segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Justiça tucana engole a cratera do Metrô

Por Altamiro Borges

No final de outubro, a Justiça de São Paulo - famosa por sua ligação carnal com o tucanato - decidiu inocentar todos os 14 acusados pela morte de sete pessoas na cratera que se abriu na obra da linha 4-amarela do metrô. A tragédia ocorreu faz quase dez anos e até hoje ninguém - seja da empreiteira ou do governo paulista - foi punido. Geraldo Alckmin, o grão-tucano que pretende disputar a presidência da República em 2018, sequer foi incomodado pela desgraça. Afinal, para o judiciário amigo e para a mídia venal ele é um "santo" - não aquele que surge nas planilhas de propina da Odebrecht. A decisão de inocentar os acusados é um verdadeiro escárnio e até gerou tímidas críticas na imprensa. Mas elas logo sumiram do noticiário nos jornalões e nas telinhas da televisão.


A Folha tucana foi uma das que chiou. No editorial intitulado "Cratera na Justiça", o jornal lamentou a sentença, "a um só tempo tardia e falha", da juíza Aparecida Angélica Correia, da 1ª Vara Criminal de São Paulo. Ela alegou que o consórcio construtor e a direção do metrô não tinham como evitar o desastre e concluiu do seu Olimpo: "Cabe ao Poder Judiciário analisar a questão de maneira isenta, sem influenciar-se pelo clamor popular, mas tão somente com base nas provas colhidas". A Folha até alisa a absurda decisão, diante da "complexidade dos eventos", mas pondera que é difícil "aceitar a conclusão de que ninguém deve responder por uma tragédia com características bem concretas".

O jornal lembra que "o desabamento que resultou num buraco de 80 metros ocorreu precisamente no local onde se faziam escavações da estação de metrô. Se as equipes que acompanhavam a obra não apontaram a possibilidade do acidente, alguém falhou - por negligência, imprudência ou imperícia -, pois acidente houve". Ele ainda aponta as "falhas" no processo desde a sua origem. "A despeito das dimensões da empreitada e da tragédia, as cúpulas das construtoras e da estatal nem constaram da lista de réus na ação penal, que mirou basicamente funcionários de médio e baixo escalão". Em outro trecho, o editorial apresenta um argumento ainda mais picante para justificar as desconfianças.

"Segundo esta Folha noticiou, há motivos para elevar as conjecturas à categoria de grave suspeita. Documentos apreendidos pela Polícia Federal sugerem que as empresas envolvidas nas obras da linha 4 pagaram propina ao Ministério Público - não há menção a um promotor em particular. Os primeiros indícios surgiram ainda em 2009, durante a Operação Castelo de Areia (cujas apurações foram anuladas). Mais recentemente, material colhido pela Lava Jato reforçou a suspeição. Os valores citados superam R$ 3 milhões e estão associados às investigações do desastre na linha 4. O fato de as obras serem de responsabilidade de um consórcio liderado pela Odebrecht e integrado por OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez amplia a verossimilhança da suspeita".

Cadê o "justiceiro" Sergio Moro?

Ou seja: há fortes motivos para acreditar que o buraco do metrô, que causou a morte de sete pessoas, é bem mais embaixo. Além de "negligência, imprudência ou imperícia", pode ter também propina e outros crimes. A Justiça paulista, como de costume, engoliu a cratera tucana; já a mídia chapa-branca, alimentada com farta publicidade oficial, abafou o escândalo. Ele até foi noticiado, mas sem maiores destaques ou continuidade na cobertura dos tais "jornalistas investigativos". Mais este lamentável episódio confirma que Geraldo Alckmin é "o santo" e que as denúncias contra o tucanato "não vem ao caso", como sempre ironizam os internautas.

Em tempo-1: Será que Sergio Moro vai tomar alguma providência neste escândalo, já que "o material colhido pela Lava-Jato reforçou a suspeição" do pagamento de R$ 3 milhões em propina "associado às investigações do desastre na linha 4"? Por sua obsessão doentia contra o ex-presidente Lula e por suas ligações com o tucanato - é bom não esquecer que ele esteve presente em um evento organizado por João Doria quando já era pré-candidato do PSDB à prefeitura paulista -, tudo indica que não. O único grão-tucano incomodado pelo "justiceiro" até hoje foi o jagunço Sérgio Guerra, que já morreu e não pode visitar Curitiba. Em meados de outubro, Sergio Moro finalmente decidiu abrir uma ação contra os empreiteiros que pagaram propina de R$ 10 milhões ao ex-presidente do PSDB. Um milagre!

Em tempo-2: Por falar em mutretas tucanas blindadas pela mídia e engolidas pela Justiça, na semana passada a jornalista Mônica Bergamo, da Folha, publicou uma curiosa matéria intitulada "Suposto elo com tucanos, Paulo Preto é destaque da delação da Odebrecht". Segundo a notinha, bem minúscula e escondida, "o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, acabou se tornando o personagem de grande destaque na delação da empreiteira Odebrecht, que está em fase de finalização... Apontado como elo entre a empreiteira e recursos destinados a ela para políticos do PSDB, ele foi diretor da Dersa em governos tucanos. O nome de Souza se tornou conhecido na campanha de 2010, quando Dilma Rousseff o citou em um debate com José Serra. A então candidata fazia referência a reportagens que o apontavam como um dos tesoureiros informais do partido".

Este tenebroso caso também já sumiu do noticiário. "Não vem ao caso"!

2 comentários:

Alexandre Figueiredo disse...

Podemos dizer que a cratera é que engoliu a Justiça tucana paulistana. Só falta botar a culpa nos mortos, dentro da famosa irresponsabilidade impune dos poderosos.

Anônimo disse...

Quem acha que já viu tudo sobre a Farsa a Jato, veja este vídeo:

https://youtu.be/GK9fQtpLB28