Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Apoiar quem está no governo é extremamente penoso, a menos que você esteja entre os que são beneficiados pessoalmente por seu governismo. Como esse nunca foi o caso deste blogueiro – tanto nos governos do PT como nos anteriores –, estou amando ser oposição de novo, em um momento em que os ex-oposicionistas têm que mostrar a que vieram.
Ser governo implica em o governista ter que explicar por que defende aquele projeto político-administrativo – e, convenhamos, durante 11 dos 13 anos de governos do PT nunca foi muito difícil explicar meu apoio aos governos Lula e Dilma.
Até 2014, quando me perguntavam por que eu apoiava o PT eu mandava quem me questionasse ir vasculhar o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A perscrutação do referido site revela que os governos Lula e Dilma civilizaram o Brasil. A pobreza, a miséria, a desigualdade e o desemprego despencaram e dispararam a renda média do trabalhador, os empregos formais, o ingresso no superior, enfim, subiu muito o padrão de vida dos brasileiros de todas as classes sociais.
A vida melhorou mais, obviamente, entre os mais pobres, entre os que mais precisavam melhorar, entre aqueles que era justo que melhorassem antes. E aí estava a razão para o topo da pirâmide social querer tirar o PT do poder.
Agora, porém, ficou claro que a gritaria da elite, da grande imprensa e de partidos políticos oposicionistas contra os governos do PT, sob alegação de que aquele comportamento era “combate à corrupção”, nunca passou de balela.
Desde a madrugada de segunda-feira, 23 de maio, os fatos desmascararam hipócritas que, ao longo de uma trinca de anos, com suas manifestações desavergonhadas vinham vendendo a teoria de que não toleravam nenhum tipo de corrupção. Balela. Não toleram corrupção – ou suposta corrupção – dos outros, mas amam a dos amigos, sócios, parentes, aliados ou mesmo dos políticos que vociferam “ideias” e “ideais” com os quais concordam
Se tivessem um pingo de ética, um pingo de decência, o mínimo que os paneleiros deveriam fazer, após a gravação de Jucá desmascarar o golpe, seria repudiar a armação que resultou no afastamento da presidente da República.
Senão, vejamos: um dos artífices do processo que culminou no afastamento de Dilma é flagrado em escutas nas quais confessa que esse afastamento é uma trama destinada a atrapalhar investigações policiais contra quem a tirou do cargo. Precisa de mais o quê para entender que o impeachment fez uma pessoa inocente ser punida em troca da impunidade dos culpados?
Seja como for, no primeiro dia útil desta semana caiu uma infinidade de máscaras. Além das máscaras dos golpistas e dos paneleiros das varandas gourmet, caiu máscara da mídia golpista, a comandante do golpe.
A Globo resistiu o dia todo a divulgar a gravidade do caso envolvendo o agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá. Na noite da última segunda-feira, porém, ela teve que se render ao cataclísmico noticiário na internet e, assim, o Jornal Nacional teve que fazer barba, cabelo e bigode sobre fatos que comprovaram, cabalmente, que o golpe era mesmo golpe.
O JN teve que divulgar um verdadeiro linchamento público dos tucanos [aqui], feito por Romero Jucá, enquanto este reinventava o conceito de “boi-de-piranha” (bode expiatório)
O JN teve que mostrar Temer sendo chamado de golpista [aqui].
O JN teve até que noticiar elogios de Temer a Romero Jucá, que acaba de ser flagrado planejando um golpe de Estado com a finalidade de obstruir a Justiça [aqui].
O noticiário da Globo sobre o surgimento da prova de que o golpe é golpe, por sua vez, não foi voluntário; foi, digamos assim, coercitivo. A emissora pretendia manter o clima “banal” que Jucá tentou conferir às próprias declarações criminosas, mas não colou.
