quinta-feira, 2 de junho de 2016

Propina na reeleição de FHC não dá manchete

Por Altamiro Borges

Qualquer denúncia vazia, sem qualquer prova, contra o ex-presidente Lula logo vira manchete dos jornalões, capa das revistonas e motivo de ácidos comentários na rádio e tevê. Já a reafirmação, pela “enésima vez”, de que o ex-presidente FHC comprou a sua reeleição, em 1997, não causa maiores escândalos na imprensa tucana. Nesta semana, o ex-deputado federal Pedro Corrêa confirmou em sua “delação premiada” que o grão-tucano “comprou mais de cinquenta parlamentares” para garantir a aprovação da emenda que rasgou a Constituição Federal e lhe permitiu mais quatro anos de mandato. A denúncia, que já fora fartamente comprovada no indispensável livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória, apareceu em tímidas reportagens e logo sumiu do noticiário.

Nesta quarta-feira (1), o Estadão até registrou o caso em matéria assinada pelos repórteres Mateus Coutinho, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo. “Em sua delação premiada firmada com a força-tarefa da Lava Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), condenado pelo juiz Sérgio Moro a 20 anos e três meses de prisão enquanto ainda cumpria sua pena no mensalão, desenterrou um episódio polêmico do Congresso durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB/1994-2002): a compra de votos de deputados para apoiar a emenda da reeleição, em 1997... Corrêa afirmou aos investigadores que o episódio envolvendo o governo FHC ‘foi um dos momentos mais espúrios’ que ele presenciou em todos os anos de deputado federal”, registra a reportagem.

Segundo o delator, a operação da compra de votos foi comandada diretamente pelo então ministro das Comunicações, Sérgio Motta (morto em 1998), e pelo então presidente da Câmara Federal, Luís Eduardo Magalhães (também morto em 1998 e na época do PFL/BA), com o apoio do deputado Pauderney Avelino/AM – atualmente líder do DEM – e dos então governadores Amazonino Mendes (PFL-AM) e Olair Cameli (PFL-AC). “De acordo com Pedro Corrêa, essas lideranças ‘compraram os votos para a reeleição de mais de 50 deputados’”. O Estadão lembra que na ocasião o caso foi denunciado pelo seu rival, o site UOL – da Folha – em reportagem de Fernando Rodrigues, que revelou gravações de parlamentares dizendo terem recebido R$ 200 mil para aprovar a emenda da reeleição.

Na reportagem desta quarta-feira, o Estadão deu “a palavra” para o ex-presidente explicar o escândalo. “Fernando Henrique Cardoso disse que Pedro Corrêa apenas repetiu o que foi veiculado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República, chamada ‘Diários da Presidência’. No livro, ele relata que o episódio foi uma ‘questão do Congresso’”. Pronto. Acabou! A mídia privada, que sempre blindou o grão-tucano, seguirá em silêncio até a próxima delação premiada ou denúncia. Já o ex-presidente, rancoroso e vaidoso, seguirá fazendo suas palestras para justificar que o golpe contra Dilma não foi golpe! Isto se não for expulso de alguma universidade no Brasil ou no exterior!

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