mexendo. E que se não achou uma resposta eleitoral, enxergou na Operação Lava Jato um espaço para dar padrão Fifa à saúde e à educação, acabando com a corrupção.
O brasileiro médio enxerga na corrupção o problema mais grave do país. É quase um mantra a frase: “se o Brasil tivesse menos corrupção, seria o melhor país do mundo”. As pessoas amam o país e acham que ele é saqueado pelos políticos. Que suas belezas e riquezas naturais, sua terra fértil, seu povo afável, são enganados por meia dúzia de safados.
E a Lava Jato como não é compreendida como uma operação da política conseguiu se tornar o símbolo de uma redenção possível se não a curto prazo, ao menos em algum tempo.
E por isso, mesmo o mais bem avaliado político dos últimos tempos, o ex-presidente Lula, que saiu do governo com 87% de ótimo e bom, está sendo tragado pela tsunami da refundação do país.
Enquanto parte dos americanos encontrou no velhote de 75 anos o herói que enfrenta o 1% de milionários. No Brasil, os meninos da Lava Jato, liderados pelo juíz Moro, são vistos com os membros da Liga da Justiça que pode acabar com o mal maior, a corrupção.
A internet foi sendo utilizada por milhões de pessoas via intensa participação para a construção desses imaginários aqui e acolá.
A mídia centralizada pode ampliar ou enfraquecer essas narrativas, mas quando ela se tornam virais, não consegue detê-las.
A questão fundamental é essa. Em tempos de internet, não se pode pensar mais em fazer política apenas resolvendo a correlação de forças no Congresso ou se acertando com agentes econômicos.
Os tempos mudaram, a banda passou e neste caso não foi só Carolina que não viu. Para o bem ou para o mal, pra esquerda ou pra direita, pra cima ou pra baixo, há muito mais gente querendo participar e participando da esfera pública. E não é mais possível não considerar isso e não construir as ações políticas levando isso em consideração.
E não adianta também fazer isso de forma fake. As pessoas vão defender aquilo que acreditam. Suas ideias é que serão representadas por alguém. E não ao contrário. E nem sempre elas serão representadas por políticos. Por isso a Operação Lava Jato é o Sanders brasileiro.
Desde a derrota de Hillary Clinton para Barack Obama nas primárias do Partido Democrata que o mundo percebeu como a internet pode ser um instrumento poderoso para mobilizar pessoas e derrotar grandes e poderosos esquemas.
Obama não ganhou a eleição dos EUA quando derrotou John McCain. Sua grande vitória foi contra Hillary, a verdadeira candidata do poder econômico, já que se sabia que o melancólico fim do segundo governo do segundo Bush levaria de novo um Democrata à presidência.
O grupo que trabalhava com Obama criou uma campanha baseada numa argumentação simples, a de que era possível eleger um negro para a presidência dos EUA e com isso ampliar os direitos da população menos favorecida. Yes, we can. Sim nós podemos era a tradução daquela mensagem.
A candidatura de Obama na sua primeira eleição só foi possível porque isso mobilizou imensa quantidade de jovens e de eleitores mais progressistas que lhe doavam recursos picados e militância integral, buscando convencer um a um sua rede de amigos e contatos de que ele era a encarnação de um novo país. De um EUA para todos. De um América mais justa.
Obama foi ganhando força enquanto ao mesmo tempo ia sendo capturado e por isso mesmo se tornando mais palatável às grandes corporações. Hoje, se não se pode dizer que Obama se tornou um pesadelo, ele está longe de ser o símbolo do sonho que já encarnou.
E eis que a história que segundo Marx da primeira vez se repete como tragédia e da segunda como farsa, parece que pode levar Hillary a uma segunda derrota nas prévias do seu partido. E para um personagem que é a antítese do Obama, o jovem negro, cuja oratória era algo impressionante. Um velho judeu, branquelo, que se diz socialista e que não dispensa umas tossidas quando fala, volta a encarnar o sonho de uma nova América.
Bernie Sanders, sem sê-lo, é hoje o Obama de ontem.
E fundamentalmente porque entendeu que a política em tempos de redes se faz ainda mais com ideias do que antes. E a ideia central de sua campanha é a que moveu os EUA em occupies de jovens que se diziam os 99% contra o 1% de Wall Street.
