Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Mais uma vez, meu nome é mencionado entre jornalistas que foram contratados com “salários altos” para trabalhar na EBC. Desta vez, quem escreve é a Folha de S. Paulo.
Basta olhar os números de meu contrato anual - disponibilizados oficialmente para toda pessoa interessada - para entender o absurdo dessa afirmação. Não preciso falar pelos demais profissionais mencionados no jornal. Citado nominalmente, falo por mim.
Claro que, como cidadão brasileiro, devo admitir que tenho um salário altíssimo, comparado com a média do país. Mas, como sabe toda pessoa com algum reconhecimento de recursos humanos, os vencimentos de um profissional podem ser considerados altos, ou baixos, em comparação com aquilo que ele foi capaz de receber ao longo de sua vida profissional anterior. Por essa razão, muitos trabalhadores, quando recebem uma oferta de emprego com salário muito inferior, preferem não formalizar o vínculo, para não “manchar a carteira,” o que poderia impedir ganhos melhores no futuro.
Aplicando esse critério, em vigor em empresas de comunicação onde exerci um papel executivo, cabe reconhecer que minha remuneração como apresentador e editor chefe do programa Espaço Público, chamado ainda a fazer comentários cada vez mais frequentes nos telejornais da TV Brasil, era inferior ao que recebi na maior parte de meus empregos nos últimos quinze anos.
Era menor do que meus vencimentos como diretor da sucursal da IstoÉ em Brasília, que ocupei entre 2013e 2014. Também era mais baixa do que recebia em qualquer uma das funções que exerci na revista Época, onde fui editor, chefe da sucursal de Brasília e, em outro período na empresa, em outro regime de trabalho, diretor de redação. Também é inferior aos meus vencimentos no Diário de S. Paulo, onde fui diretor de redação. Fazendo as correções necessárias em função da inflação, também é inferior ao que recebia como redator chefe da Veja.
Cabe notar, ainda, que na TV Brasil eu era pessoa jurídica. Não tinha FGTS, plano de saúde, nem 13º nem tive direito a aviso prévio, quando meu contrato foi suspenso numa decisão unilateral e arbitrária, do interventor Laerte Rimoli, em boa hora afastado pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.
Pode-se explicar a divulgação de uma informação errada como mais uma demonstração de leviandade, prática condenável do jornalismo que atira primeiro para perguntar depois. Mas não é só isso, evidentemente. Até porque, para se falar seriamente sobre salários altos, baixos, ou na média, seria preciso ir ao mercado e apurar aquilo que se paga por funções equivalentes nas emissoras privadas, se possível com referências nominais, o que ficaria um pouco chato, em alguns casos até engraçado, né?
Na verdade, a falácia dos “altos salários” pagos pela EBC cumpre uma função ideológica. Ajuda a construir a lenda negativa em torno de uma emissora que se quer acusar de desperdiçar recursos públicos e de oferecer mordomias para as chamadas estrelas “pró-PT.” Também ajuda a colocar uma dúvida sobre o real compromisso desses profissionais com os pontos-de-vista que defendem. Os mesmos veículos que não questionam as óbvias preferências politico-partidárias da maioria de nossos comentaristas, em qualquer emissora, tentam colocar sob suspeita toda opinião favorável a um governo que venceu quatro eleições presidenciais consecutivas, por uma larga margem de votos.
Com a criação artificial de um aspecto mercenário, digamos assim, tenta-se desqualificar a outra parte e evitar o debate que interessa – sobre o papel cultural e político da TV Brasil. Este é o ponto central.
Bobagem imaginar que o governo interino esteja preocupado com a TV Brasil por razões econômicas, ainda que em determinados aspectos elas sejam reais. Tampouco está às voltas com elevadas questões culturais ou complexos temas de semiótica.
