Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Não importa quantos fatos incontestáveis a gente mostre sobre a Venezuela, esse bando de energúmenos que se tornou especialista no país vizinho só por assistir a Globo se recusa a enxergar.
No último capítulo (no post anterior), esta página propôs a seguinte questão aos leitores: entre uma pesquisa usada por TODA A COMUNIDADE INTERNACIONAL como REFERÊNCIA para comparar a qualidade de vida entre os povos (O Relatório do Desenvolvimento Humano, apurado pelas Nações Unidas) e uma pesquisa desconhecida feita por grupos políticos venezuelanos, a qual delas você daria mais atenção?
A pesquisa usada pelo mundo para comparar os países diz que a Venezuela é um país de Alto Desenvolvimento e que a qualidade de vida por lá é melhor do que por aqui. Já a pesquisa desconhecida feita por adversários do governo Venezuelano que recebem financiamento em dinheiro dos Estados Unidos diz o contrário, que a Venezuela tem uma pobreza igual ou maior do que a de países miseráveis da África Subsaariana.
O fato é que apareceram pessoas que preferem acreditar na pesquisa fake. E não interessa quantos argumentos incontestáveis tecnicamente você possa apresentar: esses muares se recusam a aceitar todos eles sem se dignarem sequer a procurarem saber do que tratam.
Enquanto isso, todos os centros acadêmicos e de inteligência que não usam estatísticas ou jornalismo para fazer politicagem ideológica assistem, atônitos, à desinformação criminosa sobre o país vizinho.
Semana passada, o diário espanhol El País produziu uma reportagem instigante sobre a Venezuela. O mote, muito simples: “Por que, em Caracas, a maioria dos que protestam contra o empobrecimento não é pobre?”
Basicamente, a matéria mostra que o descontentamento com o governo vem sendo exponencialmente maior nas classes sociais mais abastadas, porque os problemas de abastecimento, a inflação etc. são compensados por programas sociais.
O que ocorre na Venezuela é uma decisão da elite local de não aceitar um governo que, em sua visão, gastava demais com o povo. Bem, a crise pôs fim nisso. O governo venezuelano não tem receita, a direita parou o país com os piquetes violentos que atraem a polícia e geram choques armados entre os dois lados.
Na Venezuela, há muito, impera a insensatez. Este blogueiro foi acompanhando o recrudescimento do ódio ano após ano. Faço isso desde 2002, quando presenciei, in loco, naquele país, uma tentativa de golpe que me impressionou com as medidas que foram tomadas pelos golpistas logo após julgarem que a derrubada do governo era irreversível.
Desde o segundo ano do novo milênio que esta página vem se referindo ao processo de “venezuelanização” do Brasil.
O mesmo ódio entre compatriotas que levou a Venezuela ao ponto em que está, germina no Brasil. Alguns choques entre “coxinhas” e “mortadelas” já se produziram, mas são esparsos. O grosso desse ódio fica na internet, nos bate-bocas entre valentões de teclado, via de regra anônimos que se aproveitam da facilidade de não terem que responder por seus atos para cometer crimes contra a honra.
Mas, como na Venezuela, esse ódio só faz crescer no Brasil. E, em algum momento, a violência retórica da internet começara a se materializar nas ruas.
Na verdade, nos dois anos anteriores o conflito político-ideológico veio sendo inflamado pela seletividade política da Lava Jato e da Mídia, mas não gerou embates críticos porque o lado alvejado pela seletividade jurídico-midiática se desorganizou no âmbito do golpe contra Dilma Rousseff.
Muita gente boa embarcou na discurseira midiática e dos “vingadores” do judiciário, do MP e da PF. Mas essas pessoas começam a acordar.
Nada como o sofrimento – no caso, via empobrecimento acelerado em curso no Brasil – para chamar as pessoas à luz da razão. Por esse motivo que Lula cresce sem parar nas pesquisas.
A direita ainda está muito mais forte. Além de ter o poder de Estado, a mídia e o capital, enfrenta um adversário fragmentado e desorientado pelo golpe, mas que já começa a se rearticular.
E isso não é necessariamente bom. Em algum momento, os abusos da direita – como esculachos de pessoas de esquerda por pessoas de direita em restaurantes etc. – vão começar a gerar reações.
Tudo que os dois lados precisam é de um cadáver. Se um lado se exaltar demais e tirar a vida de alguém, o outro lado vai reagir pela lei de talião e a venezuelanização do país mudará de patamar.
