Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Prossegue a busca incerta do chamado “centro” por uma convergência entre seus vários candidatos, embora sem apontar um deles como estuário natural, pois todos continuam mal posicionados nas pesquisas. Hoje à tarde, na Câmara, será lançado o manifesto “Por um polo democrático e reformista”, articulado pelo secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o senador Cristóvam Buarque. No domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu artigo mensal, defendeu a unidade das forças progressistas que se comprometam com "finanças públicas saudáveis e políticas adequadas, taxas razoáveis de crescimento que gerem emprego, confiança e decência na vida pública".
Mas quem seria o fulano? O próprio Fernando Henrique diz que está na hora de “fulanizar” a discussão, embora não o faça. O manifesto que será lançado hoje também fica na pregação de unidade. Nem em seu texto, nem no artigo de FHC, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, o melhor posicionado nas pesquisas entre a meia dúzia de candidatos da centro-direita, é apontado como possível vértice da convergência.
Mas há uma sutil diferença entre os dois textos. FHC toma a greve dos caminhoneiros como sintoma da insatisfação com “tudo que está aí”. Adverte que a aparente normalidade é enganosa e que o atual governo só conseguirá colocar esparadrapos numa crise que, a seu ver, exige a “união entre os setores progressistas (que entendam o mundo e a sociedade contemporâneos), que tenham uma inclinação popular (que saibam que, além do emprego, é preciso reduzir as desigualdades)...” Esclarece que não se trata de fortalecer o “centrão”, a que se refere depreciativamente, e faz referência vagas ao PT. Mas aponta claramente o risco maior a ser evitado: “o do populismo, principalmente quando já vem abertamente revestido de um formato autoritário ”. É Bolsonaro.
Já o manifesto que será lançado hoje é excludente à esquerda e à direita, quando prega a unidade de “todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista, atrasado e bolivariano”. E apresenta 17 pontos para um programa comum.
Seja como for, faltou fulanizar: unidade em torno de quem? Impossível fazer isso quando na direita todos vão mal nas pesquisas.
Retratos do Brasil
“Se você aprendeu na escola que este é um país pacífico e conciliador, nas próximas páginas vai desaprender”, diz a historiadora Ângela Alonso em “À mão armada”, texto de apresentação do livro “Conflitos – Fotografia e Violência Política no Brasil, 1889-1964”, organizado por ela e Heloisa Espada, curadora de artes visuais do Instituto Moreira Salles, que patrocina tanto o livro como a exposição homônima. Ela já passou pelo Rio e estará aberta ao público em São Paulo, na sede do instituto, até 29 de julho. Livro e exposição recuperam, para nosso autoconhecimento, imagens de um país que não corresponde a seu mito predileto, o da cordialidade.
Ambos nos revelam 338 fotografias de 30 coleções brasileiras (públicas e particulares) sobre conflitos históricos em que jorrou sangue. Foi um trabalho exaustivo de garimpagem, bem descrito por Heloisa Espada em seu texto “As políticas do olhar”, em busca do oposto ao que foi canonizado pela história da fotografia no país: imagens icônicas, registrando belezas naturais ou a originalidade e diversidade étnica e cultural da gente da terra.
Ao final, obtiveram um conjunto significativo de registros sobre episódios como a Revolução Federalista (1893-1894), onde a prática da degola foi corrente, a Revolta da Armada (1893-1894), em que Floriano Peixoto jogou o Exército contra os revoltosos, a Guerra de Canudos (1896-1897) e a Guerra do Contestado (1912-1916), vencidas pelo Estado com banhos de sangue. E ainda sobre a Coluna Miguel Costa-Prestes (1925-1927), a Revolução de 1930, protestos após o suicídio de Vargas e os atos de violência logo depois do golpe de 64. O livro para aí. Vale a pena ver a exposição, ou ler e ver o livro.
Prossegue a busca incerta do chamado “centro” por uma convergência entre seus vários candidatos, embora sem apontar um deles como estuário natural, pois todos continuam mal posicionados nas pesquisas. Hoje à tarde, na Câmara, será lançado o manifesto “Por um polo democrático e reformista”, articulado pelo secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o senador Cristóvam Buarque. No domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu artigo mensal, defendeu a unidade das forças progressistas que se comprometam com "finanças públicas saudáveis e políticas adequadas, taxas razoáveis de crescimento que gerem emprego, confiança e decência na vida pública".
Mas quem seria o fulano? O próprio Fernando Henrique diz que está na hora de “fulanizar” a discussão, embora não o faça. O manifesto que será lançado hoje também fica na pregação de unidade. Nem em seu texto, nem no artigo de FHC, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, o melhor posicionado nas pesquisas entre a meia dúzia de candidatos da centro-direita, é apontado como possível vértice da convergência.
Mas há uma sutil diferença entre os dois textos. FHC toma a greve dos caminhoneiros como sintoma da insatisfação com “tudo que está aí”. Adverte que a aparente normalidade é enganosa e que o atual governo só conseguirá colocar esparadrapos numa crise que, a seu ver, exige a “união entre os setores progressistas (que entendam o mundo e a sociedade contemporâneos), que tenham uma inclinação popular (que saibam que, além do emprego, é preciso reduzir as desigualdades)...” Esclarece que não se trata de fortalecer o “centrão”, a que se refere depreciativamente, e faz referência vagas ao PT. Mas aponta claramente o risco maior a ser evitado: “o do populismo, principalmente quando já vem abertamente revestido de um formato autoritário ”. É Bolsonaro.
Já o manifesto que será lançado hoje é excludente à esquerda e à direita, quando prega a unidade de “todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista, atrasado e bolivariano”. E apresenta 17 pontos para um programa comum.
Seja como for, faltou fulanizar: unidade em torno de quem? Impossível fazer isso quando na direita todos vão mal nas pesquisas.
Retratos do Brasil
“Se você aprendeu na escola que este é um país pacífico e conciliador, nas próximas páginas vai desaprender”, diz a historiadora Ângela Alonso em “À mão armada”, texto de apresentação do livro “Conflitos – Fotografia e Violência Política no Brasil, 1889-1964”, organizado por ela e Heloisa Espada, curadora de artes visuais do Instituto Moreira Salles, que patrocina tanto o livro como a exposição homônima. Ela já passou pelo Rio e estará aberta ao público em São Paulo, na sede do instituto, até 29 de julho. Livro e exposição recuperam, para nosso autoconhecimento, imagens de um país que não corresponde a seu mito predileto, o da cordialidade.
Ambos nos revelam 338 fotografias de 30 coleções brasileiras (públicas e particulares) sobre conflitos históricos em que jorrou sangue. Foi um trabalho exaustivo de garimpagem, bem descrito por Heloisa Espada em seu texto “As políticas do olhar”, em busca do oposto ao que foi canonizado pela história da fotografia no país: imagens icônicas, registrando belezas naturais ou a originalidade e diversidade étnica e cultural da gente da terra.
Ao final, obtiveram um conjunto significativo de registros sobre episódios como a Revolução Federalista (1893-1894), onde a prática da degola foi corrente, a Revolta da Armada (1893-1894), em que Floriano Peixoto jogou o Exército contra os revoltosos, a Guerra de Canudos (1896-1897) e a Guerra do Contestado (1912-1916), vencidas pelo Estado com banhos de sangue. E ainda sobre a Coluna Miguel Costa-Prestes (1925-1927), a Revolução de 1930, protestos após o suicídio de Vargas e os atos de violência logo depois do golpe de 64. O livro para aí. Vale a pena ver a exposição, ou ler e ver o livro.
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