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A realidade é sempre contraditória. Por incrível que pareça, o novo prefeito do Rio de Janeiro, o fundamentalista Marcelo Crivella, pode causar uma baita dor de cabeça à famiglia Marinho, dona da poderosa Rede Globo. Nas eleições de outubro, o império midiático fez de tudo para demonizar a campanha do bispo, que é dos chefões da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), proprietária da rival TV Record. Agora, eleito, ele pode partir para a “guerra divina” contra a famiglia Marinho, que se considera dona da cidade maravilhosa. Caso não ocorra um pacto diabólico, a Rede Globo poderá sofrer graves prejuízos, como atesta reportagem da Folha publicada nesta quarta-feira (9).
Segundo a matéria, assinada pelo repórter Italo Nogueira, “o conflito entre o prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), e o Grupo Globo poderá ter impacto sobre as parcerias hoje existentes da empresa com o município. Ao longo dos oito anos da gestão Eduardo Paes (PMDB), que deixa o cargo em janeiro, o grupo de comunicação atuou nas áreas de educação, cultura e eventos da cidade. Por meio da Fundação Roberto Marinho, o grupo foi responsável pela reforma do edifício D. João para sediar o Museu de Arte do Rio (MAR) e pela concepção do Museu do Amanhã, símbolos da revitalização portuária. O grupo recebeu da prefeitura R$ 89,6 milhões pelas duas obras”.
Ainda de acordo com a matéria, “o município também patrocina, desde 2011, a Infoglobo, empresa ligada ao grupo, na realização de eventos de gastronomia, educação, moda, música e Carnaval. O Grupo Globo recebeu R$ 132 milhões da prefeitura por meio da Fundação Roberto Marinho e da Infoglobo, sem incluir pagamentos por publicidade. A continuidade destas parcerias depende de Crivella, que chamou a emissora de TV do grupo de ‘inimiga jurada’ de sua candidatura. Por trás do conflito há a disputa entre Globo e Rede Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o prefeito eleito é bispo licenciado”.
Durante a campanha, o fundamentalista religioso atribuiu à disputa pela audiência entre as duas emissoras ao “dilúvio de infâmias” contra a sua candidatura. O jornal O Globo e a TV Globo se transformaram em palanques contra o bispo. “Eles acham que, pela minha mãe ser irmã do bispo Macedo, que eu vou usar de alguma forma a minha influência para ajudar a Record. Imagina se eu vou fazer uma coisa dessa”, despistou o bispo da Iurd. Vencedor do pleito, porém, muita gente acredita que ele vai “fazer uma coisa dessa” para fragilizar o “demônio”. A batalha de informações será decisiva para o êxito da sua gestão. Marcelo Crivella sabe disto e tem várias armas para a guerra.
Como aponta a matéria, o conflito inicial poderá se dar na disputa das verbas de publicidade oficial. “A prefeitura não divulga a distribuição por emissora, mas a Folha apurou que a TV Record não recebeu nada dos R$ 86 milhões pagos em publicidade neste ano. No ano passado, foram apenas R$ 4,5 milhões dos R$ 105,4 milhões gastos, enquanto a Globo teve cerca de R$ 23 milhões. Eduardo Paes decidiu interromper os repasses à Record por suspeitar que a emissora estivesse favorecendo em seu noticiário o senador, rival de seu aliado Pedro Paulo (PMDB) na disputa pela sucessão. Atribuía a esse fato uma série de reportagens que apontavam suspeitas sobre políticos do PMDB”.
O conflito também poderá se estender à transmissão do Carnaval, que rende muita grana à famiglia Marinho. O contrato da TV Globo com a Liga das Escolas de Samba vai até 2019, mas ele pode sofrer abalos. A Folha garante que os aliados de Crivella defendem que “o prefeito eleito deve ter uma relação pragmática com o Grupo Globo”. A matéria lembra, porém, que “um dos principais conselheiros políticos do prefeito eleito é Isaias Zavarise, ex-diretor de marketing da TV Record”. À conferir como será esta batalha titânica!
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