O problema aqui é uma emissora que desafina o coro dos contentes, cumprindo a função necessária de apresentar uma alternativa a um pensamento escandalosamente único que, só admite alterações na cor da gravata dos apresentadores ou no penteado das comentaristas. O fato dessa melodia ser sustentada com recursos públicos - que também pagam a conta de boa parte das receitas das emissoras privadas - torna tudo ainda mais irritante e aceitável. Mostra que o monopólio privado da comunicação, que tem uma preferência ideológica nítida, pode ser questionado, ainda que através de uma pequena brecha.
Nas pressões contra a TV Brasil, o que se quer é uma sociedade unidimensional, onde se busca criminalizar o conflito de ideias para que possa ser silenciado. Por isso os programas que davam identidade a TV Brasil foram retirados do ar sem mais demora.
Querem que o público vá se acostumando, entendeu? Se não tiver jeito, fecha-se a TV Brasil.
Num país onde o monopólio da comunicação é condenado pela Constituição, o jornalismo da TV Brasil merece apoio e sustentação pelo papel que desempenhou nos últimos meses. Serviu de indispensável contraponto político para um país que ingressava num dos momentos mais dramáticos de sua história, enquanto a cobertura convencional descrevia os acontecimentos em tom de apoteose cívica.
A reação do público que antecedeu o retorno de Ricardo Melo a presidência da EBC foi a melhor demonstração de reconhecimento pelo que se fez. Embora não faltassem críticas internas e externas ao trabalho – estamos numa democracia, certo? – é sempre bom ter um pouco de humildade nessas horas. Afinal, basta a leitura dos jornais de hoje, de ontem, de anteontem, para reconhecer que estamos longe de um capítulo final nessa tormentosa aventura contra a democracia iniciada pelas forças que insistem em ignorar a soberania popular e o resultado das urnas.
Mais uma vez, meu nome é mencionado entre jornalistas que foram contratados com “salários altos” para trabalhar na EBC. Desta vez, quem escreve é a Folha de S. Paulo.
Basta olhar os números de meu contrato anual - disponibilizados oficialmente para toda pessoa interessada - para entender o absurdo dessa afirmação. Não preciso falar pelos demais profissionais mencionados no jornal. Citado nominalmente, falo por mim.
Claro que, como cidadão brasileiro, devo admitir que tenho um salário altíssimo, comparado com a média do país. Mas, como sabe toda pessoa com algum reconhecimento de recursos humanos, os vencimentos de um profissional podem ser considerados altos, ou baixos, em comparação com aquilo que ele foi capaz de receber ao longo de sua vida profissional anterior. Por essa razão, muitos trabalhadores, quando recebem uma oferta de emprego com salário muito inferior, preferem não formalizar o vínculo, para não “manchar a carteira,” o que poderia impedir ganhos melhores no futuro.
Aplicando esse critério, em vigor em empresas de comunicação onde exerci um papel executivo, cabe reconhecer que minha remuneração como apresentador e editor chefe do programa Espaço Público, chamado ainda a fazer comentários cada vez mais frequentes nos telejornais da TV Brasil, era inferior ao que recebi na maior parte de meus empregos nos últimos quinze anos.
Era menor do que meus vencimentos como diretor da sucursal da IstoÉ em Brasília, que ocupei entre 2013e 2014. Também era mais baixa do que recebia em qualquer uma das funções que exerci na revista Época, onde fui editor, chefe da sucursal de Brasília e, em outro período na empresa, em outro regime de trabalho, diretor de redação. Também é inferior aos meus vencimentos no Diário de S. Paulo, onde fui diretor de redação. Fazendo as correções necessárias em função da inflação, também é inferior ao que recebia como redator chefe da Veja.
Cabe notar, ainda, que na TV Brasil eu era pessoa jurídica. Não tinha FGTS, plano de saúde, nem 13º nem tive direito a aviso prévio, quando meu contrato foi suspenso numa decisão unilateral e arbitrária, do interventor Laerte Rimoli, em boa hora afastado pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.