Quem vai fazer isso acontecer não será a esquerda. Foi a direita que se vestiu de golpista e decidiu esmagar quem pensa diferente.
As reformas temerárias deverão providenciar o componente final dessa sopa de ódio que está cozinhando em fogo brando há mais de uma década. A perda de poder aquisitivo que a reforma trabalhista e a terceirização vão gerar colocarão uma parcela mais substanciosa da população a se revoltar.
Menos mal será se a direita for derrotada na eleição presidencial de 2018. Sempre digo que Lula funcionou, no Brasil, como algodão entre cristais. Se não tivesse assumido a Presidência em 2003 e diminuído as tensões sociais com redução da pobreza e da desigualdade, o Brasil teria explodido.
Essas tensões voltam a se acumular graças à decisão clara dos golpistas de tirarem dos pobres o que ganharam nos governos do PT e devolver aos ricos – com juros bem altos, claro, que ninguém é de ferro.
Sim, os golpistas estão transformando o Brasil em uma Venezuela, mas não do ponto da justiça social e, sim, do ponto de vista do clima de ódio entre esquerda e direita.
Vejam o que faz João Doria. Não mede esforços para provocar a esquerda, com vistas a afagar o eleitorado fascista. Corre na mesma raia que Jair Bolsonaro. Disputará a extrema-direita com ele em 2018 – Doria deve ser candidato a presidente mesmo que não seja pelo PSDB.
Esse exemplo de insensatez de gente como Doria ou Bolsonaro, que ficam acirrando os ânimos, pondo lenha na fogueira para lucrar politicamente foi o que fez a Venezuela explodir. Hoje, qualquer discussão sobre política no meio da rua pode terminar em tiroteio.
O povo brasileiro precisa refletir sobre esse clima de ódio. É nesse tipo de Venezuela que o Brasil pode se transformar. Infelizmente, não será no tipo de Venezuela que acabou com o alfabetismo, reduziu drasticamente a pobreza até 2013 e fez o povo progredir como jamais progredira em cinco séculos de história.
Abre o olho, Brasil. Abram os olhos, golpistas. Vocês podem estar colocando na boca muito mais do que conseguirão mastigar e engolir.
Não importa quantos fatos incontestáveis a gente mostre sobre a Venezuela, esse bando de energúmenos que se tornou especialista no país vizinho só por assistir a Globo se recusa a enxergar.
No último capítulo (no post anterior), esta página propôs a seguinte questão aos leitores: entre uma pesquisa usada por TODA A COMUNIDADE INTERNACIONAL como REFERÊNCIA para comparar a qualidade de vida entre os povos (O Relatório do Desenvolvimento Humano, apurado pelas Nações Unidas) e uma pesquisa desconhecida feita por grupos políticos venezuelanos, a qual delas você daria mais atenção?
A pesquisa usada pelo mundo para comparar os países diz que a Venezuela é um país de Alto Desenvolvimento e que a qualidade de vida por lá é melhor do que por aqui. Já a pesquisa desconhecida feita por adversários do governo Venezuelano que recebem financiamento em dinheiro dos Estados Unidos diz o contrário, que a Venezuela tem uma pobreza igual ou maior do que a de países miseráveis da África Subsaariana.
O fato é que apareceram pessoas que preferem acreditar na pesquisa fake. E não interessa quantos argumentos incontestáveis tecnicamente você possa apresentar: esses muares se recusam a aceitar todos eles sem se dignarem sequer a procurarem saber do que tratam.
Enquanto isso, todos os centros acadêmicos e de inteligência que não usam estatísticas ou jornalismo para fazer politicagem ideológica assistem, atônitos, à desinformação criminosa sobre o país vizinho.
Semana passada, o diário espanhol El País produziu uma reportagem instigante sobre a Venezuela. O mote, muito simples: “Por que, em Caracas, a maioria dos que protestam contra o empobrecimento não é pobre?”
Basicamente, a matéria mostra que o descontentamento com o governo vem sendo exponencialmente maior nas classes sociais mais abastadas, porque os problemas de abastecimento, a inflação etc. são compensados por programas sociais.
O que ocorre na Venezuela é uma decisão da elite local de não aceitar um governo que, em sua visão, gastava demais com o povo. Bem, a crise pôs fim nisso. O governo venezuelano não tem receita, a direita parou o país com os piquetes violentos que atraem a polícia e geram choques armados entre os dois lados.