O noticiário sobre Jucá foi jogado para o fim do Jornal Nacional porque foi feito às pressas, após o ministro “renunciar”. Isso é o que explica o telejornal ter anunciado a matéria sobre o caso em sua “escalada” – apresentação das manchetes do dia, no começo da edição do telejornal –, mas só ter veiculado a matéria no fim da edição.
O fato é que, com liberdade de informação e opinião, é muito difícil, se não impossível, sustentar a versão de que um golpe não é golpe.
Em termos históricos, já é cabalmente impossível manter a versão de que o impeachment de Dilma foi um ato legal. A avalanche de fatos que desmascaram o golpe não deixa a menor possibilidade de os livros de história negarem que em 2016 o Brasil sofreu um golpe de Estado engendrado e perpetrado por setores do Judiciário, grupos de mídia e partidos de oposição.
Na prática, o Brasil vive hoje uma ditadura judiciária. Romero Jucá revelou ao mundo que houve um golpe no Brasil, denunciou a Justiça brasileira, disse que ela pararia a Lava Jato se o governo Dilma fosse derrubado.
Enquanto o Judiciário e a própria Lava Jato não prenderem aqueles que Jucá disse que acabariam sendo presos pela Operação se Dilma não fosse derrubada, restará intocada a suspeita (agora) escandalosamente disseminada de que a presidente foi derrubada para interromper investigações que poderiam atingir inclusive a oposição e, quem sabe, até a própria mídia oposicionista.
A derrubada de Dilma tira o PT de cena e coloca o PMDB e o PSDB. Viraram vidraça. Não adianta acharem que poderão começar a berrar “Lula”, “Dilma”, “PT” quando forem cobrados ou quando começarem a surgir denúncias.
Diante das gravações envolvendo Romero Juca que mostraram que Dilma foi derrubada para interromper a Lava Jato, é ensurdecedor o silêncio das varandas gourmet, onde as panelas, antes tão eloquentes, agora permaneceram silentes, cúmplices de Cunha, Jucá, Temer e do resto da quadrilha golpista que estuprou a democracia rasgando 54 milhões de votos.
Não foi só o golpe que foi desmascarado, foram desmascarados os grupos que pregaram o impeachment e, assim, foram cúmplices de um crime.
Ser governo implica em o governista ter que explicar por que defende aquele projeto político-administrativo – e, convenhamos, durante 11 dos 13 anos de governos do PT nunca foi muito difícil explicar meu apoio aos governos Lula e Dilma.
Até 2014, quando me perguntavam por que eu apoiava o PT eu mandava quem me questionasse ir vasculhar o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A perscrutação do referido site revela que os governos Lula e Dilma civilizaram o Brasil. A pobreza, a miséria, a desigualdade e o desemprego despencaram e dispararam a renda média do trabalhador, os empregos formais, o ingresso no superior, enfim, subiu muito o padrão de vida dos brasileiros de todas as classes sociais.
A vida melhorou mais, obviamente, entre os mais pobres, entre os que mais precisavam melhorar, entre aqueles que era justo que melhorassem antes. E aí estava a razão para o topo da pirâmide social querer tirar o PT do poder.
Agora, porém, ficou claro que a gritaria da elite, da grande imprensa e de partidos políticos oposicionistas contra os governos do PT, sob alegação de que aquele comportamento era “combate à corrupção”, nunca passou de balela.
Desde a madrugada de segunda-feira, 23 de maio, os fatos desmascararam hipócritas que, ao longo de uma trinca de anos, com suas manifestações desavergonhadas vinham vendendo a teoria de que não toleravam nenhum tipo de corrupção. Balela. Não toleram corrupção – ou suposta corrupção – dos outros, mas amam a dos amigos, sócios, parentes, aliados ou mesmo dos políticos que vociferam “ideias” e “ideais” com os quais concordam
Se tivessem um pingo de ética, um pingo de decência, o mínimo que os paneleiros deveriam fazer, após a gravação de Jucá desmascarar o golpe, seria repudiar a armação que resultou no afastamento da presidente da República.
