Por Mariana T. Noviello, no blog Cafezinho:
Michel Temer.
As manifestações vindas de todos os cantos, das redes sociais, dos jornais e até da Rede Globo, já demonstraram o desconforto criado pela a sua fala no Dia Internacional das Mulheres. Portanto, espero não repetir aqui o que já foi dito.
Primeiro, não vou chamar a sua fala de ‘gafe’ porque uma gafe implica em erro. E o seu discurso não foi um ‘erro’. Com certeza você (não vou chamá-lo de Sr. porque você não merece o meu respeito, e na verdade até esse ‘você’ soa muito informal para me direcionar a alguém com quem não quero ter nenhuma intimidade) trabalha com assessores e talvez até tenha sido aconselhado a dizer o que disse, pensando que boa parte da população se identificaria com os seus sentimentos.
Não é possível também aceitar que você ‘vem de outra geração’, como quis a Globo justificar, dizendo que a identificação de ‘mulher’ e ‘do lar’ seria um reflexo de sua idade.
Não, infelizmente isso não é aceitável. O feminismo vem de longe e as mulheres participam de todas as esferas públicas (sócio-política-econômica) há muito tempo. A luta pela igualdade de gênero começou no final do século XIX, junto com as outras lutas por emancipação e direitos.
Na verdade, não há luta em que as mulheres não tenham tomado parte. E o problema é justamente esse: infelizmente ainda há no mundo, e no Brasil, muitas pessoas que pensam como você.
Indivíduos que acreditam que a mulher está aí para tomar conta da casa e ‘formar família’, que os problemas da sociedade recaem sobre os ombros das mulheres desvirtuadas, que não souberam ser boas mães e esposas.
Pessoas que acreditam que os problemas sociais são a culpa do indivíduo e não problemas estruturais.
Que acham que os homens devem cuidar da economia das nações e as mulheres, da economia familiar e que as duas coisas se unem justamente na conta do supermercado. Porque, afinal, o homem provê e a mulher gasta.
A mulher, no final do dia, depois do beijo no marido, da comida na mesa e do filho na cama, conversa em tom convivial com o marido e conta que o feijão está caro demais.
E neste mundo ideal, o marido, dependendo de sua posição hierárquica, fará de tudo para aplacar a tola mente de sua esposa. Se for ‘trabalhador, trabalhará mais para continuar pondo a mesma quantidade de feijão na mesa. Se for político conceituado, poderá trazer as preocupações de sua esposa para a tribuna da câmara ou do senado.
Pois bem Michel, este mundo nunca existiu. Nem mesmo nos anos 50. Poucas foram as famílias na história onde a mulher podia ficar em casa, sendo cuidada pelo marido.
Muitas mulheres sempre tiveram uma dupla jornada. Casa e trabalho, crianças e marido, se marido tinham. As mães escravas da nossa vergonhosa história colonial sequer tinham o direito de ter um amor, um parceiro, ou ficar com seus filhos.
A mulher brasileira sempre foi trabalhadora, batalhadora.
E se a dupla jornada é motivo de orgulho, não é porque a mulher goste de trabalhar em casa, de ser ‘do lar’ e ainda trabalhar fora. Mas porque muitas vezes ela não tem opção. E o orgulho vem da garra, da capacidade de sobreviver que a mulher tem.
Portanto, não, Michel. Eu não estou aqui para analisar preços no supermercado, coisa que nunca gostei de fazer.
Quero falar de economia. Quero falar de política e do social. Quero falar de como a PEC 55, além de ser maldosa, é absurda do ponto de vista puramente econômico.
Quero falar que política não é técnica, e que se existe governo, sua maior prioridade é o povo e não empresários, a mídia, fundos de pensão, mercados ou outras instituições financeiras.
Quero dizer que não preciso de flores, nem beijos, ou parabéns.
Quero falar que o seu discurso reflete o que você aceitou fazer com a nossa democracia: destituir uma mulher inteligente, capaz e batalhadora para tomar o seu lugar. Porque você e os seus comparsas, um bando de homens retrógrados (não quero ofender as pessoas mais idosas) não gostaram do caminho que uma mulher tomava.
Quero dizer que vocês agiram na esfera pública da mesma maneira que milhões de homens agem na espera privada, todos os dias.
Isto é, ignorando, desclassificando e desmerecendo a perspectiva das mulheres e daqueles com quem vocês não concordam.
Vocês falaram por cima, pisaram em cima, e inventaram qualquer desculpa para fazer valer a velha ideia de que “os meios justificam o fim”.
Seja esse fim um projeto econômico que vocês consideram certo, ou ainda para pôr um fim ‘a toda essa sangria’.
Mas fique sabendo, Michel, que os fins não justificam o meio e que mais cedo ou mais tarde haverá consequências para as suas ações. Pode ser que você continue no poder por agora. Pode ser. Eu sei que não vai durar para sempre.
Portanto, continue a falar o que você pensa, a escancarar a sua mentalidade atrasada, como você fez no dia das mulheres.
Continue a soltar fotografias de homem velho beijando moça nova que poderia ser sua filha e tentar dar a impressão que isso é o ideal de ‘família do bem’.
Continue.
Assim só fica mais claro – até mesmo para os seus aliados do momento – que a nossa democracia está sendo vergonhosamente usurpada por muitos homens e as poucas mulheres que ousaram participar de seu desgoverno.
