Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
É absolutamente patética a tentativa da mídia comercial de comparar a condenação do tucano Eduardo Azeredo no mensalão com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato. Não vou nem falar sobre a diferença de estatura entre as duas figuras: um, ex-governador mineiro e político obscuro do PSDB; outro, uma das personalidades brasileiras mais prestigiadas mundialmente no século 21 e ex-presidente que continua à frente das pesquisas mesmo na cadeia.
Vou só exibir os fatos e os números. Azeredo está sendo condenado em segunda instância mais de cinco anos depois que se concluiu o julgamento do “mensalão petista”. Sendo que, na época, a própria procuradoria-geral da República sustentou que o suposto esquema começara em Minas na tentativa de reeleição do governador tucano em 1998, ou seja, pelo menos quatro anos antes da primeira eleição de Lula, em 2002. Em 2013, quatro petistas (Delúbio Soares, João Paulo Cunha, José Genoino e José Dirceu) foram mandados à prisão. Quanto a Azeredo, em 2014, quando o “mensalão tucano” estava prestes a ser concluído no STF, o então deputado federal renunciou ao mandato, e, sem foro privilegiado, o processo retornou à primeira instância.
Cinco anos depois de os petistas já terem sido presos e alguns até soltos, é que o pioneiro do “mensalão” foi condenado, em segunda instância, a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais por 3 votos a 2. Detalhe: um dos desembargadores que votaram a favor dele fez uma defesa enfática de Azeredo e inclusive o chamou de “nosso governador”. Mas o tucano continua solto. Qual a razão para isso a não ser o partido ao qual pertence? Dizem que é porque o resultado “foi apertado”. Acostumado à impunidade, o ex-governador disse não estar preparado para a hipótese de ser preso. “É uma cobrança descabida, é um excesso o que está se fazendo em cima de mim”, afirmou a uma rádio.
Enquanto Azeredo continuava solto, outros processos envolvendo tucanos eram sumariamente arquivados ou prescreviam. E aí veio a Lava-Jato. Em quatro anos, embora vários tucanos de alta plumagem tenham sido citados por delatores, até agora nenhum foi condenado ou preso. Já em relação ao PT a velocidade da Justiça, famosa por andar a passos de tartaruga, bateu todos os recordes. Atualmente, há cinco petistas presos pela Lava-Jato, sendo que um, José Dirceu, em prisão domiciliar, está prestes a voltar para o Complexo de Pinhais, na grande Curitiba. Entre os presos do PT, dois ex-ministros (Dirceu e Palocci), um tesoureiro (Vaccari) e um ex-presidente da República.
Como os jornais têm a cara de pau de comparar a perseguição jurídica que o PT está sofrendo desde que Lula chegou ao poder ao caso isolado de Azeredo? Segundo a Folha, em editorial, a condenação do tucano “enfraquece a tese da blindagem tucana” pela Justiça. “Vai se desfazendo a tese de que o partido - por suas boas relações com o establishment - estaria imune às ações anticorrupção”, diz o jornal.
Parece piada uma coisa dessas. Para que houvesse equiparação, seria preciso que a Justiça condenasse e prendesse tucanos do porte de Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira e Fernando Henrique Cardoso ao mesmo tempo. Ninguém, em sã consciência, acredita que algum dia isso irá acontecer, mas esta é a comparação possível. Não entre gigantes e ratos.
Aliás, se é para fazer comparações, por que não comparar o caso de Lula ao de FHC, já que são dois ex-presidentes? Lula foi condenado por aceitar favores de empreiteiros, mas e FHC? Em 1999, a Camargo Corrêa construiu um aeroporto vizinho à fazenda do então presidente da República, em Buritis, que era usado pela família Cardoso. Fazenda, aliás, comprada em uma transação para lá de esquisita em sociedade com o pecuarista Jovelino Mineiro. Sim, o mesmo Jovelino que “empresta” um apartamento em Paris para o ex-presidente tucano e sua família, tal qual Lula é acusado no caso do sítio em Atibaia.
Lula mora no mesmo apartamento em São Bernardo do Campo que sempre morou. E Fernando Henrique? Depois que deixou a presidência, trocou o bom apartamento que tinha em Higienópolis, bairro de classe média alta e alta em São Paulo, por outro muito maior, graças à amizade com um banqueiro que fez um precinho camarada.
O ex-presidente Lula também é “acusado” de ter recebido doações para seu instituto. Ora, o Instituto FHC também recebeu doações milionárias da mesma Odebrecht e até de uma empresa pública, a Sabesp. Mas casos envolvendo o ex-presidente tucano invariavelmente acabam em prescrição, como aconteceu em março com a denúncia feita por uma ex-namorada de FHC, a jornalista Miriam Dutra, de que Fernando Henrique usava uma empresa, a Brasif, para sustentar o filho que não era dele no exterior.
Por que esses paralelos não interessam à mídia comercial na hora de tentar desfazer a tese da blindagem tucana?
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