Senão, vejamos: um dos artífices do processo que culminou no afastamento de Dilma é flagrado em escutas nas quais confessa que esse afastamento é uma trama destinada a atrapalhar investigações policiais contra quem a tirou do cargo. Precisa de mais o quê para entender que o impeachment fez uma pessoa inocente ser punida em troca da impunidade dos culpados?
Seja como for, no primeiro dia útil desta semana caiu uma infinidade de máscaras. Além das máscaras dos golpistas e dos paneleiros das varandas gourmet, caiu máscara da mídia golpista, a comandante do golpe.
A Globo resistiu o dia todo a divulgar a gravidade do caso envolvendo o agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá. Na noite da última segunda-feira, porém, ela teve que se render ao cataclísmico noticiário na internet e, assim, o Jornal Nacional teve que fazer barba, cabelo e bigode sobre fatos que comprovaram, cabalmente, que o golpe era mesmo golpe.
O JN teve que divulgar um verdadeiro linchamento público dos tucanos [aqui], feito por Romero Jucá, enquanto este reinventava o conceito de “boi-de-piranha” (bode expiatório)
O JN teve que mostrar Temer sendo chamado de golpista [aqui].
O JN teve até que noticiar elogios de Temer a Romero Jucá, que acaba de ser flagrado planejando um golpe de Estado com a finalidade de obstruir a Justiça [aqui].
O noticiário da Globo sobre o surgimento da prova de que o golpe é golpe, por sua vez, não foi voluntário; foi, digamos assim, coercitivo. A emissora pretendia manter o clima “banal” que Jucá tentou conferir às próprias declarações criminosas, mas não colou.
O noticiário sobre Jucá foi jogado para o fim do Jornal Nacional porque foi feito às pressas, após o ministro “renunciar”. Isso é o que explica o telejornal ter anunciado a matéria sobre o caso em sua “escalada” – apresentação das manchetes do dia, no começo da edição do telejornal –, mas só ter veiculado a matéria no fim da edição.
O fato é que, com liberdade de informação e opinião, é muito difícil, se não impossível, sustentar a versão de que um golpe não é golpe.
Em termos históricos, já é cabalmente impossível manter a versão de que o impeachment de Dilma foi um ato legal. A avalanche de fatos que desmascaram o golpe não deixa a menor possibilidade de os livros de história negarem que em 2016 o Brasil sofreu um golpe de Estado engendrado e perpetrado por setores do Judiciário, grupos de mídia e partidos de oposição.
Na prática, o Brasil vive hoje uma ditadura judiciária. Romero Jucá revelou ao mundo que houve um golpe no Brasil, denunciou a Justiça brasileira, disse que ela pararia a Lava Jato se o governo Dilma fosse derrubado.
Enquanto o Judiciário e a própria Lava Jato não prenderem aqueles que Jucá disse que acabariam sendo presos pela Operação se Dilma não fosse derrubada, restará intocada a suspeita (agora) escandalosamente disseminada de que a presidente foi derrubada para interromper investigações que poderiam atingir inclusive a oposição e, quem sabe, até a própria mídia oposicionista.
A derrubada de Dilma tira o PT de cena e coloca o PMDB e o PSDB. Viraram vidraça. Não adianta acharem que poderão começar a berrar “Lula”, “Dilma”, “PT” quando forem cobrados ou quando começarem a surgir denúncias.
Diante das gravações envolvendo Romero Juca que mostraram que Dilma foi derrubada para interromper a Lava Jato, é ensurdecedor o silêncio das varandas gourmet, onde as panelas, antes tão eloquentes, agora permaneceram silentes, cúmplices de Cunha, Jucá, Temer e do resto da quadrilha golpista que estuprou a democracia rasgando 54 milhões de votos.
Não foi só o golpe que foi desmascarado, foram desmascarados os grupos que pregaram o impeachment e, assim, foram cúmplices de um crime.
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