Pode-se explicar a divulgação de uma informação errada como mais uma demonstração de leviandade, prática condenável do jornalismo que atira primeiro para perguntar depois. Mas não é só isso, evidentemente. Até porque, para se falar seriamente sobre salários altos, baixos, ou na média, seria preciso ir ao mercado e apurar aquilo que se paga por funções equivalentes nas emissoras privadas, se possível com referências nominais, o que ficaria um pouco chato, em alguns casos até engraçado, né?
Na verdade, a falácia dos “altos salários” pagos pela EBC cumpre uma função ideológica. Ajuda a construir a lenda negativa em torno de uma emissora que se quer acusar de desperdiçar recursos públicos e de oferecer mordomias para as chamadas estrelas “pró-PT.” Também ajuda a colocar uma dúvida sobre o real compromisso desses profissionais com os pontos-de-vista que defendem. Os mesmos veículos que não questionam as óbvias preferências politico-partidárias da maioria de nossos comentaristas, em qualquer emissora, tentam colocar sob suspeita toda opinião favorável a um governo que venceu quatro eleições presidenciais consecutivas, por uma larga margem de votos.
Com a criação artificial de um aspecto mercenário, digamos assim, tenta-se desqualificar a outra parte e evitar o debate que interessa – sobre o papel cultural e político da TV Brasil. Este é o ponto central.
Bobagem imaginar que o governo interino esteja preocupado com a TV Brasil por razões econômicas, ainda que em determinados aspectos elas sejam reais. Tampouco está às voltas com elevadas questões culturais ou complexos temas de semiótica.
O problema aqui é uma emissora que desafina o coro dos contentes, cumprindo a função necessária de apresentar uma alternativa a um pensamento escandalosamente único que, só admite alterações na cor da gravata dos apresentadores ou no penteado das comentaristas. O fato dessa melodia ser sustentada com recursos públicos - que também pagam a conta de boa parte das receitas das emissoras privadas - torna tudo ainda mais irritante e aceitável. Mostra que o monopólio privado da comunicação, que tem uma preferência ideológica nítida, pode ser questionado, ainda que através de uma pequena brecha.
Nas pressões contra a TV Brasil, o que se quer é uma sociedade unidimensional, onde se busca criminalizar o conflito de ideias para que possa ser silenciado. Por isso os programas que davam identidade a TV Brasil foram retirados do ar sem mais demora.
Querem que o público vá se acostumando, entendeu? Se não tiver jeito, fecha-se a TV Brasil.
Num país onde o monopólio da comunicação é condenado pela Constituição, o jornalismo da TV Brasil merece apoio e sustentação pelo papel que desempenhou nos últimos meses. Serviu de indispensável contraponto político para um país que ingressava num dos momentos mais dramáticos de sua história, enquanto a cobertura convencional descrevia os acontecimentos em tom de apoteose cívica.
A reação do público que antecedeu o retorno de Ricardo Melo a presidência da EBC foi a melhor demonstração de reconhecimento pelo que se fez. Embora não faltassem críticas internas e externas ao trabalho – estamos numa democracia, certo? – é sempre bom ter um pouco de humildade nessas horas. Afinal, basta a leitura dos jornais de hoje, de ontem, de anteontem, para reconhecer que estamos longe de um capítulo final nessa tormentosa aventura contra a democracia iniciada pelas forças que insistem em ignorar a soberania popular e o resultado das urnas.
2 comentários:
manda eles mostrar os salarios de Bonne ,de fatima bernardes, de faustao, de arnaldo jABOUT. E OUTRAS PORCARIAS QUE vao ao ar so para mostrar porcarias, Se o Salrio de Miro é menor do que o que recebia na Veja por exemplo e depois de passado tanto tempo é como se o salario recebido hoje na EBC seja 1/3 do que na veja pois se ele tivesse ainda na veja seu salrio estaria pelo menos 40% maior devidos aos reajustes.
Se o discurso do calhorda fizesse algum sentido ele nao precisaria ser calhorda... Por uma OUTRA mídia!
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