Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
O Congresso passou a governar diante da falta de respostas do Governo Temer para os caminhões parados, num misto de greve dos autônomos com lockout das empresas do setor. Na quinta-feira o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aprovou dispositivo zerando a incidência de Pis-Cofins sobre o diesel, atropelando literalmente o enviado do Planalto. Ontem quem se vestiu de primeiro-ministro foi o presidente do Senado, Eunício Oliveira, reunindo às pressas os líderes para tentar aprovar a medida hoje. Governo exangue, a direita surfou flertando com soluções autoritárias, e a esquerda faturando a falência do programa do impeachment. Essa crise deixará seus dividendos eleitorais.
Com sua atração pelo politicamente inadequado, enquanto as filas cresciam nos postos que ainda tinham combustível, voos eram cancelados, ônibus lotavam as garagens e frangos morriam por falta de ração, entre tantos outros sinais da visita do caos, Temer participava de uma inacreditável distribuição de carros para conselhos tutelares numa montadora.
No final do dia, começou a chuva de liminares autorizando o desbloqueio das rodovias com uso da força. Aí mora o perigo de tudo descambar para uma aventura autoritária, dizia a paúra instalada nas redes da esquerda, já desconfiada de uma paralisação que partiu também dos patrões, e não apenas do terço de caminhoneiros autônomos na composição da frota nacional. Os pregadores da intervenção militar atuaram com afinco nas redes sociais.
Outros sinais de possível instrumentalização política se somaram. O Senado, casualmente ou não, resolveu aprovar o projeto que regulamenta a sucessão do presidente da República (por um substituto eleito indiretamente) quando a vacância ocorrer faltando menos de dois anos para o final do mandato. Caso exato de Temer, caso fosse (ou venha a ser) afastado. Por exemplo, se for apresentada a terceira denúncia pela PGR. Neste caso, o nome óbvio é Rodrigo Maia.
Há algum tempo ele vem unhando Temer, que ajudou a salvar duas vezes. Mas nesta crise, atuou como um trator para viabilizar a solução que pode prevalecer. Afinal, é candidato a presidente, à percepção de nome mais adequado à centro-direita. Maia só pode aprovar o projeto da reoneração da folha de pagamento das empresas, parado há tantos meses, e nele inserir a zeragem do PIS-Cofins para o diesel, porque na terça-feira fez um acordo com a oposição: em troca da suspensão da obstrução, mandou para o espaço uma medida provisória essencial à privatização da Eletrobrás, impondo séria derrota ao governo. No Senado, seu correligionário Ronaldo Caiado chegou ontem à reunião dizendo: “a incompetência deste governo virou ingovernabilidade”.
Se ao governo restou usar a força, o Congresso avançará hoje com a tutela, que terá um alto custo fiscal. A outra escolha de Temer seria a negação da independência empresarial que deu à Petrobras, já arranhada com a redução de 10% no preço do diesel, apresentada como voluntária por seu presidente, Pedro Parente. Para além disso, só com a mudança na diretoria. A Petrobrás de Parente, com sua política de preços vinculados à alta do dólar e do preço internacional do petróleo, virou uma “Geni” nas redes sociais. Não apenas petistas lembravam que Lula alterou o preço dos combustíveis oito vezes em oito anos de mandato, ao passo que sob Temer-Parente, a gasolina subiu 229 vezes em dois anos.
Quando o furacão passar, quem vai ganhar? Embora a direita tenha surfado a onda, a esquerda pode ganhar no médio prazo eleitoral, se tiver competência. Nas redes, ontem, o discurso focou na “falência do golpe”, que entre outros males, teria resultado no apagão rodoviário. Parente foi lembrado como ministro poderoso de FHC quando ocorreu o apagão elétrico de 2001. Uma coisa é certa: greve ou lockout, o movimento foi apoiado pela classe média, cansada dos aumentos da gasolina.
O Congresso passou a governar diante da falta de respostas do Governo Temer para os caminhões parados, num misto de greve dos autônomos com lockout das empresas do setor. Na quinta-feira o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aprovou dispositivo zerando a incidência de Pis-Cofins sobre o diesel, atropelando literalmente o enviado do Planalto. Ontem quem se vestiu de primeiro-ministro foi o presidente do Senado, Eunício Oliveira, reunindo às pressas os líderes para tentar aprovar a medida hoje. Governo exangue, a direita surfou flertando com soluções autoritárias, e a esquerda faturando a falência do programa do impeachment. Essa crise deixará seus dividendos eleitorais.
Com sua atração pelo politicamente inadequado, enquanto as filas cresciam nos postos que ainda tinham combustível, voos eram cancelados, ônibus lotavam as garagens e frangos morriam por falta de ração, entre tantos outros sinais da visita do caos, Temer participava de uma inacreditável distribuição de carros para conselhos tutelares numa montadora.
No final do dia, começou a chuva de liminares autorizando o desbloqueio das rodovias com uso da força. Aí mora o perigo de tudo descambar para uma aventura autoritária, dizia a paúra instalada nas redes da esquerda, já desconfiada de uma paralisação que partiu também dos patrões, e não apenas do terço de caminhoneiros autônomos na composição da frota nacional. Os pregadores da intervenção militar atuaram com afinco nas redes sociais.
Outros sinais de possível instrumentalização política se somaram. O Senado, casualmente ou não, resolveu aprovar o projeto que regulamenta a sucessão do presidente da República (por um substituto eleito indiretamente) quando a vacância ocorrer faltando menos de dois anos para o final do mandato. Caso exato de Temer, caso fosse (ou venha a ser) afastado. Por exemplo, se for apresentada a terceira denúncia pela PGR. Neste caso, o nome óbvio é Rodrigo Maia.
Há algum tempo ele vem unhando Temer, que ajudou a salvar duas vezes. Mas nesta crise, atuou como um trator para viabilizar a solução que pode prevalecer. Afinal, é candidato a presidente, à percepção de nome mais adequado à centro-direita. Maia só pode aprovar o projeto da reoneração da folha de pagamento das empresas, parado há tantos meses, e nele inserir a zeragem do PIS-Cofins para o diesel, porque na terça-feira fez um acordo com a oposição: em troca da suspensão da obstrução, mandou para o espaço uma medida provisória essencial à privatização da Eletrobrás, impondo séria derrota ao governo. No Senado, seu correligionário Ronaldo Caiado chegou ontem à reunião dizendo: “a incompetência deste governo virou ingovernabilidade”.
Se ao governo restou usar a força, o Congresso avançará hoje com a tutela, que terá um alto custo fiscal. A outra escolha de Temer seria a negação da independência empresarial que deu à Petrobras, já arranhada com a redução de 10% no preço do diesel, apresentada como voluntária por seu presidente, Pedro Parente. Para além disso, só com a mudança na diretoria. A Petrobrás de Parente, com sua política de preços vinculados à alta do dólar e do preço internacional do petróleo, virou uma “Geni” nas redes sociais. Não apenas petistas lembravam que Lula alterou o preço dos combustíveis oito vezes em oito anos de mandato, ao passo que sob Temer-Parente, a gasolina subiu 229 vezes em dois anos.
Quando o furacão passar, quem vai ganhar? Embora a direita tenha surfado a onda, a esquerda pode ganhar no médio prazo eleitoral, se tiver competência. Nas redes, ontem, o discurso focou na “falência do golpe”, que entre outros males, teria resultado no apagão rodoviário. Parente foi lembrado como ministro poderoso de FHC quando ocorreu o apagão elétrico de 2001. Uma coisa é certa: greve ou lockout, o movimento foi apoiado pela classe média, cansada dos aumentos da gasolina.
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