Michel Temer.
As manifestações vindas de todos os cantos, das redes sociais, dos jornais e até da Rede Globo, já demonstraram o desconforto criado pela a sua fala no Dia Internacional das Mulheres. Portanto, espero não repetir aqui o que já foi dito.
Primeiro, não vou chamar a sua fala de ‘gafe’ porque uma gafe implica em erro. E o seu discurso não foi um ‘erro’. Com certeza você (não vou chamá-lo de Sr. porque você não merece o meu respeito, e na verdade até esse ‘você’ soa muito informal para me direcionar a alguém com quem não quero ter nenhuma intimidade) trabalha com assessores e talvez até tenha sido aconselhado a dizer o que disse, pensando que boa parte da população se identificaria com os seus sentimentos.
Não é possível também aceitar que você ‘vem de outra geração’, como quis a Globo justificar, dizendo que a identificação de ‘mulher’ e ‘do lar’ seria um reflexo de sua idade.
Não, infelizmente isso não é aceitável. O feminismo vem de longe e as mulheres participam de todas as esferas públicas (sócio-política-econômica) há muito tempo. A luta pela igualdade de gênero começou no final do século XIX, junto com as outras lutas por emancipação e direitos.
Na verdade, não há luta em que as mulheres não tenham tomado parte. E o problema é justamente esse: infelizmente ainda há no mundo, e no Brasil, muitas pessoas que pensam como você.
Indivíduos que acreditam que a mulher está aí para tomar conta da casa e ‘formar família’, que os problemas da sociedade recaem sobre os ombros das mulheres desvirtuadas, que não souberam ser boas mães e esposas.
Pessoas que acreditam que os problemas sociais são a culpa do indivíduo e não problemas estruturais.
Que acham que os homens devem cuidar da economia das nações e as mulheres, da economia familiar e que as duas coisas se unem justamente na conta do supermercado. Porque, afinal, o homem provê e a mulher gasta.
A mulher, no final do dia, depois do beijo no marido, da comida na mesa e do filho na cama, conversa em tom convivial com o marido e conta que o feijão está caro demais.
E neste mundo ideal, o marido, dependendo de sua posição hierárquica, fará de tudo para aplacar a tola mente de sua esposa. Se for ‘trabalhador, trabalhará mais para continuar pondo a mesma quantidade de feijão na mesa. Se for político conceituado, poderá trazer as preocupações de sua esposa para a tribuna da câmara ou do senado.
Pois bem Michel, este mundo nunca existiu. Nem mesmo nos anos 50. Poucas foram as famílias na história onde a mulher podia ficar em casa, sendo cuidada pelo marido.
Muitas mulheres sempre tiveram uma dupla jornada. Casa e trabalho, crianças e marido, se marido tinham. As mães escravas da nossa vergonhosa história colonial sequer tinham o direito de ter um amor, um parceiro, ou ficar com seus filhos.
A mulher brasileira sempre foi trabalhadora, batalhadora.
E se a dupla jornada é motivo de orgulho, não é porque a mulher goste de trabalhar em casa, de ser ‘do lar’ e ainda trabalhar fora. Mas porque muitas vezes ela não tem opção. E o orgulho vem da garra, da capacidade de sobreviver que a mulher tem.
Portanto, não, Michel. Eu não estou aqui para analisar preços no supermercado, coisa que nunca gostei de fazer.
Quero falar de economia. Quero falar de política e do social. Quero falar de como a PEC 55, além de ser maldosa, é absurda do ponto de vista puramente econômico.
Quero falar que política não é técnica, e que se existe governo, sua maior prioridade é o povo e não empresários, a mídia, fundos de pensão, mercados ou outras instituições financeiras.
Quero dizer que não preciso de flores, nem beijos, ou parabéns.
Quero falar que o seu discurso reflete o que você aceitou fazer com a nossa democracia: destituir uma mulher inteligente, capaz e batalhadora para tomar o seu lugar. Porque você e os seus comparsas, um bando de homens retrógrados (não quero ofender as pessoas mais idosas) não gostaram do caminho que uma mulher tomava.
Quero dizer que vocês agiram na esfera pública da mesma maneira que milhões de homens agem na espera privada, todos os dias.
Isto é, ignorando, desclassificando e desmerecendo a perspectiva das mulheres e daqueles com quem vocês não concordam.
Vocês falaram por cima, pisaram em cima, e inventaram qualquer desculpa para fazer valer a velha ideia de que “os meios justificam o fim”.
Seja esse fim um projeto econômico que vocês consideram certo, ou ainda para pôr um fim ‘a toda essa sangria’.
Mas fique sabendo, Michel, que os fins não justificam o meio e que mais cedo ou mais tarde haverá consequências para as suas ações. Pode ser que você continue no poder por agora. Pode ser. Eu sei que não vai durar para sempre.
Portanto, continue a falar o que você pensa, a escancarar a sua mentalidade atrasada, como você fez no dia das mulheres.
Continue a soltar fotografias de homem velho beijando moça nova que poderia ser sua filha e tentar dar a impressão que isso é o ideal de ‘família do bem’.
Continue.
Assim só fica mais claro – até mesmo para os seus aliados do momento – que a nossa democracia está sendo vergonhosamente usurpada por muitos homens e as poucas mulheres que ousaram participar de seu desgoverno.
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