Na Venezuela, há muito, impera a insensatez. Este blogueiro foi acompanhando o recrudescimento do ódio ano após ano. Faço isso desde 2002, quando presenciei, in loco, naquele país, uma tentativa de golpe que me impressionou com as medidas que foram tomadas pelos golpistas logo após julgarem que a derrubada do governo era irreversível.
Desde o segundo ano do novo milênio que esta página vem se referindo ao processo de “venezuelanização” do Brasil.
O mesmo ódio entre compatriotas que levou a Venezuela ao ponto em que está, germina no Brasil. Alguns choques entre “coxinhas” e “mortadelas” já se produziram, mas são esparsos. O grosso desse ódio fica na internet, nos bate-bocas entre valentões de teclado, via de regra anônimos que se aproveitam da facilidade de não terem que responder por seus atos para cometer crimes contra a honra.
Mas, como na Venezuela, esse ódio só faz crescer no Brasil. E, em algum momento, a violência retórica da internet começara a se materializar nas ruas.
Na verdade, nos dois anos anteriores o conflito político-ideológico veio sendo inflamado pela seletividade política da Lava Jato e da Mídia, mas não gerou embates críticos porque o lado alvejado pela seletividade jurídico-midiática se desorganizou no âmbito do golpe contra Dilma Rousseff.
Muita gente boa embarcou na discurseira midiática e dos “vingadores” do judiciário, do MP e da PF. Mas essas pessoas começam a acordar.
Nada como o sofrimento – no caso, via empobrecimento acelerado em curso no Brasil – para chamar as pessoas à luz da razão. Por esse motivo que Lula cresce sem parar nas pesquisas.
A direita ainda está muito mais forte. Além de ter o poder de Estado, a mídia e o capital, enfrenta um adversário fragmentado e desorientado pelo golpe, mas que já começa a se rearticular.
E isso não é necessariamente bom. Em algum momento, os abusos da direita – como esculachos de pessoas de esquerda por pessoas de direita em restaurantes etc. – vão começar a gerar reações.
Tudo que os dois lados precisam é de um cadáver. Se um lado se exaltar demais e tirar a vida de alguém, o outro lado vai reagir pela lei de talião e a venezuelanização do país mudará de patamar.
Quem vai fazer isso acontecer não será a esquerda. Foi a direita que se vestiu de golpista e decidiu esmagar quem pensa diferente.
As reformas temerárias deverão providenciar o componente final dessa sopa de ódio que está cozinhando em fogo brando há mais de uma década. A perda de poder aquisitivo que a reforma trabalhista e a terceirização vão gerar colocarão uma parcela mais substanciosa da população a se revoltar.
Menos mal será se a direita for derrotada na eleição presidencial de 2018. Sempre digo que Lula funcionou, no Brasil, como algodão entre cristais. Se não tivesse assumido a Presidência em 2003 e diminuído as tensões sociais com redução da pobreza e da desigualdade, o Brasil teria explodido.
Essas tensões voltam a se acumular graças à decisão clara dos golpistas de tirarem dos pobres o que ganharam nos governos do PT e devolver aos ricos – com juros bem altos, claro, que ninguém é de ferro.
Sim, os golpistas estão transformando o Brasil em uma Venezuela, mas não do ponto da justiça social e, sim, do ponto de vista do clima de ódio entre esquerda e direita.
Vejam o que faz João Doria. Não mede esforços para provocar a esquerda, com vistas a afagar o eleitorado fascista. Corre na mesma raia que Jair Bolsonaro. Disputará a extrema-direita com ele em 2018 – Doria deve ser candidato a presidente mesmo que não seja pelo PSDB.
Esse exemplo de insensatez de gente como Doria ou Bolsonaro, que ficam acirrando os ânimos, pondo lenha na fogueira para lucrar politicamente foi o que fez a Venezuela explodir. Hoje, qualquer discussão sobre política no meio da rua pode terminar em tiroteio.
O povo brasileiro precisa refletir sobre esse clima de ódio. É nesse tipo de Venezuela que o Brasil pode se transformar. Infelizmente, não será no tipo de Venezuela que acabou com o alfabetismo, reduziu drasticamente a pobreza até 2013 e fez o povo progredir como jamais progredira em cinco séculos de história.
Abre o olho, Brasil. Abram os olhos, golpistas. Vocês podem estar colocando na boca muito mais do que conseguirão mastigar e engolir.
3 comentários:
Infelizmente uma visão romântica sobre a Venezuela.
Acabou c o alfabetismo?!
A Venezuela é um paraíso tão cobiçado que se chega lá apenas por vias terrestres.
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