Por João Filho, no site The Intercept-Brasil:
Em 2006, José Serra abandonou a prefeitura de São Paulo na metade do mandato para concorrer ao governo do estado. Ele se candidataria à vaga deixada por Alckmin, que naquele mesmo ano abandonou o mandato de governador para se candidatar à presidência da República. Eleito governador, Serra novamente abandonaria o mandato para se candidatar à presidência.
Largar mandatos em São Paulo para disputar – e perder – eleições nacionais já é uma tradição tucana. E ela irá continuar. Alckmin já sinalizou que pode abandonar o governo em abril, quando pretende iniciar campanha presidencial se for o candidato escolhido pelo PSDB. Doria já abandonou a prefeitura, ainda que não oficialmente, para sair em turnê mundial. Apresenta-se como o anti-Lula e busca aumentar popularidade no Nordeste, onde é pouco conhecido.
O prefeito ainda tem o agravante de estar usando a cidade como mero trampolim eleitoral logo na sua primeira experiência no Executivo, que ainda não completou um ano. Ambos estão com o foco voltado para as próximas eleições e já não se preocupam em disfarçar o desdém com os mandatos conferidos pelos eleitores paulistas e paulistanos. As primeiras farpas públicas entre os dois já começam a aparecer.
Querendo se descolar da inevitável pecha de traidor, Doria garante que não disputará prévias com o seu criador e poderá sair do partido para concorrer por outra legenda. Com Alckmin alinhado ao presidente do PSDB Tasso Jereissati, é grande a chance de que ele seja o candidato tucano, enquanto Doria buscará nova sigla e provavelmente levará junto seus coleguinhas do MBL e os jovens velhos “cabeças pretas”, que estão insatisfeitos no partido. Ainda haverá muita discussão, já que parte do grupo tucano ainda está afinada com Alckmin.
Independentemente da candidatura de Alckmin, não é difícil imaginar que Doria vá se decidir pela saída do PSDB. Seria a narrativa perfeita para um mestre da politicagem que pretende se vender como novidade. O novo Collor precisa de um PRN para chamar de seu. Seria um disfarce perfeito para suas pretensões. Ele sairia de um partido arranhado pela Lava Jato e entraria em um novinho em folha aos olhos da população. Um dos líderes dos “cabeças pretas” já acertou sua ida ao PSL, o que pode ser um indicativo da debandada. O PSL foi criado em 1998, mas já está de roupinha nova e quer ser chamado de Livres.
Querendo se descolar da inevitável pecha de traidor, Doria garante que não disputará prévias com o seu criador e poderá sair do partido para concorrer por outra legenda. Com Alckmin alinhado ao presidente do PSDB Tasso Jereissati, é grande a chance de que ele seja o candidato tucano, enquanto Doria buscará nova sigla e provavelmente levará junto seus coleguinhas do MBL e os jovens velhos “cabeças pretas”, que estão insatisfeitos no partido. Ainda haverá muita discussão, já que parte do grupo tucano ainda está afinada com Alckmin.
Independentemente da candidatura de Alckmin, não é difícil imaginar que Doria vá se decidir pela saída do PSDB. Seria a narrativa perfeita para um mestre da politicagem que pretende se vender como novidade. O novo Collor precisa de um PRN para chamar de seu. Seria um disfarce perfeito para suas pretensões. Ele sairia de um partido arranhado pela Lava Jato e entraria em um novinho em folha aos olhos da população. Um dos líderes dos “cabeças pretas” já acertou sua ida ao PSL, o que pode ser um indicativo da debandada. O PSL foi criado em 1998, mas já está de roupinha nova e quer ser chamado de Livres.
Alckmin já começou a jogar indiretas contra a sua criatura. Na última segunda-feira, o governador deu a sua definição do que é o “novo” na política: “Primeiro, é falar a verdade. Olhar nos olhos e as pessoas poderem acreditar”.
O governador fala isso em um momento em que Doria foi pego na mentira. No auge da sua egotrip na França – para onde foi participar de um evento em que leu um discurso de 15 minutos – o prefeito anunciou em agenda oficial um encontro com o primeiro-ministro francês em Paris. Depois, descobriu-se que o encontro era apenas mais uma jogada de marketing do presidenciável, já que Édouard Philippe nem se encontrava na capital francesa.
A obsessão pelo marketing eleitoral proporcionou outro momento constrangedor. Apesar de afirmar em suas redes ter tido uma reunião com Macron, Doria apenas esteve presente no mesmo evento que ele. Como um fã deslumbrado, gravou vídeo em que fala em francês com Macron, que apenas ouve de braços cruzados.
O monólogo foi considerado pelo gestor “uma experiência única, inspiradora”. O silêncio e o brilho no olhar do francês devem ser mesmo inesquecíveis. Doria considera Macron “uma referência de gestão inovadora e transformadora”, mas alguém precisa lhe contar que o seu muso inspirador acabou de estatizar um grande estaleiro na França. Quem sabe isso esfrie a sua tara privatizadora.
