terça-feira, 15 de março de 2016

Delcídio dedurou Aécio. E agora, Moro?

Por Altamiro Borges

Finalmente homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), a “delação premiada” do senador Delcídio do Amaral tem o impacto de um ventilador no esgoto. Voaram detritos para todos os lados. Acusado de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, o parlamentar – que já anunciou sua desfiliação do PT – dedurou vários políticos. A mídia tucana, como já era de se esperar, destaca apenas sua denúncia contra o ministro Aloisio Mercadante, que teria tentado demovê-lo do depoimento. Mas Delcídio do Amaral também atirou para matar no ex-presidente FHC e no cambaleante Aécio Neves, que já não consegue enganar nem os fanáticos golpistas – que o expulsaram da Avenida Paulista no último domingo (13).

Em um dos trechos da delação, o senador afirma que o presidente do PSDB, o carioca-mineiro Aécio Neves, recebeu propina de Furnas – confirmando o depoimento prestado anteriormente pelo doleiro Alberto Youssef. “Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente disse que não sabe precisar, mas sabe que Dimas [Toledo, ex-presidente de Furnas] operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves”, garantiu Delcídio Amaral. Em outro trecho, ele afirma que o grão-tucano seria “beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato”.

Maquiagem na CPI dos Correios

A sede para envio de dinheiro ilegal seria em Liechtenstein e a operação financeira teria sido montada por um doleiro do Rio de Janeiro. A fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves. Delcídio do Amaral ainda relatou um caso sinistro na CPI dos Correios, que investigou o mensalão, no qual Aécio Neves teria atrasado o envio de dados do Banco Rural para fazer uma “maquiagem” nas informações. “A maquiagem consistiria em apagar dados bancários comprometedores que envolviam Aécio Neves, Clésio Andrade, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcos Valério e companhia”, afirmou. A Agência Brasil, em matéria postada nesta terça-feira (15), dá mais detalhes desta operação:

“O senador Delcídio do Amaral (sem partido/MS), em acordo de delação premiada homologada pelo ministro do STF Teori Zavascki, disse que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria atuado no sentido de maquiar alguns dados obtidos no Banco Rural pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios – comissão da qual Delcídio foi presidente em 2005... Durante as investigações feitas pela CPI dos Correios, Delcídio identificou ‘maquiagens’ em ‘dados comprometedores’ fornecidos pelo Banco Rural. Eram dados que, segundo ele, prejudicariam o ex-governador e o ex-vice-governador de Minas Gerais, Aécio Neves e Clésio Andrade – além da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do publicitário Marcos Valério, pivô do mensalão, entre outros”.

“Delcídio disse compreender a existência dessa maquiagem pelo fato de que ‘a gênese do mensalão teria ocorrido em Minas Gerais’. No depoimento dado pelo senador sulmatogrossense, ele disse que ficou sabendo que os dados recebidos do banco estavam maquiados por meio de relatos feitos por Eduardo Paes, atual prefeito do Rio de Janeiro, e do próprio Aécio Neves, mas que isso acabou não sendo incluído no relatório final... Até então, Delcídio sentia apenas que o pedido de quebra dos sigilos do Banco Rural causava ‘certo incômodo’ por parte do PSDB, em especial em Aécio. O ex-governador de Minas, disse Delcídio no depoimento, enviava emissários – um deles o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes – com o objetivo de fazer com que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas”.

O tucano posa de vítima

Diante das bombásticas revelações, o “santo” Aécio Neves se apressou em garantir que tudo é mentira. Em nota divulgada no final da tarde desta terça-feira, o presidente nacional do PSDB jurou que as citações de Delcídio do Amaral são "mentirosas, que não se sustentam na realidade e se referem apenas a ouvir dizer de terceiros". Sobre a famosa Lista de Furnas, ele argumenta que “Delcídio repete o que vem sendo amplamente disseminado há anos pelo PT que tenta criar falsas acusações envolvendo nomes da oposição. É curioso observar a contradição na fala do delator já que ao mesmo tempo em que ele diz que a lista de Furnas é falsa, ele afirma que houve recursos destinados a políticos”. O prefeito Eduardo Paes também divulgou nota negando as acusações.

As denúncias são graves e deveriam ser rigorosamente apuradas. Por muito menos, o “justiceiro” Sergio Moro, responsável pela midiática Operação Lava-Jato, tem infernizado a vida do ex-presidente Lula. Até uma absurda ordem de “condução coercitiva” foi baixada contra o líder petista. Já os três promotores “patetas” de São Paulo pediram a sua prisão preventiva – caindo no ridículo. Será que agora, com a confirmação do teor da “delação premiada” do senador Delcídio do Amaral, o juiz Sergio Moro tomará alguma providência com relação ao cambaleante? Ou ele seguirá sendo tratado como “santo” pelo carrasco? No que se refere à mídia oposicionista, pelo já noticiado nos sites nesta terça-feira, não há dúvida de que ela tentará abafar as denúncias e blindar o tucano!

Em tempo: Sobre o ex-presidente FHC, que anda meio sumido desde as constrangedoras revelações da sua ex-amante, Delcidio do Amaral afirmou que no seu governo a multinacional Alstom – também metida em denúncias do “trensalão tucano” de São Paulo – pagou uma propina de 10 milhões de dólares apenas na venda de uma turbina GT24. Na época, a aquisição do equipamento pesado gerou polêmicas, já que ele tinha um histórico de problemas operacionais em outros países. Num dos trechos da sua “delação premiada”, o senador afirma que a grana foi repassada diretamente para a direção do PFL (atual DEM), na época comandado pelo senador Antônio Carlos Magalhães – avô do atual prefeito de Salvador, ACM Neto. FHC, o “casto”, ainda não se pronunciou sobre a denúncia.

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