A candidatura de Sanders é anti-Wall Street. E por isso ele acabou vocalizando as teses dos garotos que ocuparam praças pelo país inteiro e que ao mesmo tempo moveram as redes digitais e as ruas de várias partes do mundo com seus discursos anti-estabilishment.
As ideias de Sanders não são deles. Elas estavam à procura de um candidato mesmo depois que as barracas foram sendo desmontadas pouco a pouco.
Há quem ainda pense a internet como um espaço de disputa de geeks, hackers, haters ou gente paga para falar mal dos outros. Ela também é um pouco isso, mas está longe de se resumir a isso. A internet é utilizada por milhões de pessoas que se relacionam e se transformam conforme vão se relacionando.
O sociólogo Manuel Castells, já em 2003, no livro A Galáxia da Internet, definia-a como “o tecido das nossas vidas”. Pode parecer piegas, mas essa caracterização apontava para o seu poder de transformação não apenas dos aspectos tecnológicos da sociedade, mas comportamentais e culturais.
As pessoas mudaram com a internet. O ser político é outro. Ele não se relaciona mais como um ator passivo que se decide sobre que caminho tomar a partir do desempenho dos candidatos na TV. Algo que caracterizou a política desde que o debate televiso ao vivo entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960, definiu a vitória do Democrata. Agora o eleitor quer ser o candidato. Ele quer se representar.
Essa grande transformação esta acontecendo à direita, à esquerda, ao centro e para os lados. Em todos os segmentos do espectro ideológico. Há cada vez mais gente disputando narrativas e produzindo novos sentidos de participação.
A candidatura de um senhor de 75 anos que se diz contra os poderosos não é mais dele. É dessa ideia que se produziu lá atrás e aos poucos em redes digitas, ruas e praças. No Brasil, junho de 2013, foi um meteoro que mexeu com as estruturas políticas tradicionais e que de alguma forma ainda está mexendo. E que se não achou uma resposta eleitoral, enxergou na Operação Lava Jato um espaço para dar padrão Fifa à saúde e à educação, acabando com a corrupção.
O brasileiro médio enxerga na corrupção o problema mais grave do país. É quase um mantra a frase: “se o Brasil tivesse menos corrupção, seria o melhor país do mundo”. As pessoas amam o país e acham que ele é saqueado pelos políticos. Que suas belezas e riquezas naturais, sua terra fértil, seu povo afável, são enganados por meia dúzia de safados.
E a Lava Jato como não é compreendida como uma operação da política conseguiu se tornar o símbolo de uma redenção possível se não a curto prazo, ao menos em algum tempo.
E por isso, mesmo o mais bem avaliado político dos últimos tempos, o ex-presidente Lula, que saiu do governo com 87% de ótimo e bom, está sendo tragado pela tsunami da refundação do país.
Enquanto parte dos americanos encontrou no velhote de 75 anos o herói que enfrenta o 1% de milionários. No Brasil, os meninos da Lava Jato, liderados pelo juíz Moro, são vistos com os membros da Liga da Justiça que pode acabar com o mal maior, a corrupção.
A internet foi sendo utilizada por milhões de pessoas via intensa participação para a construção desses imaginários aqui e acolá.
A mídia centralizada pode ampliar ou enfraquecer essas narrativas, mas quando ela se tornam virais, não consegue detê-las.
A questão fundamental é essa. Em tempos de internet, não se pode pensar mais em fazer política apenas resolvendo a correlação de forças no Congresso ou se acertando com agentes econômicos.
Os tempos mudaram, a banda passou e neste caso não foi só Carolina que não viu. Para o bem ou para o mal, pra esquerda ou pra direita, pra cima ou pra baixo, há muito mais gente querendo participar e participando da esfera pública. E não é mais possível não considerar isso e não construir as ações políticas levando isso em consideração.
E não adianta também fazer isso de forma fake. As pessoas vão defender aquilo que acreditam. Suas ideias é que serão representadas por alguém. E não ao contrário. E nem sempre elas serão representadas por políticos. Por isso a Operação Lava Jato é o Sanders brasileiro.
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