Apesar de ter sido eleito ostentando a alcunha de “João Trabalhador”, nosso gestor parece pouco afeito ao batente no gabinete e prefere trabalhar remotamente. A turnê eleitoral não pode parar. Para cada semana de trampo, Doria passa um dia no exterior. Somando os dias, já completou mais de um mês fora do país e mais tantos outros fora da cidade. Só em agosto, viajou para 11 municípios brasileiros e promete atender outros 96 convites, segundo ele, “por ser educado”. O fato teria virado piada na boca de Alckmin: “O político está aqui gerindo enquanto o gestor faz política”.
A campanha eleitoral descarada não compromete, segundo Doria, o trabalho diário na prefeitura:
“Você pode perguntar para qualquer CEO se ele deixa de viajar por ter que administrar uma companhia. Ele vai dizer que não. Pelo celular, a gente consegue monitorar todas as ações.”
Doria não esconde que administra a prefeitura como se fosse uma de suas empresas. E administra mal. A política de doações do setor privado é um desastre, o número de semáforos quebrados aumentou, as filas de exames médicos aumentaram, o número de buracos nas vias disparou ao mesmo tempo em que o serviço de reparos foi reduzido. Uma das poucas coisas que tem funcionado bem na cidade é a varrição da sujeira para debaixo do tapete. Um secretário e uma controladora-geral do município foram demitidos – vejam só que coincidência! – imediatamente após denunciarem esquemas de corrupção na área ambiental. Esse é o jeito novo de fazer política de Doria.
Quando finalmente voltou para visitar a cidade na qual deveria trabalhar, Doria correu para fazer a gestão da sua imagem e conter os danos da repercussão negativa. Fez o que faz de melhor como prefeito: vestiu camiseta e calça jeans e foi fazer cosplay de trabalhador, ajudando a arrumar uma calçada na periferia. E, na segunda-feira, já foi novamente palestrar na festa de aniversário da revista Exame, onde afirmou: “não estou fazendo campanha, estou fazendo gestão”. Claro que sim, prefeito.
O governador fala isso em um momento em que Doria foi pego na mentira. No auge da sua egotrip na França – para onde foi participar de um evento em que leu um discurso de 15 minutos – o prefeito anunciou em agenda oficial um encontro com o primeiro-ministro francês em Paris. Depois, descobriu-se que o encontro era apenas mais uma jogada de marketing do presidenciável, já que Édouard Philippe nem se encontrava na capital francesa.
A obsessão pelo marketing eleitoral proporcionou outro momento constrangedor. Apesar de afirmar em suas redes ter tido uma reunião com Macron, Doria apenas esteve presente no mesmo evento que ele. Como um fã deslumbrado, gravou vídeo em que fala em francês com Macron, que apenas ouve de braços cruzados.
O monólogo foi considerado pelo gestor “uma experiência única, inspiradora”. O silêncio e o brilho no olhar do francês devem ser mesmo inesquecíveis. Doria considera Macron “uma referência de gestão inovadora e transformadora”, mas alguém precisa lhe contar que o seu muso inspirador acabou de estatizar um grande estaleiro na França. Quem sabe isso esfrie a sua tara privatizadora.
Apesar de ter sido eleito ostentando a alcunha de “João Trabalhador”, nosso gestor parece pouco afeito ao batente no gabinete e prefere trabalhar remotamente. A turnê eleitoral não pode parar. Para cada semana de trampo, Doria passa um dia no exterior. Somando os dias, já completou mais de um mês fora do país e mais tantos outros fora da cidade. Só em agosto, viajou para 11 municípios brasileiros e promete atender outros 96 convites, segundo ele, “por ser educado”. O fato teria virado piada na boca de Alckmin: “O político está aqui gerindo enquanto o gestor faz política”.
A campanha eleitoral descarada não compromete, segundo Doria, o trabalho diário na prefeitura:
“Você pode perguntar para qualquer CEO se ele deixa de viajar por ter que administrar uma companhia. Ele vai dizer que não. Pelo celular, a gente consegue monitorar todas as ações.”
Doria não esconde que administra a prefeitura como se fosse uma de suas empresas. E administra mal. A política de doações do setor privado é um desastre, o número de semáforos quebrados aumentou, as filas de exames médicos aumentaram, o número de buracos nas vias disparou ao mesmo tempo em que o serviço de reparos foi reduzido. Uma das poucas coisas que tem funcionado bem na cidade é a varrição da sujeira para debaixo do tapete. Um secretário e uma controladora-geral do município foram demitidos – vejam só que coincidência! – imediatamente após denunciarem esquemas de corrupção na área ambiental. Esse é o jeito novo de fazer política de Doria.
Quando finalmente voltou para visitar a cidade na qual deveria trabalhar, Doria correu para fazer a gestão da sua imagem e conter os danos da repercussão negativa. Fez o que faz de melhor como prefeito: vestiu camiseta e calça jeans e foi fazer cosplay de trabalhador, ajudando a arrumar uma calçada na periferia. E, na segunda-feira, já foi novamente palestrar na festa de aniversário da revista Exame, onde afirmou: “não estou fazendo campanha, estou fazendo gestão”. Claro que sim, prefeito.
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