As manifestações deste domingo foram fruto da forma que o debate político se desenvolveu nos últimos tempos e, particularmente, nas últimas semanas. Expressa o sentimento de parcela da sociedade brasileira que clama por soluções autoritárias.
Isto ocorre porque o que está em jogo não é meramente a disputa entre PT e PSDB. A pressão que existe é o projeto do grande capital transnacional. É a ação direta do capital.
O programa político do site da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, é a síntese destes interesses do grande capital: ajuste fiscal, redução das políticas sociais, desregulamentação das relações de trabalho (leia-se precarização por meio do instituto da “livre negociação”), entrega do pré-sal às grandes petrolíferas internacionais, submissão às economias da Europa e, principalmente, dos EUA.
Esta pressão vem da crise mundial do capitalismo na Europa e EUA que faz com que estas regiões centrais pressionem para submeter as economias do terceiro mundo, Brasil incluso.
Pouco importa para este grande capital quem vai gerenciar isto. Poderia ser até o PT, entretanto, o fato deste partido ser mais permeável aos movimentos sociais e criar alguns compromissos com estes setores passou a ser desinteressante para o capital.
O PSDB quis mostrar-se como alternativa, sem assumi-la publicamente. Inflamou o discurso moralista anti-corrupção que tem sido a tônica destas mobilizações. Mas as denúncias escorregaram para o PSDB também, embora a mídia seja extremamente parcimoniosa na cobertura disto.
O discurso moralista na política é perigoso. A mídia, em parte, tem responsabilidade nisto ao fazer o discurso de que “todo político não presta”. Os manifestantes foram as ruas com bandeiras do Brasil, reivindicando o país que os “políticos roubaram”. As pirotecnias do juiz Sérgio Moro e, pior, dos promotores de São Paulo ampliaram este pensamento que virou verdadeira histeria.
Daí então tivemos nesta semana pichações na sede da UNE e do Partido Comunista do Brasil, invasão policial em reuniões de sindicato. Tudo vale, afinal se promotor pode inventar teorias filosóficas e argumentos os mais absurdos possíveis para pedir a prisão de quem não gosta, porque uma pessoa comum não pode agredir o seu oponente?
Aécio e Alckmin foram vaiados na Avenida Paulista. O “demo” Aleluia idem em Salvador. A neopeemedebista Marta foi praticamente expulsa da manifestação na capital paulista.
Em compensação, Bolsonaro foi ovacionado. Seguidores seus invadiram a página do Facebook do deputado federal Jean Willys.
Tzvetan Todorov, na obra “Os inimigos íntimos da democracia” afirma que os maiores perigos para a democracia brotam de dentro dela própria. É isto o que está se vendo atualmente no Brasil por irresponsabilidade de ocupantes de instituições que deveriam zelar pela democracia. como o Judiciário e Mídia.
A Globo não está preocupada com a democracia e sim com o seu próprio negócio. Para ela, tanto faz uma ditadura ou um governo democrático, desde que seus interesses sejam preservados. Que a sua condição de monopólio não seja questionada. E que qualquer governante se submeta a ela.
A Abril, que edita a Veja, idem. A Veja não é jornalismo, é um panfleto de direita. O interesse é manter os negócios da Abril, uma empresa que vende material educacional (é proprietária do sistema Anglo, editora Ática e Scipione), em especial para o governo.
O professor Eugenio Bucci, em “Ética e imprensa” afirma que jornalismo e democracia andam de mãos dadas. Mas as empresas de comunicação no Brasil raramente fazem jornalismo, ou estão preocupadas com jornalismo. Querem ambiente livre para os seus negócios. Nem que para isto transformem os seus veículos em panfletos.
O judiciário deveria ser o poder de fiscalização das leis. Mas há tempos que alguns juízes – que não são eleitos mas investidos do poder judicial por meio de concurso público – avocaram para si o protagonismo político, sem ter mandato para isto. Fazem verdadeiros malabarismos jurídicos para perseguir quem diverge política e ideologicamente.
Ambas instituições inflamam, de forma oportunista, a sanha moralista e “justiceira” (que é diferente de sentimento de justiça) de parte da população. Transformam tudo em verdadeiros espetáculos, como se fossem linchamentos em praça pública.
Por isto, Bolsonaro, um defensor confesso da ditadura, foi aclamado como herói nestas manifestações. Por isto, pessoas acham perfeitamente normal agredirem outras que tenham pensamento diferente.
O risco para a democracia não é só a possibilidade de golpe. É a transformação do debate político em histeria ideológica. E o mais preocupante é figuras políticas aproveitarem, de forma oportunista, esta situação.
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