Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
54 anos atrás – 28 de agosto de 1963 – negros e brancos marchavam em Washington e, nos degraus do Memorial Lincoln, Martin Luther King pronunciava seu discurso que a história batizaria de “I have a dream” proclamando a igualdade e a harmonia
Ontem, em Charlottesville, o pesadelo dos nossos tempos tomou forma em um multidão que marchava em direção contrária.
Não, não é distante, bizarro ou algo isolado e “folclórico” na sempre ressentida sociedade norte-americana.
Longe dali, perto daqui, milhares iam comprar esfihas na barraca do Mohamed Ali, que dias atrás foi vítima de hostilizado por facínoras, na esquina da Rua Santa Clara com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no Rio, aos gritos de “saia do meu país”.
Não pense que é um surto psicótico em escala global, provocado por algum estranho vírus que se disseminou em escala planetária.
É o reflexo, nas superestruturas ideológicas e comportamentais da segunda etapa da globalização capitalista.
Segunda, porque a primeira – que não terminou – se deu pela busca de dois recursos essenciais em escala planetária que a era das navegações permitiu: riquezas naturais (no início, ouro e prata, as commodities do séculos pré modernos e depois açúcar, café, ferro, petróleo) e de força de trabalho.
Agora, a drenagem colonial chega também à vida das coletividades, inclusive nas metrópoles.
A concentração de capital e a mão de obra que se torna quase desprezível na economia ultratecnológica vai fazendo que a escassez de trabalho transfira para a classe média – e até para os relativamente pobres – a disputa pelas migalhas que o enriquecimento de pequenas castas – o mundo azul – deixa ainda à sociedade.
É evidente que o ódio racial, a discriminação, o preconceito existem, independente disso, mas é isso o catalizador – aquilo que permite e acelera as reações – destes conflitos.
Tudo o que devemos fazer e fazemos contra esta barbárie é absolutamente necessário – e não há justificativa para a omissão – mas é também insuficiente.
Se você, como eu, abomina o que está acontecendo, ponha algo em mente: a crise, os cortes, a falta de perspectivas são os agentes catalizadores desta epidemia do ódio, que antes não tinha condições de eclodir.
Agora, tem e mais ainda terá quanto mais nos afundarmos na crise.
54 anos atrás – 28 de agosto de 1963 – negros e brancos marchavam em Washington e, nos degraus do Memorial Lincoln, Martin Luther King pronunciava seu discurso que a história batizaria de “I have a dream” proclamando a igualdade e a harmonia
Ontem, em Charlottesville, o pesadelo dos nossos tempos tomou forma em um multidão que marchava em direção contrária.
Não, não é distante, bizarro ou algo isolado e “folclórico” na sempre ressentida sociedade norte-americana.
Longe dali, perto daqui, milhares iam comprar esfihas na barraca do Mohamed Ali, que dias atrás foi vítima de hostilizado por facínoras, na esquina da Rua Santa Clara com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no Rio, aos gritos de “saia do meu país”.
Não pense que é um surto psicótico em escala global, provocado por algum estranho vírus que se disseminou em escala planetária.
É o reflexo, nas superestruturas ideológicas e comportamentais da segunda etapa da globalização capitalista.
Segunda, porque a primeira – que não terminou – se deu pela busca de dois recursos essenciais em escala planetária que a era das navegações permitiu: riquezas naturais (no início, ouro e prata, as commodities do séculos pré modernos e depois açúcar, café, ferro, petróleo) e de força de trabalho.
Agora, a drenagem colonial chega também à vida das coletividades, inclusive nas metrópoles.
A concentração de capital e a mão de obra que se torna quase desprezível na economia ultratecnológica vai fazendo que a escassez de trabalho transfira para a classe média – e até para os relativamente pobres – a disputa pelas migalhas que o enriquecimento de pequenas castas – o mundo azul – deixa ainda à sociedade.
É evidente que o ódio racial, a discriminação, o preconceito existem, independente disso, mas é isso o catalizador – aquilo que permite e acelera as reações – destes conflitos.
Tudo o que devemos fazer e fazemos contra esta barbárie é absolutamente necessário – e não há justificativa para a omissão – mas é também insuficiente.
Se você, como eu, abomina o que está acontecendo, ponha algo em mente: a crise, os cortes, a falta de perspectivas são os agentes catalizadores desta epidemia do ódio, que antes não tinha condições de eclodir.
Agora, tem e mais ainda terá quanto mais nos afundarmos na crise.
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